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3 A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA E DOS PROFESSORES

3.3 A importância dos professores

3.3.2 A importância dos professores no Brasil

No Brasil, diversos estudos indicam que as características observáveis dos professores têm impacto sobre o desempenho dos alunos (ALBERNAZ, FERREIRA & FRANCO, 2002; ALVES, 2008; ARAUJO; SIQUEIRA, 2010; LOUZANO, 2007; PEREIRA, 2006; SOARES, 2004).

O primeiro estudo sobre valor-agregado no Brasil mostrou que o efeito dos professores é maior do que o efeito das escolas (MORICONI, 2012). Para a autora, que utilizou a base de dados da rede municipal de ensino de São Paulo (Prova São Paulo), “a variação na eficácia dos professores explicaria 9% da variação nas notas dos alunos, menos do que a variação nas variáveis de background dos alunos, em torno de 15%, mas mais do que a variação nas variáveis de escola, em torno de 5%” (MORICONI, 2012, p. 72).

Em uma ampla análise da literatura nacional, verifiquei que as características dos professores são as que possuem maior impacto sobre o desempenho dos alunos. O levantamento sobre o impacto dos recursos e processos demonstrou que, no Brasil, os professores possuem o maior efeito sobre os resultados dentre os recursos escolares. Foram selecionados artigos que preenchessem os seguintes requisitos:

 Fossem artigos publicados em revistas científicas, documentos e textos de discussão de instituições de renome (como o INEP/MEC e o Banco Interamericano de Desenvolvimento), artigos apresentados em congressos, dissertações de mestrado ou teses de doutorado;

 Usassem banco de dados nacionais ou internacionais (como o PISA) com foco no Brasil;

 Apresentassem como variáveis de análise os insumos, recursos e processos escolares;

 Apresentassem como variável de resultado o desempenho dos alunos em exames padronizados.

A partir destes critérios, foram levantados 18 artigos, assim distribuídos: nove artigos publicados em revistas científicas, três textos para discussão (INEP, BID e Insper), três artigos apresentados em congressos e três teses de doutorado. Nestes artigos, as características observáveis dos professores aparecem como tendo maior impacto sobre o desempenho dos alunos, com destaque para o nível de escolaridade.

Estudos com base no SAEB encontraram efeitos positivos do nível de escolaridade dos professores sobre o desempenho dos alunos. É o caso de Albernaz, Ferreira e Franco (2002), com os dados do SAEB 1999, Alves (2008), com base nos dados do SAEB 1999, 2001 e 2003, Soares (2004), com base no SAEB 2001, e Louzano (2007), com base no SAEB 2003. Para Alves (2008, p. 429), “o aumento de 10 pontos percentuais na proporção de turmas com professores que cursaram ensino superior acarreta um acréscimo médio de 0,57 pontos no desempenho médio das redes de ensino”.

Pereira (2006), com base no banco de dados longitudinal proveniente da pesquisa “Avaliação do desempenho: fatores associados (1999-2003)”, realizada em seis estados brasileiros (Pernambuco, Rondônia, Pará, Sergipe, Goiás e Mato Grosso do Sul) avaliou que alunos frequentadores de escolas com mais professores com curso superior têm melhor desempenho.

Os estudos de Araujo e Siqueira (2010) e Menezes-Filho (2007) encontraram efeito tanto da escolaridade quanto dos anos de experiência, mas Louzano (2007) não encontrou evidências de impacto da variável experiência. Araujo e Siqueira (2010), com base nos dados do Censo Escolar e do SAEB 2005, 4ª série (Matemática), encontraram que há impacto positivo no desempenho dos alunos quando o professor é da cor/raça branca, tem menos de 40 anos, possui nível superior e leciona há menos de 15 anos. Menezes-Filho (2007), com base no SAEB 2003 (Matemática), encontrou um pequeno efeito da escolaridade sobre o desempenho dos alunos, com resultados significativos para o 3º ano do Ensino Médio e impacto positivo da idade do professor: docentes com mais de 49 anos que permanecem em sala de aula conseguem transmitir mais conhecimento aos alunos, de acordo com o autor. Louzano (2007), por sua vez, a partir dos dados do SAEB 2003, 4ª série, Matemática, avaliou que as variáveis “magistério” e “pós-graduação” possuem impacto e estão positivamente relacionadas com o desempenho dos alunos, enquanto a experiência do professor não se mostrou estatisticamente significativa.

Em alguns casos, os pesquisadores encontraram impacto das características observáveis ao utilizar o método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), mas não encontraram efeito com outras metodologias (BIONDI; FELÍCIO, 2007; FRANCO, 2008).

Franco (2008) utilizou-se de dois conjuntos de painéis de escolas construídos com base no SAEB de 1997, 1999, 2001, 2003 e 2005, 4ª série (Matemática). Com relação ao impacto referente às características dos professores, “os resultados se mostraram todos não significativos quando é incluído o efeito escola-específico na regressão”. Nas estimações por MQO agrupados com dados de escolas públicas, porém, houve impacto tanto na variável escolaridade quanto na variável experiência: o “fato do professor ter ensino superior apresentou sinal positivo e magnitude de 3,75 nos dois painéis e, por fim, a idade do professor (40 ou mais anos) apresentou sinal positivo e significância a 5% mas apenas no painel mais longo (1997-2005)”. Biondi e Felício (2007), a partir dos dados do SAEB e do Censo Escolar, com foco na 4ª série do Ensino Fundamental (Matemática), rede pública, encontraram impacto positivo e significativo dos professores que possuem no mínimo ensino superior completo no desempenho dos alunos somente de acordo com os resultados de MQO – nos resultados de efeitos fixos, porém, a variável não se mostrou significativa.

No Brasil, provavelmente encontramos impacto das características de professor, como a escolaridade, porque há uma maior variabilidade nos dados, principalmente considerando-se as diferenças entre os tipos de rede (privada e pública) e entre as diferentes regiões do país.

3.4 Opção Teórica

Apesar do consenso na literatura sobre o impacto dos professores no desempenho dos alunos, os pesquisadores encontraram resultados contraditórios sobre quais características dos professores são centrais para torná-los bons professores. O principal dissenso está nas características observáveis dos professores: enquanto alguns pesquisadores, como Darling- Hammond (2000, 2004b, 2013), Darling-Hammond et al. (2005), Darling-Hammond e Youngs (2002) e Akiba, LeTendre e Scribner (2007) encontraram impactos significativos das características observáveis sobre o desempenho, outros estudos, como os conduzidos por Hanushek (1997), Hanushek e Luque (2003), Hanushek e Rivkin (2006) e Glewee et al. (2013) não encontraram efeitos significativos.

Neste trabalho, adotarei a perspectiva que avalia como positivo o impacto das características observáveis sobre o desempenho. Além do embasamento internacional, esta abordagem está alinhada com diversos estudos nacionais que demonstraram haver um impacto importante da escolaridade e experiência dos professores sobre a nota obtida pelos

alunos (ALBERNAZ, FERREIRA & FRANCO, 2002; ALVES, 2008; ARAUJO; SIQUEIRA, 2010; LOUZANO, 2007; PEREIRA, 2006; SOARES, 2004).

Outro motivo para a adoção desta perspectiva, para além do embasamento na literatura nacional e internacional, é de cunho prático: trabalhar com características não- observáveis implicaria na utilização de ferramentas e bancos de dados que atualmente não estão disponíveis no Brasil. Necessitaríamos, por exemplo, de observações em sala-de-aula e outros instrumentos que não estão disponíveis em escala nacional. Optou-se, assim, pelo uso de bancos de dados secundários, provenientes das avaliações aplicadas atualmente no país.

Este trabalho está centrado em medir o acesso dos alunos a professores a partir de suas características observáveis, ou seja, escolaridade (nível superior e pós-graduação) e experiência. Adotaremos, além disso, uma variável pedagógica, ou seja, a declaração de cobertura do currículo por parte dos professores. No próximo capítulo, explicarei o modelo e o banco de dados utilizados, e apresentarei os resultados encontrados.