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A Gestão Estratégica e Participativa na Educação

No documento nairamariarodriguesaraújo (páginas 81-85)

Organograma 1 Estrutura da SEMEC

3 OS DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE DIRETORES DE ESCOLA E O

3.1.2 A Gestão Estratégica e Participativa na Educação

Nos últimos anos, tem crescido a importância atribuída ao modo de gestão estratégica e participativa tanto nas redes de educação, quanto nas escolas. Entende-se que a discussão sobre as demandas e as atribuições da gestão de escolas exige, primeiramente, a compreensão desse modo de gestão como um importante pressuposto. Tendo isso em vista, esta seção apresenta o que se entende por gestão estratégica e participativa e sua relação com a ideia de gestão democrática e gestão integrada no sistema educacional.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como princípio, no artigo 206, a gestão escolar democrática e participativa no ensino público. Desde então, o sistema de educação brasileiro vem passando por mudanças com vistas à democratização do ensino. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) reafirmou esses princípios democráticos e estabeleceu um marco de mudanças não apenas da qualidade, mas, principalmente, de paradigmas, de novas políticas e de gestão em todas as instâncias do sistema educacional.

Para melhor entender os impactos decorrentes dessas mudanças, Lück (2011, p. 49) ressalta:

[...] é importante notar que a ideia de gestão educacional, correspondendo a uma mudança de paradigma, desenvolve-se

associada a outras ideias globalizantes e dinâmicas em educação, como, por exemplo, o destaque à sua dimensão política e social, ação para transformação, participação, práxis, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, avaliação qualitativa, organização do ensino em ciclos e etc., de influência sobre todas as ações e aspectos da educação, inclusive as questões operativas, que ganham novas conotações a partir dela.

É importante deixar claro o que a autora entende por gestão educacional:

[...] O processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas, para a implementação das políticas educacionais e projetos pedagógicos das escolas, compromissado com os princípios da democracia e com métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias, no âmbito de suas competências) de participação e compartilhamento (tomada conjunta de decisões e efetivação de resultados), autocontrole (acompanhamento e avaliação com retomo de informações) e transparência (demonstração pública de seus processos e resultados) (LÜCK, 2011, p. 35).

Machado (2019a, p. 7) afirma que entender o significado da gestão educacional não é suficiente para que se possa implementá-la nas redes de ensino. Para que isso ocorra, a autora explica que é preciso entender que “[...] a gestão educacional contempla três modos de gestão não excludentes: a gestão integrada, a gestão estratégica e a gestão participativa” (MACHADO, 2019a, p. 7). Para melhor explicar esses modos e gestão, ela propõe a ideia de tríade da gestão educacional.

Portanto, compreendendo que a tríade da gestão educacional é formada pela gestão integrada, gestão estratégica e gestão participativa, faz-se necessário explicar cada um dos elementos dessa tríade.

Observa-se que a gestão do sistema educacional precisa respeitar a integração entre os seus níveis, que abrangem desde as instâncias superiores do sistema até as unidades escolares. Assim, identificam-se o nível macro do sistema, no qual se encontram as instâncias federal, estadual e municipal do sistema, e o nível micro, formado pelas escolas das redes educacionais. A integração entre esses níveis garante que ocorra o desdobramento de políticas, diretrizes e regulamentos, definidos nas instâncias superiores, em diretrizes e

planos de ação na unidade escolar. Essa ideia está presente na seguinte explicação:

[...] A gestão integrada aplicada à educação pressupõe as relações de interdependência existentes entre o nível macro e o micro do sistema educacional. Significa dizer que as decisões tomadas nas instâncias superiores da rede de ensino, seja na forma de políticas ou de regulamentações, devem considerar a capacidade das escolas de as operacionalizarem, adequando-as à realidade em que estão inseridas. Da mesma forma, as escolas não funcionam de forma isolada da rede e, por conseguinte, a sua gestão precisa, necessariamente, considerar o desdobramento de diretrizes, políticas e regulamentações na busca por melhores resultados educacionais (MACHADO, 2019a, p. 8).

O outro modo de gestão da tríade é o de gestão estratégica, que, segundo Machado (2019a, p. 9), deve ser vista como um processo cíclico, ou seja, “uma adaptação contínua que as organizações têm que enfrentar, mudando visão, hábitos, cultura, postura e estratégias, a fim de se adequarem às mudanças do ambiente em que atuam e às tendências futuras [...]”. Para melhor entender esse modo de gestão, é preciso explicar os três elementos que o compõem: a visão sistêmica, o pensamento estratégico e o planejamento (MACHADO; MIRANDA, 2012, p. 6;MACHADO, 2019a, p. 10).

Por visão sistêmica entende-se o que Machado e Miranda (2012, p.06) definem como “a capacidade do gestor de compreender e estabelecer as diversas relações de interdependência presentes dentro e fora da organização e que condicionam o desempenho organizacional.” Desse modo, importa frisar a necessidade de o diretor compreender as relações entre escola e sistema de ensino, entendendo que o funcionamento de ambos depende da correlação existente entre esses níveis macro e micro. Da mesma forma, é importante estabelecer elos dentro da escola, entre equipe escolar e comunidade.

Quanto ao pensamento estratégico, as autoras explicam que é a capacidade do gestor de entender, com base na visão sistêmica, quais são as decisões e ações que devem ser tomadas prioritariamente para atender às demandas de futuro da organização. Machado e Miranda (2012, p.17) explicam que

[...] pensar estrategicamente significa compreender, de maneira articulada, a realidade que cerca a organização, as demandas e exigências que precisam ser atendidas, bem como seus pontos

fortes e fracos, a fim de definir prioridades de ação nas tomadas de decisão.

Nesse contexto, o planejamento emerge como um elemento importante da gestão estratégica, mas que deve ser visto como um instrumento de apoio, não devendo ser confundido com a própria gestão estratégica. As autoras chamam a atenção para o fato de o planejamento ser uma metodologia e, portanto, “permite ao gestor conduzir de maneira sistemática e detalhada a sua gestão” (MACHADO; MIRANDA, 2012, p. 17).

Tendo em vista os elementos que compõem a gestão estratégica, pode-se dizer que os gestores, em particular os diretores de escola, não devem lidar com o planejamento da escola como apenas uma exigência do nível macro da rede de ensino. Para que eles possam implementar de forma eficaz esse modo de gestão, eles precisam desenvolver a visão sistêmica do pensamento estratégico e utilizar o planejamento de forma consciente.

Por fim, o modo de gestão participativa complementa a tríade da gestão na educação. Aplicada ao sistema educacional, pode-se dizer que a gestão participativa é consequência do processo de democratização e das mudanças dele decorrentes. Isso porque, como explicado por Machado e Miranda (2012, p. 15), “o princípio da democratização aplicado ao processo de gestão educacional se traduz em participação”. Como resultado do processo de descentralização na educação, surge a demanda por participação em todos os níveis do sistema educacional. Segundo as autoras,

[...] a possibilidade de participação nos processos decisórios depende do grau de descentralização do poder de decisão nos sistemas educacionais e da autonomia que as unidades escolares possuem para agirem de maneira proativa. Porém, a autonomia nos processos decisórios pressupõe responsabilidade sobre os seus resultados (MACHADO; MIRANDA, 2012, p. 15).

Quando se pensa na demanda por participação na educação, principalmente nas escolas, percebe-se que, para que isso ocorra, é preciso promover primeiramente uma mudança de valores, de comportamentos, de desenvolvimwento de competências, enfim, uma mudança de cultura mesmo. Nesse sentido, Lück (2013) entende que a gestão participativa emerge de um novo paradigma educacional, que

[...] tende a adotar práticas interativas, participativas e democráticas, caracterizadas por movimentos dinâmicos e globais pelos quais os dirigentes, funcionários e clientes ou usuários estabelecem alianças, redes e parcerias, na busca de superação de problemas enfrentados e alargamento de horizontes e novos estágios de desenvolvimento (LÜCK, 2013, p. 30).

Essa mudança de paradigma aponta para uma completa transformação não apenas da maneira com que as pessoas são tratadas com relação ao trabalho e sua contribuição para a organização, mas também com relação às capacidades que deverão desenvolver, voltadas para a proatividade e tomada de decisão e responsabilidade.

Pode-se dizer, então, que os modos de gestão integrada, estratégica e participativa passaram a exigir dos gestores do sistema educacional, inclusive diretores de escola, um conjunto de conhecimentos, conceituais e técnicos, uma mudança de paradigmas e de comportamento, assim como um conjunto de novas competências, cuja aquisição só é possível por meio de cursos de capacitação, treinamento e desenvolvimento. No entanto, é responsabilidade das redes de ensino criar as condições de oferta desses cursos e do desenvolvimento dos gestores na prática do trabalho de gestão.

3.1.3 Os Processos de Planejamento, Monitoramento e Avaliação na

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