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Alienação parental: a guarda compartilhada como solução dos conflitos

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

BRUNA LOPES DOS SANTOS

ALIENAÇÃO PARENTAL: A GUARDA COMPARTILHADA COMO SOLUÇÃO DOS CONFLITOS

Ijuí (RS) 2016

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BRUNA LOPES DOS SANTOS

ALIENAÇÃO PARENTAL: A GUARDA COMPARTILHADA COMO SOLUÇÃO DOS CONFLITOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho aos meus pais, meu padrasto, minha avó e demais familiares que sempre me deram o apoio necessário para chegar até aqui. Foram eles que, nos momentos mais difíceis, me deram força para seguir em frente.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ser meu guia e minha fortaleza nas horas de angustia, meu auxilio em todos os momentos da vida.

Aos meus pais Alberto Marques dos Santos e Evanir Siqueira Lopes, por serem minha base de amor, carinho e motivação para chegar até aqui. Também agradeço a minha avó Maria América Marques dos Santos e meu padrasto Elio Weidemann, pelo apoio e carinho dedicados a mim ao longo da minha trajetória acadêmica. Muito obrigada por tudo! Aos meus amigos que me apoiaram, sempre se fazendo presentes nos momentos difíceis, não medindo esforços para me ajudar e motivar naquilo que era preciso.

E finalmente, ao meu querido professor e orientador Marcelo Loeblein dos Santos, que pacientemente me auxiliou, mesmo nos momentos mais difíceis estava disponível para me ajudar, me orientar e guiar para um bom resultado. Foi um privilégio.

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“Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar".

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RESUMO

O presente trabalho monográfico busca realizar uma análise detalhada do instituto da guarda compartilhada como meio mais benéfico de solução fático-jurídica para a alienação parental praticada por pais e familiares. Através deste estudo é possível realizar breve exposição dos problemas psicológicos e sociais oriundos da prática alienativa, que podem ser evitados quando esta for percebida por qualquer familiar ou profissional da área. Faz-se, ainda, uma busca pelas concepções históricas do poder familiar, seu conceito e aplicabilidade ao longo dos tempos, interligando-o com a própria alienação. Direciona-se, ainda, a temática primordialmente aos direitos e interesses da criança e do adolescente em seu ambiente e convívio familiar. Demonstra-se que são nestes ambientes que ocorrem as violações psicológicas mais graves oriundas da alienação parental, muitas vezes praticadas por um genitor como forma de vingança ao outro. Nesse contexto, surge a Lei 12318/2010 como tentativa de amenização e repressão a tais condutas, resguardando e priorizando sempre os laços afetivos.

Palavras-Chave: Alienação Parental. Guarda Compartilhada. Melhor Interesse da Criança.

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ABSTRACT

This monographic work seeks to carry out a detailed analysis of the shared custody institute as the most beneficial way of factual and legal solution to parental alienation practiced by parents and relatives. Through this study, it is possible to make a brief summary of the psychological and social problems arising from the alienative practice, which can be avoided when it is perceived by any family or professional. This work also searches for historical conceptions of family power, its concept and applicability over time, linking it to the alienation itself. It is also directioned primarily to the to the rights and interests of children and adolescents in their environment and family life. It is shown that these are the environments in which the most severe psychological violations occur, arising from parental alienation often practiced by a parent as revenge to the other. In this context, the Law 12318/2010 emerges as an attempt to mitigation and suppression of such behavior, safeguarding and always prioritizing the emotional ties.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 A CONCEPÇÃO DA FAMÍLIA E O PODER FAMILIAR ... 10

1.1 A origem do poder familiar ... 10

1.2 Considerações acerca do divórcio dos pais e a guarda dos filhos ... 14

1.3 Alienação parental em contraposição ao princípio do melhor interesse do menor ... 17

2 ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA VINGANÇA PREMEDITADA ... 19

2.1 Características e condutas do alienador ... 20

2.2 A visão da psicologia e os reflexos da alienação parental ... 22

2.3 Dos direitos protetivos assegurados pelo Estado ... 26

2.4 A guarda compartilhada como solução dos conflitos de alienação ... 30

CONCLUSÃO ... 35

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INTRODUÇÃO

O contexto familiar que envolve casais divorciados é conturbado, especialmente aquele que envolve famílias separadas por problemas conjugais, que surge a denominada alienação parental como mecanismo de afastamento e quebra de afeto entre filho e o genitor alienado, principalmente aquele que não está presente no dia a dia da criança. A alienação, nesse viés, é a causa de sérios distúrbios psicológicos, principalmente nas crianças em estágio de formação.

Em vista da grande influência negativa dos fatores psicológicos e traumas causados nas crianças e adolescentes pela prática alienativa, inclusive com ausência de norma que pudesse ser aplicada pelo juiz ao caso concreto, viu-se o legislador pátrio obrigado a inserir no ordenamento jurídico texto legal (Lei 12.318/10) que, em seu conteúdo, abordasse e expusesse situações e sanções materiais aos praticantes da alienação parental. Estas situações previstas na lei buscam dar maior efetividade ao princípio constitucionalmente garantido, denominado de prioridade ao melhor interesse da criança.

Todavia, antes de se adentrar no mérito da alienação parental, seu conceito, características e consequências, importante tecer considerações sobre situações que a permeiam e, até mesmo, a acarretam. É o caso do poder familiar e do rompimento das sociedades conjugais/relacionamentos dos genitores.

O primeiro capítulo do presente trabalho, portanto, buscará trazer ao leitor o “mundo” que permeia o instituto da alienação parental, introduzindo-o ideias básicas que são de suma importância para o entendimento das características específicas do instituto, a serem esmiuçadas no capítulo segundo. Nele, inclusive, serão tecidas considerações sobre os efeitos

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do instituto na vida forense, bem como, sobre a existência de mecanismos jurídicos que possam amenizar seus efeitos no desenvolvimento do infante, ou, ao menos, minimizá-los.

Nesse contexto, conceituar-se-á o próprio poder familiar, instituto que origina os preceitos que gerem a vida em família e orientam a criação e educação das crianças que a integram. Igualmente, trabalhar-se-á como este mesmo instituto (poder familiar) comporta-se perante situações de dissolução de entidades familiares, especialmente naquelas situações que o litígio encontra-se fortemente presente entre os casais e fase de divórcio, e que consequências este litígio pode trazer aos filhos do casal, notadamente porque vai de encontro, evidentemente, ao princípio do atendimento do melhor interesse da criança.

Em um segundo momento, já adentrando de maneira mais incisiva no tópico atinente à alienação parental, geralmente presente em situações de litígio, abordar-se-á suas consequências na vida e desenvolvimento do infante, bem como a extrema importância de sua “descoberta” célere, a fim de que os pais ou até mesmo o Judiciário, possam intervir de maneira eficaz para evitá-la ou amenizá-la. Inclusive, nestas situações a perícia técnica mostra-se especialmente necessária, isto porque somente psicólogos, assistentes sociais e médicos possuem o tato necessário à percepção de condutas que indiquem a prática da alienação no menor.

Ao final, buscar-se-á explanar sobre uma possível solução jurídica às situações de alienação, vivenciadas na prática e poucas vezes solucionadas pelo judiciário. A guarda compartilhada surge, nesse contexto, como proposta de solução aos conflitos que envolvem a prática ou a possível prática de alienação parental, buscando oportunizar uma convivência equânime da criança com ambos os genitores e, como consequência, com ambas as famílias dos ascendentes.

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1 A CONCEPÇÃO DA FAMÍLIA E O PODER FAMILIAR

O presente capítulo tem por objetivo analisar a origem do direito de família, ou seja, através de uma verificação histórica do poder familiar, buscar a origem dos problemas que permeiam o núcleo da família, a fim de possibilitar uma posterior averiguação de sua eficácia nas atuais relações da família e a convivência entre pais e filhos, objeto deste estudo.

Deste modo, através de um resgate histórico, podem-se observar mudanças significativas no direito de família, para melhor compreender o objeto de estudo é imprescindível realizar análise sobre a formação do conflito desde sua origem.

1.1 A origem do poder familiar

O pátrio poder surgiu como um instituto do direito romano e marcou a vida do homem em toda a sua história. Este direito era exercido somente pela figura masculina, sendo visto como autoridade máxima e com direitos absolutos sobre seus filhos e esposa.

Nesta linha, Roberto João Elias (1999, p. 5):

O conceito de pátrio poder, em nosso tempo, é bem diverso do existente na Antiguidade, antes do advento do Cristianismo. Outrora, como ocorria, por exemplo, entre os romanos, o instituto representava para os titulares um poder absoluto, inclusive de vida e morte sobre os filhos.

Em outras palavras, o doutrinador Friedrich Engels (2006) afirma que a família nada mais era do que um grupo de escravos liderados pela figura masculina, ou seja, na lei romana poder-se-ia comparar relações escravocratas com as relações parentais (filhos e cônjuges). Por outro lado, é possível afirmar que a legislação brasileira foi fortemente influenciada por este Direito Romano, inclusive como um poder existente nas relações de filhos legítimos e legitimados.

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Para Engels (2006), a família não passava de um povo escravo, na qual existia a figura masculina como dominador (patrão), sendo os demais membros familiares seus subordinados, obrigados a acatar qualquer decisão tomada pelo primeiro.

Importante ressaltar, assim, que as características do pátrio poder estariam estampadas no direito de exercer determinadas funções, tendo como objetivo a proteção dos filhos. Era claro e evidente a discriminação entre homens e mulheres, pois, no que dizia respeito ao pátrio poder, prevaleceria sempre a decisão do pai (figura masculina), tendo a mãe o direito de recorrer ao juiz para solução dos conflitos familiares (ELIAS, 1999).

Com o advento do Código Civil de 1916, o pátrio poder sofreu algumas alterações, entre as quais se pode citar aquela que divide o poder sobre os filhos entre o homem e a mulher. Todavia, a autoridade prevalecia com o homem, conforme estabelecido no art. 233 do referido Código, in verbis:

O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts. 240, 247 e 251). (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962)

Compete-lhe:

I - a representação legal da família; (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962) II - a administração dos bens comuns e dos particulares da mulher que ao marido incumbir administrar, em virtude do regime matrimonial adotado, ou de pacto antenupcial (arts. 178, § 9º, I, c, 274, 289, I e 311); (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962)

III - o direito de fixar o domicílio da família, ressalvada a possibilidade de recorrer a mulher ao juiz, no caso de deliberação que a prejudique; (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962)

IV - Inciso suprimido pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962:

Texto original: O direito de autorizar a profissão da mulher e a sua residência fora do teto conjugal (arts. 231, II, 242, VII, 243 a 245, II e 247, III)

IV - prover a manutenção da família, guardada as disposições dos arts. 275 e 277. (Inciso V renumerado e alterado pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962)

Nesse sentido, menciona Rolf Madaleno (2006, p. 153), sobre as transformações ocorridas:

Ao tempo do Código Civil de 1916, dispunha o art. 233, a unidade de direção do marido, designado para ser chefe da sociedade conjugal e a família se caracterizava como entidade eminente patriarcal, hierarquizada, matrimonializada e patrimonializada. Pertencia ao esposo, investido na função de cabeça do casal, o poder diretivo de toda família e à mulher aos filhos competia tão-somente aceitar que deviam obediência ao pater familiae, a bem da paz, da harmonia e da felicidade da família.

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No Código Civil de 1916, segundo Souza (2014, p. 33), a família só se constituiria pelo casamento, a dissolução de um casamento era incogitável. Os que não se casassem ou aqueles que tivessem filhos fora do casamento sofreriam a discriminação da sociedade, pois lhe seriam excluídos os direitos.

A promulgação da Constituição Federal de 1988, nesse viés, trouxe grandes transformações ao direito de família, pois proporcionou a edição de leis especiais para garantir direitos agora constitucionalmente afirmados.

Cabe, então, citar o artigo 5º, I, da Carta Magna:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.

Portanto, já não era mais só do homem a autoridade no âmbito familiar, mas, também, da mulher. É isto que se retira de mencionado dispositivo constitucional: a igualdade entre ambos (homem e mulher), tanto em direitos quanto em obrigações.

Também é importante mencionar as disposições dos artigos 226 e 227 da Constituição Pátria, que asseguram direitos e deveres advindos da sociedade conjugal, dando igualdade de direitos aos cônjuges.

O artigo 227 assegura os direitos de proteção integral da família, sociedade e Estado às crianças e adolescentes, vejamos:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

É possível inferir, deste dispositivo constitucional, que há verdadeiro resguarde dos direitos familiares, especialmente àqueles destinados às crianças, velando para que possuam

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vida digna, constituindo-se em seres de bem perante a sociedade com a estrutura necessária para tanto.

Em 1990, a Lei Federal nº 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente), legislação voltada ao resguarde dos direitos das crianças e dos adolescentes, cristalizou os ditames constitucionais, sobressaltando a ideia de igualdade entre os pais em relação dos direitos sobre os filhos.

Preceitua o artigo 21 desta Lei:

Art. 21. Poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência.

Ademais, corroborando os ideais principiológicos previstos na Constituição Federal de 1988, entrou em vigor o Código Civil de 2002, instituído pela Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002, trazendo modificações importantes para o Direito de Família, bem como, deixando de utilizar a expressão tão criticada “pátrio poder” para adotar a expressão Poder Familiar.

O Poder Familiar, nesse sentido, trouxe grandes avanços do ponto de vista jurídico, forçando uma modificação paradigmática, pela qual o homem deixou de ter o poder absoluto sobre a família, dividindo-o igualmente com a mulher. O art. 1.634 do Código Civil de 2002 descreve tal igualdade:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:

I - dirigir-lhes a criação e educação; II - tê-los em sua companhia e guarda;

III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

É visto, portanto, que, ao longo do tempo, o Pátrio Poder evoluiu de um poder absoluto, pelo qual o homem era o único que tomava decisões em relação à família, para um

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Poder Familiar, que tornou a mulher e o homem iguais em direitos e obrigações, obrigando-os à decisões conjuntas, com a intenção primordial de proporcionar aos seus filhos o melhor.

Assim, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (2008, p. 50) resume, quando disserta sobre os modelos de família (ancestrais, feudais, modernas e pós-modernas), que as mudanças e costumes foram se alterando, com a conversão de valores, a introdução de novos comportamentos e de novos princípios.

1.2 Considerações acerca do divórcio dos pais e a guarda dos filhos

Em vista das considerações anteriores, é possível inferir que a constituição da família inicia no momento da união pelo casamento e, também, pela união estável. Através destas ações (casamento e união estável) adquirem-se direitos e deveres atinentes ao lar, formando um elo jurídico entre aqueles que os praticarem.

Silvio Rodrigues (2008, p. 19) afirma que:

Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência.

Contudo, nem sempre esse laço matrimonial alcança o sucesso, e a ruptura do casamento acaba acontecendo. Isto pode ocorrer por inúmeros fatores de nosso cotidiano. A cada ano o número de divórcios torna-se cada vez mais significativo, visto que não se é mais necessário ingressar com prévio pedido de separação, podendo, os então cônjuges, intentarem diretamente a ação de divórcio. Em suma, desburocratizou-se os procedimentos de divórcio, facilitando-os.

Frisa Pablo Stolze Gagliano (2013), que o divórcio é uma medida dissolutória que rompe o vinculo matrimonial válido, possuindo como consequência a extinção das obrigações conjugais. Ainda, em relação ao divórcio, importante consignar que este se caracteriza como maneira voluntária de ruptura conjugal, ou seja, decorre da vontade entre as partes, para que se perfectibilize.

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Os casais que decidem se divorciar, geralmente de maneira litigiosa (onde há conflito entre as partes), passa por um momento conturbado, uma mistura de sentimentos toma conta de sua racionalidade, tornando o procedimento de ruptura mais difícil.

Diante dos casos de divórcio de casais que possuem filhos, entra a necessidade de definir o tipo de guarda que será estabelecida entre partes. Assim, torna-se um processo complicado, gerando, muitas vezes, um significativo conflito. Por essa razão existem espécies de guarda, sobre as quais caberá ao Juiz definir a mais indicada ao casal, conforme a situação posta.

Neste sentido, o artigo 33, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente, in verbis, dispõe:

Art. 33. A guarda obriga à prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive os pais.

Nesse passo, caberá ao guardião da criança as obrigações para com esta, dando a estrutura necessária para que o infante possa ter um lar estável e uma saudável educação, sem que seu psicológico seja afetado pelas situações conturbadas decorrentes do divórcio.

Na visão de Denise Maria Perissini da Silva, (2014, p. 10) a guarda:

[...] é o meio pelo qual os pais separados, divorciados ou com dissolução de união estável realizada permanecem com as obrigações e os deveres na educação dos filhos e nos cuidados necessários ao desenvolvimento deles em todas as áreas, tais como emocional, psicológica, entre outras.

Mesmo aos pais separados permanecem com suas obrigações para com os filhos, pois estes necessitam de todos os cuidados para o desenvolvimento físico e mental (SILVA, 2014, p. 36).

Ambos os doutrinadores afirmam que, no momento da ruptura conjugal, deve-se preservar o emocional dos filhos, ou seja, a criança não deve sofrer com as inconstâncias do casal, pois o afeto é muito importante para o desenvolvimento físico e mental do menor.

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Nesse diapasão, deve-se analisar com cautela a definição de guarda, notadamente porque a criança deve ter todo suporte necessário para uma vida digna, respeitando-se o saudável desenvolvimento desta, com vistas à consecução do princípio constitucional do atendimento ao melhor interesse da criança. Justamente por isto, ante a existência de várias espécies de guarda, cabe ao juiz decidir qual será a mais adequada para cada caso.

Nesse ponto Gagliano (2013), cabe frisar a existência de quatro tipos de guarda: a guarda unilateral ou exclusiva, a guarda alternada, nidação ou aninhamento e a guarda compartilhada. Cada uma delas possui características próprias, devendo o juiz analisá-las conforme as situações postas.

A guarda unilateral é a guarda mais comum, ou seja, mais usual na praxe forense, na qual um dos genitores passa a ser o guardião da criança, cabendo ao outro o exercício do direito de visitas.

Já a guarda alternada é aquela pela qual a criança passa um determinado tempo morando com um dos genitores, ficando o outro sujeito às visitas, e, posteriormente, acontece o revezamento para a residência do outro genitor. Esta modalidade não é aconselhável na visão dos juristas, pois ela não dá estabilidade para a criança, ferindo os interesses do menor.

O aninhamento, por sua vez, é a modalidade na qual a criança permanece no lar onde nasceu, e os pais divorciados é que passam a se revezar, porém, morando em casas separadas.

E, por último, a guarda compartilhada, a nova modalidade de guarda, é mais adequada na visão do judiciário, por, em tese, oferecer mais vantagens frente às demais, pois nesta os pais tomam as decisões em conjunto, havendo idealmente um equilíbrio nas relações afetivas no convívio com o menor.

Contudo, tais modalidades de guarda devem sempre observar o princípio do melhor interesse da criança, como já afirmado, notadamente porque não se estará mais diante das rixas entre os casais, já magoados e desgastados pela ruptura do relacionamento anterior, mas, sim, ao atendimento melhor para o filho, tudo com vista ao seu saudável desenvolvimento.

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1.3 Alienação parental em contraposição ao princípio do melhor interesse do menor

Primeiramente, cabe ressaltar a importância dos princípios que regem o Direito de Família, especialmente estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, pois, é através deles que ocorrem a elaboração e a aplicação das normas.

Segundo Suzana Oliveira Marques (2009, p. 36), os princípios norteadores do Direito de Família são o da Igualdade dos Cônjuges, Pluralismo das Entidades Familiares, Solidariedade Familiar, Paternidade Responsável, Igualdade de Filiação, Melhor Interesse da Criança e da Prioridade ao Atendimento da Criança.

Contudo, o princípio mais relevante ao tema ora estudado é aquele que diz respeito ao atendimento do melhor interesse da criança, voltado especialmente aos processos de guarda de filhos menores, que, por sua vez e na maioria dos casos, colocam em primeiro plano os desejos dos pais, deixando a um segundo plano o bem estar dos filhos.

Além da CF/88, o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente resguarda o princípio do melhor interesse do menor:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.

Note-se que o objeto deste artigo é defender a criança/adolescente de qualquer atitude negligente dos pais ou qualquer outra pessoa, tendo em vista a fase de desenvolvimento da criança, na qual ela se constitui como pessoa, resguardando os direitos no intuito de manter a estrutura que ela necessita para poder crescer e desenvolver de maneira saudável.

Com base nestes ditames, é possível verificar que, no momento da disputa e concessão da guarda, os direitos da criança estão em conflito com o dos pais, restando oportunamente a

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aplicação deste princípio como mais adequado. É neste momento que se pode reconhecer a prática da alienação parental, muitas vezes decorrente dos divórcios litigiosos, colocando em cheque os interesses do menor.

Assim, afirma Geni Paulina Pereira (2012, p. 1):

O estudo da Síndrome da Alienação Parental, visa coibir pais ou terceiros que violentam psicologicamente o menor, privando-o de ter o direito a uma convivência pacífica no âmbito familiar, desrespeitando princípios e garantias fundamentais previstas na Constituição da República Federativa, tais como o da dignidade da pessoa humana, o melhor da interesse do menor, a proteção a criança e ao adolescente como o da igualdade.

O que se pode entender é que, no momento da prática de alienação, o princípio do melhor interesse do menor, bem como o da dignidade da pessoa humana, são desrespeitados, notadamente porque os pais colocam à frente dos interesses dos menores os seus, esquecendo-se por completo que o(s) filho(s) encontram-esquecendo-se em pleno deesquecendo-senvolvimento, gerando inúmeros consequências psicológicas a estes.

Desta forma, resta evidente que a prática de alienação parental é um abuso emocional, uma conduta de afronta ao princípio do melhor interesse da criança e ao da dignidade da pessoa humana, os quais devem sempre ser levados em consideração, preferindo-os quando em confronto com os interesses dos pais.

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2 ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA VINGANÇA PREMEDITADA

De início, pode-se delimitar o momento de surgimento/nascimento da figura da alienação parental: emerge quando a separação conjugal se perfectibiliza, não possuindo como principais causadores somente os pais, mas, também, terceiros (avós, tios, padrinhos, etc.). Nesse contexto, a alienação parental pode ocasionar o desenvolvimento, pela criança ou adolescente, do ódio sobre o ente querido como forma de vingança, ao ponto de causar danos irreparáveis na vida e crescimento do menor.

Tomando-se por base, assim, que a figura da alienação trata-se de uma situação dolorosa mas infelizmente corriqueira em processos de divórcio, tem-se que o número de vítimas desta prática odiosa é imenso, considerando, ainda, que os danos causados às vítimas são imensuráveis, motivo pelo qual é extremamente importante a identificação logo no início de seu surgimento, para que, de algum modo, seja evitada ou reparada.

Neste sentido no conceito de Evandro Luiz Silva (2010, p. 26):

Para a psicanálise, a alienação é um conceito central porque revela a relação complexa com o outro no processo de constituição do sujeito. A alienação é entendida aqui enquanto um processo intrincado e paradoxal na medida em que o outro tanto nos aliena quanto nos constitui. Não havendo saída da alienação, já que ela é estruturante do ser do desejo, cabe-nos pensar e problematizá-la enquanto um processo complexo que dá a ver um campo de lutas e enfrentamentos que caracteriza a própria constituição do sujeito, aberta às múltiplas vicissitudes do caminho.

Para uma melhor explicação sobre a matéria, Eduardo de Oliveira Leite (2015) cita o mito grego de Eurípedes (tragédia Jasão e Medéia), como exemplos. Nesta leitura datada dos anos antigos da Grécia, retrata-se o sofrimento de Medéia ao escolher o meio mais cruel como forma de vingança.

Nas palavras de Leite (2015, p. 40):

Pelo amor a Jasão, Medéia não hesitará em abandonar o próprio pai, em trair a pátria, em mentir e matar. Em persuadir as filhas de Pélias a cometer um parricídio involuntário. Nenhum obstáculo podia existir ante sua paixão. Ao ver-se finalmente abandonada, Medéia resolve punir o marido infiel de forma tão completa, que ele nunca mais possa encontrar um só instante de paz sobre a terra. E decide fazer dos filhos o inocente instrumento de sua terrível vingança. É o filicídio de retaliação que

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retorna veemente na alienação parental, embora a “morte” aqui, seja tomada em perspectiva meramente metafórica: Medéia mata fisicamente os filhos, para que Jasão não possa mais ver. O cônjuge alienador (“mata”) a figura dos filhos para que o cônjuge alienado sofra o vazio da distância e do isolamento (embora os mesmos estejam vivos). Duplo sacrifício. Mudam os meios empregados de morte, mas o resultado do luto desejado sempre igual.

Desta forma, fica claro que a alienação é o meio pelo qual o cônjuge/familiar ferido vinga-se e denigre a imagem do outro genitor, com o intuito de afetá-lo, matando metaforicamente a criança, ocasionando sofrimento para todos. É visto, portanto, que a identificação da prática de alienação passa obrigatoriamente pela conduta do alienador.

2.1 Características e condutas do alienador

Avalia-se o comportamento do alienador e suas características para, posteriormente, realizar-se uma análise mais aprofundada sobre o caso, notadamente porque este possui espécies de condutas muitas vezes bem delimitadas.

Segundo Juliana Rodrigues de Souza (2014), são inúmeros os fatores que caracterizam o comportamento do genitor ou terceiro alienador, possuindo como objetivo primeiro de destruir a relação construída ou que está sendo edificada com o outro genitor ou familiar.

O artigo 2º, paragrafo único, da Lei nº 12.318/2010, dispõe sobre as características comuns entre todos os tipos de alienadores:

Paragrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados pela perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros;

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar o contato da criança ou adolescente com o genitor; IV -dificultar o exercício do direito regulamentado de visitas;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denuncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com outro genitor, com familiares destes ou com avós.

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Note-se que todos estes incisos acima transcritos são casos frequentes no judiciário, e, justamente por isso, encontram-se expressamente consignados no texto legal. Inclusive, é tomando-se por base estas práticas descritas pela legislação que se faz uma verificação para a melhor detecção do instituto da alienação.

Salienta, Souza (2014), que a melhor forma de reconhecer a prática de alienação é pela conduta do alienador, que tem como uma das principais características denegrir a imagem do outro genitor perante os filhos. Esses tipos de alienadores possuem características interessantes de agir, especialmente porque cada um pensa de uma maneira, acreditando que sua conduta traduz-se no melhor para si e para o infante.

Segundo Gardner (1970 apud LEITE 2015, p. 210), existem três tipos de alienadores, sendo de fundamental importância o reconhecimento de tais tipos, porque a forma de ataque e combate da alienação é diferente para cada uma das espécies. São estas: 1) Alienador ingênuo; 2) Alienador Ativo; e 3) Alienador obsessivo.

O alienador ingênuo conceitua-se como aquele que age seguro da relação da criança com o outro genitor, tendo a capacidade de controlar suas emoções sem interferir no relacionamento com o menor. Possui capacidade de cooperar com a outra parte, sentindo-se culpado de qualquer ação de sua parte com o intuito de prejudicar o relacionamento das partes envolvidas, compartilhando informações médicas e escolares da criança.

Esta espécie de alienador não possui a necessidade de qualquer tipo de terapia, notadamente porque é ciente dos erros por ele cometidos.

O alienador ativo, por sua vez, é conhecedor de suas ações, reconhecendo os efeitos de sua atitude, mas, como age por intenso sentimento de raiva, acaba não tendo o controle necessário de suas ações, prejudicando sobremaneira os filhos. Pode-se reconhecer um alienador ativo pela prática de violência verbal e física para com o próprio filho, especialmente porque não consegue controlar as emoções.

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Os Alienadores ativos, geralmente, estão dispostos a aceitar a ajuda profissional (quando constatam a ocorrência de um problema junto aos filhos, que precisa ser resolvido), mas lutam com dificuldade para superar mágoas antigas nutrindo a esperança de superar sua dor.

O alienador obsessivo, por fim, segundo a doutrina de Leite (2015), possui a vontade de cortar o vínculo do infante para com o outro genitor, estando disposto a pagar qualquer custo para alcançar este objetivo. Traduz-se na figura de um pai, uma mãe, avós e tios, etecetera. O objetivo deste alienador, como já afirmado, é precipuamente afastar a criança do familiar “indesejado”, utilizando-se de qualquer meio para tanto (mentiras, calúnias, violência, entre outras). Nestas situações, importante considerar que as crianças são incapazes de perceber o que está acontecendo no ambiente que lhe permeia, não possuindo o necessário discernimento sobre a situação e, por consequência, acabam sendo afetadas diretamente pela conduta alienadora.

Assim, neste exemplo de Leite (2015, p. 218):

Exemplo de frase utilizada pelo alienador obsessivo “Eu amo meus filhos. Se o Tribunal não puder protegê-las de seu pai abusivo, eu mesmo vou. Mesmo que ele nunca tenha abusado das crianças eu sei que isso é uma questão de tempo. As crianças estão com medo de seu pai. Se elas não querem vê-lo eu não vou forçá-las. Elas são maduras o suficiente para determinar suas próprias ideias”.

Diante deste contexto, pode-se perceber que existe certa persistência por parte do alienador em não querer, de forma alguma, a aproximação da criança com o outro genitor ou familiar. Ele mesmo, fazendo afirmações e deduções sobre o que é melhor para seu filho, utilizando-se de meios de manipulação, acredita em sua própria mentira.

2.2 A visão da psicologia e os reflexos da alienação parental

Inobstante todo o sofrimento da criança com a ruptura conjugal dos genitores, já tentando adaptar-se à nova vida, o infante ainda vem a sofrer do mal da alienação parental. Esta conduta odiosa traz diversas complicações psicológicas na vida do inocente, das quais pode resultar, até mesmo, em suicídio.

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Segundo Larissa A. Tavares Vieira (2013, p. 2):

É primordial que psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais conheçam os critérios de identificação da Alienação Parental, para poder diferenciar o ódio exacerbado que leva a um sentimento de vingança e à programação do filho para afastar-se do outro genitor, reproduzindo falsas denúncias contra ele, de situações em que o genitor rejeitado ou odiado realmente tenha comportamentos depreciáveis, que justifiquem a reação do filho.

É necessário que os psicólogos e assistentes sociais saibam identificar tal mal, para que, assim, facilite o tratamento do filho e do genitor e para assim, sanar as consequências advindas da alienação. Neste caso é importante diferenciar a Alienação Parental e a Síndrome da Alienação Parental.

A respeito da Síndrome Gabriela dos Santos Barros (2016, p. 1) relata em seu artigo:

A síndrome de alienação parental (SAP), ao contrário da AP, só se faz presente quando a criança passa a nutrir sentimento de repulsa ao genitor alienado, a recusar-se a vê-lo e, ainda por cima, a contribuir na campanha difamatória contra ele. Portanto, a SAP nada mais é do que resultado de AP severa, sendo considerada um subtipo de alienação parental. Assim, a síndrome refere-se à conduta do filho, enquanto a alienação parental relaciona-se com o processo desencadeado pelo progenitor.

Em suma, a alienação parental traduz-se nas ações às quais o menor encontra-se submetido, nas condutas adotadas pelo alienador, enquanto a Síndrome é a conduta do menor, a maneira pela qual ele se manifesta/reage após a submissão à Alienação Parental grave.

A síndrome da alienação parental, também chamada de Síndrome das Falsas Memórias, foi descrita pelo Dr. Richard Gardner em 1985. Em uma melhor explicação feita por Gardner (1970 apud LEITE, 2015, p. 157):

[...] a síndrome de alienação parental, “é um distúrbio que surge quase exclusivamente no contexto de disputas de custódias de crianças. É um distúrbio em que as crianças programadas pelo alegado genitor amado embarcam em uma campanha de difamação contra o alegado genitor odiado. As crianças apresentam pouca ou nenhuma ambivalência sobre seu ódio que, muitas vezes, se espalha para a família do genitor supostamente desprezado. Na maioria das vezes, as mães são os indicadores de tal programação e os pais são vítimas das campanhas de depreciação. No entanto, em uma pequena porcentagem de casos, é o pai que é programador principal e a mãe que é vista como a genitora odiada. Além disso, não estamos lidando aqui com a simples ‘lavagem cerebral’ por um dos pais contra o outro. Os argumentos de difamação dos próprios filhos muitas vezes contribuem e complementam aqueles apresentados pelo genitor programador. Assim eu introduzi

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o termo da síndrome de alienação parental (SAP) para me referir a essas duas contribuições para o transtorno. Por causa da imaturidade cognitiva das crianças seus argumentos podem muitas vezes parecer absurdos aos adultos. Claro que, se o parente odiado tem sido genuinamente abusivo, então a alienação das crianças está materializada e o conceito de SAP não é aplicável”.

Gardner (2002) constrói um conceito da SAP, resumindo-o como um distúrbio dos filhos, resultante da alienação praticada, que acaba contribuindo para a difamação sem justificativa ao lado do genitor alienador.

Segundo Leite (2015, p. 164), Gardner cita oito manifestações primárias da SAP, que seriam:

1. Campanha de difamação;

2. Razões fracas, frívolas ou absurdas para a depreciação; 3. Falta de ambivalência;

4. O fenômeno do “pensador independente”;

5. Apoio reflexivo ao genitor alienador no conflito parental;

6. Ausência de culpa sobre a difamação e/ou à família extensa do genitor odiado; 7. Presença de encenações “encomendadas”;

8. Propagação da animosidade aos amigos e/ou À família extensa do genitor odiado.

Estes são os indícios de que a criança está sendo alienada, pois através destes comportamentos, pode-se perceber quando a Alienação está acontecendo, se já não aconteceu. Melhor relata essas manifestações com o exemplo do diálogo de Gardner com um menor, acerca da influência do alienador sobre o filho.

Entrevista de Gardner (1970 apud LEITE, 2015, p. 168):

Gardner: Eu estou realmente desolado em saber que seu avô morreu. Paciente: Sabe, ele não morreu simplesmente. Foi meu pai que o matou Gardner: (incrédulo) Teu pai assassinou teu avô, o próprio pai? Paciente: Sim, eu sei que ele fez isso.

Gardner: Mas eu pensei que ele estava no hospital. Eu tinha entendido que ele estava com 85 anos e que ele estava morrendo de doença de velhice.

Paciente: É, isso é o que meu pai conta.

Gardner: Mas tu, qual é a tua opinião sobre isso?

Paciente: Ele entrou no hospital de noite e o fez quando ninguém o via. Ele fez isso quando as enfermeiras e os médicos estavam em vias de dormir.

Gardner: E como é que tu sabes disso? Paciente: Eu sei, só isso.

Gardner: Será que alguém te disse isso? Paciente: Não, eu simplesmente sei.

Gardner: (que se vira em direção à mãe que é testemunha da conversa). O que a senhora acha do que ele falou?

Mãe: Bom, eu não acredito que ele realmente o tenha feito, mas não me surpreenderia.

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Diante deste diálogo pode se perceber que o menino é um reflexo dos pensamentos da mãe. Embora ela dizendo que acha que o pai não o fez, ela não dúvida, o que faz pensar que no âmbito familiar, ou seja, dentro de sua casa, seu filho tenha ouvido tal comentário, reproduzindo para o médico. Contudo, a identificação da Síndrome da Alienação Parental afeta de maneira diferente cada pessoa, e, justamente por se tratar de um problema psicológico, sua intervenção deve ser feita com maior agilidade possível.

Segundo Jorge Trindade (2010 apud VELLY 2010, p. 5), a Síndrome da Alienação Parental deve ser tratada com abordagem terapêutica em diferentes casos, devendo ser atendidos a criança, o alienador e o alienado. Uma vez diagnosticada a doença, o genitor alienador e a criança devem receber o tratamento necessário conforme a gravidade do caso.

Importante ter em vista, ainda, que, segundo Velly (2010), a Síndrome da Alienação trata-se de um distúrbio de afeto e a Síndrome das Falsas Memórias trata-se de uma alteração no desenvolvimento da memória. É na Síndrome das Falsas Memórias, inclusive, que o genitor implanta, por exemplo, a falsa memória do abuso sexual, sendo a forma mais perversa de denegrir o outro genitor.

Em suma, a Síndrome das falsas memórias é uma forma de modificar as memórias da criança, fazendo-a pensar que o genitor alienado fez algo errado, o que nunca ocorreu, ao menos da maneira como “implantada” nas lembranças da criança.

Diante de suas características, condutas e práticas, cabe dimensionar as consequências no desenvolvimento psicológico daquele que sofre ou sofreu do mal da SAP. Estas consequências podem variar de acordo com a idade e estado psíquico de cada caso, podendo muitas vezes ter efeitos devastadores.

As consequências podem ser devastadoras em seu estágio mais avançado, conforme artigo de Marco Antônio Garcia de Pinho (2012), que utiliza os dados estatísticos do IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família, caracterizando o instituto da Alienação.

Nesse viés, a primeira coisa a ser notada em uma criança que sofre desta prática é o isolamento, pois a criança passa a se isolar do mundo. Acredita-se que esta postura é adotada

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devido ao sentimento de abandono sentido pelo menor, na tentativa de suprir o vazio que sente, vazio este que não pode ser suprido pela figura paterna ou materna.

O baixo rendimento escolar também é um fator que pode se apresentar para o diagnóstico da Alienação, pois a criança passa a odiar a escola, não se socializa, nem participa de atividades extracurriculares, tornando-se indiferente.

A alienação pode, ainda, causar depressão, um dos males mais preocupantes causados por esta conduta, notadamente porque pode ocasionar até mesmo o suicídio, quando a criança fica extremamente melancólica, triste e confusa, sentindo-se abandonada.

Podem-se citar, ainda, a rebeldia, as regressões, a negação, a culpa, condutas pelas quais a criança ou adolescente praticam atrocidades em busca de chamar atenção do(s) genitor(es) afastado(s), forçando uma volta para casa. Muitas vezes, inclusive, a criança passa a adotar uma postura inferior a sua, assumindo até mesmo a culpa e a responsabilidade pela separação dos pais. Em outras situações, a criança aproveita-se da alienação e se beneficia, usando como desculpa para seus fracassos e mau comportamento, ou age com indiferença quanto à situação adotando uma conduta de distração/desatenção.

Ante de tantas consequências negativas, todas advindas das condutas alienativas de um familiar, muitas vezes mostra-se imperioso recorrer à medidas extremas para que tal prática não se dissemine, devendo-se, sempre que evidenciados indícios de sua prática, procurar as medidas protetivas que resguardam os direitos das crianças e adolescentes, pois, segundo o IBFAM – Instituto Brasileiro de Direito da Família, nos casos mais graves, a Alienação pode conduzir jovens e crianças ao suicídio.

2.3 Dos direitos protetivos assegurados pelo Estado

Em face dos grandes malefícios causados pela Alienação, com observância aos princípios que iluminam o Direito de família, especialmente o princípio do atendimento ao melhor interesse do menor, houve a promulgação, na data de 26 de agosto de 2010, a Lei nº 12.318, tratando exclusivamente da Alienação Parental. Referido texto legal busca a

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preservação da integridade física e moral de crianças e adolescentes vítimas ou sujeitas às situações de alienação e violência moral sofridas dentro do ambiente familiar.

Nos dizeres de Douglas Phillips Freitas (2015, p. 41): “[...] a Lei da Alienação Parental, além de oficialmente assinalar à população em geral, inclusive aos operadores, a existência desta síndrome e formas de combatê-la, também promoverá grande impacto jurídico-cultural”.

Seguindo esta linha de raciocínio, Souza (2014), delimita a definição jurídica para o instituto da alienação parental, fazendo com que seja detectada, em situações reais, com maior agilidade, podendo-se, desta forma, ser adotadas as devidas providências com a rapidez que se espera, restringindo, se for o caso, o exercício abusivo da autoridade parental. Em outras palavras, a Lei da Alienação Parental veio para facilitar a atividade jurisdicional em situações que antes eram de difícil visualização pelo judiciário.

Todavia, João Batista da Costa Saraiva (2010), afirma que, “pela primeira vez na história brasileira, a questão da criança e do adolescente é abordada com prioridade absoluta e sua proteção passa a ser dever, não mais só da família, conforme dicção do Código Civil de 1916, mas da sociedade e do Estado”.

O artigo 2º mencionado no texto legal conceitua a prática da alienação, definindo-a como a interferência na formação psicológica da criança, praticada pelo genitor (em outros casos por outros membros do convívio familiar). Ou seja, este artigo define a conduta do genitor, que sempre tem o objetivo de denegrir a imagem daquele que está longe, muitas vezes o genitor não detentor da guarda fática da criança.

Neste contexto, convém transcrever a artigo 3º da Lei 12.318/2010:

A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança e o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.

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A prática de alienação causa, portanto, a interferência no relacionamento afetivo da criança com seus familiares, tratando-se de um verdadeiro abuso moral que fere princípios constitucionalmente garantidos às crianças. É importante, então, que a criança venha a manter os seus vínculos emocionais, notadamente porque o afeto e o carinho são extremamente fundamentais para o menor em desenvolvimento.

Nos termos do artigo 4º da Lei 12.318/2010, o juiz determinará, com urgência, as medidas provisórias necessárias a fim perfectibilizar a proteção e preservação da integridade, física e moral, da criança, para uma possível e eventual reaproximação com o genitor afastado. No entanto, mesmo havendo a denúncia da prática de alienação, o menor continua a conviver com o alienador até que se prove a veracidade dos fatos aduzidos.

Constatada a prática de alienação parental, o juiz, conforme determina o artigo 5º da Lei, nomeará um perito especializado para avaliar a situação posta sob o crivo do Poder Judiciário. A perícia realizar-se-á da seguinte maneira:

§1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.

§2º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.

§3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.

A perícia, portanto, deve ser realizada pela equipe multidisciplinar designada pelo juiz competente, sendo formada por assistentes sociais, peritos psicológicos e outros experts (médicos, pedagogos entre outros...).

Segundo Freitas (2015), é o perito social o responsável em analisar a convivência familiar de seus integrantes, verificando todas as condições que permeiam a realidade vivenciada pelos integrantes da família. No entanto, o perito social é mais indicado nos casos que envolvem a concessão ou não da guarda da criança, cabendo ao perito psicológico os casos de possível conduta de Alienação Parental.

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O perito psicológico, por sua vez, é designado pelo juiz nos casos em que este verifica a possibilidade de prática por qualquer familiar de conduta alienativa, a fim de verificar qual genitor possui melhor condição mental (psicológica) de exercer a guarda do infante.

Segundo Saidy Karolin Maciel (2002, apud FREITAS, 2015, p.90), o psicólogo está com o compromisso do resultado sobre a saúde mental de seus pacientes, devendo reconhecer as dinâmicas e os vínculos por eles mantidos.

Os peritos são responsáveis, ainda, pela análise do caso concreto com maior afinco possível. Para tanto, toma-se por base o esquema abaixo retirado da obra de Freitas (2015, p. 92), a fim de compreender melhor a função da equipe multidisciplinar:

MATÉRIA PERÍTO A SER INDICADO

Condição e análises da situação familiar, sua comunidade e realidade vivenciadas pelas partes

Assistente Social Condições e análises do subjetivismo e das

inter-relações entre as partes envolvidas

Psicólogo Situações clínicas quanto a saúde física dos

envolvidos

Médicos em suas especialidades Questões concernentes à escola, planos pedagógicos,

relação ambiente escolar

Pedagogo ou psicopedagogo

Constatada pelos peritos a prática de Alienação Parental, o juiz poderá, sem prejuízo da responsabilidade civil, tampouco criminal, aplicar as sanções presentes no artigo 6º, da Lei 12.318/2010, conforme a gravidade do caso.

Assim prevê os incisos e parágrafo único de mencionado dispositivo legal:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.

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Das medidas punitivas vinculadas à alienação, todas citadas nos incisos acima, é possível inferir que o legislador pátrio buscou dar maior clareza à sua intenção, a fim de facilitar a percepção pelo juiz quando da aplicação das sanções existentes, facilitando, igualmente, o enquadramento da sanção à situação concreta. Inclusive, com a intenção de acelerar o processo de verificação da conduta alienativa, busca-se a amenização de tal prática.

Inclusive, pode-se visualizar as disposições legais acima aplicadas na prática forense, como forma de punir o ascendente alienador. É isto que se denota, através leitura da ementa abaixo, que aplicou a sanção prevista no inciso V alhures transcrito. Vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GUARDA. ALIENAÇÃO PARENTAL. ALTERAÇÃO. CABIMENTO.

1. Em regra, as alterações de guarda são prejudiciais para a criança, devendo ser mantido a infante onde se encontra melhor cuidada, pois o interesse da criança é que deve ser protegido e privilegiado.

2. A alteração de guarda reclama a máxima cautela por ser fato em si mesmo traumático, somente se justificando quando provada situação de risco atual ou iminente, o que ocorre na espécie.

3. Considera-se que a infante estava em situação de risco com sua genitora, quando demonstrado que ela vinha praticando alienação parental em relação ao genitor, o que justifica a alteração da guarda.

4. A decisão é provisória e poderá ser revista no curso do processo, caso venham aos autos elementos de convicção que sugiram a revisão. Recurso provido. (Agravo de Instrumento Nº 70067827527, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 16/03/2016).

É visto, portanto, que a criança, passando por uma situação de risco (no caso, alienação parental), e, por consequência, tendo seus interesses ameaçados, os Tribunais tem adotado posicionamento que vai ao encontro das disposições legais. Corrobora-se, desta feita, o intento legislativo de resguardar, com extrema prioridade os interesses daqueles mais frágeis dentro da relação familiar, as crianças.

2.4 A guarda compartilhada como solução dos conflitos de alienação

Diante dos casos corriqueiros de alienação parental, o judiciário começou a adotar a guarda compartilhada como regra de combate à prática alienativa. Nesta espécie de guarda, há o compartilhamento da custódia do filho, o que traz como consequência o rechaçamento do sentimento de posse do alienador, obrigando-o a abandonar a conduta possessiva sobre o

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filho, o que, muitas vezes, traduz-se na substituição de expressões como “meu filho” para “nosso filho”.

Para compreender melhor o instituto da guarda compartilhada, Marques (2009) explica que a ruptura conjugal não altera as características do poder familiar, porém, é marcante para aquele que obtém a guarda da criança. Isto porque, o detentor da guarda permanece no lar com o menor, diferentemente do ascendente que se afasta do antes lar conjugal, conduzindo a um conflito entre as partes, que muitas vezes ficam insatisfeitas com o afastamento de seus filhos. Partindo-se desta premissa, pode surgir dúvida no juiz quanto à espécie de guarda que deve ser estipulada, forçada por uma ruptura litigiosa do vínculo matrimonial. Ainda complementa, que na maioria das vezes é o homem que se afasta do lar, cabendo à mãe a guarda dos filhos, e, ao homem, a total liberdade para usufruir da sociedade que tolera o vulgar e o promíscuo. Deixa-se, assim, a impressão de que não estaria ele homem preparado para as minúcias e obrigações que permeiam a guarda compartilhada, e, especialmente, ao alcance dos objetivos que possui na criação dos filhos.

No entanto, tomando-se como verdadeira tal afirmação, em não havendo um bom entendimento entre os genitores, o pai será sempre prejudicado, pois a mãe poderá impor suas condições como guardiã, especialmente inserir ideias e ideais na cabeça do filho com o intuito, muitas vezes, de prejudicar o convívio com o genitor. Contudo, a guarda compartilhada surge para impedir situações desta natureza, tornando equânime a relação pai-filho-mãe.

Denise Maria Perissini da Silva (2014, p. 1) explica o que é a guarda compartilhada:

A guarda compartilhada é uma modalidade de guarda de filhos menores de 18 anos completos não emancipados, ou maiores incapacitados enquanto durar a incapacidade, que vem crescendo nos últimos tempos, como a maneira mais evoluída e equilibrada de manter os vínculos parentais com os filhos após o rompimento conjugal (separação, divórcio dissolução de união estável).

Tal entendimento sobre a guarda compartilhada torna-se necessário para uma análise mais aprofundada sobre sua importância no “combate” à alienação parental. Inclusive, muitas pessoas desconhecem os benefícios do instituto, especialmente porque a confundem a guarda alternada, que possui, por sua vez, o intento de determinar que a criança passe um tempo “x” na casa de um genitor e depois outro tempo predeterminado na residência do outro. Esta

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espécie de guarda (alternada) tira as características do lar, ou seja, desestrutura a criança, que perde a referência de sua residência. Já a guarda compartilhada busca exatamente o contrário: a convivência recíproca e equilibrada.

Nesse contexto, Miguel (2015, p. 27):

[...] a guarda alternada seria danosa à criança, em qualquer situação, só pelo fato de ela ter que se deslocar de uma residência para outra, sem exame de todas as circunstâncias subjetivas e objetivas relativas ao filho e aos pais de fato que ao se deslocar a outra residência, não teria uma moradia fixa, distanciando-se das raízes de um lar. É importante que a guarda alternada não se confunda com a compartilhada, por que esta vem para sanar e equilibrar a divisão do tempo de convívio.

Conforme a afirmação de Silva (2014), a guarda compartilhada vem sendo o método mais utilizado pelo Judiciário, especialmente pela sua eficácia em não eximir nenhum dos genitores da convivência com os filhos. Deste modo, ambos os ascendentes participariam da criação e educação da criança/adolescente, mantendo hígida a estrutura familiar.

Sinala-se que o Judiciário utiliza-se desta modalidade de guarda porque é aquela que busca manter o equilibro na relação entre pais e filhos, de maneira que todos os familiares convivam uniformemente com a criança. Intenciona-se, dessa maneira, a maior frequência de ambos os pais nas atividades rotineiras da criança, ou seja, o infante não rompe a ligação com nenhum dos genitores. Como consequência, a criança terá a estrutura necessária para sua formação e educação, garantindo-lhe um saudável desenvolvimento.

Sob o olhar de Jamil Miguel (2015), a guarda compartilhada é uma forma de atribuir a atividade de criação e educação dos filhos aos dois ascendentes, que devem buscar viver em harmonia pelo bem da criança, dividindo direitos e deveres inerentes ao poder familiar, do qual ambos são detentores.

Nesse viés, a guarda compartilhada mostra-se um instituto de evidente amenização das consequências psicológicas ocasionadas pela prática da alienação parental, por qualquer dos genitores. O simples fato de a convivência do infante ser equilibrada, não desproporcional, oportunizando-a de maneira equânime a ambos os pais, já é motivo suficiente para demonstrar ao menor que a “verdade” imposta pelo alienador não é absoluta, muitas vezes, inclusive,

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extremamente desvirtuada da realidade. Em suma, lhe é oportunizada a “visão” dos dois lados da nova vida que possuirá a partir do rompimento do relacionamento de seus pais.

Ademais, a guarda compartilhada oportuniza justamente aquilo que o ascendente alienador busca extinguir: o fortalecimento dos laços afetivos da criança com o genitor/familiar alienado.

Também confirma Miguel (2015, p. 24):

A doutrina e jurisprudência têm elogiado a opção do exercício efetivo do poder familiar, nos casos de separação a despeito de reconhecer as dificuldades de sua implantação no dia-a-dia de muitas famílias brasileiras, especialmente as mais pobres, que dependem do trabalho externo de seus membros, ausências prolongadas do lar e domicílios distantes.

Inclusive, este entendimento é adotado pelo Tribunal de Justiça mineiro:

DIREITO DE FAMÍLIA - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE GUARDA - PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DA IGUALDADE ENTRE OS CÔNJUGES - GUARDA COMPARTILHADA - CUSTÓDIA FÍSICA CONJUNTA - CRIAÇÃO SOB O INFLUXO DE AMBOS OS PAIS - FIXAÇÃO DE RESIDÊNCIA - MUDANÇA QUE TRAGA BENEFÍCIOS PARA O MENOR - ALIENAÇÃO PARENTAL - O instituto da guarda foi criado com o objetivo de proteger o menor, salvaguardando seus interesses em relação aos pais que disputam o direito de acompanhar de forma mais efetiva e próxima seu desenvolvimento, ou mesmo no caso de não haver interessados em desempenhar esse munus. - As mudanças impostas pela sociedade atual, tais como inserção da mulher no mercado de trabalho e a existência de uma geração de pais mais participativos e conscientes de seu papel na vida dos filhos, vem dando a ambos os genitores a oportunidade de exercerem, em condições de igualdade, a guarda dos filhos comuns. Além disso, com a nova tendência de constitucionalização do direito de família, da criança e do adolescente, a questão da guarda deve ser analisada atualmente com base nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, igualdade entre homens e mulheres e supremacia do melhor interesse do menor. - Na guarda compartilhada pai e mãe participam efetivamente da educação e formação de seus filhos. -Considerando que no caso em apreço ambos os genitores são aptos ao exercício da guarda, e que a divisão de decisões e tarefas entre eles possibilitará um melhor aporte de estrutura para a criação do infante, impõe-se como melhor solução não o deferimento de guarda unilateral, mas da guarda compartilhada. - Para sua efetiva expressão, a guarda compartilhada exige a custódia física conjunta, que se configura como situação ideal para quebrar a monoparentalidade na criação dos filhos. - Se um dos genitores quer mudar de cidade ou de Estado, para atender a interesse próprio e privado, não poderá tal desiderato sobrepuja r o interesse do menor. Só se poderia admitir tal fato, se o interesse do genitor for de tal monta e sobrepujar o interesse da criança. (TJ-MG - AC: 10210110071441003 MG, Relator: Dárcio Lopardi Mendes, Data de Julgamento: 30/07/2015, Câmaras Cíveis / 4ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 05/08/2015)

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Note-se que a jurisprudência pátria tem buscado adotar, nos casos concretos que lhe são postos, a figura da guarda compartilhada como solução mais adequada ao combate à alienação parental. Em verdade, traduz-se na aplicação prática dos princípios legalmente consagrados e doutrinariamente explorados, que veem na guarda compartilhada o remédio jurídico e, mais importante, fático para a já conflituosa relação entre os pais separados do infante beneficiário.

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CONCLUSÃO

Sabe-se que os laços afetivos formados em família são essenciais para a vida da criança/adolescente em desenvolvimento, notadamente porque são neles que se edificam as bases necessárias para a educação e formação social do indivíduo. O presente trabalho de conclusão de curso, através de um breve histórico, tentou delimitar as origens da alienação parental, a fim de que se pudesse pensar em um método reparador para suas inevitáveis consequência ou, até mesmo, para preveni-la.

Verificou-se, desta feita, que a alienação parental nada mais é do que uma campanha empreendida por um dos genitores, um familiar ou, até mesmo, um terceiro, a fim de denegrir a imagem de um parente próximo, geralmente um dos genitores, perante a criança. Inclusive, muitas vezes utiliza-se a própria criança como instrumento de vingança, alimentando-a com ideias negativas e fomentando a rejeição do infante para com o alienado.

Nota-se que as consequências da prática alienativa são deveras graves. Restou possível inferir que, em alguns casos, nem mesmo o alienador tem consciência do que está fazendo para consigo e principalmente para com o menor, ocasionando danos psicológicos irreparáveis à vítima, além de sofrimento imediato, traumas e frustrações.

Nesse viés, a guarda compartilhada surge como a melhor opção para a diminuição do problema, pois ela fortalece vínculos entre ascendentes e descendentes, mantendo o equilíbrio familiar mesmo após separações conturbadas. A guarda compartilhada ameniza, ainda, os altos índices de alienação parental evidenciados nas enxurradas de ações judiciais contemporâneas, ofertando ao infante um maior desfrute do convívio da criança para com

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ambos os pais, flexibilizando e tornando equânime o tempo de convívio entre todos os integrantes da entidade familiar.

No entanto, deve-se ter em mente que para que a guarda compartilhada funcione da maneira como prevista legalmente, mostra-se indispensável que as partes se respeitem e tenham um relacionamento baseado no diálogo, a fim de demonstrar ao menor, maior beneficiário desta modalidade de guarda, que mesmo com pais separados, o que lastreia a boa convivência de ambos é a busca pelo atendimento ao seu melhor interesse.

Em todas as hipóteses, portanto, cabe aos pais tomarem ciência das consequências advindas da prática de alienação, a fim de que tomem as rédeas da educação da criança e tentem manter um relacionamento pós-divórcio baseado no respeito e maturidade. Igualmente, que demonstrem sempre a mentalidade de que a separação ocorreu somente entre os cônjuges, e não com os filhos, notadamente porque este vínculo é perpétuo. É importante cultivar o amor, influenciando o convívio familiar.

Por fim, visualiza-se a guarda compartilhada, mesmo com algumas pontuais exceções, como a melhor medida a ser aplicada pelos profissionais (juristas ou psicólogos) em situações nas quais se evidenciem a prática alienativa, ou ela possa vir a se manifestar. O casal, ou os familiares, devem abrir mão das rixas pessoais, de seu egoísmo e até orgulho, a fim de priorizar o bem da criança, um verdadeiro indivíduo em formação, extremamente moldável, frágil e que evidentemente necessita de amor, carinho e educação.

Referências

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