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3. O SETOR FLORESTAL NA BACIA DO CONGO

3.2. A importância das florestas da África Central

As florestas tropicais são reservas de carbono e de biodiversidade extraordinárias. Em poucas décadas, tornaram-se um dos principais desafios internacionais no âmbito das alterações climáticas e da conservação ecológica. Relativamente bem conservada, tem um papel fundamental na regulação dos sistemas climáticos globais (de Wasseige et al., 2015). Estima-se que cerca de 46 mil milhões de metros cúbicos de carbono se encontram armazenados nas florestas da BC (de Wasseige et al., 2009).

As florestas sequestram e armazenam carbono, produzem madeira e facultam serviços de ecossistema: produtos não-madeireiros, controlo da erosão e prevenção da colmatação, regulação da qualidade da água e do clima local, etc. (IUCN, 2016; WWF, 2016). As florestas da África Central, densas e húmidas, fornecem meios de subsistência para as cerca de 60 milhões de pessoas que habitam a área, superior a 1.700.000 km2. Estas florestas também cumprem funções sociais e culturais, essenciais para as populações indígenas, e contribuem para alimentar os 40 milhões de habitantes dos centros urbanos e vizinhanças (Nasi, Billand & Vanvliet, 2011; de Wasseige et al., 2014). Por exemplo, apenas nos Camarões, a carne de animais selvagens representa um valor económico anual de cerca de 122 milhões de euros (Lescuyer, 2014). Além de essenciais para o sustento das comunidades, as florestas da BC contribuem substancialmente para as economias dos países da região. O setor madeireiro do Gabão é o segundo maior empregador do país e nalgumas zonas da RC é mesmo a única fonte de trabalho pago.

Até hoje, as florestas da BC têm estado relativamente bem protegidas devido a reduzidas pressões demográficas reforçadas pelo êxodo rural, ao acesso difícil, à ausência de transportes e de infraestruturas de comunicações, e a um clima de negócios pouco estimulante para

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investimentos a longo-prazo (Burgess et al., 2006; Megevand et al., 2013). Contudo, é de prever que a situação se inverta nos próximos anos, dado que os programas governamentais definidos pelos estados da BC apontam para uma emergência económica entre 2025 e 2035 (de Wasseige et al., 2015). Estes programas baseiam-se na exploração contínua de recursos naturais, tais como a madeira, o petróleo e minerais, na produção agrícola para as necessidades domésticas e para exportação, e no fortalecimento das atividades industriais de processamento. Para mais, os programas de estabilidade social e política prevalecentes na última década permitiram o desenvolvimento de uma infraestrutura alargada de estradas e de fornecimento de energia elétrica nas principais áreas urbanas. Verificou-se também, neste período, uma melhoria no clima de negócios e o aumento no preço dos minerais e dos produtos agrícolas no mercado internacional, que serviram de incentivo ao investimento.

Nos dias de hoje, as atividades agrícolas de pequena escala e de colheita informal de lenha são consideradas as principais causas de desflorestação na BC, mas estão a ser desenvolvidos novos projetos agrícolas em larga escala que poderão tornar-se mais relevantes no futuro (Defourny, Delhange & Kibambe Lubamba, 2011). A indústria madeireira é também causadora de desflorestação e de degradação da floresta. Atualmente, as concessões madeireiras cedidas para exploração somam mais de 49 milhões de hectares de floresta (de Wasseige et al., 2015). Mesmo que esta área seja gerida de uma forma sustentável de modo a prevenir a desflorestação, como acontece em apenas cerca de 40% das concessões, o risco de degradação florestal permanece (ibid). Em contraste com a tendência geral de adoção de modelos de gestão florestal sustentável, a floresta encontra-se, no seu todo, suscetível a atividades madeireiras ilegais, que causam degradação e desflorestação de magnitude superior à exploração legal.

Os setores socioeconómicos e de sustento dos países da África Central encontram-se dependentes dos ecossistemas florestais da BC. Os impactos das alterações climáticas que se verificarão num futuro próximo dependem da magnitude de atividades humanas, tais como a desflorestação, a degradação dos ecossistemas ou a poluição, além de que condicionarão a produção agrícola (IPCC, 2014). Ademais, as alterações climáticas irão amplificar os problemas sanitários existentes: escassez de água potável, insegurança alimentar e acesso limitado a cuidados de saúde e de educação. Variações nos padrões de temperatura e de precipitação irão afetar a saúde, devido ao agravamento da subnutrição.

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As florestas tropicais da BC são de tal importância que são consideradas um bem comum da humanidade, tendo sido alvo de inúmeros acordos multilaterais no que toca à sua gestão e conservação (de Wasseige et al., 2015). Todos os países da região são membros da United Nations Framework Convention on Climate Change, devido ao interesse em políticas que visam combater as alterações climáticas. Ao nível regional, a Commission des Forêts d'Afrique Centrale assume o papel de lançar o programa de adaptação e resposta às alterações climáticas, com apoio de organizações governamentais e não-governamentais nacionais e internacionais (UNFCCC, 2014).

Na África Central, o papel da proteção das florestas no combate às alterações climáticas é abordado por três tipos de iniciativas e medidas políticas, que incluem a adoção de técnicas de gestão florestal sustentável, de melhoramento do governo florestal e implementação do programa REDD+ (de Wasseige et al., 2015). Contudo, vários obstáculos têm impedido a implementação eficiente e eficaz de políticas ambientais, principalmente relacionados com a política económica subjacente à desflorestação e degradação, num contexto de fraco governo florestal. Existem ainda muitos desafios de coordenação, a vários níveis e setores, e objetivos de desenvolvimento nacional competitivos (Martius, 2015).

Ao nível global, o programa REDD+ ressalta o discurso sobre o sequestro de carbono e a redução das emissões resultantes do uso do terreno, tendo em consideração os serviços que a floresta fornece à sociedade, tais como o sustento e a biodiversidade (de Wasseige et al., 2015). Ao nível local, os pequenos proprietários, as comunidades e os institucionalistas esperam receber diretamente benefícios deste programa, sob a forma de dinheiro ou benefícios de sustento, melhores infraestruturas e serviços ou mesmo melhorias palpáveis dos indicadores de desenvolvimento (ibid). Diferentes expectativas acabam por atrasar a implementação de um programa que deveria dar prioridade à redução da pobreza e a objetivos de desenvolvimento sustentável. Além disso, estes desafios acabam por constituir um fardo financeiro para os estados da BC (Somorin et al., 2012). Deverão ser desenvolvidas estratégias colaborativas para proteger os ecossistemas, sem colocar em risco a sua integridade, assegurando o provisionamento contínuo de bens e serviços dos ecossistemas, essenciais para o sustento das comunidades, para o desenvolvimento nacional e para o crescimento da economia regional. Tem-se verificado algum progresso neste campo, mas, à escala de cada país, os processos políticos e institucionais ainda apresentam pouca coordenação e falta de coerência (Dkamela,

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2011; Kengoum & Tiani, 2013). A gestão florestal sustentável tem-se desenvolvido na BC nos últimos 20 anos, devido: à vontade política dos governos; à inclusão do setor privado (através de mecanismos como a certificação florestal para ir ao encontro de mercados de madeira com elevada sensibilidade ambiental); e ao envolvimento de uma comunidade de doadores, que tem oferecido bastante apoio (de Wasseige et al., 2015). Estes esforços deverão ser continuados através de planos de gestão e de integração da abordagem da gestão florestal sustentável na utilização mista de florestas.