• Nenhum resultado encontrado

A importância dos Municípios na distribuição de Benefícios Federais

4 INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DO MARANHÃO: A REALIDADE

4.2 A importância dos Municípios na distribuição de Benefícios Federais

Nessa perspectiva, convém destacar a grande importância do Programa Bolsa Família (PBF) para a população maranhense. Criado pela Lei Nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004, e regulamentado pelo Decreto Nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, este Programa atende, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS, 2008, 55% da população; e no município de Junco do Maranhão atende a 95,4% da população daquele município, o que se constitui em um tipo de clientelismo estatal.

Tais beneficiários, na intenção de assegurar a manutenção do Programa, no momento da eleição, optam por aqueles que eles acreditam que vão prosseguir com essa política. Embora seja um programa federal, a “distribuição” final é de responsabilidade das prefeituras locais, o que dá margem para que pessoas que não se enquadrem no perfil de beneficiários sejam contemplados, ao passo que existem pessoas que correspondem ao perfil exigido pelo Programa, mas muitas vezes não conseguem ingressar no mesmo. Essa manipulação de acesso ao benefício faz com que aqueles que são beneficiados identifiquem os seus ingressos no programa por “favor” ou “boa vontade” de determinado político.

Todos os 217 municípios maranhenses são atendidos pelo PBF. Segundo dados do MDS, outubro de 2009, 850.839 famílias são beneficiárias deste Programa, sendo que o total de famílias cadastradas no CadÚnico é de 1.098.130, abrangendo 3,4 milhões de pessoas, cerca de 55% da população. Esse número é maior do que a média do Nordeste, que tem aproximadamente 48% de sua população atendida. O Maranhão ocupa o 4º lugar em número de beneficiados, atrás dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, os quais são os mais populosos da região, o que lhe garante o primeiro lugar em termos proporcionais.

Se levarmos em consideração a abrangência de outros Programas Sociais do MDS no Maranhão, como o de Assistência Social e Segurança Alimentar e Nutricional, o total de beneficiados chega a cinco milhões de pessoas, importando a cifra de R$ 2,09 bilhões por ano. Só por conta do Programa Bolsa Família, o estado recebe mensalmente R$ 89,5 milhões, segundo dados de novembro de 2009, do MDS.

Embora o PBF esteja configurado como um modelo de gestão compartilhada, no qual envolve os três níveis de governo como co-responsáveis pela sua implementação, o Município tem um papel importantíssimo nesse Programa.

Ocorre que a Portaria GM/MDS Nº 246, de 20 de maio de 2005, que aprovou os instrumentos necessários à formalização da adesão dos municípios ao PBF e à designação dos gestores municipais do Programa e à informação sobre sua instância local de controle social, entre outras, estabelece em seu Art. 2º que: “São requisitos da adesão do Município ao Programa Bolsa Família:

I – a existência formal e o pleno funcionamento de um comitê ou conselho local de controle social do Programa Bolsa Família; e

II – a indicação do Gestor Municipal do Programa”.

Dessa forma, o Gestor Municipal é o responsável pela coordenação das atividades do Cadastro Único e da gestão do PBF, sendo designado formalmente para esta função pelo Prefeito, conforme determina ainda tal Portaria.

São atribuições, entre outras do Gestor Municipal: “Coordenar a execução dos recursos transferidos pelo governo federal para o Programa Bolsa Família nos municípios. Esses recursos serão transferidos do Fundo Nacional de Assistência Social aos fundos de assistência municipal. Assim, o Gestor Municipal do Programa Bolsa Família será o responsável pela aplicação dos recursos financeiros do Programa – poderá discutir se o recurso será investido na contratação de pessoal, na capacitação da equipe, na compra de materiais que ajudem no trabalho de manutenção dos dados dos beneficiários locais, dentre outros.”

Constatamos, desse modo, o fundamental papel das Prefeituras nesse Programa. Poder esse que é corroborado pela Constituição de 1988 no seu Art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania; II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político”.

Nessa condição de ente constitutivo da República, os municípios detêm um grau de autonomia muito significativo. E essa questão se materializa, no caso do PBF, a partir do cadastramento das famílias do município, nas ações e serviços de saúde e educação e no emprego dos recursos públicos, conforme determina o MDS.

Dessa forma, os municípios têm autonomia para definir quais as suas prioridades para a utilização dos recursos financeiros repassados mensalmente pelo PBF, com base na qualidade da gestão do Programa apresentado pelos municípios.

É interessante destacar como um Programa de tamanha envergadura social, o qual tem como objetivo principal “superar a fome e a pobreza, por meio da transferência direta de renda à família”, possibilita a sua apropriação pela maioria das prefeituras para fins de proselitismo político eleitoral no Maranhão, onde os políticos locais se utilizam das propostas do Programa, para dele tirarem proveitos próprios, traduzido sob a forma de votos.

Embora todos tenham direito ao Programa, desde que atendam aos critérios estabelecidos pelo governo federal, observamos que a grande maioria dos beneficiários do Programa precisa recorrer aos políticos locais para ter seus direitos efetivados, como se fosse um “favor”, o que, na prática eleitoral, isso se traduz em barganha de votos.

BOLSA FAMÍLIA – MA

População Total 6.305.539 2008 Estimativa Famílias Pobres - Perfil Bolsa Família

(PNAD 2006) 833.084 2008

INFORMAÇÕES GERAIS

Estimativa Famílias Pobres - Perfil Cadastro Único

(PNAD 2006) 1.118.581

2008 Total de Famílias Cadastradas 1.078.876 30/6/2009 Total de Famílias Cadastradas - Perfil Bolsa Família 1.018.598 30/6/2009 CADASTRO ÚNICO

O CadÚnico é um instrumento de identificação e caracterização sócio-econômica das famílias brasileiras de baixa renda (aquelas com renda familiar per capita menor ou igual a meio salário mínimo). Dessa forma, o número de famílias cadastradas no CadÚnico é maior que a quantidade de famílias beneficiadas pelo PBF.

Total de Famílias Cadastradas - Perfil Cadastro Único 1.098.130 10/2009

BENEFÍCIOS

Contemplam os benefícios liberados e bloqueados até o momento da geração da folha de pagamento, podendo não corresponder à situação mais recente dos benefícios.

Número de Famílias Beneficiárias do Programa Bolsa

Família 850.839 10/2009

Segundo Borges, existe uma relação muito íntima entre economia e política no Maranhão,

Economicismos à parte é possível notar que os modelos econômicos praticados no Maranhão, onde mais de 60% das famílias sobrevive com renda inferior a um salário mínimo, coloca os eleitores em condição de dependência e de vulnerabilidade a práticas eleitorais corruptas, como a compra e venda de votos e abusos de poder econômico, reduzindo, portanto, a sua autonomia. Isto revela clara vinculação entre economia e política e, ao mesmo tempo, permite especular que a garantia, pelos governantes, de condições de sobrevivência à população não parece ser questão de primeira grandeza no julgamento do eleitor. (BORGES, 2005, p. 103)

Nesse viés, a pesquisa recente (2009) feita pela Socióloga Maria Tereza Sadek, da Universidade de São Paulo (USP), a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros, demonstra a relação existente entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Maranhão e o número de ações que ingressam na Justiça. Segundo ela, “quanto menor a proporção de pobres, maior é a proporção de ações”, ou seja, isso significa que “nos estados desenvolvidos as pessoas têm mais consciência dos seus direitos”. Nesse estudo, Sadek mostra ainda que, apesar dessa relação, o Maranhão é o estado que paradoxalmente mais gasta com o Judiciário.

Na pesquisa realizada por Sadek, o Maranhão aparece como o estado com o menor IDH do país (0, 636), cujo gasto do Judiciário com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) estadual é de 0,92%, seguido dos estados do Alagoas (0,97%), Piauí (1,02%), Paraíba (1,17%) e Sergipe (1,14%).

Esse caótico cenário sócio-econômico do Maranhão parece apontar para a consolidação das práticas clientelistas desenvolvidas no estado, favorecendo os interesses dos grupos hegemônicos e o seu fortalecimento junto às esferas de poder, permitindo conseqüentemente a sua manutenção e reprodução.