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1 Educação integral

2.2 A funções educativas das bandas

Em primeiro, destaco a importância da interação social estabelecidas entre os participantes de uma banda, pois o convívio cria um vínculo muito forte entre os membros, cada um identifica-se com o outro, tornando o grupo um todo coeso. Arroyo (2002) afirma que a simples prática musical pode causar algum tipo de aprendizagem e, a partir dessa perspectiva, entendermos que “existem muitas outras pessoas que ensinam música e que facilitam o acesso à música sem necessariamente pensar em si mesmas como professores no sentido formal”. Amigos, regente, porteiro, etc., todos podem ser interlocutores de formação. Essa relação entre membros de uma comunidade é chamada por Swanwick de espaço

intermediário, que é um espaço potencial para aprendizagem (SWANWICK, 2003, p. 14).

Campos, ao analisar a aprendizagem musical em bandas, destaca que:

É importante considerar não apenas os aspectos ligados à prática musical, mas aos conhecimentos resultantes das relações de socialização, inclusive aqueles produzidos na escola – lugar onde as relações sociais e as práticas musicais se com Figuram de forma particular (CAMPOS, 2008, p. 107).

Assim, são múltiplas as aprendizagens produzidas pela aglomeração de pessoas em torno de um eixo comum, a aprendizagem musical. Neste sentido, Campos ainda destaca que “as atividades desenvolvidas pelas bandas e fanfarras escolares contribuem tanto para

aquisição de valores e incorporação de comportamentos quanto para a ampliação de experiências musicais” (CAMPOS, 2008, p. 109, grifos nossos).

O ensino e a aprendizagem musical são realizados de múltiplas maneiras em uma banda. Costa, ao investigar a Banda 12 de Dezembro, destacou que:

A diversidade de situações de aprendizagem musical na Banda 12 de Dezembro permite ao aluno não só aprender como também ensinar aos colegas, pois os contatos, as trocas de informações e todo o processo de integração social acontecem fluentemente (COSTA, 2008, p. 87).

Neste caso, o ensino acontece através da experimentação de forma prática, e a partir da interação com os demais participantes, numa troca mútua de saberes. Neste sentido, essa troca de saberes entre os participantes proporciona um contato com uma diversidade de “mundos musicais”, nos termos de Ruth Finnegan (apud ARROYO, 2002). Deste modo, o ensino e a aprendizagem acontecem em qualquer lugar e momento, e a aprendizagem musical nas bandas é constante.

Destarte, a educação musical e as pesquisas em ensino e aprendizagem musical devem estar atentas para os distintos processos de aprendizagem musical, principalmente os que estão alicerçados a partir da interação social, como é o caso das bandas. Arroyo (2002, p. 98) aponta que em “qualquer prática musical estão implícitos o ensino e a aprendizagem de música, que nenhuma prática é melhor que outra, mas que cada uma deve ser compreendida no seu contexto de construção e ação”.

Queiroz argumenta ainda tal aspecto, afirmando que:

[...] a educação musical está diante de uma pluralidade de contextos, que têm múltiplos universos simbólicos. Dessa maneira, somente criando estratégias plurais e entendendo a música como algo que tem valor em si mesmo, mas que também traz outros sentidos e significados, poderemos pensar num verdadeiro diálogo entre educação musical e cultura (QUEIROZ, 2004, p. 106).

O ensino e a aprendizagem em bandas acontecem de forma múltipla. Os diversos integrantes da banda são ao mesmo tempo professores e alunos. Segundo Campos (2008, p. 107) as relações sociais que se estabelecem entre eles geram diversos novos conhecimentos, pois “o aprendizado musical torna-se apenas um dos aprendizados possíveis”.

Na mesma direção, Costa (2008) destaca que:

Para muitos, as bandas de música são conjuntos musicais criados para entreter ou “decorar” solenidades cívicas e religiosas. O que nem todos sabem, no entanto, é que entre outras funções, essas agremiações funcionam como singulares espaços de ensino e aprendizagem musical, onde os alunos aprendem música e lições de vida, num universo de intensiva socialização (p. 80).

Costa (2008) aponta ainda que, muitas vezes, as bandas são os únicos espaços de formação musical da cidade e “único local destinado ao ensino músico-instrumental”. Devido à falta de apoio, essas bandas vão se organizando e se mantendo de forma bastante precária, mas procurando superar os obstáculos para se manterem fazendo música. Apesar de todas essas aprendizagens possíveis, a maioria das bandas seguem uma metodologia com característica que tornam esses espaços similares um ao outro. Aulas coletivas de teoria, solfejo, foco na notação musical e prática de conjunto.

Kandler, em pesquisa sobre processo de musicalização dos instrumentistas de sopro das bandas de música da região do meio oeste do Estado de Santa Catarina, percebeu que:

A metodologia tradicional de ensino de instrumentos de sopro [em bandas] é geralmente dividida em quatro fases consecutivas: aula coletiva de teoria e divisão musical; aula individual de divisão musical; aula individual de instrumento e prática em conjunto (KANDLER, 2010, p. 294).

Esse processo repete-se em muitas outras bandas, sendo quase pontos comuns entre todas as bandas. De certo modo as bandas mantêm características de um ensino de música tradicional, com foco na leitura musical, diferenciando-se do processo oral que se sucede em muitos casos de ensino e aprendizagem musical em manifestações populares. Neste sentido Cajazeira aponta que:

Diferente da maioria das manifestações musicais populares, a banda de música não tem a tradição da oralidade. Segue a cultura da educação musical tradicional, ou seja, os princípios básicos que regem o ritmo, a melodia, a harmonia e os sinais que compõem a notação musical (CAJAZEIRA, 2004, p. 37).

A seguir, passarei a apresentar alguns pontos comuns na formação dos músicos de bandas que foram observados em pesquisas na área.