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A importância dos questionários orientados para os proprietários na avaliação

Parte II: Aplicação do meloxicam em doses subterapêuticas no tratamento de doença

4. Discussão

4.1. A importância dos questionários orientados para os proprietários na avaliação

Para a compreensão da extensão das repercussões da doença nos hábitos diários destes animais, foram elaborados questionários específicos para os proprietários, que, como esperado, se revelaram uma ferramenta útil quando interpretada com a devida precaução. É compreensível que nem todos os proprietários sejam bons avaliadores dos hábitos diários dos seus animais, quer por falta de disponibilidade, contacto ou interação com o seu gato. No que toca aos questionários, todos os proprietários observaram alterações dos hábitos diários dos seus animais quer ao nível da mobilidade e atividade quer ao nível dos seus comportamentos, confirmando a existência de repercussões na sua qualidade de vida, decorrentes das alterações articulares aferidas pelo exame radiológico e pelo exame ortopédico. No entanto, os achados resultantes de cada um dos exames efetuados e dos questionários não foram, de todo, equivalentes entre si: como esperado, as alterações registadas através do exame ortopédico e radiológico não refletiram a extensão das alterações de qualidade de vida e hábitos quotidianos nestes casos clínicos. Nesse âmbito, é interessante verificar que no caso do “Aliel”, apesar do exame ortopédico não evidenciar alterações significativas, o questionário respondido pela proprietária revela que as alterações dos seus hábitos e comportamentos quotidianos são profundas, colocando em causa o seu bem-estar. Por outro lado, a “Aventurina” e o “Pó” revelam sinais significativos de doença articular degenerativa no exame ortopédico embora os inquéritos respondidos pelos proprietários não reflitam a gravidade dos sinais físicos. Os motivos de tal discrepância podem ser variados, nomeadamente a sensibilidade por parte dos proprietários para percepcionar alterações de hábitos quotidianos ou o facto de tais alterações se darem num espaço de tempo tão alargado que, ao permanecerem praticamente todo o dia com os seus gatos, estes não se apercebam de mudanças de comportamento nos seus animais. Por outro lado, pode dever-se ao limiar de dor elevado da própria espécie ou a uma adaptação ao desconforto que leva estes animais a conviver com a sua condição com relativa normalidade, não evidenciando alterações tão profundas como esperado. Apesar do esforço em realizar o presente estudo de casos clínicos em gatos cujos proprietários reunissem determinadas características como a sensibilidade, disponibilidade e dedicação, a avaliação por eles efetuada foi, em última instância, subjetiva. Ainda assim, tentou-se minimizar o problema de eventuais interpretações erradas das perguntas através do acompanhamento individual dos donos no momento do seu preenchimento e esclarecimento de eventuais dúvidas.

Quanto ao exame radiológico, é importante ter em conta que este meio complementar de diagnóstico não foi aplicado especificamente para focar as articulações dos animais em estudo e, como tal, as alterações neles presentes foram interpretadas com alguma reserva, uma vez que as constantes radiográficas e o posicionamento dos animais não foram ideais.

Adicionalmente, a interpretação de alterações articulares do exame radiológico em gatos é desafiante e carece de experiência por parte do observador.

Em todos os casos clínicos estudados, os proprietários adquiriram os seus animais com menos de 1 ano de idade, o que é um dado importante tendo em conta que os questionários se referiam a uma avaliação com base em comparações de comportamentos e hábitos, entre os revelados no presente e os efetuados em jovem adulto (entre 1 e 5 anos de idade). Deste modo, era essencial que os proprietários conhecessem bem os seus animais e fossem capazes de comparar os seus hábitos e comportamentos diários em diferentes etapas da sua vida. Para além disso, outro fator importante foi a disponibilidade diária dos proprietários para interagir com o seu gato, inquirida nos questionários, sendo que nos animais em questão, 3 eram acompanhados todo o dia (“Aliel”, “Aventurina” e “Pó-de-arroz”) e 2 eram acompanhados entre 4 a 6 horas diárias (“Princesa” e “Miau”), o que confere maior segurança às avaliações feitas pelos donos. Outra questão visada nos inquéritos prendia-se com a presença de mais animais em casa. Todos os indivíduos partilham o ambiente onde vivem com outros animais (cães e/ou outros gatos), o que, por um lado, constitui um estímulo físico e mental positivo para os doentes embora possa ter, por vezes, dificultado a percepção dos donos no momento de avaliar alterações nas fezes e urina, por exemplo, bem como na ingestão de alimento e do próprio fármaco.

No grupo de parâmetros relativo aos hábitos de higiene também todos os animais demonstraram alterações, nomeadamente nos hábitos de grooming e no desgaste de unhas. Em relação à diminuição do comportamento de grooming, esta é um reflexo da presença de algum grau de desconforto, dor ou apatia enquanto que a diminuição do desgaste das unhas é um indicador da redução de atividade por parte dos animais, embora seja necessário ter em conta que gatos exclusivamente de interior, como é o caso, têm um desgaste de unhas naturalmente menor que gatos com acesso ao exterior.

Quanto ao grupo de parâmetros relativo ao comportamento, também em todos os doentes se verificaram alterações. Nomeadamente no interesse demonstrado em brincar quando estimulados e na procura de contacto com o proprietário. Tais comportamentos podem ser um reflexo da presença de desconforto/dor, neste caso devido a alterações do foro musculoesquelético (articular). O “Aliel” revelou inclusive alteração de temperamento, evidenciando maior irritabilidade tanto em contacto com o proprietário como com outros animais. Também com o objetivo de identificar a presença de comportamentos que reflitam dor, foi incluído no inquérito a questão da procura do proprietário, de forma a perceber se os indivíduos se isolavam socialmente. Relativamente à vocalização dos indivíduos quando manipulados, a “Princesa”, a “Aventurina” e o “Pó-de-arroz” vocalizavam sempre que eram manipulados pelos proprietários, o que pode ser, mais uma vez, um indicador da presença de dor/desconforto articular. Quanto ao apetite, os proprietários não relataram alterações significativas. No entanto, em 2 dos gatos nos quais os proprietários achavam não haver

alterações de apetite, apreciaram um aumento do mesmo após os 2 meses de tratamento com meloxicam (“Aventurina” e “Princesa”). É possível que as alterações de apetite tenham sido tão ténues ou de tal forma graduais ao longo dos anos que os proprietários não as tenham percepcionado, tendo-se apercebido, com o tratamento, que esse aspeto era alvo de melhoria.

4.2. Eficácia do uso do meloxicam em doses subterapêuticas no tratamento de DAD