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2.5 Máquinas da representação

2.5.5 A fotografia: Wedgwood, Niepce, Daguerre e Talbot

Thomas Wedgwood (1771-1805) seria o primeiro a tentar registar uma imagem pela acção da luz, sensibilizou alguns suportes com nitrato de prata, deixando-os em contacto com transparências pintadas expostas à luz, deparando-se sempre com a grande dificuldade de fixar as imagens obtidas.

Em De Paula (1999, p.54), constata-se que a percepção do homem sobre as propriedades da luz em alterar várias substâncias remonta aos primórdios da civilização; a descoloração dos tecidos, o enegrecimento da prata e a alteração da cor da pele quando exposta ao Sol, foram constatações básicas da óptica e da química, que possibilitariam a invenção da fotografia.

Durante o século XVIII, realizaram-se as primeiras experiências fotoquímicas em vários países da Europa, numa tentativa de fixar a imagem. Esta sucessão de experiências teria a sua consolidação na primeira metade do Século XIX (1826), quando o litógrafo francês Joseph Nicéphore Niepce (1765-1833) realizava aprimeira fotografia, ao fixar a imagem de uma janela

num suporte de registo técnico, apenas pela acção da luz (figura 17).

Figura 17 – “View from the Window at Le Gras”, primeira fotografia permanente criada

por Nicephore Niepce em 1826, Saint-Loup-de-Varennes, realizada em 20 x 25 cm e 8 horas de exposição, http://americandigest.org.

sistema obrigava a exposições de algumas horas na câmara escura. A partir de 1829, Niepce e Louis-Jacques Mandé Daguerre (1789-1851) desenvolveram as suas pesquisas; e a 19 de Agosto de 1839, na reunião do Instituto de França, entre as Academias de Ciências e Belas Artes, é oficializada a data do nascimento da fotografia com o reconhecimento do daguerreótipo. De

Paula (1999), descreve o primeiro método prático de fotografia de Daguerre:

«Uma lâmina de cobre polida era sensibilizada com vapor de iodo, que se transformava em iodeto de prata ao aderir à superfície da placa. Depois de exposta aos raios luminosos na câmara obscura, a imagem latente (imagem já sensibilizada pela acção da luz sobre a chapa, porém ainda não visível) era revelada através de vapor de mercúrio aquecido sobre um fogareiro a álcool. O mercúrio aderia às partes do iodeto de prata que haviam sido afectadas pela luz, tornando a imagem visível. A imagem era finalmente fixada com hipossulfito de sódio (para que não continuasse sensível à luz), e lavada com água destilada. O resultado era um positivo único, pois não havia negativos que permitissem a confecção de cópias. A sua imagem de alta definição era, contudo, invertida como num espelho, além disso, a superfície extremamente delicada da chapa de metal precisava ser protegida por uma placa de vidro contra a abrasão e fechada hermeticamente em um estojo para prevenir o contacto com o ar.» (De Paula,

1999, p.56).

A partir de 1834William Henry Fox Talbot utilizava a câmara escura para desenvolver o

processo de gravação permanente de imagens. Estes trabalhos levariamFox Talbot a inventar o

negativo na década de 1840 (Mikosz, 2004, p.2).

Depois de algumas décadas, os retratos sucediam-se às paisagens e à natureza morta, alguns pintores retratistas chegaram mesmo a trocar os pincéis pela câmara fotográfica para darem resposta à procura desenfreada da “novidade”. Nesta época, para as classes burguesas a fotografia a custos reduzidos era uma alternativa aos retratistas pintores, do mesmo modo, a

fotografia servia a instrumentalização de algumas ciências, como a astronomia e a microscopia.

«Da perspectiva geométrica para a objectiva fotográfica há uma metamorfose de veículo, mas não de mídia porque, nos dois casos, está presente a visão hegemónica do sujeito. Até mesmo a explosão da luz, da cor e da sombra como recursos pictóricos de apreensão da natureza plástica de largo uso e exploração no alto renascimento, com Da Vinci à frente, só chegou a provocar efeitos mais consistentes com o impressionismo e seus idealizadores, pressionados pela eficiência mimética da objectiva fotográfica na apreensão visual da realidade e que os libertava da mimese figurativa.» (Ferrara, 2004,

p.25).

Reconhecemos que o surgimento da fotografia fomentou alterações significativas nos hábitos de representação dos artistas da época, este novo paradigma fez com que alguns, como André Bazin, acreditassem que esta evolução da câmara escura resultasse na libertação da pintura na procura obsessiva do realismo. Por outro lado, outros como, Charles Baudelaire, em

1865, acreditaram que a fotografia poderia sobrepor-se às artes plásticas, confirmando o temor dos pintores da época que receavam o fim da pintura. Esta reacção de resistência à fotografia fez com que as preocupações com o realismo se perdessem, dando origem a uma produção pictórica16mais preocupada com a luz e a liberdade das pinceladas (...).

No início, o desenvolvimento da mecânica da fotografia, misturava-se com a manualidade artesanal do fotógrafo, na sensibilização dos suportes e posterior revelação; o acto de fotografar reflectia um processo muito demorado e trabalhoso. Nos anos que se seguiram, os incrementos técnicos permitiram que mais pessoas sem conhecimentos específicos, pudessem utilizar a máquina fotográfica e, consequentemente, usufruíssem da simplificação dos aparelhos e da rápida reprodutibilidade das fotografias.

Esta invenção transformava-se numa actividade em franco desenvolvimento; a Europa e

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Da obra “Impressão nascer do sol” (1872) de Claude Monet surge um novo movimento na pintura designado por Impressionismo.

os Estados Unidos da América registavam uma forte adesão por parte do cidadão comum, em 1853 os americanos produziam mais de três milhões de fotografias. A expansão da fotografia creditava o aperfeiçoamento dos equipamentos e materiais fotossensíveis, as câmaras tornaram- se portáteis e os positivos puderam reproduzir-se em série para comodidade dos seus utilizadores. Com a introdução da Kodak em 1888 porGeorge Eastman, a fotografia tornou-se

mais acessível em preço e mais simples de operar.

Com alguns anos de distância sobre o daguerreótipo, percebemos que o desenvolvimento da fotografia esteve directamente vinculado ao desenvolvimento tecnológico, as tecnologias industriais impuseram-se gradualmente às produções de origem artesanal permitindo que a fotografia caminhasse para a sua grande actualização em pleno século XX com a introdução da imagem digital. Este novo paradigma proporcionado pelas novas tecnologias, quebrava assim com o princípio fundamental enunciado por Henry Fox Talbot ao catalogar a sua descoberta «como um meio para fixar a natureza ou de permitir à natureza que fixe a sua própria sombra, a fotografia, sem a intervenção da mão humana, tinha a capacidade quase mágica de ser uma imitação da realidade.» (Molina, 2002, p.351).

O principio analógico do negativo/positivo utilizado por Talbot seria agora substituído por um processo que utiliza um sensor electrónico (CCD)17 para formar a imagem. Uma

inovação que permite ao utilizador realizar diferentes níveis de intervenção; desde a captura até

à sua manipulação em computador.