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3.4 Desenhos de concepção, com lápis e papel

3.4.1 Esboço e diagrama do design

Nos estudos realizados por Goel (1995, p.134), em “Sketches of Thoughts”, conclui-se

que os designers tendem a utilizar esquemas de representação menos estruturados e ambíguos no início do processo, mas com o desenvolvimento do trabalho essas representações vão ficando mais estruturadas.

A palavra "esboço" é utilizada com frequência por vários autores, para se referirem às representações na fase de concepção, sejam elas gráficas /bidimensionais realizadas à mão levantada, modelos de estudo/tridimensionais ou representações virtuais (2D e 3D) auxiliadas por um computador. O esboço será considerado quando representa as principais características de um objecto ou se realiza como um estudo preliminar de um conceito de design.

No âmbito da ”construção de representações”, considerar-se-á como prioridade o estudo doesboço bidimensional, no ponto “construção da tridimensionalidade” abordar-se-ão as outras

formas deesboço tridimensional.

«esboço: s. m. delineamento inicial de um desenho, de obra de pintura ou de um projecto de arquitectura, onde se indicam somente o conjunto e as divisões principais da obra definitiva; princípio; início; noções gerais; plano; resumo; delineação; bosquejo,

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Os 3 modelos de barro (1 modelo à escala ½ e 2 modelos à escala 1/1), foram realizados à imagem do método utilizado por Harley Earl na criação de modelos tridimensionais para a General Motors nos anos 50 (ver ponto 4.8.2).

debuxo; indicação sumária do conjunto de uma obra e de suas partes.» (Dicionário da

Língua Portuguesa).

Goldschmidt (2003), relaciona o aparecimento do esboço com o desenvolvimento da

impressão comercial verificado no século XV, e consequente utilização do papel pela indústria. O papel de boa qualidade passou a disponibilizar-se a preços acessíveis e como consequência, os artistas e os desenhadores, passaram a utilizá-lo com o propósito de experimentar alternativas através do desenho.

«The desire to experiment, to revise and look for alternatives which the activity of free-hand rapid sketching supported, was of course in perfect harmony with the innovative spirit of the renaissance.» (Goldschmidt, 2003, p.9).

Figura 32 – Karim Rashid, Liquid chair, 2005. O esboço mostra algumas tentativas do

Por sua vez Lugth (2005, pp.102-103), faz uma análise a “Engineering and the mind’s eye”, de Ferguson (1992)51, e identifica três tipos de esboço utilizados no design: “the thinking

sketch”, refere-se à utilização do desenho como apoio ao processo de reflexão individual, o

esboço acontece como forma de registo não verbal de ideias e pensamentos. “The talking sketch”, refere-se à partilha do desenho numa superfície, para que possa ser discutido pelo grupo

de trabalho. Por último, “the prescriptive sketch” refere-se ao esboço utilizado para comunicar

as decisões de design a pessoas que estão fora do processo de concepção.

Existem ainda esboços que podem constituir um meio paraarmazenar ideias, para serem

retomadas à posteriori. Designam-se por “storing sketches”, e diferenciam-se dos “prescriptive sketch” por se destinarem apenas à retenção da informação. A realização do esboço resulta da

necessidade de se prever os resultados da síntese ou manipulação de objectos, sem realmente existir a necessidade de execução dessas operações. (Lugth, 2005, p.104)

Sobre a utilização do esboço Goldshmidt (2003, p.11) observa o potencial desta ferramenta no reforço da concepção e do raciocínio na fase conceptual, quando o designer está activamente à procura de ideias e informações que podem ajudar a gerar, ou fortalecer, uma concepção lógica e uma concepção história. O recurso a esboços ou imagens interactivas no desenvolvimento de conceitos de design, tem vantagens em relação à consulta de imagens que tendem a desaparecer rapidamente.

Neste ponto, interessa diferenciardiagrama do esboço apenas em alguns aspectos formais

já que o diagrama se integra na lista de representações produzidas na fase de concepção e confunde-se em muitas situações com outras formas de registo gráfico. O diagrama difere do

esboço porque contém símbolos; setas que indicam direcções ou forças, notas, palavras ou

pequenas descrições, é uma representação que não faz um descrição detalhada de forma ou de escala. Os diagramas são desenhos simplificados utilizados para explorar conceitos, ou relações específicas entre os vários componentes do artefacto. Podem auxiliar o desenhador na análise,

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visualização e identificação de soluções no projecto, ou servir de meio para comunicar com o cliente tomadas de decisões e possíveis alterações do mesmo.

No dicionário de língua portuguesa, «diagrama» significa:s. m. representação gráfica de determinado fenómeno; bosquejo; delineamento;(...); (Do gr. diágramma, «desenho», pelo lat. Diagramma, «traçado; desenho»).

Em Barki, diagrama descreve-se por «representação abstracta de aspectos específicos e particulares de uma situação ou a relação entre dados de um problema exibindo uma descrição ou explicação na forma de uma relação ideal, um aspecto figurativo, uma transformação evolutiva entre outras». (Barki, 2003, p.121).

Paul Klee no“Livro dos Esquissos Pedagógicos” (1925) e Wassily Kandinsky em “Ponto, e Linha sobre o Plano” (1926), publicados na Bauhaus, recorreram a diagramas para promover

em simultâneo relações espaciais e temporais entre os elementos da composição (Knight, 2004, p.16). Em Moholy-Nagy, e Gyorgy Kepes o conceito de diagrama serviu para caracterizar o próprio processo de desenho, a linha desenhada é o registo do movimento, constituindo assim a base de uma nova "linguagem" de visão, um modo de "escrita" gerado pela realidade que

representa (Lupton, 1988, p.5).

Figura 33 – Esquerda: Paul Klee, representação do “sistema circulatório”, Klee, 1990 p. 120, Direita: Wassily kandinsky, “esquema gráfico do salto”, kandinsky, 1970, p.50.