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A GÊNESE DO BOPE

No documento COESP ESTUDO.pdf (páginas 39-43)

“[1974] A situação era crítica e nós não tínhamos condições técnicas para atuar naquela crise. Aconselhei não invadir, mas fui voto vencido [...] decidiram entrar com o pessoal do DAE [Destacamento de Atividades Especiais da PM que atuavam em situações semelhantes ao Goesp]. Sabia que não daria certo.” (Paulo Cesar Amendola de Souza, Tenente Coronel PM Reformado).

Em 1974, durante a Fase 2 (ver Quadro 1), quatro internos do Presídio Evaristo de Moraes, conhecido como Galpão da Quinta da Boa Vista, rebelaram-se após uma frustrada tentativa de fuga. Tomaram como refém funcionários do presídio, policiais militares e o próprio diretor do Presídio, o Major da Polícia Militar Darci Bittencourt. A Secretaria de

Estado de Segurança Pública convocou o Grupo de Operações Especiais56 (Goesp), da própria Secretaria, para atuar na solução da crise. O Chefe do grupo, o Capitão Paulo Cesar Amendola de Souza, aconselhou não invadir. Contudo a invasão foi executada por outro grupo, o Destacamento de Atividades Especiais da PM (DAE) que atuavam em situações semelhantes ao Goesp. Contudo, a ação resultou na morte de todos os rebelados e de todos os reféns, inclusive o Diretor do Presídio, evidenciando a incapacidade do sistema de segurança pública de agir em situações peculiares que exigissem conhecimentos e treinamento específicos.

Figura 3 - Coronel EB Sotero, Comandante Geral, e Capitão PM Amendola (1978)

(Fonte: Arquivo pessoal do Tenente Coronel PM Paulo Cesar Amendola de Souza)

A partir da rebelião do Galpão da Quinta da Boa Vista, o então Capitão Amêndola começou a estudar as ocorrências com refém, em outros países, e os grupos policiais preparados para agir nestas situações: “A polícia militar não estava preparada para aquele tipo de cenário, a PM estava voltada para a defesa interna e territorial [...], as técnicas policiais [da época] eram pouco aplicáveis nas ocorrências daquela natureza”. Em 12 de janeiro de 1978, de posse de um projeto elaborado ao longo de 1976 e 1977, o Capitão Amendola propôs ao Coronel EB Mario José Sotero de Menezes, Comandante Geral da PMERJ (Figura 3), a criação de um grupo para atender ocorrências que fugissem à capacidade física, técnica e psicológica das unidades da PM.

56 “Grupo de Operações Especiais (Goesp) criado em 4 de julho de 1969, na gestão do General Luís França de

Oliveira, então Secretário de Segurança Pública. Subordinado à Secretaria de Segurança Pública, era constituído de policiais militares e policiais civis treinados nas Forças Armadas, para atuar no enfrentamento de grupos guerrilheiros”. (Paulo Cesar Amêndola de Souza, Tenente Coronel PM Ref.)

O processo de seleção, treinamento, emprego e controle deste novo grupo, deveriam obedecer a fundamentos rígidos, e “mais do que isto tudo, o grupo deveria ter uma mística própria”, como observa o Tenente Coronel Amendola. No Boletim da PM nº 14, de 19 de janeiro de 1978, foi criado o Núcleo da Companhia de Operações Especiais – NuCOE. A nova unidade ficou subordinada, operacionalmente, ao Chefe do Estado-Maior da PMERJ, instalando-se, inicialmente, em barracas de campanha, montadas no espaço compreendido entre os prédios da Escola de Formação de Oficiais da PMERJ57 e do CFAP, no bairro de Sulacap.

Figura 4 - Os fundadores do NuCOE (1978)

(Fonte: Arquivo pessoal do Tenente Coronel PM Paulo Cesar Amendola de Souza)

Durante o I Curso de Operações Especiais, em 1978, o Capitão Amendola, juntamente com sua equipe de instrução (Figura 4), escreve a canção da unidade em duas estrofes e um refrão, de uma forma “[...] simples como devem ser os homens de operações especiais, transparente na divulgação de seus valores, e preciso na mensagem a ser enviada para todos.” (Tenente Coronel Amendola). Amendola explica que tudo relacionado ao NuCOE “era feito com muito sacrifício”, pois, não havendo recursos financeiros ou materiais, sua equipe improvisava, “dava seu jeito” para realizar as tarefas. Na falta de instalações adequadas, alojavam-se em barracas de campanha emprestadas do Exército. Na falta de meios e locais para treinamento, eles construíam pistas de obstáculos e pistas de tiro, utilizando troncos de árvore e material improvisado, o que dava o tom de rusticidade à construção e ao próprio grupo. “Sacrifício pela causa do grupo e rusticidade como fundamento, eram as principais

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características dos integrantes fundadores do NuCOE”, segundo Amendola. Estas categorias seriam incorporadas ao processo de treinamento, como veremos mais adiante.

Lealdade, destemor, e integridade serão os primeiros lemas, desta equipe sempre pronta a combater toda a criminalidade, a qualquer hora, a qualquer preço.

Idealismo como marca de vitória.

Com extrema energia combatemos todos os nossos inimigos, criminosos declarados e, em igualdade, derrotamos os omissos. Guerra sem trégua, heróis anônimos,

Operações Especiais!

E o Batalhão, coeso e unido, não recua ante adversidades. Com ousadia enfrentamos realidade.

Vitória sobre a morte é a nossa glória prometida.

Hurra!

(Canção do BOPE - Letra de Paulo Cesar Amendola de Souza - 1978)

Em 1980, a unidade adota seu polêmico emblema (Figura 5): um disco preto, representando o luto permanente, ornado por uma borda em vermelho, representando o sangue derramado em combate; no centro do disco se inscreve um desenho de crânio humano, representando a morte, com um sabre de combate o trespassando de cima para baixo, representando a vitória sobre a morte em combate; o conjunto é ornado por duas garruchas douradas cruzadas, que simbolizam, internacionalmente, a polícia militarizada. “Começava nascer a „mística‟ da unidade de operações especiais”, conforme declaração do Tenente Coronel Amendola, onde a “glória prometida” seria a vitória sobre o que mais se poderia temer no combate: a morte.

Ainda em 1980 é adotado o distintivo do Curso de Operações Especiais (Figura 6). O conjunto do centro do emblema da unidade passa a integrar o símbolo da conquista daqueles que terminam o processo de treinamento, sendo ornado com dois ramos de louro representando a vitória pelo sacrifício da passagem. Os iniciados passam a ostentar a marca de sua “glorificação”, o pacto estabelecido na promessa de “vitória sobre a morte” para aqueles que conseguissem terminar o programa de treinamento, o COEsp.

Figura 6 - Distintivo do COEsp

No documento COESP ESTUDO.pdf (páginas 39-43)