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CAPÍTULO 3 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.6. A IMPORTÂNCIA DOS KNOWLEDGE SPILLOVERS

Os knowledge spillovers ocorrem quando uma empresa cria conhecimento e esse conhecimento produz benefícios externos (“spills over”) para outras empresas. Os

knowledge spillovers representam uma externalidade positiva, decorrente dos efeitos

do conhecimento gerado por empresas inovadoras noutras empresas, levando a que estas últimas tenham um forte incentivo em localizarem-se em clusters pré-existentes, com o propósito de beneficiarem do elevado nível de knowledge spillovers (Karlsson,

Flensburg e Horte, 2004). Também Audrescht, Keilbach e Lehmann (2006) defendem que o empreendedorismo resultante de knowledge spillovers tenderá a ficar localizado geograficamente próximo das fontes que actualmente produzem o conhecimento tido por pertinente.

Para Maskell e Kebir (2009), as empresas estão directamente ligadas por relações de negócio (oferta e procura) e indirectamente através do mercado, por via do trabalho e dos serviços públicos e privados. As economias de localização, ou spillovers, talvez sejam, inicialmente, resultados não previstos do encontro bem sucedido entre as exigências de localização das empresas e a oferta de factores de localização.

A existência e contribuição para uma infra-estrutura social empreendedora, por parte de knowledge spillovers localizados, é defendida por muitos estudiosos interessados na explicação dos processos de formação de clusters e, a uma escala mais elevada, de formação dos sistemas de inovação regional. Para estes, o factor proximidade oferece vantagens em termos de inovação. Particularmente, os outputs de I&D tornam-se um bem público nas zonas onde existe concentração e, por esta via, cria-se um mecanismo de indução, que leva a que as empresas se tendem a localizar na proximidade das oportunidades decorrentes de tais knowledge spillovers, para acederem a estes como free goods em antecipação aos seus concorrentes (Cooke et

al., 2007).Segundo Porter (1990b), o conhecimento é predominantemente específico por sectores, porém os seus efeitos no crescimento são reforçados pela competição local mais do que pelo poder de mercado, já que as empresas têm de ser inovadoras para sobreviverem.

Os trabalhos de Marshall (1920) enumeraram razões para uma maior produtividade empresarial, quando várias empresas da mesma indústria se localizam na proximidade umas das outras, partilhando o mercado de trabalho, knowledge spillovers e fornecedores especializados. Teorias subsequentes argumentaram que a especialização numa indústria particular traz consigo um processo acumulativo de activos e vantagens, que tem como consequência directa o reforço da natureza deste processo. Adicionalmente, as forças de mercado tendem a concentrar investimentos em áreas prósperas que ofereçam melhores acessos a infra-estruturas, capital humano e mercados, bem como menores riscos (Krugman e Venables, 1990), assim como a qualidade de certos inputs de factores, tais como a educação, a rivalidade positiva entre empresas que estimulam e guiam a inovação, assim como as

Existe um significativo efeito de localização pelo qual os fluxos de conhecimento do sector público para a indústria podem ser mais importantes num local ou região específicos. Há uma tendência notória para a criação de centros de conhecimento especializados e orientados para a pesquisa e desenvolvimento de determinados tipos de tecnologias. Nesses locais, as empresas e institutos de pesquisa tendem a concentrar-se de forma a acederem a redes de conhecimento técnico, formais e informais (OECD, 1997).

Com base em Karlsson, Flensburg e Horte (2004), resulta que a relevância do valor dos knowledge spillovers e das redes de conhecimento na produção e difusão do conhecimento tem vindo a aumentar. O sucesso económico subjacente a regiões high-

tech, tais como o Silicon Valley californiano e Massachusetts Route 128, é a evidência

óbvia da importância dos clusters industriais na indução da inovação. Embora avanços substanciais se tenham dado nas décadas mais recentes, ainda existem lacunas consideráveis em termos de compreensão dos knowledge spillovers. Por exemplo, a pesquisa empírica claramente demonstra que a localização de uma dada empresa relativamente às empresas inovadoras é extremamente importante para a capacidade desta em tirar partido dos knowledge spillovers por estas últimas gerados. No entanto, ainda não se sabe muito acerca dos processos de transmissão de knowledge

spillovers e até que ponto a sua presença poderá ser contraproducente à inovação

futura, ao obstaculizar a que as empresas produtoras de I&D possam recolher em pleno os dividendos dos investimentos realizados nessa área.

Presentemente, os spillovers estão na base da capacidade de adaptação das empresas ao contexto, nomeadamente o tecnológico; esta capacidade empreendedora empresarial é tanto maior quanto maior for a sua capacidade de apropriação de algum retorno proveniente do novo conhecimento oriundo do exterior. O dinamismo que se tem verificado no empreendedorismo também apresenta uma visão evolucionista, porque as empresas de pequena dimensão e de baixo output mostram o desejo de se apropriarem do novo conhecimento económico e do valor daí esperado. Isto leva-as à procura da captação do knowledge spillovers, já que estes são de baixo custo e de alto rendimento, na medida em que as empresas se apropriam de um conhecimento para o qual não contribuíram com o sacrifício do correspondente investimento.

performance económica entre as diferentes regiões, dependem de um conjunto de recursos relativamente imóveis – conhecimento, competências, estruturas institucionais e organizacionais, etc. – cujo papel tem sido reconhecido como sendo muito importante, designadamente para o processo de inovação (Marques e Ribeiro, 2004). Com efeito, de acordo com vários autores, é mais provável que a inovação ocorra em áreas onde os inputs especializados, serviços e recursos necessários aos processos de inovação estão concentrados. Por outro lado, é atribuída uma especial importância aos knowledge spillovers, enquanto factor-chave para a clusterização das empresas inovadoras. Vários autores defendem que a transmissão do conhecimento tende a ocorrer de forma mais eficaz entre actores que estão próximos. Efectivamente, há determinado tipo de conhecimento que só pode ser eficazmente transmitido através de contactos interpessoais e por via da mobilidade interempresas dos trabalhadores, o que é facilitado pela proximidade geográfica e cultural (cf. evidenciado na figura 14).

Figura 14 - As empresas baseadas no conhecimento e os seus “ambientes”

Fonte: Extraído de Marques e Ribeiro, 2004.

ou do fim da relevância da geografia, ter sido gorada no que respeita à ideia subjacente do acesso ubíquo a toda a gama de produções e outros factores ao longo do tempo, estava no entanto correcta no que concerne ao postulado dos fluxos de informação globalmente ligados em rede. Esta assunção reside na observação de que as redes globais interligam nós de poder económico, principalmente cidades. Tais nós podem ser encarados como o resultado de um retorno crescente ao paradigma da aglomeração urbana (Sternberg e Litzenberger, 2004).

Na economia do conhecimento que desponta, estes efeitos derivam de uma ampla variedade de spillovers, especialmente knowledge spillovers, que tendem a concentrar-se nas cidades, por exemplo pela proximidade espacial a incubadoras e

spin-offs, que em geral favorecem os fluxos de conhecimento. As associações locais,

as organizações empresariais, os consultores especializados na pesquisa de mercado, as relações públicas, networking services, entre outros, influenciam necessariamente a capacidade empreendedora disponível. A esta grandeza de factores está associada a cultura organizacional que interage com a cultura social e com os valores característicos da sociedade. A classe empreendedora relaciona-se com o desenvolvimento local. Desta forma, a quantidade e a qualidade do conhecimento aí existente induz maior dinamismo nos spillovers que por sua vez interagem com o tecido empreendedor, estimulando-o. Desta interacção resultam influências positivas na performance das empresas, tendo-se a gestão do conhecimento tornado, por mérito próprio, num dos elementos fundamentais ao desenvolvimento estratégico, o qual, assenta muito nas ligações explicitadas na figura A11 em anexo.