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1 Educação integral

1.4 Programa Mais Educação

1.4.2 Cadernos do Programa Mais Educação

Para apoiar a implementação do programa Mais Educação, foram lançados três livros que trazem concepções sobre educação integral e servem de orientações para implementação do programa. O primeiro é intitulado Gestão Inter setorial no Território, trata dos marcos legais do Programa; das temáticas: educação integral e gestão Inter setorial; da estrutura organizacional e operacional do Programa; dos projetos e programas ministeriais e de sugestões para procedimentos de gestão nos territórios (Fig. 1). Na apresentação desse volume salienta-se que:

A educação integral tem sido um ideal presente na legislação educacional brasileira e nas formulações de nossos mais lúcidos educadores. Iniciativas diversas, em diferentes momentos da vida pública do país, levaram esse ideal para perto das escolas implantando propostas e modelos de grande riqueza, mas ainda pontuais e esporádicos (BRASIL, 2009a, p. 8).

5 O monitor recebe apenas uma ajuda para o ressarcimento de despesas de transporte e alimentação ganhando 60

FIigura 1 – Capa do Caderno Gestão Inter setorial no Território (BRASIL, 2009a).

Para que haja uma educação integral de fato a elaboração de uma concepção bem alicerçada e que consiga chegar às escolas e é essencial a articulação dos vários ministérios cada um dando sua contribuição para alcançar todo o Brasil.

O segundo volume (BRASIL, 2009b, p. 9), intitulado Educação Integral: texto

referência para o debate nacional traz uma ampla discussão, considerando “a amplitude

teórico-conceitual, histórica e pedagógica do debate acerca da educação integral, este texto procura auxiliar a reflexão para construir o debate nacional” (Fig. 2). Esse documento apresenta as concepções sobre educação integral principalmente ligado a uma visão que articula os diversos saberes.

Um terceiro, intitulado Rede de Saberes Mais Educação, propõem alternativas para a elaboração de propostas metodológicas de educação integral por meio do diálogo entre saberes escolares e comunitários, representados na forma de Mandalas de Saberes (FIG. 3). “A aposta desta formulação para a educação integral está na construção de um instrumento capaz de lidar com saberes oriundos de distintas experiências e avançar na direção da escuta

mútua e das trocas capazes de constituir um saber diferenciado” (BRASIL, 2009c, p. 15, grifos meus).

Figura 2 – Capa do Caderno Texto Referência para Debate Nacional (BRASIL, 2009b).

Concordando com Silva e Silva:

Os documentos norteadores do Programa Mais Educação defendem a educação integral como a referência de organização das ações vinculadas, com ênfase na construção de projetos pedagógicos, formação de seus agentes, infraestrutura e meios para sua implantação (SILVA; SILVA,

2010, p. 2).

De modo geral, o Programa Mais Educação sugere a construção de uma educação integral a partir de uma articulação com outras políticas públicas, tendo como pressupostos a intersetorialidade e a intergovernabilidade, instituindo o Programa Mais Educação no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. Além das parcerias intersetorias e intergovernamentais, o Programa Mais Educação pressupõe o diálogo com as redes de educação.

Outro pressuposto que alicerça a concepção do programa Mais Educação e que está presente nos três cadernos é o das cidades educadoras. Essa ideia propõe que a cidade é um espaço potencial para a aprendizagem, esse paradigma faz parte da ideologia de vários autores, um dos mais importantes é Paulo Freire.

Freire aponta que, “Enquanto educadora, a Cidade é também educanda” (2001, p. 23). Gadotti, apoiado na concepção de Freire, afirma que em uma cidade educadora todos os

seus habitantes usufruem das mesmas oportunidades de formação, desenvolvimento pessoal e de entretenimento que ela oferece. “É a cidade, como espaço de cultura, educando a escola e todos os seus espaços” e a escola, “educando a cidade numa troca de saberes e de competências” (GADOTTI, s/d, p. 1).

Os três cadernos fazem diversas citações sobre a possibilidade de a cidade ser geradora de aprendizagem. O texto sobre Gestão Inter setorial no Território propõe que: “a educação integral torna-se mais potente à medida que é entendida como um projeto de cidade. Esse entendimento decorre de processos contínuos de negociação, pactuação e acordos formalizados entre todos os envolvidos” (BRASIL, 2009a, p. 46, grifo nosso).

O texto Educação Integral: texto referência para o debate nacional sugere algo mais prático:

Contextualizado nos objetivos e metas gerais que caracterizam a atuação sistêmica, o projeto pedagógico deve preocupar-se com o planejamento das atividades cotidianas da escola; deve prever as possibilidades de interação

com a comunidade e com a cidade por meio da visita a museus, parques,

comunidades indígenas e quilombolas (BRASIL, 2009b, p. 38, grifos nossos).

O terceiro volume, Rede de Saberes Mais Educação, aponta que educação não acontece apenas no espaço escolar, mas em todo um território e “deve expressar um projeto comunitário”. “A cidade é compreendida como educadora, como território pleno de experiências de vida e instigador de interpretação e transformação” (BRASIL, 2009c, p. 31 grifo nosso).

Figura 3 – Capa do Caderno Rede de Saberes Mais Educação (BRASIL, 2009c).

A articulação dos saberes da comunidade com os da escola é um dos focos centrais no Mais Educação. Para uma educação integral essa troca de saberes e competências tornam- se condição essencial, pois os alunos não são seres isolados do mundo que os cercam.

Nessa perspectiva, Gadotti descreve que o papel da escola é:

[...] contribuir para criar as condições que viabilizem a cidadania, através da socialização da informação, da discussão, da transparência, gerando uma nova mentalidade, uma nova cultura, em relação ao caráter público do espaço da cidade (GADOTTI, s/d, p.5).

Ele continua propondo que, numa perspectiva transformadora, a escola educa para ouvir e respeitar as diferenças, diante da diversidade que é composta a cidade.

O cidadão da cidade educadora presta atenção ao diferente e também ao “deficiente”, ou melhor, ao portador de direitos especiais. Para que a escola seja espaço de vida e não de morte, ela precisa estar aberta para a diversidade cultural, étnica e de gênero e às diferentes opções sexuais. As diferenças exigem uma nova escola (GADOTTI, s/d, p. 5).

Assim, a concepção da cidade educadora visa à formação de cidadãos que vejam na diferença uma riqueza e não uma deficiência, para assim, a partir daí, saber respeitar a diversidade cultural que cerca a cidade.

Como vimos, a educação integral faz parte da história brasileira, apesar dos encontros e desencontros. Mas, há na nossa história muitas referências sobre o ensino integral. Essas discussões na atualidade sobre educação integral não são algo inédito, mas o ressurgimento de uma concepção que esteve em momentos importantes da educação brasileira.

O Programa Mais Educação é um reflexo dos debates sobre a educação integral. Porém, esse espaço tem sido pouco investigado e consequentemente compreendido. Ao nosso entender, o ensino em tempo integral deve estar articulado a uma concepção consistente de educação integral.

Apesar do recente início do Mais Educação, ele já está presente em muitas cidades brasileiras. No caso da oficina de banda fanfarra, tem sido uma oportunidade para muitas escolas terem sua própria banda, já que muitas não possuem, principalmente em datas como o desfile cívico em 7 de setembro. Assim, no próximo capítulo discutiremos mais sobre bandas e como essa oficina tem sido uma das mais encontradas nas escolas.