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O Maranhão, outra vez, na perspectiva modernizadora

E essa “invenção” foi feita no primeiro governo de Roseana Sarney (1995-1998) que, a pretexto de modernizar a máquina burocrática estatal, criou várias Gerências (18 no total) no interior do estado, com status de Secretaria, para abrigar seus correligionários, aumentando assim o seu controle de mando (liderado pelo pai José Sarney) nos municípios maranhenses.

Embalada pelas medidas adotadas pelo Governo Fernando Henrique Cardoso, principalmente no que diz respeito às privatizações e às idéias neoliberais do PSDB, Roseana Sarney criou, através da Lei Nº 7.359, de 29 de dezembro de 1998, as Gerências em substituição às Secretarias Estaduais de Governo.

Tendo como mote a retórica “modernização, descentralização e eficiência administrativa”, essa reforma tinha um caráter centralizador, já que alijava os deputados estaduais do processo de intermediação das demandas e soluções alusivas às políticas dos municípios, já que tradicionalmente exerciam essa função entre prefeitos e governo estadual.

A princípio, a criação das Gerências poderia até ser entendida como algo positivo, já que eliminaria, entre outros, alguns vícios da política local, que era a figura do “atravessador” na administração pública - o deputado estadual - uma vez que este age tradicionalmente de acordo com seus interesses eleitorais, os quais, na maioria das vezes, não coincidem com as demandas dos munícipes.

Também essas Gerências tinham a finalidade de “descentralizar as ações do governo” e “dar mais agilidade aos processos de decisão e na implantação de ações do governo”, além de encurtar a distância entre o Executivo e a população do município. Porém, na prática, serviu a outros propósitos:

Nos municípios em que as prefeituras eram administradas por adversários políticos, a Gerência Regional atuava com maior intensidade, desenvolvendo projetos e obras que, por contraste, desqualificassem ou ressaltasse a inoperância do governo municipal. Agia-se assim em favor de algum adversário do prefeito. Já nas situações em que os prefeitos tinham um alinhamento total ao executivo estadual, os gerentes assumiam a condição de secretários extraordinários do prefeito e a Gerência funcionava quase como uma secretaria municipal. (ARAÚJO, 2005, p. 54)

Desse modo, as Gerências acabaram funcionando como instrumento de práticas clientelistas, na tentativa de fortalecer cada vez mais o poder do grupo que estava no comando da máquina estadual, no caso a governadora Roseana Sarney.

A partir de 17 de abril de 2009, uma vez mais o governo do estado do Maranhão retorna ao comando de Roseana Sarney, agora por decisão do TSE, conforme já frisamos. Como 2010 é um ano eleitoral e considerando a forma como se processou a sua volta, a lógica do seu grupo político é a de demonstrar o quanto ela é necessária para o Maranhão, criando fatos novos os quais possam se encaminhar para a retomada do crescimento econômico do estado e colocar a população maranhense em perspectiva de dias melhores de condições de vida, ao mesmo tempo tentar minimizar os péssimos indicadores sociais que envergonham o país.

Assim, seis meses após ter assumido o governo, Roseana promoveu no período de 14 a 16 de outubro de 2009 um evento na capital intitulado Painel Empresarial – Oportunidades e Parcerias em que reuniu os investidores de peso da economia nacional.

Alardeado na mídia o tal evento - inclusive com produção de matéria jornalística de doze páginas, o qual constou como encarte do jornal da família Sarney (O Estado do Maranhão), do dia 18 de outubro (domingo) - do qual nos municiamos como fonte de reprodução - o grande enfoque foi dado no montante dos investimentos previstos e na geração de milhares de empregos aos maranhenses. Era a face do Maranhão moderno que se apresentava não só internamente, mas para todo o Brasil; naquele momento representado pelos grandes investidores.

Para uma melhor compreensão desse “revolucionário” evento, sintetizamos abaixo, sob forma de um quadro, o que esses investidores e as autoridades presentes falaram; e

elencamos apenas os principais projetos que, segundo eles, serão instalados no estado e os “benefícios” que trarão, principalmente em termos de oportunidades de emprego:

Projetos Local Invest.

Previsto (R$)

Empregos O que e quem falou

Expansão da Refinaria - Alumar

São Luís 5,5 bilhões

13.000 O Maranhão vive o mais alto desenvolvimento do mundo, com pesados investimentos estatais e, fundamentalmente, privados. (Franklin Feder,

presidente da Alcoa no Brasil) Termelétrica

do Porto de Itaqui

São Luís 1,4 bilhão

6.000 Um novo Brasil está acontecendo aqui no Maranhão, onde existe essa parceria público-privada, porque os projetos grandes necessitam dessa simbiose. (Eike

Batista, presidente do grupo EBX) Fábrica da Suzano de Papel e Celulose Imperatriz 3,6 bilhões

23.000 Nós vamos fazer aqui não só uma fábrica, mas atrair fornecedores e montar um grande pólo de papel e celulose se a gente tiver uma formação de pessoal de recursos humanos muito intensa. (Antonio Maciel

Neto, presidente da Suzano) Refinaria Premium I - Petrobrás Bacabeira 19,8 bilhões (US$)

132.000 Nós já identificamos a necessidade de treinamento de 22.600 pessoas no Maranhão. Isso é imediato. Nós precisamos iniciar o treinamento porque quando começarem as obras as pessoas têm que estar treinadas para serem empregadas, porque senão nós vamos ter que trazer gente de fora para trabalhar aqui. (Sérgio

Gabrielli, presidente da Petrobrás) Expansão da Vale no Maranhão _ 7 bilhões (US$) 2.500 postos de trabalho

Esses investimentos, na sua conclusão, vão significar a geração de dezenas de milhares de empregos e milhões de dólares em divisas, contribuindo não só para o desenvolvimento da região, mas para todo o país. (José

Carlos Martins, diretor de Ferrosos da Vale) Aciaria da

Gusa Nordeste

Açailândia 300 milhões

2.000 Eu faço votos que o projeto que a governadora tem de qualificação de mão-de-obra possa ser colocado imediatamente em prática, porque com as condições que o Maranhão tem, eu posso assegurar à senhora que o Maranhão é um estado que tem um futuro muito grande dentro do contexto do Brasil. (Ricardo

Não poderíamos deixar de registrar também nessa oportunidade as palavras da governadora Roseana Sarney,

O Maranhão vive hoje um dos momentos mais marcantes de sua história recente, com a perspectiva real de crescimento exponencial nos próximos anos, decorrente dos grandes investimentos que estão acontecendo. São mais de 80 bilhões de dólares que irão gerar 150 mil empregos para a população e propiciarão oportunidades de negócios nas diversas cadeias produtivas do estado. O que se ouvirá aqui não é promessa. Nos próximos anos, de braços dados com a classe empresarial do nosso estado, trabalharemos para consolidar, ampliar e modernizar os setores de ponta da economia e oferecer condições privilegiadas de eficiência e competição nas áreas de logística, serviços portuários, telecomunicações, lançamento de satélites, agronegócio, silvicultura, petróleo e gás, mineração, siderurgia, metalurgia, geração de energia, cultura e turismo. (...) Até o fim de novembro [2009], anunciarei o Programa de Incentivos Industriais e de Tecnologia do Maranhão, o ProMaranhão. Entre outras medidas, vamos zerar os impostos estaduais para as indústrias pioneiras. (Governadora Roseana Sarney)

E do Ministro maranhense das Minas e Energia Edison Lobão, sobre essas “novas perspectivas para o Maranhão”,

O nosso estado do Maranhão há quarenta anos era apenas um território, não havia aqui um palmo de asfalto. Foi o Dr. Sarney que começou tudo isso. Ele teve a coragem de iniciar uma revolução no estado que, em muitos momentos, não foi prosseguida. Não importa, cada um fez de qualquer modo a sua parte. Nós, agora, vamos fazer a nossa ou vamos continuar a fazê-la, porque em nenhum momento o nosso grupo deixou de cuidar dos interesses do povo. (Ministro Edison Lobão)

Podemos, talvez, estabelecer um marco temporal a partir desta data para melhor examinar no futuro não muito distante, quais foram os desdobramentos desses projetos em relação, principalmente, às condições de vida da população e dos seus indicadores sociais, comparando-os aos atuais, a fim de que possamos nos instrumentalizar de mais elementos visando à construção de novos fatos ou de velhas práticas. Por outro lado, entendemos que esses atos agridem os interesses de grande parte da população do estado. Pois constituem clara transformação de atos empresariais privados em ações de governo e, por esta via, no que se chama de políticas públicas.

É claro que por trás de toda essa demonstração de força e prestígio político está a figura de seu pai, o senador José Sarney, atualmente presidente do Senado Federal.

Em entrevista a Terra Magazine, em 20/01/2008, Marco Antônio Villa, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, analisa a trajetória de Sarney e afirma que “Sarney vende um apoio maior do que ele tem.” Diz ainda que: “ele só tem poder no Maranhão, porque tem o poder em Brasília. É o poder nacional que dá base para ele ter o poder local”.

A nosso ver, esta afirmação é tão unilateral como seria a oposta. A influência de Sarney em Brasília tem muito a ver com o poder local e regional, que se projeta em uma bancada de senadores liderada por ele no Congresso Nacional, cuja importância é bastante significativa para os poderes Executivo e Judiciário. E esse poder que ele tem no Maranhão é muito significativo, como será demonstrado no decorrer deste trabalho.

Constata-se, ainda, que a influência política de Sarney é produto de uma construção que, por sua vez, está atrelada ao poder econômico que detém em parte materializada através dos meios de comunicação, tão necessários para a manutenção e consolidação dos seus projetos políticos e da sua relação com o poder central, para daí ampliar as suas relações clientelistas.

Abordaremos a seguir a correlação de forças entre os principais grupos políticos no Maranhão, em função do caráter de suas lideranças e das práticas políticas utilizadas em períodos eleitorais.

3 - REPRODUÇÃO E EMBATES RECENTES NAS ELEIÇÕES NO MARANHÃO