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2. Agressão Social

2.1 A formação do conceito de Agressão Social

Os pesquisadores, no estudo das agressões que não são físicas ou verbais, e são direcionadas para prejudicar as amizades ou status social da vítima, propuseram três constructos distintos: agressão indireta, agressão relacional e agressão social.

O termo agressão indireta, segundo Underwood (2003) e Archer e Coyne (2005), foi utilizado pela primeira vez por A. H. Buss, em 1961, para conceituar as agressões que não se expressam diretamente de forma física e verbal. Para Buss (1961), a agressão indireta tem como característica principal o fato de ser encoberta, dificultando assim a identificação do agressor e o consequente contra-ataque da vítima. Podendo a mesma se expressar verbalmente por meio de fofocas e boatos desagradáveis ou fisicamente pela destruição do patrimônio da vítima. Feshbach (1969), acrescentou na definição da agressão indireta, o comportamento de exclusão ou rejeição social, após realizar um estudo experimental observando como as crianças se comportavam com novos membros, que tentavam se integrar no grupo do qual faziam parte. As crianças observadas, ao invés de acolherem o novato, o rejeitavam e excluiam socialmente. As pesquisas de Lagerspetz et al. (1988), também fizeram um acréscimo na definição da agressão indireta, com o comportamento de manipulação de relacionamento, mantendo as características originais de comportamento encoberto ou pelas costas, no qual o agressor procura se esconder ou dificultar sua identificação pela vítima (UNDERWOOD, 2003; ARCHER e COYNE 2005).

O conceito de agressão relacional foi introduzido por Crick e Grotpeter (1995), definindo-a como “comportamentos que têm o objetivo de danificar significativamente as amizades ou os sentimentos de inclusão em um determinado grupo social "(CRICK e GROTPETER, 1995, p. 711). Segundo Archer e Coyne (2005), a ênfase da agressão relacional não está na forma como ela se expressa, mas na sua intencionalidade, que é prejudicar as amizades ou status social da vítima. O que distingue a agressão relacional da indireta é que, enquanto nesta o agressor procura esconder sua identidade da vítima, na agressão relacional a vítíma pode saber ou não quem é o agressor. Isto é, ela pode ser

tanto aberta, quando o agressor não procura esconder sua identidade e intencionalidade da vítima, como encoberta, quando o agressor, para evitar um possível contra ataque da vítima, procura esconder sua identidade e intencionalidade do alvo de sua agressão.

Underwood (2003), considera as definições de agressão indireta e relacional limitadas. Por isso, realizou suas pesquisas pautada no conceito de agressão social que, primeiramente foi definida como manipulação da aceitação em um grupo, através de alienação, ostracismo ou difamação (CAIRNS et al., 1988), sem especificar se essa agressão seria aberta ou encoberta, podendo ser exercida nas duas formas. Em 1997, Underwood e Galen expandiram essa definição, afirmando que “a agressão social tem o objetivo de danificar a autoestima de outros, status social, ou ambos, podendo utilizar formas diretas como rejeição verbal, movimentos de corpo e expressões faciais negativas, ou formas indiretas, como calúnias ou exclusão social "( GALEN e UNDERWOOD, 1997, p. 589).

Essa definição de agressão social de Galen e Undewood (1997) se diferencia da de Cairns et al. (1988) por incluir a exclusão social não-verbal. Em três pesquisas realizadas por Galen e Underwood (1997), o dano de fazer mal social, através da exclusão social não-verbal em comparação com a verbal foram equivalentes. No primeiro estudo, um grupo de crianças foi convidado a observar vinhetas hipotéticas que incluiam agressões verbais e não verbais para relatarem a seguir a frequência dessas agressões, no contexto escolar, e o nível de prejuízo sofrido. Além de informarem uma frequência significativa dessas agressões, indicaram que a agressão não verbal tem o mesmo nível de prejuízo das agressões verbais. No segundo estudo, enquanto as crianças jogavam Pictionary, uma outra criança, um ator treinado, se envolveu na brincadeira com comentários arrogantes. Observando a reação das crianças a esse compartamento se percebeu, entre outras reações, expressões facias e gestos de exclusão social não verbal como virar o olho e indicações sutis para que os demais colegas não deixassem o novato jogar, entre outras agressões não verbais. No terceiro estudo, foram selecionados trechos de vídeos com agressões não-verbais e a seguir após um grupo de estudantes secundaristas assisti-lo, os mesmos avaliaram o quanto eles achavam que pessoa que praticou a agressão não-verbal era maldosa e como se sentiriam se fossem o alvo desse tipo de agressão. O grupo pesquisado indicou novamente a agressão não verbal como consideravelmente prejudicial.

Archer e Coyne (2005), após analisarem os pontos em comum e as divergências entre os três construtos, afirmaram que as diferenças são tão sutis que os mesmos

deveriam adotar a mesma denominação, e esta deveria ser agressão indireta, por ter sido a primeira definição utilizada para caracterizar os comportamentos agressivos que não são diretamente físicos ou verbais. Entretanto, nesse mesmo artigo, como exposto nos parágrafos anteriores, os autores especificam diferenças consideráveis entre os três conceitos, concordando com Underwood (2003), que a agressão social apesar se ser o termo mais recente, engloba as definições anteriores com o acréscimo da exclusão social não verbal.

Considerando que nenhum construto é perfeito para definir a agressão entre pares distinta da agressão física e verbal, o conceito de agressão social foi escolhido por Galen e Underwood (1997), por considerar que o conceito de agressão indireta é limitado por não incluir as agressões diretas, mas apenas as indiretas ou encobertas. Da mesma forma, o termo agressão relacional também é limitado, porque apesar de incluir as agressões diretas e indiretas na sua definição, ele não leva em consideração em sua análise a exclusão social não-verbal. Somente a agressão social engloba todas as definições e expressões de comportamentos citados anteriormente (UNDERWOOD, 2003).