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2. EXPOSITOR TEÓRICO

2.1. A ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA

2.1.3. A Gestão como objeto

Nesta subseção todo esforço se direciona no sentido de determinar a Gestão como o objeto de pesquisa da Administração Profissional, seja para a Administração Profissional, que se ocupa das relações de produção internas às entidades, quanto para a Administração Política, que arroga para si o entendimento das relações sociais de produção. E, no caso dessa última, isso é algo sobremaneira crucial.

Isso porque a adoção da Gestão como seu principal objeto de estudos livra a Administração Profissional das amarras impostas pela aceitação da Organização – nesse sentido vista como um fenômeno social - como seu elemento fulcral. Sem essa trava, ela pode jogar luzes por sobre um campo desde suas origens negligenciado: as relações sociais de produção.

Um aspecto até aqui eclipsado é que ao se dedicar ao estudo do campo da Administração Política, também se está a promover um resgate epistemológico da ciência administrativa, levantando-se questões sobre os mais diversos temas dessa área, com especial destaque para o seu objeto (OLIVEIRA JÚNIOR, 2010).

É preciso salientar a importância da determinação da Gestão como objeto primordial da Administração Profissional. Sem isso, não há como essa ciência se debruçar sobre as formas assumidas pelas relações sociais de produção. A manutenção da Organização, enquanto fenômeno social, como o objeto do campo limita o seu raio de ação, posto encerrar o seu foco nos limites das paredes organizacionais, mesmo quando o tema é a Gestão social.

Por isso que é necessário descontruir os argumentos em favor da Organização como objeto da Administração Política e reconstruí-los em termos da Gestão assumindo esse papel de protagonismo. Essa reestruturação passa, inclusive, pela caracterização morfológica do termo “Organização”, a fim de determinar qual o sentido que ele carrega consigo.

Segundo Caribé (2008), ao desenrolar questionamentos sobre o “o que”, o “por que”, o “como” e até o “para quem” se produzir o conceito de Gestão traz para si claros predicados políticos, reforçando essa declaração com o fato de que as respostas a tais perguntam também

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estão eivados da visão de mundo de quem as constrói.

Revisitando autores institucionalistas, E. L. Santos e Santana (2010) detectaram que muito dos temas tangenciados por aqueles escritores – tais como opções estratégicas, racionalidade limitada, custos de transações e estrutura de governança – são, em verdade, temas de Gestão que deveriam ser tocados também pelos estudos administrativos e, não, pelas ciências econômicas de um modo exclusivista.

Ressalte-se que a concepção de Gestão recepcionada aqui neste texto a compreende como um conjunto de princípios, técnicas e explicações que tem por devir a condução e o controle dos modos de concepção e de andamento de todos os elementos conformadores de organização (FRANÇA FILHO, 2009).

Gomes (2012), adicionalmente, fundamenta os seus argumentos salientando que, no contexto da realidade fática, a Gestão deve ser recepcionada como uma ferramenta de apoio à construção de concertações entre interesses sociais conflitivos que emergem da sopa formada pelas interações produtivas.

Todavia, assaltando-se R. S. Santos (2009, 2010), também é inserido nessa definição o entendimento de que a Gestão também se relaciona com a intencionalidade imaterial dos agentes – como um vir a ser – que é gestada ainda na formatação dos seus interesses, bem como o fato de que a Gestão não é algo atinente apenas às Firmas ou outras formas de associações, mas também a toda as modalidades de relações sociais, principalmente as de cunho produtivo.

Além disso, muito dos temas que ocupam o leque discursivo dos estudos administrativos são basicamente tópicos que versam sobre a forma como prever, organizar, coordenar, comandar e controlar o andamento dos empreendimentos humanos, sejam eles de caráter privado, público ou social.

Cristaldo e Pereira (2008) estão corretos quando definem que há uma complementaridade entre a Administração Profissional, que se realiza no interior das Organizações, e a Administração Política, que permeia toda a atmosfera inalada pelas relações sociais de produção e que ambas têm na coordenação e normatização – a gerência e o

management – dos procedimentos os seus elementos de concretude.

Essa amálgama se dá por meio da procura de legitimação e justificação das suas formas de atuação procurada pelas firmas, que só é possível por meio de uma estrutura social de coação e coerção, no presente caso, o Estado. Do mesmo modo, este último ganha

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funcionalidade com a defesa desse contexto de coisas.

Por seu turno, França Filho (2009), ao mesmo tempo em que relembra que a percepção comum que se tem sobre a Administração é a de que ela se volta tão somente para as formas de como dirigir uma organização, prescrevendo ações de otimização no uso dos recursos, ou seja, formas eficientes de gerenciamento, também sugere que isso diminui a referida ciência e cobra por uma expansão dos limites dos estudos administrativos.

Por sinal, Bomfim (2010) se insere por entre aqueles que enfatizam que o recepcionamento do ato de Gestão como objeto dos estudos administrativos é condição basilar para o desenvolvimento da Administração Política como um campo autônomo do conhecimento, sem essa adesão, a própria existência da referida proposição teórica fica comprometida.

Oliveira Júnior (2010) também advoga que o objeto de pesquisa central da Administração Política é a concepção prévia – intencional – de formas de previsão, organização, controle, coordenação e comando, ou seja, a Gestão. Contudo, no presente caso, a Gestão das relações sociais de produção.

Deve ser considerado também que os estudos basilares da Administração Política defendem que a preocupação das suas formas de intervenção não devem se restringir apenas aos conceitos de eficácia – recorrência do atingimento de metas – e de eficiência – grau de produtividade – mas também com a efetividade, ou seja, com o perfil do processo de atendimento desses mandatos (E. L. SANTOS, 2010).