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III. A Sociedade de Informação

4. Desafios da Sociedade da Informação

A crescente utilização das novas tecnologias traz vantagens mas também levanta alguns problemas de ordem social.

As exigências crescentes que esta sociedade acarreta podem ser responsáveis por cada vez maiores diferenças sociais. As pessoas deparam-se com uma necessidade permanente de actualização para que profissionalmente estejam qualificadas para as tarefas que desempenham. Se por alguma razão não conseguem acompanhar esta evolução, as TIC poderão traduzir-se em dificuldades para o indivíduo.

É importante uma consciencialização da sociedade para os problemas que possam surgir. Estando atentos a eles será mais fácil evitá-los ou superá- los.

Para Sousa (1999), algumas questões se poderão levantar quando falamos do impacto das TIC na sociedade:

- As TIC aumentam o desemprego?

Ponte (1997) considera que estas tecnologias criaram novas profissões mas, simultaneamente, poderão ser uma ameaça para o emprego. Se, por um lado, aumentam a produtividade e melhoram as condições de trabalho, por outro, poderão substituir muitos profissionais e levar ao desemprego aqueles que a elas não se consigam adaptar.

- As TIC contribuem para a perda de privacidade?

A perda de privacidade é outro aspecto que Ponte (1997) refere como negativo com a introdução das novas tecnologias. Dados pessoais que cedemos para, por exemplo, obter um crédito, são muitas vezes cedidos a outras empresas para fins publicitários, sem que nos tenha sido dado conhecimento.

- As TIC conduzem à instrumentalização da sociedade?

Pelo contrário, o que se pretende é que os computadores venham a desempenhar trabalhos mais rotineiros deixando ao Homem tarefas que apelem a “capacidades superiores”.

- As TIC limitam a capacidade de raciocínio do indivíduo?

O computador permite que o Homem abandone as tarefas mais rotineiras e se dedique a outras mais criativas. Assim, o poder de análise e tratamento de dados que as TIC nos dão permitem uma abordagem mais vasta e flexível das situações.

Pinto (2002) chama ainda atenção para outro aspecto que a Sociedade da Informação veio alterar – a competitividade. As empresas encontram um novo desafio no desenvolvimento da sua competitividade. Segundo este autor, antigamente mediamos a capacidade de uma empresa no binómio produto/preço, ou seja o mesmo produto a melhor preço ou melhor produto ao mesmo preço. Actualmente a competitividade está na capacidade de criar produtos, mais avançados tecnologicamente, antes dos outros.

Por isso, as pessoas têm que desenvolver uma atitude flexível, com conhecimentos o mais abrangentes possível, capazes de se formarem ao longo da vida de acordo com as suas necessidades e que dominem as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). A sociedade exige da escola pessoas com uma formação ampla, especializada, com um espírito empreendedor e criativo, com o domínio de uma ou várias línguas estrangeiras, com grandes capacidades de resolução de problemas (Martins, 1999; Matos, 2004).

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O Livro Verde (Missão para a Sociedade da Informação, 1997) para o desenvolvimento da sociedade da informação no contexto português, chama a atenção para o papel das escolas na disseminação de novos conhecimentos ligados à tecnologia e para a necessidade das escolas acompanharem o desenvolvimento tecnológico a que a sociedade assiste.

Se esta missão for cumprida na íntegra parece-nos estarem asseguradas condições para atenuar as diferenças de acesso à informação que os factores económicos, sociais ou culturais possam originar.

4.1. A Globalização e a info-exclusão

Segundo Giddens (1999), o termo globalização ou mundialização surgiu apenas no final dos anos 80 invadindo muito rapidamente o discurso político e a literatura académica. “Apareceu não se sabe de onde, para chegar a quase

todos os sítios” (idem: 20).

A globalização, definida por Giddens (1996: 45), como a “intensificação das relações sociais de escala mundial”, tornou-se uma realidade.

Defarges vai mais longe caracterizando este fenómeno como “a explosão e aceleração de fluxos de toda a ordem: mercadorias, serviços, informações, imagens, modas ideias, valores, ou seja, tudo o que o homem inventa e produz (1993: 41)”.

Esta globalização só é possível com o avanço que as tecnologias de informação e comunicação tiveram a partir do final da década de 1960, com o lançamento do primeiro satélite comercial (Giddens, 1999).

Para termos uma ideia do alcance mundial destas tecnologias basta pensar que rádio demorou, nos Estados Unidos, 40 anos para atingir os 50 milhões de ouvintes mas, em contrapartida, só foram precisos 4 anos para que 50 milhões de americanos usassem a Internet com regularidade (Giddens, 1999).

Nos antípodas da globalização temos os info-excluídos. Castells associa o conceito de info-exclusão “à desigualdade no acesso à Internet” (2004: 288). A liderar estes acessos encontram-se os Estados Unidos e a Europa e na

cauda a África e o Médio Oriente. Para este autor “o desenvolvimento sem Internet seria equivalente à industrialização sem electricidade” (Casttels, 2004: 311).

Olhando a frieza dos números, vemos que os países da OCDE representam 19% da população mundial mas contabilizam 88% dos utilizadores da Internet. A Índia apesar de ser o segundo exportador mundial de software e ter um bilião de habitantes tem apenas 0,2% de utilizadores da Internet (Mattelart, 2003).

Casttels (2004) vai mais longe na importância que dá à ligação do mundo em rede afirmando que a resolução dos problemas básicos dos países do Terceiro Mundo, como saúde, educação, abastecimento de água e outras necessidades só são possíveis com uma economia e um sistema de gestão de dados baseados na Internet.

Marques (1998) considera que, com a Globalização, o papel do Estado – Nação poderá ser menos relevante já que outras comunidades surgem ligadas por outros vínculos, que não a sua nacionalidade. O autor chama ainda a atenção para a excessiva importância que uma cultura ou língua possam adquirir com globalização.

Compete-nos a todos estar atentos para que isso não aconteça.

Marques (1998) defende ainda que a Sociedade de Informação poderá dar um importante contributo para que os serviços públicos estejam mais disponíveis para os cidadãos, com melhor e maior informação, tornando desta forma, a sociedade mais democrática e participativa. Ainda segundo este autor as aplicações das TIC têm facilitado a vida dos deficientes e dos socialmente desfavorecidos, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais solidária.

Não nos interessa tecer considerações sociológicas sobre os aspectos positivos e negativos da globalização no ser humano, importa sim considerá-la como um processo irreversível e, por isso, a ter sido em conta no desenvolvimento social, nomeadamente, nos sistemas educativos.

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Será que algum dia teremos a globalização de um sistema educativo? Para Pinto esta possibilidade encontra-se afastada. Considera o autor que os vários sistemas educativos poderão incluir-se “numa matriz de características universais que se vai aprofundando e corrigindo, num processo evolutivo decorrente da teoria e da prática pedagógica na qual as TIC assumem papel determinante (2000: 121).

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