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A importância das necrópsias na infecção por HIV/aids

Existe uma tendência mundial de diminuição do número de necrópsias em decorrência da maior utilização de exames radiológicos e laboratoriais no diagnóstico antemortem (BURTON e UNDERWOOD, 2007). No entanto, a necrópsia continua importante ainda nos dias de hoje, visto que as taxas de discordância entre os achados antemortem e postmortem na aids variam de 42 a 74%. Apesar dos significativos avanços nos procedimentos diagnósticos, ainda acontecem diagnósticos falso-positivos e falso-negativos na ausência do exame de necrópsia (BEADSWORTH et al., 2009; LANJEWAR, 2011; SILVA, 2011; SILVA et al., 2012; SOUZA et al., 2008; WILKES et al., 1988). As necrópsias têm finalidade didática, de controle de qualidade do corpo clínico e, no contexto da aids, segundo Cox et al. (2010): “É provável que novas síndromes não previstas possam surgir entre os pacientes tratados com HAART por longo tempo, que podem ser relacionadas a drogas ou novas condições relacionadas ao HIV; as necrópsias devem identificar esses casos”.

O Hospital das Clínicas da UFTM constitui um centro regional de referência no diagnóstico e tratamento da infecção por HIV/aids. Nos últimos 20 anos a doença mais frequente em nossas necrópsias é aids (18% dos casos). Essas necrópsias são de alta complexidade devido às múltiplas infecções, muitas vezes concomitantes, frequentemente não características à macroscopia, necessitando ampla amostragem microscópica, diferentes técnicas de coloração e imuno-histoquímica, tornando-se um procedimento caro e que exige bastante tempo de trabalho dos patologistas e técnicos (SILVA, 2011; SILVA et al., 2012). Além disso, necrópsias são fundamentais para o controle de qualidade em um Hospital Universitário e tem auxiliado no conhecimento das doenças mais frequentes nos portadores de HIV/aids em nossa região, como após verificarmos, por exemplo, que nossa região é endêmica para histoplasmose (ADAD et al., 1996), auxiliando no manejo clínico dos pacientes. Ademais, acreditamos que o estudo dessas necrópsias de aids (355 casos em um total de 1965 necrópsias do Serviço nos últimos 22 anos) representa um retorno social e científico ao tempo e ao dinheiro investido nesses procedimentos, além de representarem também um controle de qualidade ao que é feito na Instituição, permitindo melhor conhecimento para adequação ao tratamento dos pacientes com aids com base nas afecções mais comuns no sistema digestório em nossa região, em uso ou não de HAART (SILVA, 2011; SILVA et al., 2012).

Tendo em vista:

 A escassez de estudos de necrópsia avaliando especificamente o sistema digestório de pacientes com HIV/aids;

 A morbi/mortalidade das doenças digestivas na infecção por HIV/aids;  As variações dos achados em diferentes regiões geográficas;

 A importância do advento da HAART na história natural da doença; e,  O valor da necrópsia como controle de qualidade hospitalar;

propomo-nos a avaliar as doenças do sistema digestório em necrópsias de indivíduos com HIV/aids na UFTM no período de 1989 a 2012, dividindo-os em três grupos (sem uso de drogas antirretrovirais, uso de uma ou duas drogas antirretrovirais, ou uso de HAART). Os objetivos incluem avaliação do impacto da HAART nas doenças do sistema digestório e da importância das doenças digestivas no óbito. O melhor conhecimento das alterações

gastrointestinais associadas ao HIV/aids poderá auxiliar nas condutas preventivas e terapêuticas de pacientes da nossa região e de outros locais.

Houve redução na frequência das doenças do sistema digestório em

necrópsias de indivíduos com aids após o advento da HAART?

Com o intuito de contribuir para o conhecimento das alterações do sistema digestório que ocorrem na infecção por HIV/aids, pretende-se, neste estudo, em necrópsias de indivíduos com aids:

1. Descrever a frequência das lesões do sistema digestório globalmente, em todos os segmentos, e, separadamente, em cada segmento do sistema digestório;

2. Verificar se há correlação entre a frequência das lesões no sistema digestório e o uso ou não de HAART;

3. Verificar a correlação entre o tempo de sobrevida após o diagnóstico de HIV e o uso ou não de HAART

4. Descrever os tipos e as frequências das lesões do sistema digestório relevantes para o óbito dos pacientes.

Trata-se de estudo retrospectivo do sistema digestório em necrópsias de indivíduos com infecção por HIV/aids realizadas na Disciplina de Patologia Especial/Serviço de Patologia Cirúrgica do Hospital de Clínicas da UFTM, no período de janeiro de 1989 a dezembro de 2012. O Hospital de Clínicas da UFTM está localizado na cidade de Uberaba, Minas Gerais, e comporta, atualmente, 292 leitos ativos, sendo 20 de UTI infantil, 10 de UTI adulto e 10 de UTI coronariano.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFTM (Anexo 1 – Parecer Consubstanciado – protocolo CEP/UFTM número 1871).

A partir de 1989, quando foi realizada a primeira necrópsia de paciente com HIV/aids na UFTM, adotou-se a coleta sistemática de sangue em todos os casos de necrópsia, para realização de sorologia para HIV no Hemocentro Regional de Uberaba.

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

 Idade maior que 13 anos;

 Apresentar aids, diagnosticada em vida ou à necrópsia, segundo os critérios de classificação da infecção por HIV do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), 1993.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

 Ausência de lâminas histológicas (necrópsia não concluída).  Não se encontrar o prontuário clínico.

SELEÇÃO DA AMOSTRA

Foram revistos os registros de necrópsias e os resultados de sorologias para HIV arquivados no Serviço de Patologia Cirúrgica da UFTM de 1989 a 2012, nos quais estão relacionadas todas as necrópsias realizadas no serviço desde o seu início e os resultados de sorologias para HIV feitos a partir de 1989. Foram selecionados os casos com sorologia positiva para HIV e calculada a proporção desses casos em relação ao número total de necrópsias realizadas no serviço no período.

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