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PARTE II – METODOLOGIA

4. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO EMPÍRICO

Após enquadramento teórico do tema, considera-se necessário contextualizar a vertente empírica desta investigação e a metodologia utilizada.

A presente investigação teve por base a pergunta de partida “de que forma a formação profissional contribui enquanto instância mediadora no processo de inclusão social de jovens com deficiência/incapacidade?”.

Neste contexto, o que se pretende compreender é em que medida o CRP atua enquanto mediador no processo de inclusão social de jovens com deficiência e incapacidade, questionando a inserção do jovem com deficiência e incapacidade no CRP como um processo de mediação e intervenção social.

Para tal, foi necessário analisar não só a perspetiva do próprio jovem, mas também da rede que faz parte do contexto em que o jovem se encontra inserido, nomeadamente a família. Neste sentido, pretende-se aprofundar questões que possibilitassem compreender quais as expectativas relativamente a estes jovens, bem como a perceção do contributo desta formação para a inclusão social dos mesmos.

O presente estudo decorreu no Centro de Recuperação e Integração de Abrantes2 (apêndice 1), mais propriamente no Centro de Reabilitação Profissional, com formandos com deficiência de tipo mental que no momento em que teve inicio o trabalho de campo iniciavam a sua formação em contexto de estágio. A opção decorreu de se considerar ser este um contexto favorável à aproximação à realidade destes jovens no que concerne não só ao universo do trabalho, mas também à capacidade de se relacionarem com o outro, impulsionando a sua inclusão na sociedade.

4.1. OBJETIVOS DO ESTUDO

Uma das fases mais importantes de uma investigação consiste na definição de objetivos que permitam ao investigador conduzir o estudo, delimitando o foco da pesquisa de acordo com os aspetos da realidade que pretende estudar. Deste modo, e como referido anteriormente no presente trabalho, o objetivo geral do estudo centrou-se em compreender

2

41 o contributo do centro de reabilitação profissional enquanto mediador no processo de inclusão social de jovens com deficiência e incapacidade, dando origem à definição dos seguintes objetivos específicos:

 Compreender de que modo a formação profissional contribui para o processo de inclusão social de jovens portadores de deficiência/incapacidade;

 Compreender em que medida a inserção num centro de reabilitação profissional influencia as oportunidades de inserção no mercado de trabalho de jovens portadores de deficiência/incapacidade;

 Compreender o papel da reabilitação profissional na formulação de expetativas de vida e realização pessoal dos jovens

 Compreender a perceção que os atores sociais envolvidos na reabilitação profissional têm do seu contributo para a integração social.

4.2. O PARADIGMA INTERPRETATIVO-FENOMENOLÓGICO

Pretendendo-se uma aproximação profunda a uma determinada realidade, e de acordo com os objetivos traçados para o presente estudo, optou-se por uma investigação enquadrada no paradigma interpretativo-fenomenológico, privilegiando uma abordagem qualitativa. O paradigma interpretativo-fenomenológico considera a natureza dos fenómenos sociais como resultante de um sistema rico e variado de interações, isto é, de múltiplas realidades em interação (Boavida & Amado, 2006).

Quanto aos métodos e à natureza do conhecimento, segundo Amado e Boavida, estes partem de uma conceção filosófica que considera o homem como criador de significados através da linguagem e dos conceitos por ela veiculados. Deste modo, a investigação das realidades sociais centram-se no modo como estas são interpretadas, entendidas, experienciadas e produzidas pelos próprios atores. Como tal, “pretende passar do conhecimento, ou melhor, do registo descritivo e da análise dos factos, à interpretação”, o que fomenta a preferência por determinadas técnicas de recolha de dados (Boavida & Amado, 2006, p.94).

A expressão investigação qualitativa tem sido usada como designação para todas as formas de investigação que se centram principalmente na utilização de dados qualitativos e que se

42 enquadram no paradigma interpretativo-fenomenológico, que tende, de facto, a privilegiar uma abordagem qualitativa. Inclui métodos de investigação como a etnografia, a investigação naturalista, os estudos de caso, etnometodologia, a metodologia de histórias de vida, aproximações biográficas e a investigação narrativa (Rodríguez, et al., 1999, in Meirinhos & Osório, 2010).

Os dados obtidos neste tipo de investigação são ricos em fenómenos descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, sendo que as questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, mas, sim, de acordo com o objetivo de estudar fenómenos com toda a sua complexidade em contexto natural (Bogdan & Bilken, 1994).

A investigação qualitativa é, então, considerada um campo interdisciplinar e transdisciplinar, que atravessa ciências físicas e humanas. Não possui um conjunto fechado de metodologias próprias, porque os investigadores qualitativos podem recorrer à narrativa, aos métodos e técnicas etnográficas, à entrevista, psicanálise, estudos culturais, observação participante, entre outros (Aires, 2015).

Também de acordo com Faria e Vieira (2016), a investigação em mediação privilegia esta abordagem interpretativa-fenomenológica, em que se insere o qualitativo. Conforme sublinham os autores, esta metodologia enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo das perceções pessoais.

Após a definição de um objeto de estudo, o investigador define a forma como pretende olhar para ele. Para tal, o problema deve ser formulado num “enunciado interrogativo, claro e não equívoco, que precisa os conceitos-chave, especifica a população alvo e sugere uma investigação empírica” (Fortim, 2009, in Faria & Vieira, 2016, p.118).

Ainda segundo os mesmos autores, qualquer cientista social reconhece que as decisões tomadas nesta fase não são definitivas. Sublinha-se a dialética entre os objetivos definidos para a investigação e as pistas que o investigador vai descobrindo, “quer pelo acesso a outras reflexões, quer pelo contacto com a realidade e com os atores que se quer conhecer” (Faria & Vieira, 2016, p.119).

43 Numa investigação de cariz qualitativo pode-se, inclusivamente, recorrer à triangulação com dados quantitativos, obtidos através, por exemplo, do inquérito por questionário, por isso, dualismo entre metodologias – qualitativo versus quantitativo é hoje reconhecido como uma falsa questão e uma falsa oposição (Faria & Vieira, 2016).

4.3. O MÉTODO DO ESTUDO DE CASO

Tendo em atenção os objetivos deste estudo, optou-se pela utilização do método do estudo de casos. Este método insere-se na investigação qualitativa e afigura-se-nos como um método que nos revela maiores potencialidades, pois, inserido no paradigma interpretativo-

fenomenológico permite aceder a valores, crenças, hábitos, opiniões, e atitudes, já que:

Comporta descrições detalhadas de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos, que são observáveis... incorpora o que os participantes dizem, as suas experiências, atitudes, crenças, pensamentos e reflexões (Watson, 1988 in Lopes, 2011, p.328).

O estudo de caso apresenta como particularidade o facto de que o objetivo da investigação é o estudo intensivo e aprofundado de um ou de poucos casos, considerados relevantes pela sua singularidade. Assim, apresenta a vantagem de se concentrar em situações humanas e contextos da vida real, estudando não apenas um fenómeno, mas também o seu contexto (Meirinhos & Osório, 2010).

Neste seguimento, importa referir que também o estudo de caso implica a pesquisa a priori da teoria e dos conceitos que emergem da revisão bibliográfica. Não obstante, à medida que a investigação avança, estes podem ser reformulados em função das leituras que acompanham todo o processo de investigação. Tal, significa que o contexto de descoberta característico da investigação qualitativa não impede que exista um fio condutor teórico, que esboça um modelo de análise e que orientará a triangulação dos dados obtidos no final da investigação.

De acordo com os mesmos autores, a realização de estudos de caso surge da necessidade de estudar fenómenos sociais complexos. Assim, também este autor concorda que os estudos de caso devem usar-se quando lidamos com condições contextuais, sendo essas condições pertinentes para a investigação (Yin, 2005, in Meirinhos & Osório, 2010).

44 Os estudos de caso mais comuns são aqueles que focalizam apenas uma unidade, como um indivíduo, um pequeno grupo, uma instituição, um programa ou um evento, mas também é possível desenvolver estudos de casos múltiplos, de modo a dar conta de alguma diversidade, tida como relevante para um determinado estudo (Mazzoti, 2006).