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A guarda compartilhada como solução dos conflitos de alienação

Diante dos casos corriqueiros de alienação parental, o judiciário começou a adotar a guarda compartilhada como regra de combate à prática alienativa. Nesta espécie de guarda, há o compartilhamento da custódia do filho, o que traz como consequência o rechaçamento do sentimento de posse do alienador, obrigando-o a abandonar a conduta possessiva sobre o

filho, o que, muitas vezes, traduz-se na substituição de expressões como “meu filho” para “nosso filho”.

Para compreender melhor o instituto da guarda compartilhada, Marques (2009) explica que a ruptura conjugal não altera as características do poder familiar, porém, é marcante para aquele que obtém a guarda da criança. Isto porque, o detentor da guarda permanece no lar com o menor, diferentemente do ascendente que se afasta do antes lar conjugal, conduzindo a um conflito entre as partes, que muitas vezes ficam insatisfeitas com o afastamento de seus filhos. Partindo-se desta premissa, pode surgir dúvida no juiz quanto à espécie de guarda que deve ser estipulada, forçada por uma ruptura litigiosa do vínculo matrimonial. Ainda complementa, que na maioria das vezes é o homem que se afasta do lar, cabendo à mãe a guarda dos filhos, e, ao homem, a total liberdade para usufruir da sociedade que tolera o vulgar e o promíscuo. Deixa-se, assim, a impressão de que não estaria ele homem preparado para as minúcias e obrigações que permeiam a guarda compartilhada, e, especialmente, ao alcance dos objetivos que possui na criação dos filhos.

No entanto, tomando-se como verdadeira tal afirmação, em não havendo um bom entendimento entre os genitores, o pai será sempre prejudicado, pois a mãe poderá impor suas condições como guardiã, especialmente inserir ideias e ideais na cabeça do filho com o intuito, muitas vezes, de prejudicar o convívio com o genitor. Contudo, a guarda compartilhada surge para impedir situações desta natureza, tornando equânime a relação pai- filho-mãe.

Denise Maria Perissini da Silva (2014, p. 1) explica o que é a guarda compartilhada:

A guarda compartilhada é uma modalidade de guarda de filhos menores de 18 anos completos não emancipados, ou maiores incapacitados enquanto durar a incapacidade, que vem crescendo nos últimos tempos, como a maneira mais evoluída e equilibrada de manter os vínculos parentais com os filhos após o rompimento conjugal (separação, divórcio dissolução de união estável).

Tal entendimento sobre a guarda compartilhada torna-se necessário para uma análise mais aprofundada sobre sua importância no “combate” à alienação parental. Inclusive, muitas pessoas desconhecem os benefícios do instituto, especialmente porque a confundem a guarda alternada, que possui, por sua vez, o intento de determinar que a criança passe um tempo “x” na casa de um genitor e depois outro tempo predeterminado na residência do outro. Esta

espécie de guarda (alternada) tira as características do lar, ou seja, desestrutura a criança, que perde a referência de sua residência. Já a guarda compartilhada busca exatamente o contrário: a convivência recíproca e equilibrada.

Nesse contexto, Miguel (2015, p. 27):

[...] a guarda alternada seria danosa à criança, em qualquer situação, só pelo fato de ela ter que se deslocar de uma residência para outra, sem exame de todas as circunstâncias subjetivas e objetivas relativas ao filho e aos pais de fato que ao se deslocar a outra residência, não teria uma moradia fixa, distanciando-se das raízes de um lar. É importante que a guarda alternada não se confunda com a compartilhada, por que esta vem para sanar e equilibrar a divisão do tempo de convívio.

Conforme a afirmação de Silva (2014), a guarda compartilhada vem sendo o método mais utilizado pelo Judiciário, especialmente pela sua eficácia em não eximir nenhum dos genitores da convivência com os filhos. Deste modo, ambos os ascendentes participariam da criação e educação da criança/adolescente, mantendo hígida a estrutura familiar.

Sinala-se que o Judiciário utiliza-se desta modalidade de guarda porque é aquela que busca manter o equilibro na relação entre pais e filhos, de maneira que todos os familiares convivam uniformemente com a criança. Intenciona-se, dessa maneira, a maior frequência de ambos os pais nas atividades rotineiras da criança, ou seja, o infante não rompe a ligação com nenhum dos genitores. Como consequência, a criança terá a estrutura necessária para sua formação e educação, garantindo-lhe um saudável desenvolvimento.

Sob o olhar de Jamil Miguel (2015), a guarda compartilhada é uma forma de atribuir a atividade de criação e educação dos filhos aos dois ascendentes, que devem buscar viver em harmonia pelo bem da criança, dividindo direitos e deveres inerentes ao poder familiar, do qual ambos são detentores.

Nesse viés, a guarda compartilhada mostra-se um instituto de evidente amenização das consequências psicológicas ocasionadas pela prática da alienação parental, por qualquer dos genitores. O simples fato de a convivência do infante ser equilibrada, não desproporcional, oportunizando-a de maneira equânime a ambos os pais, já é motivo suficiente para demonstrar ao menor que a “verdade” imposta pelo alienador não é absoluta, muitas vezes, inclusive,

extremamente desvirtuada da realidade. Em suma, lhe é oportunizada a “visão” dos dois lados da nova vida que possuirá a partir do rompimento do relacionamento de seus pais.

Ademais, a guarda compartilhada oportuniza justamente aquilo que o ascendente alienador busca extinguir: o fortalecimento dos laços afetivos da criança com o genitor/familiar alienado.

Também confirma Miguel (2015, p. 24):

A doutrina e jurisprudência têm elogiado a opção do exercício efetivo do poder familiar, nos casos de separação a despeito de reconhecer as dificuldades de sua implantação no dia-a-dia de muitas famílias brasileiras, especialmente as mais pobres, que dependem do trabalho externo de seus membros, ausências prolongadas do lar e domicílios distantes.

Inclusive, este entendimento é adotado pelo Tribunal de Justiça mineiro:

DIREITO DE FAMÍLIA - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE GUARDA - PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DA IGUALDADE ENTRE OS CÔNJUGES - GUARDA COMPARTILHADA - CUSTÓDIA FÍSICA CONJUNTA - CRIAÇÃO SOB O INFLUXO DE AMBOS OS PAIS - FIXAÇÃO DE RESIDÊNCIA - MUDANÇA QUE TRAGA BENEFÍCIOS PARA O MENOR - ALIENAÇÃO PARENTAL - O instituto da guarda foi criado com o objetivo de proteger o menor, salvaguardando seus interesses em relação aos pais que disputam o direito de acompanhar de forma mais efetiva e próxima seu desenvolvimento, ou mesmo no caso de não haver interessados em desempenhar esse munus. - As mudanças impostas pela sociedade atual, tais como inserção da mulher no mercado de trabalho e a existência de uma geração de pais mais participativos e conscientes de seu papel na vida dos filhos, vem dando a ambos os genitores a oportunidade de exercerem, em condições de igualdade, a guarda dos filhos comuns. Além disso, com a nova tendência de constitucionalização do direito de família, da criança e do adolescente, a questão da guarda deve ser analisada atualmente com base nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, igualdade entre homens e mulheres e supremacia do melhor interesse do menor. - Na guarda compartilhada pai e mãe participam efetivamente da educação e formação de seus filhos. - Considerando que no caso em apreço ambos os genitores são aptos ao exercício da guarda, e que a divisão de decisões e tarefas entre eles possibilitará um melhor aporte de estrutura para a criação do infante, impõe-se como melhor solução não o deferimento de guarda unilateral, mas da guarda compartilhada. - Para sua efetiva expressão, a guarda compartilhada exige a custódia física conjunta, que se configura como situação ideal para quebrar a monoparentalidade na criação dos filhos. - Se um dos genitores quer mudar de cidade ou de Estado, para atender a interesse próprio e privado, não poderá tal desiderato sobrepuja r o interesse do menor. Só se poderia admitir tal fato, se o interesse do genitor for de tal monta e sobrepujar o interesse da criança. (TJ-MG - AC: 10210110071441003 MG, Relator: Dárcio Lopardi Mendes, Data de Julgamento: 30/07/2015, Câmaras Cíveis / 4ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 05/08/2015)

Note-se que a jurisprudência pátria tem buscado adotar, nos casos concretos que lhe são postos, a figura da guarda compartilhada como solução mais adequada ao combate à alienação parental. Em verdade, traduz-se na aplicação prática dos princípios legalmente consagrados e doutrinariamente explorados, que veem na guarda compartilhada o remédio jurídico e, mais importante, fático para a já conflituosa relação entre os pais separados do infante beneficiário.

CONCLUSÃO

Sabe-se que os laços afetivos formados em família são essenciais para a vida da criança/adolescente em desenvolvimento, notadamente porque são neles que se edificam as bases necessárias para a educação e formação social do indivíduo. O presente trabalho de conclusão de curso, através de um breve histórico, tentou delimitar as origens da alienação parental, a fim de que se pudesse pensar em um método reparador para suas inevitáveis consequência ou, até mesmo, para preveni-la.

Verificou-se, desta feita, que a alienação parental nada mais é do que uma campanha empreendida por um dos genitores, um familiar ou, até mesmo, um terceiro, a fim de denegrir a imagem de um parente próximo, geralmente um dos genitores, perante a criança. Inclusive, muitas vezes utiliza-se a própria criança como instrumento de vingança, alimentando-a com ideias negativas e fomentando a rejeição do infante para com o alienado.

Nota-se que as consequências da prática alienativa são deveras graves. Restou possível inferir que, em alguns casos, nem mesmo o alienador tem consciência do que está fazendo para consigo e principalmente para com o menor, ocasionando danos psicológicos irreparáveis à vítima, além de sofrimento imediato, traumas e frustrações.

Nesse viés, a guarda compartilhada surge como a melhor opção para a diminuição do problema, pois ela fortalece vínculos entre ascendentes e descendentes, mantendo o equilíbrio familiar mesmo após separações conturbadas. A guarda compartilhada ameniza, ainda, os altos índices de alienação parental evidenciados nas enxurradas de ações judiciais contemporâneas, ofertando ao infante um maior desfrute do convívio da criança para com

ambos os pais, flexibilizando e tornando equânime o tempo de convívio entre todos os integrantes da entidade familiar.

No entanto, deve-se ter em mente que para que a guarda compartilhada funcione da maneira como prevista legalmente, mostra-se indispensável que as partes se respeitem e tenham um relacionamento baseado no diálogo, a fim de demonstrar ao menor, maior beneficiário desta modalidade de guarda, que mesmo com pais separados, o que lastreia a boa convivência de ambos é a busca pelo atendimento ao seu melhor interesse.

Em todas as hipóteses, portanto, cabe aos pais tomarem ciência das consequências advindas da prática de alienação, a fim de que tomem as rédeas da educação da criança e tentem manter um relacionamento pós-divórcio baseado no respeito e maturidade. Igualmente, que demonstrem sempre a mentalidade de que a separação ocorreu somente entre os cônjuges, e não com os filhos, notadamente porque este vínculo é perpétuo. É importante cultivar o amor, influenciando o convívio familiar.

Por fim, visualiza-se a guarda compartilhada, mesmo com algumas pontuais exceções, como a melhor medida a ser aplicada pelos profissionais (juristas ou psicólogos) em situações nas quais se evidenciem a prática alienativa, ou ela possa vir a se manifestar. O casal, ou os familiares, devem abrir mão das rixas pessoais, de seu egoísmo e até orgulho, a fim de priorizar o bem da criança, um verdadeiro indivíduo em formação, extremamente moldável, frágil e que evidentemente necessita de amor, carinho e educação.

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