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GOVERNANÇA CORPORATIVA NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRAS

6.3 A PESQUISA DE CAMPO: ESTUDO DE TRÊS CASOS

6.3.1 Caso 1: A Faculdade Familiar Capixaba

6.3.1.3 A IES na Atualidade

Para a identificação das características da IES na atualidade, utilizou-se a Metodologia de Diagnóstico Institucional, que contempla nove dimensões, apresentadas a seguir.

ƒ Posição no Setor Educacional Superior

Em outubro de 2005 estavam cadastradas no INEP/MEC 102 IESs privadas do Espírito Santo, 55 na macrorregião e 7 na microrregião de atuação da FFC. Segundo o Censo de 2003, estavam matriculados no Espírito Santo 75.738 alunos, 32.734 na capital e 43.004 no interior. Como os dados do Censo não consideram a presença da macrorrregião metropolitana onde está instalada a sede da FFC, somente é possível considerar os dados estaduais. Nesse sentido, constata-se que as matrículas da Instituição representam menos de 1% do total, o que permite afirmar que a sua posição no setor não é relevante.

ƒ Atividades Desenvolvidas

A FFC atua apenas na atividade de ensino, por meio da oferta de dois cursos de graduação. Há um projeto de implantação dos primeiros cursos de pós-graduação lato sensu – especialização. As atividades de pesquisa e extensão não foram observadas na Instituição.

ƒ Meio Ambiente

Comparando-se os dados demográficos do IBGE com os do Censo Educacional de 2003, percebe-se que o contexto da Grande Vitória e do município sede da FFC é paradoxal, revelando, de um lado, oportunidade de investimentos na área e, de outro, um cenário de saturação. Considerando-se que apenas 3,36% da população da Grande Vitória e 0,63% da população do município sede da FFC se encontram matriculados em cursos de graduação, e que o número de alunos matriculados no ensino médio é quase o dobro do número de alunos matriculados em cursos de graduação na Grande Vitória e é oito vezes maior no município sede da FFC, pode-se concluir que o setor educacional superior capixaba se revela como oportunidade de investimentos nesse segmento, já que há um elevado contingente de pessoas ainda não graduadas.

Porém, ao se observarem os dados específicos da educação superior, percebe-se a presença de ociosidade de vagas, já que, tanto na macrorregião como na microrregião, apenas um pouco mais da metade das vagas ofertadas é preenchido.

Em grande parte, essa situação paradoxal presente nos dois contextos, qual seja, excesso de alunos não graduados de um lado e vagas no ensino superior sobrando de outro, justifica-se em razão de a oferta de vagas ser predominante no setor privado. Pode-se dizer, portanto, que há necessidade de consumo desse tipo de serviço, porém, essa necessidade não se converte em demanda (CASTRO, 1983), em virtude da falta de condições financeiras da população para arcar com as despesas com a educação superior, bem como da falta de fonte de financiamento.

ƒ Tecnologia

Apesar de a FFC possuir software de controle acadêmico e financeiro, o sistema não é utilizado em sua plenitude, em função de não estar integrado. Como a Instituição ainda está no início de suas atividades, a gestão universitária ainda se processa, em boa parte, por controle manual, o que torna o software desnecessário, já que o processamento das informações se dá de maneira parcial, o que compromete a confiabilidade dos relatórios gerenciais.

ƒ Mercado

Apesar de a FFC não gerenciar as informações socioeconômicas de seus alunos de forma sistemática, os gestores familiares percebem que os seus principais clientes são pessoas da classe média e média baixa, que trabalham durante o dia e residem no município sede da Instituição. Os dirigentes estão fazendo intenso trabalho de base com os alunos do ensino médio da EF, que são os principias clientes em potencial da FFC, no intuito de reter esses alunos na Instituição, porém, no nível superior.

As principais concorrentes são as seis IESs com sede no mesmo município, porém o atendimento personalizado e o ambiente familiar na FFC são vistos como um diferencial em favor da captação de novos alunos e da retenção dos já existentes. A participação da FFC no mercado de atuação não é aferida pela Instituição, porém, intuitivamente, os gestores acreditam que ela esteja entre as três primeiras instituições do município.

ƒ Estrutura Organizacional

A entidade mantenedora da Instituição (EF) é pessoa jurídica de direito privado, com finalidade lucrativa, formada por três sócios familiares (pai e dois filhos). Exerce, na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), atividades educacionais devidamente autorizadas pelos órgãos da administração pública do estado do Espírito Santo. A EF possui apenas uma Instituição mantida: a FFC.

A entidade mantida é a FFC, já caracterizada anteriormente. Constitui-se de uma direção geral e duas coordenações de cursos. Duas novas coordenações de cursos estão sendo instituídas em função da autorização dos cursos de Direito e de Ciência da Computação. A secretaria e a biblioteca funcionam como órgãos de apoio à direção geral. O principal cargo da estrutura de propriedade é ocupado por um dos sócios familiares da entidade mantenedora.

A mantenedora e a mantida têm estatutos e regimentos próprios, porém não há um organograma formal institucionalizado para a descrição, composição e funções dos órgãos da estrutura organizacional. Na prática, o que se percebe é que a informalidade regula as relações institucionais, de modo que cada um dos atores sociais pertencentes às estruturas se posiciona segundo as orientações dos gestores familiares.

Percebe-se a ausência de órgãos colegiados (conselhos superiores) para a tomada de decisões estratégicas, caracterizando o que Dyer (1986) enfatiza em relação à atuação de familiares proprietários e fundadores na primeira fase do ciclo de vida da empresa familiar. Esses atuam como os únicos responsáveis pela gestão do empreendimento familiar, sem a interferência de gestores profissionais.

Em decorrência da presença e da supervisão direta da família nas atividades nos níveis estratégico, tático e operacional, o processo decisório é centralizado nos três familiares, e as práticas gerenciais apresentam baixo nível de formalização. Uma das principais características da gestão não profissionalizada é a adoção da tomada de decisão intuitiva (CHANDLER, 1962, 1977; REED, 1997; PARKIN, 1979; LODI, 1993).

Nesse contexto, de certa forma, em razão do tipo de IES (faculdade isolada) e da fase do ciclo de vida (empresa familiar no início, porém, numa fase híbrida) em que a gestão é tipicamente familiar, a FFC não se configura como uma burocracia profissionalizada, configuração típica de instituições com estrutura e dinâmica mais complexas, como é o caso das universidades.

ƒ Estratégia Institucional

Como a FFC ainda é uma Instituição no início, em busca da consolidação no setor, percebe-se que não tem uma estratégia institucional bem definida. Porém, devido ao contexto sociopolítico, econômico e educacional do município, observa-se nela uma tendência à adoção da estratégia competitiva genérica de liderança de custos (PORTER, 1986, 1989).

Os preços e os valores praticados pela Instituição são significativamente menores do que a média dos praticados por outras instituições da Grande Vitória. A mensalidade dos alunos e o valor de hora/aula pago aos professores são inferiores aos praticados pelo mercado: essa é a base de sustentação da estratégia de liderança de custos.

ƒ Estilos Gerenciais

O estilo gerencial da FFC é o da clássica empresa familiar em fase inicial, ou seja, supervisão direta dos donos (familiares), centralização do processo de tomada de decisão, pouco staff de suporte, mínima diferenciação entre os órgãos de gestão institucional, pequena hierarquia, processo de tomada de decisão intuitivo e paternalismo.

ƒ Políticas de Recursos Humanos

A FFC conta com 57 funcionários no total, sendo 37 professores e 20 técnico-administrativos. Observa-se uma relação de 19,49 alunos por professor, de 36 alunos por técnico- administrativo e de 12,63 alunos por funcionário, concernente à força total de trabalho.

Em comparação com a média nacional das faculdades privadas brasileiras, a FFC apresenta uma relação aluno x professor, aluno x técnico-administrativo e aluno x força total de trabalho significativamente superior à da média nacional, que é de 13,31, de 18,67 e de 7,77 respectivamente.

Esses indicadores são considerados pelos gestores familiares como compatíveis com o porte e a estrutura institucional da FFC nesta fase do ciclo de vida. Mesmo assim, consideram-se elevados os indicadores institucionais, revelando sobrecarga de serviço para os professores e para os funcionários técnico-administrativos. Em grande parte, esse contexto da política de recursos humanos viabiliza a estratégia competitiva genérica de liderança de custos.

Poucos são os professores com titulação de mestre e doutor em programas de pós-graduação credenciados pela CAPES, porém há um elevado número de especialistas. Apesar de não possuir um efetivo plano de carreira docente e técnico-administrativo nem um plano de cargos

e salários, informalmente e sem um critério bem definido a Instituição oferece algum tipo de ajuda e de auxílio àqueles professores que desejam melhorar a sua qualificação docente.