• Nenhum resultado encontrado

A importância da ética profissional nas atividades de inteligência competitiva

Como já explicitado anteriormente, as origens da inteligência competitiva foram os métodos utilizados pelos órgãos de inteligência governamentais ligados à defesa nacional. Por essas razões, muitas vezes ela é confundida com espionagem e vista como uma forma antiética de obtenção da informação. Entretanto, é importante ressaltar que a espionagem é a

busca ou o acesso a informações de maneira ilícita. Ao contrário da inteligência competitiva, em que são utilizados métodos éticos e legais de coleta de informações. Algumas dessas informações se encontram, inclusive, disponíveis ao público e outras estão localizadas dentro da própria organização, ainda que dispersas, carecendo apenas de um sistema capaz de sistematizá-las.

Para Marcial et al. (2002, p. 24), “ética é o conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas”. Segundo Prescott (2002, p. 25), é imperativo que os profissionais de IC entendam as leis, os costumes e os padrões éticos nos países em que desenvolvem atividades de IC.

Prescott (2002, p. 12) utiliza a SCIP para destacar que a espionagem econômica representa um fracasso da IC, que utiliza fontes de informação abertas e outras fontes éticas de pesquisa. Ele prossegue afirmando que a SCIP visa a promover a IC como disciplina regida por um rigoroso Código de Ética e praticada por profissionais bem formados.

De acordo com Sawka (2002, p. 75), as unidades de inteligência precisam ter alta visibilidade na estrutura organizacional das empresas. Elas precisam evitar dar a impressão de que não conduzem seus programas de inteligência dentro das normas éticas e legais vigentes.

Gomes e Braga (2004, p. 30) destacam que a obtenção de informações deve ser feita da forma ética e transparente, ou seja, os profissionais não devem utilizar dados ou informações confidenciais sob falsa alegação, não usar informação que possam interferir na privacidade das pessoas e nem violar leis antitrustes, dentre outros.

Nos Estados Unidos existe uma legislação que orienta as atividades dos profissionais de inteligência. Cabe ressaltar que existem variações de país para país, mas as leis norte- americanas representam padrões aplicados na maioria dos países industrializados. Além de leis específicas, nos EUA, a SCIP preconiza um código de ética para os profissionais americanos

O objetivo principal de tais leis é promover a moralidade e a ética nos negócios (POOLEY; HALLIGAN, 2002, p. 198). Isso é de fundamental importância para os profissionais de inteligência: conhecer a legislação e o que pode ou não ser considerado segredo de negócios.

Barclay e Kaye (2002, p. 206) ressaltam que o profissional deve manter o seu rumo ético; ser inteligente ao invés de esperto; manter registros confiáveis; e se deparar com propriedade alheia, deve pedir ajuda e elevar os padrões em situações de alto risco.

No Brasil, a Abraic possui um código de ética e um código de conduta baseados na legislação brasileira, que norteia o trabalho dos profissionais de inteligência brasileiros, principalmente na etapa de coleta de informações. Os profissionais de inteligência devem:

1) Exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade;

2) Preservar sua dignidade, prerrogativas e independência profissional;

3) Esforçar-se continuamente para aumentar o reconhecimento e o respeito à profissão. 4) Cumprir as leis aplicáveis, tanto no País quanto no exterior;

5) Manter sigilo sobre o que souber, em função de sua atividade profissional; 6) Evitar envolver-se em conflitos de interesse no cumprimento de seus deveres; 7) Assegurar as condições mínimas para o desempenho ético-profissional;

8) Emitir opinião, dar parecer e sugerir medidas somente depois de estar seguro da informações produzidas e da confiabilidade dos dados obtidos.

A seguir são descritos os principais objetivos do código de conduta:

Considerando a necessidade do estabelecimento de padrões de conduta para os associados da Abraic, de forma a regular a conduta moral e profissional e indicar normas que devem inspirar o exercício das atividades associativas e profissionais, a Abraic propõe a adoção do código de conduta como parâmetro para atuação de seus associados e, num contexto mais amplo, para os profissionais que exerçam funções passíveis de vinculação ao domínio teórico e conceitual da Inteligência em suas diversas vertentes (ABRAIC, 2009).

Segundo a Abraic22, a existência de seu código de ética se justifica, dentre outros fatores, pelo fato de a inteligência competitiva ser uma atividade relativamente recente no Brasil, e ainda haver falta de conhecimento em relação à atividade e à sua diferenciação das ações de espionagem.

A Abraic disponibiliza também um resumo da legislação de interesse dos profissionais de IC e temas relacionados conforme a seguir (QUADRO 4).

22

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ANALISTAS DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA - ABRAIC. Disponível em: <http://www.abraic.org.br>. Acesso em: 6 maio 2009.

QUADRO 4

Legislação de interesse dos profissionais de inteligência competitiva

Documento Ementa Revogados

Decreto nº 4.553, de 27/12/2002. Publicado no DOU de 30/12/2002, pág. 06

Dispõe sobre a salvaguarda de dados, informações,

documentos e materiais sigilosos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, no âmbito da

Administração Pública Federal e dá outras providências Decreto 2.134, de 24/01/97 Decreto 2.910, de 29/12/98 Decreto 4.497, de 04/12/02 Decreto nº 4.376, de 13/09/2002 Publicado no DOU de 16/09/2002 Retificado no DOU de 24/09/2002

Dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído pela Lei nº 9.883, de 07 de dezembro de 1999 e dá outras providências. - Decreto nº 4.073, de 03/01/2002 Publicado no DOU de 04/01/2002, pág. 01 Regulamenta a Lei nº 8.159, de 08 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados Decreto 1.173, de 29/06/94 Decreto 1.461, de 25/04/95 Decreto 2.182, de 20/03/97 Decreto 2.942, de 18/01/99 Decreto nº 3.996, de 31/10/2001 Publicado no DOU de 05/11/2001, pág. 02 Retificação no DOU de 06/11/2001, pág.05

Dispõe sobre a prestação de serviços de certificação digital no âmbito da Administração Pública Federal. Decreto 3.587, de 05/09/00 MP nº 2.200-2, de 24/08/2001 Publicado no DOU de 23/08/2001, pág. 65

Regulamentada pelo Decreto 3.996

Institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras - ICP- Brasil, transforma o Instituto Nacional de

Tecnologia da Informação em autarquia, e dá outras

providências.

Originária: 2.200, 2.200-1

Decreto 3.865, de 14/07/2001 Estabelece requisito para contratação de serviços de certificação digital pelos órgãos públicos federais, e dá outras providências

-

Fonte: ABRAIC, 2009.

Kalb (2002, p. 217) afirma que, existindo um código de conduta em vigor, a coleta, análise e disseminação sistemáticas de inteligência sobre assuntos de importância e interesse fundamentais para uma empresa podem ser realizadas dentro dos princípios éticos e legais adequados. Esse autor reforça que agir de acordo com os mais altos padrões éticos, tanto da associação profissional quanto da empresa é a maior e mais importante responsabilidade de um profissional de inteligência.

E por fim, Gomes e Braga (2004, p. 31) alertam que se preocupar com a ética é importante, pois a imagem da organização pode ser afetada caso sejam comprovadas falhas éticas. O padrão de conduta dos profissionais de uma organização é um ativo importante que deve ser considerado quando se avalia a credibilidade dessa organização no mercado.

Foi visto no decorrer do trabalho que o objetivo de qualquer atividade de inteligência competitiva é tornar a organização inteligente:

Una organización inteligente es aquella que prevé, se anticipa y adapta a los cambios de su entorno, ya que conoce y comprende las características de ese medio en el que se desenvuelve y es capaz de movilizar todo su conocimiento para, por medio de la innovación, resolver de forma rápida y creativa los problemas que se le presenten, actuando de forma inteligente (CRUZ; DOMINGUEZ, 2007, p.52)23.

E para alcançar tais metas, as atividades de inteligência competitiva precisam ser desenvolvidas por profissionais capacitados. Além disso, é importante que se tenha a participação de profissionais da informação na equipe. No próximo capítulo, ele será abordado como peça importante em uma equipe multidisciplinar que irá desenvolver as atividades de inteligência competitiva. Além disso, serão abordados também temas como a evolução da profissão de inteligência competitiva, os principais profissionais envolvidos na atividade, bem como suas habilidades e competências.

23

“Uma organização inteligente é aquela que prevê, se antecipa e se adapta às mudanças ao seu redor, já que conhece e compreende as características desse meio em que se desenvolve e é capaz de mobilizar todo o seu conhecimento para, por meio da inovação, resolver de forma rápida e criativa os problemas que se apresentam, atuando de forma inteligente” (tradução nossa).

4 OS PROFISSIONAIS DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

Este capítulo aborda a questão dos profissionais que desenvolvem atividades de inteligência competitiva. Discutem-se também a evolução e a situação atual da profissão de inteligência, aborda-se o papel das bibliotecas especializadas de empresas no contexto da inteligência competitiva e apresentam-se os componentes de uma equipe de inteligência competitiva, bem como o seu perfil, habilidades e competências. O papel do profissional da informação em uma atividade de inteligência competitiva também será discutido no presente capítulo.