2 HISTÓRIA DA MODA: PERSPECTICAS SOCIOLÓGICAS, ESTÉTICAS,
2.5 A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO DA MODA: ASPECTOS ECONÔMICOS E
172
PORTO, Patrícia Carvalho da Rocha. Quando a Propriedade Industrial representa qualidade: Marcas Coletivas, Marcas de Certificação e Denominações de Origem. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 20-21.
173 Idem 171, p. 21-22. 174
Bisidem, p. 28.
175 Op. Cit., p. 28-29. 176 Op. Cit., p. 29-30.
A indústria da moda move anualmente bilhões de dólares, no Brasil e internacionalmente. No ano de 2017, no Brasil, de acordo com dados da ABIT177 (Associação
Brasileira de Indústria Têxtil), o setor de cadeia têxtil e confecção arrecadaram 45 bilhões de dólares, um crescimento considerável, se comparado com o ano de 2016 (39,3 bilhões de dólares).
As exportações continuaram em média de um bilhão de reais, enquanto as importações aumentaram de 2016 para 2017, de 3,2 bilhões de dólares para 4,2 bilhões de dólares. Os demais valores serão explicitados na tabela178 abaixo:
TABELA 1: Dados ABIT sobre o vestuário correlacionado aos valores de arrecadação no Brasil.
TIPO DO VESTUÁRIO/ARRECADAÇÃO 2016 2017
Produção média de confecção 5,7 bilhões de
dólares 5,9 bilhões de dólares
Produção média têxtil 1,6 milhão de
toneladas
1,7 milhão de toneladas
Varejo de vestuário 6,3 bilhões de peças 6,71 bilhões de peças
Desse modo, depreende-se que, em todos os setores de produção ou de varejo de vestuário, houve um aumento nos valores arrecadados ou produzidos, mostrando a força do setor na indústria nacional.
Em âmbito internacional, as cifras179 também são altas, principalmente nas marcas de
luxo180. De acordo com dados181 do ano de 2009, a Christian Dior182 possuía lucro líquido de
US$ 3.426.000,60, mas o valor em negócios era o equivalente a US$ 25.892.000,90. Enquanto na Macy’s Inc183, o lucro foi de U$S 4.803.000,00, enquanto as cifras de negócios
foram de US$ 24.892.000,00. Já na The GAP Inc184, o lucro líquido foi de US$ 967.000,00,
enquanto as cifras foram de US$ 14.526.000,00.
Além dessa importância econômica, também há que se destacar a moda como uma indústria criativa, havendo a união de dois aspectos: o da indústria e o da arte. A demonstração das criações ou produções artísticas é revelada em desfiles realizados nas
177 BRASIL, ABIT. Perfil do Setor, 2017. Disponível em <http://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor> acesso
em 06 jan. 2018.
178 Tabela 1: Dados extraídos do: BRASIL, ABIT. Perfil do Setor, 2017. Disponível em
<http://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor> acesso em 06 jan. 2018.
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Ainda há destaque para mais duas marcas, a H&M e a Swatch , as quais, respectivamente, tiveram como cifra de negócios US$ 10.889.000,40 e US$ 5.375.000,00, enquanto que o lucro líquido foi de US$ 1.181.000,20 e US$ 793.000,40.
180
O objetivo dos dados é analisar a importância econômica das marcas em nível mundial, aqui não se discute as questões trabalhistas das marcas de luxo ou de fast fashion, pois a discussão foge dos objetivos deste trabalho.
181 Dados retirados da obra GODART, Frédéric. Sociologia da moda. São Paulo: Editora Senac, 2010, p. 133-
134, datados do ano de 2009.
182 Marca francesa de alta costura. 183 Marca americana de departamento. 184 Marca americana de departamento.
semanas de moda, para em seguida fixar os locais de venda, de produção, marketing e distribuição185.
A correlação entre indústria e arte no mundo da moda se dá por dois motivos, o econômico, como já visto anteriormente, e a atividade artística, representada pela obra dos
designers.
Nessa união de arte e indústria, é inegável que se atrela a ambos a figura da grife ou da marca, ou seja, passam a existir como elementos criativos que se diferenciam dos demais. Os tipos de marca são disciplinados pelo Direito Empresarial (nominativa, figurativa, mista).
Essa indústria criativa também é capaz de “criar objetos que possuem significados”, ou seja, nasce um símbolo ou um signo. Esse signo existe como elemento vinculador entre o produtor e sua obra, passando a ser utilizado como identificador de algum produto ou serviço186. Pode-se dizer que foi nesse momento da indústria criativa que o consumo foi
iniciado como lazer, ligando também a criatividade do estilista com a estética que busca o consumidor.
Por isso, para entender economia criativa é essencial correlacioná-la com as “manifestações humanas ligadas à arte em suas diferentes modalidades, seja ela do ponto de vista da criação artística em si, como pintura, escultura e artes cênicas, seja na forma de atividades criativas com viés de mercado, como design e publicidade187”.
Os elementos formadores da economia criativa ligam-se diretamente com a atividade criacional dos designers de moda, tendo em vista que as fases consistem na “criação, produção e distribuição de produtos188”, que têm como ponto de partida a atividade intelectual
e o conhecimento de quem produz a peça.
Um dos momentos de maior destaque para a economia criativa aconteceu no Reino Unido, quando foi dada a oportunidade de desenvolvê-la, ocorrendo uma divisão em quatro fases: 1) devido à importância na economia nacional, na geração de empregos e estabilização do PIB, foi destacada como principal política econômica pós industrial; 2) foi dada a importância nos chamados setores criativos; 3) o fomento da cultura, quando foi aumentado o
185 GODART, Frédéric. Sociologia da moda. São Paulo: Editora Senac, 2010, p. 12-13.
186 Rafael Mendizábal Allende citado por NIELSEN, Viviane Mattos. Direito Marcário e o Protocolo de
Madri: Panorama Evolutivo e as Discussões Atuais. In: Denis Borges Barbosa (Org.). Direito Internacional da
Propriedade Intelectual: O Protocolo de Madri e outas questões correntes da Propriedade Intelectual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 1-111, p. 1.
187
CAIADO, Aurílio Sergio (Coord.). Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. 2011. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/130250935/Economia-Criativa> acesso em 18 mai. 2018, p. 15.
188
CAIADO, Aurílio Sergio (Coord.). Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. 2011. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/130250935/Economia-Criativa> acesso em 18 mai. 2018, p. 15.
investimento e quando passou a ter especificamente “políticas de exportação, propriedade intelectual, desenvolvimento urbano e educação189”; 4) o estímulo às formas de criação de
bens, sejam ela tradicionais ou não, demonstrando que as novas tecnologias devem ser levadas em consideração190.
Em 2005, houve a substituição da chamada indústria criativa para economia criativa, momento em que foram definidos quais os setores seriam abarcados pela economia criativa, e um deles foi o design de moda. O rol foi definido pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS)191, no Reino Unido.
Os dados que se referem à geração de empregos, no que tange à produção de obras tuteladas pelos direito autorais, são significativos, pois, segundo o DCMS192, a “economia
criativa já seria responsável por 7,8% das empresas e 5,6% do valor adicionado da indústria no Reino Unido193”.
Ao ligar a economia criativa com aspectos de Direito Internacional, existem estudos da ONU (Organização das Nações Unidas), da OMPI (Organização Mundial da Propriedade Intelectual), da UNCTAD194 (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento) e UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Os trabalhos desenvolvidos por esses órgãos se diferenciam entre si, mas o resultado final sempre é o da economia criativa. Por exemplo, o DCMS trabalha com direito e arte, já a proposição da UNCTAD relaciona-se com a propriedade intelectual, enquanto que o trabalho da UNESCO fez com que surgisse o projeto de Cidades Criativas.
Em termos de distribuição do emprego formal e informal no total da economia e em atividades criativas, o Rio Grande do Norte possuía em 2009, média de 43.386 empregos formais e informais na economia criativa, sendo o quinto estado brasileiro na categoria195.
A relação entre economia criativa e moda deveria ser dissociada de alguns elementos que estão diretamente ligados à moda, que é a indústria. Portanto, para a análise, Aurílio
189 Flew e Cunningham apud CAIADO, Aurílio Sergio (Coord.). Economia Criativa na Cidade de São
Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. 2011. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/130250935/Economia-Criativa> acesso em 18 mai. 2018, p. 16.
190
Idem 188, p. 16.
191 Além do design de moda, incluem-se no rol a propaganda, arquitetura, mercado de artes e antiguidades, artes
performáticas, artesanato, design, filme e vídeo, televisão e rádio. Idem 187, p. 16.
192
Bisidem 187, p. 16.
193
Op. Cit., p. 16.
194 Os estudos da UNCTAD se relacionam com a arte, cultura, negócios e tecnologia, sempre tendo como ponto
de partida o capital intelectual. Op. Cit., p. 16.
195
CAIADO, Aurílio Sergio (Coord.). Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnóstico e Potencialidade. 2011. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/130250935/Economia-Criativa> acesso em 18 mai. 2018, p. 41.
Caiado utilizou elementos que são responsáveis pela produção dos produtos do ramo, como “costureiros, alfaiates, modelistas e os modelos responsáveis pela promoção desses produtos196”, que na cidade de São Paulo representavam 8.424 trabalhadores formais no ramo.
Outro fator importante da relação moda e economia criativa, além dos empregos, é a possibilidade de interação com os diversos ramos de produção de bens de consumo, ligando- se diretamente com todos os preceitos próprios da moda, como tendências e estilo de vida197.
Além disso, a abertura de eventos de moda, como o São Paulo Fashion Week (SPFW), e a construção de marcas próprias brasileiras, faz com que a moda nacional se torne mundial. Exemplo disso é a “Marca Brasil” e a difusão de marcas como as havaianas mundialmente, que graças ao SPFW passou a participar de semanas de moda em Paris, Milão, Londres e Nova Iorque. Por isso considera-se que o evento brasileiro é importante no desenvolvimento da economia criativa198.
O último aspecto a ser observado, no que tange às questões de Direito Internacional Público, está no âmbito das rodadas da OMC (Organização Mundial do Comércio). Para isso se destaca o Acordo de Têxteis e Vestuário199 realizado em 2005, cujo objetivo era a retirada
dos impostos de importação das roupas e tecidos dos 145 países que faziam parte da OMC200,
cujo tema será desenvolvido com mais profundidade nos capítulos posteriores.
196
Idem, p. 96.
197 Bisidem, p. 140. 198 Op. Cit., p. 142.
199 Agreement on Textiles and Clothing.
200 FRINGS, Gini Stephens. Moda: do conceito ao consumidor. Tradução: Mariana Belloli. Porto Alegre: