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1.1 A TEORIA DA JUSTIÇA COMO EQUIDADE

1.1.1 A liberdade e a igualdade em John Rawls

1.1.1.2 A Igualdade

Rawls propõe um modelo de instituição que deve ter como base o valor da justiça e, dessa maneira, as desigualdades sociais poderiam ser minimizadas. Essa ideia de justiça deve ser pactuada anteriormente as instituições. Para que isso venha a ocorrer, os integrantes da sociedade deveriam estar em um estado de igualdade sob o véu da ignorância, sendo que nesse estágio ninguém definiria valores da justiça os quais proporiam vantagens para certos indivíduos em detrimento dos demais, visto que sabe o que esta por vir. Como afirma Rawls:

Na justiça como equidade, a sociedade é interpretada como um empreendimento cooperativo para a vantagem de todos. A estrutura básica é um sistema público de regras que definem um esquema de atividade que conduz os homens a agirem juntos no intuito de produzir uma quantidade maior de benefícios e atribuindo a cada um certos direitos reconhecidos a uma parte dos produtos. O que uma pessoa faz depende do que as regras públicas determinam a respeito do que ela tem direito de fazer, e os direitos de uma pessoa dependem do ela faz. Alcançamos a distribuição que resulta desse princípio honrando os direitos determinados pelo que as pessoas se comprometem a fazer à luz dessas expectativas legítimas. (RAWLS, 2002, p. 90).

Desse modo, alinhados os direitos determinados pela pessoa que se comprometeu a fazer de forma legítima é que se alcança a distribuição que resulta desses princípios. Assim, “na teoria da justiça como equidade as pessoas vão aceitar de antemão um princípio de liberdade igual e o fazem sem conhecer seus próprios objetivos pessoais” (RAWLS, 2002, p.33). Portanto, de forma implícita, essas pessoas concordam “em conformar as concepções do seu próprio bem com aquilo que os princípios da justiça exigem, ou pelo menos em não insistir em reinvindicações que os violem diretamente” (RAWLS, 2002, p.33).

Assim sendo, a justiça como equidade, para Rawls, seria uma visão igualitária, mas em que sentido? O autor afirma que existem diversos tipos de igualdade e várias formas de se preocupar com ela. Assim, as razões para regulamentar as desigualdades, sejam econômicas sejam sociais, seriam:

Uma das razões é que, na ausência de circunstâncias especiais, parece errado que parte ou boa parte da sociedade seja amplamente provida, ao passo que muitos, ou até mesmo poucos, sofram agruras, para não mencionar fome e doenças tratáveis. Necessidades e carências urgentes ficam insatisfeitas, ao passo que desejos menos urgentes são satisfeitos. Nesse caso, porém, talvez não seja a desigualdade de renda e de riqueza enquanto tal que nos incomode; podemos pensar que, a não ser que haja uma escassez real, todos deveriam ter pelo menos o suficiente para satisfazer suas necessidades básicas. (RAWLS, 2003, p. 184).

A segunda razão para que se evitassem as desigualdades seria impedir que “uma parte da sociedade domine o restante” (RAWLS, 2003, p.184). Portanto, não poderia haver a concentração de poder na mão de poucos que dominem a sociedade e permitam que as desigualdades tornem-se recorrentes. Lembra-se que a desigualdade pode existir desde que beneficie os menos favorecidos na sociedade. Outra razão dá-se pelo fato de analisar o que existe de errado com a desigualdade em si mesma, para Rawls:

Desigualdades políticas e econômicas significativas costumam estar associadas a desigualdades de status social que estimula aqueles que detêm um status menos a serem vistos, tanto por si mesmos como pelos outros, como inferiores. Isso pode disseminar atitudes de deferência e servilismo por um lado e vontade de dominar e arrogância, por outro. Esses efeitos das desigualdades sociais e econômicas podem causar graves danos, e as atitudes que elas engendram, graves vícios. Mas será que essa desigualdade é errada ou injusta em si mesma? Esta muito perto de ser errada ou injusta em si mesma no sentido de que, em um sistema de status, nem todos podem ocupar os níveis mais elevados. O status é um bem posicional [...]. (RAWLS, 2003, p.184-185).

Dessa forma, o status que é elevado pressupõe que existem situações que são colocadas abaixo dele, o que permite a desigualdade. Rawls coloca que o status atribuído à raça, nascimento ou gênero é inaceitável. Outra questão é que as desigualdades podem ser erradas ou injustas em si mesmas mesmo que a sociedade use procedimentos que sejam equitativos. Rawls (2003, p.185) coloca dois exemplos: mercados justos e eleições justas; nesses casos, existe uma igualdade, ou uma desigualdade equilibrada. Mas deve-se “evitar o monopólio e seus equivalentes, não só por seus efeitos nefastos, entre os quais a ineficiência, mas também porque sem uma justificação precisa eles tornam os mercados iníquos” (RAWLS, 2003, p.185). O mesmo pode ocorrer com as eleições que podem ser influenciadas pela minoria que detém o poder na vida política.

Portanto, para que uma sociedade seja bem ordenada com base nos princípios da justiça, os cidadãos devem ser iguais. Essa igualdade deve estar presente no mais alto grau, ou seja, no fato de que os cidadãos “se reconhecem e se veem uns aos outros como iguais” (RAWLS, 2003, p.186). O vínculo entre esses cidadãos deve preservar as condições para que haja uma relação que seja igualitária entre todos, ou seja, deve haver uma cooperação social.

Destarte, a justiça de Rawls procura resolver o conflito pela distribuição de bens sociais entre os cidadãos. Assim, tem-se que considerar a sociedade como um sistema equitativo de cooperação, porque as pessoas, que são seres racionais e razoáveis, ou seja, que possuem interesses próprios de acordo com a concepção do bem se dispõe em função do

sentido de justiça que possuem, para ponderar umas com as outras sobre os justos termos de cooperação que devem nortear o convívio social e a distribuição dos benefícios sociais.

Rawls vai observar que as pessoas vão dispor de uma posição social diferente das que estão sujeitas desde o seu nascimento. A solução para o conflito gerado pela distribuição de benefícios é a cooperação social. Rawls vem imaginar uma sociedade caracterizada por uma situação de igualdade democrática, em que, por meio da justiça contida em suas instituições sociais, estaria garantindo o direito de todos a se favorecerem dos benefícios advindos da cooperação social.

O autor pretende, em cada princípio que propõe, a ideia de distribuição justa. Desse modo, uma desigualdade de liberdade e de oportunidade será permitida se beneficiar os menos favorecidos. Assim, define que a concepção comum de igualdade de oportunidades não limita a influência dos talentos naturais. Desse modo, os mais talentosos não merecem ter um rendimento maior e somente o tem se com isso houver benefício aos menos favorecidos. Rawls define que os menos favorecidos são aqueles que possuem menos bens sociais primários.

A seguir, analisa-se o papel da justiça na lei brasileira, verificando sua inserção na Constituição Federal e seus principais aspectos.

1.2 A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 NA VISÃO

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