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A FOTOGRAFIA ANALÓGICA – Breve História e Sensibilidade

No documento USOS DA FOTOGRAFIA ANALÓGICA NO DESIGN (páginas 33-50)

“Ela me permite ter acesso a um infra-saber; fornece- me uma coleção de objetos parciais e pode favorecer em mim um certo fetichismo: pois há um “eu” que gosta do saber, que sente a seu respeito como que um gosto amoroso” (BARTHES, 1984, p.51)

De origem Grega, o termo análogo significa, respectivamente, “equivalente” com o “ana” e “estrutura da realidade” com o “logos”, com isso, o que se diz análogo na natureza, alega a algo real, palpável, tátil, adjunto do mundo físico. Se um fotógrafo faz o uso da sua câmera analógica, é inevitável que faça considerações sobre o resultado final, isto é, a fotografia gravada no papel fotográfico, sendo ela preto e branco ou em cores.

Segundo Salles (2014), as datas dos estágios e procedimentos da fotografia não são exatas, pois são ensaios conhecidos desde a antiguidade. Em diferentes épocas e lugares, descobriu-se aos poucos os elementos dessas peças históricas no qual, apenas no final do séc. XIX foi de um todo

compreendido. Algumas destas evidências são bastante relevantes para a concepção fotográfica. Esperou-se muito tempo para aquilo que se chama fotografia viesse a se manifestar através de dois conceitos básicos: A câmara escura e seus materiais fotossensíveis, sendo a primeira e mais importante descoberta, usada durante toda a época da Renascença para estudar o emprego da perspectiva na pintura. (SALLES, 2014)

A câmara escura é uma caixa preta vedada com um pequeno furo em um dos seus lados. Quando direcionada para um objeto, a luz é refletida e é projetada para dentro da caixa. A imagem do objeto é formada no lado oposto ao do furo. Caso seja colocada do lado oposto um vidro, a imagem pode ser

vista do lado exterior da câmara. “A imagem passa a falar por si mesma, independentemente do que seu autor tenha desejado a dizer” (OLIVEIRA, 2006, p. 52)

Figura 22: Desenho da câmara escura (Fonte: site GarajutaFotografia,2016)

Para Salles (2014), a outra questão que ajudou a crescente fotografia foram os materiais fotossensíveis. Fotossensibilidade quer dizer: 'sensibilidade à luz', assim sendo, tudo se modifica com a luz, como por exemplo a tinta de alguma parede que com o passar do tempo, desbota e perde a cor.

No cenário da Fotografia, temos o francês Nicéphore Nièpce (1765-1833), que tinha seguido uma carreira militar, mas sempre se interessou por diversas pesquisas científicas, no qual tinha um apreço pelo registro visual, estudando técnicas e com isso melhorias na Litografia3. Contudo, desenvolveu uma técnica chamada Heliografia – “processo de reprodução/impressão de imagens que se valia da ação da luz sobre o betume da Judeia” (CARDOSO, 2005, p. 60) e quando pôs em prática os conhecimentos que tinha sobre a câmara escura, obteve-se a primeira fotografia da história, em 1826.

3 Do grego – lithos: pedra e grafia: escrita, é um processo de impressão sobre uma matriz (pedra calcária).

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Figura 23: Primeira Fotografia da história, 1826 (Fonte: site Dig art media, 2016)

Através da técnica, conheceu o Louis Mandé Daguerre (1789- 1851) pintor, que mais tarde, sem saber, interessou-se pela fotografia.

(SALLES, 2014). Construiu um Daguerreotipo que era semelhante a câmara escura, porém possuía chapas de pratas que com a utilização da iluminação adequada, alcançava-se uma imagem mais nítida em tons de cinza.

Uma das fotografias mais famosas realizada por essa técnica, é a do Edgar Allan Poe (1809-1849), rica em detalhes e com uma ilusão tridimensional, peculiaridades do daguerreotipo.

Figura 24: Edgar Allan Poe, capturado por um Daguerreótipo (Fonte: site TecMundo, 2016) Foi considerado o pai da fotografia moderna por ter concedido de forma “acessível” a fotografia a população francesa, que nessa época,

guardavam as fotografias dentro de estojos, como se fossem joias ou relíquias, já que era uma maneira de perpetuar a memória das pessoas que consumiam essa arte.

“No entanto, entre o sujeito que olha e a imagem que elabora há muito mais que os olhos podem ver. A fotografia - para além da sua gênese automática, ultrapassando a ideia de análogo da realidade - é uma elaboração do vivido, o resultado de um ato de investimento de sentido, ou ainda uma leitura do real realizada mediante o recurso a uma série de regras que envolvem, inclusive, o controle de um determinado saber de ordem técnica” (MAUAD, 1996, p.3)

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Figura 25: Daguerre e sua invenção (Fonte: Blog Le’Art, 2016)

“Niépce e Daguerre - dois nomes que se ligaram por interesses comuns, mas com objetivos diversos - são exemplos claros desta união. Enquanto o primeiro preocupava-se com os meios técnicos de fixar a imagem num suporte concreto, resultado das pesquisas ligadas à litogravura, o segundo almejava o controle que a ilusão da imagem poderia oferecer em termos de entretenimento” (MAUAD, 1996, p.2)

Após Louis Daguerre, outros grandes pioneiros na fotografia aperfeiçoaram as técnicas de captura de imagens, dentre alguns deles o Frederick Scott Archer (1813-1857), que em 1851 utilizou emulsão de colódio4 úmida - técnica com uma solução química viscosa que quando

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A técnica consiste na aplicação deste colódio ainda líquido em uma placa de metal ou vidro que deve estar bem limpa, criando-se então uma película muito fina. Esta placa é submersa por alguns minutos em uma solução de nitrato de prata tornando-se assim fotosensível. Basicamente, o que temos até aqui é o colódio como uma solução ligante entre o suporte

(placa de metal ou vidro) e o nitrato de prata. Disponivel em: <

https://retratistadecolodio.wordpress.com/sobre-a-fotografia-de-colodio-3/> Acessado em: 18 de janeiro de 2017.

misturada com outros reagentes e em seguida com um contato direto com o nitrato de prata, torna-se uma material sensível à luz - diminuindo o custo da fotografia e possibilitando também uma melhora na nitidez da imagem.

Figura 26 e 27: Ilustração do processo com colódio úmido (Fonte: site Retratista de Colódio , 2016)

38 Em seguida, no ano de 1854, Adolphe Eugène Disderi (1819–1889) inovou a fotografia com a técnica de captura e impressão, Carte de Visite5 onde em apenas uma placa conseguia tirar cerca de 6 a 8 fotografias, porém com o tamanho reduzido, similar a um cartão de visita. O químico e fotógrafo amador Richard Leach Maddox (1816-1902) simplificou o

processo de revelação em 1871, quando substituiu o colódio e utilizou-se da técnica de suspensão gelatinosa com o brometo de prata, possibilitando uma maior fixação da imagem.

Figura 28: Carte de Visite (Fonte: Pinterest, 2016)

5Termo usado para fotografias com tamanho de 6x9,5. A fotografia em formato “carte-de- visite”, patenteada por Eugena Disderi, em 1854, caracteriza -se tanto pelo seu tamanho diminuto ( 6 x 9,5 cm), colada em cartão um pouco maior, como pela função de representação social, própria do séc. XIX. Comumente, trocado com dedicatórias variadas, o “carte-

devisite”popularizou a arte do retrato; sendo guardado em álbuns, cuja qualidade de adereços, era símbolo de distinção social.

Disponível em:<http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg2-4.pdf> Acesso em: 18 de janeiro de 2017.

As mudanças na fotografia foram muitas, porém em 1880, George Eastman (1854-1932) passou a ter destaque quando iniciou a Eastman Kodak Company e em 1888 inventou o primeiro filme de rolo, o que tornou possível, logo em seguida a companhia fazer o lançamento da primeira câmera

fotográfica – não reutilizável – com 20 metros de papel fotográfico e que capturava cerca de 100 imagens. A Brownie, como foi chamada por Eastman, era uma câmera de baixo custo, feita de papelão e com uma lente simples, o que permitia que qualquer pessoa a utilizasse, fazendo jus ao slogan, “você aperta o botão, nós fazemos o resto”.

O que primeiro salta aos olhos é a simplificação trazida pela

automação do processo (“você aperta o botão”) e, logo em seguida, a facilidade do processamento da imagem trazida pela divisão de trabalho (“nós fazemos o resto”) (PEREGRINO;MAGALHÃES, 2012, p.21)

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Figura 30: Primeira câmera Kodak (Fonte: site Pinterest, 2016)

Em 1903, os irmãos Lumière, Auguste Marie Louis Nicholas Lumière (1862 - 1954) e Louis Jean Lumière (1864 -1948) produziram os autocromos6 coloridos, principal técnica para a elaboração de fotografias coloridas até o surgimento dos primeiros filmes coloridos em meados de 1930.

Figura 32: Processo Autocromo, RGB (Fonte: site artsy 2017)

O procedimento para a utilização dos autocromos era complicado

devido as placas serem de vidro, necessitando um cuidado maior no manuseio, um tempo a mais para a exposição do que os filmes preto e branco e por ter o custo alto, porém, o resultado impactava pela qualidade das cores, o que não impediu a produção de imagens através dessa técnica.

6 Processo antigo para a fotografia colorida. Chapa colorida com grãos de amido da batata em vermelho, verde e azul (RGB) coberto com emulsão.

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Figura 33: Taj Mahal, India, luz do amanhecer, 1921, Helen Messinger Murdoch (Fonte: site artsy, 2017)

Figura 34: Arnold Genthe, Estudo de nu (Fonte: site artsy, 2017)

Novamente a Kodak entra em ação, o lançamento de uma técnica mais fácil para a realização de imagens coloridas chega no mercado criando um

momento inédito na história da fotografia. Os Kodachrome , filme diapositivo7 que possibilitava fazer fotos coloridas com as máquinas da Kodak.

Figura 35: Filme analógico, Kodak (Fonte: site Queimando Filme, 2017)

Mesmo com a complexidade que ainda pairava sobre a revelação do filme e com um número de laboratórios que não chegava à 25, o Kodachrome 35mm foi considerado como a melhor técnica de captura de imagem da época, as imagens possuíam cores vivas e a nitidez era incrível

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imagem positiva, normalmente em cores, com 35mm em um moldura , preparado em uma superfície transparente usando meios fotoquímicos.

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Figura 36: Colorado, Downtown Cripple Creek (Fonte: site TecMundo Filme, 2017)

O filme, Conhecido também por película fotográfica, possui uma superfície plástica, sendo flexível e com uma pequena translucidez, no qual é aplicado a emulsão - gelatina com sais de prata – sensível a luz, que vem por meio da lente da câmera, porém nem todos os sais de pratas possuem a mesma sensibilidade com a luz, o que diferencia os filmes.

Figura 38: Estrutura de um filme colorido (Fonte: site mnemo cine, 2017)

Sinalizada normalmente pelo número do ISO - International Organization for Standardization, junção de dois sistemas, American Standards Association, e DIN o Deutsches Institut für Normung - a sensibilidade, pode ser encontrada em três diferentes classificações de filmes – baixa, média e alta- com números, que variam do 16 ao 3200, sendo os mais comuns o de 200 e 400 hoje em dia.

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Figura 40: Classificação do ISO (Fonte: mnemo cine, 2017)

No ano de 1936, a companhia alemã, Agfa apresentou também o Agfacolor Neu, também colorido, porém inovador, o filme podia ser revelado em qualquer laboratório, solidificando a fotografia colorida de uma vez mercado.

Figura 42: Jovens em um bom dia, Andre Zucca, 1940 (Fonte: site Visual individual, 2017)

Com o passar do tempo a fotografia esteve sinalizada por causa dos seus usos e as suas funções, causando umas revolução no meio artístico em que estava inserida. “Através de uma qualidade técnica irrepreensível, deixava em segundo plano qualquer tipo de pintura (...) a fotografia libertou a arte da necessidade de ser uma cópia fiel do real” (MAUAD, 1996, p.2) Segundo Mauad (1996), Charles Baudelaire (1821-1867), em um de seus artigos intitulado “O público moderno e a fotografia”, cita como a fotografia se aplica como representação visual:

Se é permitido à fotografia completar a arte em algumas de suas funções, cedo a terá suplantado ou simplesmente corrompido, graças à aliança natural que achará na estupidez da multidão. É necessário que se encaminhe pelo seu verdadeiro dever, que é ser a serva das ciências e das artes, mas a mais humilde das servas (...). Que ela enriqueça rapidamente o álbum do viajante e dê aos olhos a precisão que faltaria à sua memória, que orne a biblioteca do naturalista, exagere os animais microscópicos, fortifique mesmo alguns ensinamentos e hipóteses do astrônomo; que seja enfim a secretária e bloco-notas de alguém que na sua profissão tem necessidade duma absoluta exatidão material. Que salve do esquecimento as ruínas

48 pendentes, os livros as estampas e os manuscritos que o tempo devora, preciosas coisas cuja forma desaparecerá e exigem um lugar nos arquivos de nossa memória; será gratificada e aplaudida. Mas se lhe é permitido por o pé no domínio do impalpável e do imaginário, em tudo o que tem valor apenas porque o homem lhe acrescenta a sua alma, mal de nós (Dubois, 1992, p.23)

Independente das mudanças ocorridas durante todo esse tempo, o requisito principal da fotografia continua o mesmo, é preciso utilizar a luz. A fotografia analógica, como opção nos dias de hoje, diz-se muito sobre a qualidade das imagens em questão e a sensibilidade de revelar-se natural e singular. A imagem capturada uma vez, não tem como apagar.

No documento USOS DA FOTOGRAFIA ANALÓGICA NO DESIGN (páginas 33-50)

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