• Nenhum resultado encontrado

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E INCAPACIDADE: O

2.4. A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O SEU CONTRIBUTO

De acordo com o objeto de estudo desta investigação e dos conceitos e contributos que têm vindo a ser invocados, é possível afirmar que a formação profissional constitui hoje um processo fundamental para a inclusão social de pessoas com deficiência e incapacidade. Deste modo, é importante que se faça um enquadramento deste processo.

A formação profissional pode ser definida como “a aquisição sistemática de competências, normas, conceitos ou atitudes que originam um desempenho melhorado em contexto profissional” (Cruz, 1998, in Fonseca, 2012, p.13), ou seja, é um processo pelo qual se prepara o indivíduo, neste caso com deficiência e incapacidade, para o exercício de uma atividade profissional, mediante o desenvolvimento de conhecimentos e competências necessários e adequados à função que se pretende que este venha a desempenhar no mercado de trabalho.

A Organização Internacional do Trabalho também define formação profissional como “um conjunto de atividades que visam essencialmente a aquisição de capacidades práticas e os conhecimentos necessários para um emprego, que determina a profissão ou grupo de profissões de determinado ramo de atividade económica” (Cardim, 2000, in Fonseca, 2012, p.13).

Considera-se, portanto, que a formação profissional atua com um propósito psicoeducativo, baseando-se nas capacidades pessoais e nas possibilidades reais para que pessoas com deficiência e incapacidade adquiriram aprendizagens profissionais, permitindo que detenham de a autonomia e o desenvolvimento pessoal suficientes para integrar uma atividade.

Em Portugal as respostas relativas à qualificação e formação profissional para pessoas com deficiência e incapacidade são da responsabilidade das seguintes entidades: IEFP, Centros

32 de Reabilitação Profissional de Gestão Direta, Rede de Centros de Reabilitação Profissional de entidades privadas na área da deficiência apoiadas pelo IEFP, Centros de Reabilitação de Gestão Participada, Empresas e Centros de Emprego Protegido (Santos, 2014).

Os recursos e ofertas formativas são distribuídos de forma assimétrica pelo país e acompanhados por medidas de apoio à contratação da população com deficiência e incapacidade. Não obstante, importa salientar que o trabalho desenvolvido não deve ter apenas como objetivo final a qualificação, mas igualmente a integração e acompanhamento no mercado de trabalho (Santos, 2014).

Também importa referir que a formação profissional deve ter em conta as necessidades específicas das pessoas, articulando-as com as exigências requeridas nas diferentes áreas de emprego. A formação profissional deve, então, fazer a ponte entre as necessidades do empregador e as capacidades individuais de cada formando, tendo em consideração as limitações proporcionadas pela sua incapacidade.

Deve ter, igualmente, contemplada a componente de formação social, que prepara a pessoa com deficiência ou incapacidade para o exercício de um papel ativo na sociedade, na comunidade e nas organizações onde está e será inserida (Ferreira, 2010).

De acordo com Correia (2008), in Ferreira, (2010), a formação deve ser permeável aos vários contextos, adaptando-se ao ambiente, físico ou humano em que se vai desenrolar e procurando o desenvolvimento possível naquele contexto. Em concreto, devem ser tomados em consideração quatro planos: cognitivo, metodológico, institucional e sociológico, trabalhando estas várias áreas, pois uma das dificuldades apontadas na formação profissional prende-se com a dificuldade que os formandos têm de transferir as competências adquiridas para situações de trabalho.

Segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional, a formação pode ser inicial ou contínua. A formação inicial é destinada a indivíduos que procuram emprego, e pretende conferir uma qualificação profissional certificada; a segunda é destinada a ativos empregados e pretende desenvolver competências profissionais que estes já possuem.

33 No caso dos indivíduos com deficiência ou incapacidade, a formação inicial tem uma duração mínima de 1200 horas e máxima de 2900 a 3600horas, podendo ser adaptada de acordo com o previsto nos referenciais específicos adaptados a estes indivíduos e que integram o Catálogo Nacional de Qualificações, ou outro referencial que tenha sido sujeito a parecer da Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (Instituto de Emprego e Formação Profissional, 2006).

A formação inicial é dividida em três percursos:

Percurso A: Duração mínima de 1200 horas e máxima de 2900 horas, com ações de formação organizadas com base em referências do CNQ, destinadas a pessoas com deficiência e incapacidade.

Percurso B: Com uma duração de 3600horas, são ações de formação organizadas com base em referências de formação adaptadas que integram o CNQ destinadas a pessoas com alterações das funções mentais, multideficiência e outras, sem condições para aceder a percursos regulares de Educação Formação.

Percurso C: Com base em referências de formação não integradas no CNQ, com uma duração mínima de 1200 horas e máxima de 2900 horas. São, predominantemente ações de formação destinadas a pessoas com alterações das funções mentais, multideficiência e outras, que os impeçam de frequentar os anteriores percursos de formação.

Em qualquer dos casos, a formação profissional destina-se a jovens com idade igual ou superior a 18 anos e, com deficiência e incapacidade. Abrange também candidatos a partir dos 16 anos, desde que os estabelecimentos de ensino nos quais se encontrem inscritos comprovem a incapacidade para a frequência do ensino regular.

Em suma, a formação profissional deve promover a aquisição ou o reforço de competências profissionais, pessoais e sociais, tendo como objetivo inserir o indivíduo na sociedade e facilitar a sua adaptação ao contexto de trabalho. Deste modo, de acordo com Santos (2014), deve funcionar como estratégia de combate ao desemprego e à exclusão social.

34 Segundo Santos (2014), a formação profissional consiste numa ferramenta facilitadora da inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, sendo decisiva na promoção do acesso ao emprego e no desenvolvimento de competências pessoais, sociais e técnicas. Da mesma forma, Schneidor e Ferritor (1982), in Pereira, (2016), frisam que, apesar de nem todas as pessoas com deficiência atribuírem o mesmo valor ao trabalho, existe uma estreita identificação entre os objetivos da reabilitação profissional e o trabalho como mediador para a ocorrência de mudanças na vida.