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Parte I: Abordagem clínica da doença articular degenerativa em gatos

3. Diagnóstico de DAD felina

3.5. Exames complementares de diagnóstico

Primeiramente, se existe a possibilidade da presença de uma doença sistémica causadora de osteoartrite, devem ser realizados, antes de mais, análises clínicas hematológicas, bioquímicas e serológicas para em seguida, explorar com o maior detalhe possível, as articulações envolvidas.

3.5.1. Radiografia e sinais radiográficos

Em qualquer caso de artrite e em qualquer articulação, a radiografia é sempre o exame imagiológico de primeira abordagem (Abercromby et al., 2006).

Segundo Kerwin (2012) a maioria dos gatos revelará evidências radiográficas da presença de doença articular degenerativa sensivelmente aos doze anos de idade. Assim, este exame imagiológico apresenta-se como uma ferramenta base para o diagnóstico de alterações articulares em gatos geriátricos.

Segundo Bennett et al., (2012) o critério mais importante no diagnóstico imagiológico de OA é a presença de osteofitos, embora articulações radiograficamente e clinicamente normais possam estar afetadas por uma doença da cartilagem articular e aqueles sejam muitas vezes difíceis de identificar; assim, é provável que os estudos radiográficos subestimem a prevalência de OA. Por outro lado, uma vez que a importância clínica da OA e da DAD apenas foi reconhecida muito recentemente, a maioria dos clínicos não tem experiência a avaliar articulações felinas e a reconhecer-lhe alterações.

Uma radiografia simples articular permite classificar a articulação de acordo com a ausência de qualquer alteração ou, pelo contrário, com evidência de inflamação apenas em tecidos moles, presença de proliferação óssea (geralmente com inflamação dos tecidos envolventes associada) e evidência de erosão articular (geralmente associada a inflamação de tecidos moles e proliferação óssea) (Abercromby et al, 2006). Para além desta informação, a

radiografia articular na osteoartrite permite observar, quando esta é secundária, sinais da causa primária, tal como na displasia do cotovelo, displasia de anca ou osteocondrite dissecante. Nalguns casos podem surgir sinais radiográficos extra articulares como a mineralização distrófica.

Os sinais radiográficos podem ser caraterísticos de uma determinada doença articular mas raramente são patognomónicos, como por exemplo a presença de osteofitos na DAD (Abercromby et al, 2006). Assim, os diferentes sinais devem ser sempre interpretados no contexto da história clínica e do exame físico, bem como de outros exames complementares de diagnóstico como a análise do líquido sinovial ou a artroscopia. Adicionalmente, os sinais radiográficos de osteoartrite (OA) são inespecíficos: osteofitose, entesofitose, mineralização intra-articular, esclerose subcondral, quistos subcondrais e inflamação dos tecidos moles adjacentes. Também os sinais radiográficos de OA felina são distintos da canina: na primeira, a mineralização intra-articular e de tecidos moles é consideravelmente mais comum, embora não ocorra em muitos indivíduos (Bennett, 2010).

Tal como no cão, a presença de osteofitos é o sinal radiográfico chave na OA, embora por vezes seja difícil de identificar, podendo mesmo estar ausente (Bennett, 2010).

Eventualmente, todas as articulações com OA exibirão osteofitos, embora tal ocorra a diferentes ritmos. Em cães com rutura do ligamento cruzado cranial, os osteofitos são visíveis radiograficamente dentro de três a quatro semanas; por outro lado, nalguns casos de cães com displasia do cotovelo, a formação de osteofitos pode tardar vários meses, apesar da perda de cartilgem articular ser significativa (Abercromby et al., 2006).

A relação radiográfica entre a presença de osteofitos e a gravidade das alterações cartilagíneas é fraca tanto em cães como em gatos (Hardie et al., 2002; Slingerland et al., 2011). Os osteofitos parecem surgir nas fases iniciais da doença mas podem sofrer remodelação e desaparecerem com o tempo, apesar da progressão das alterações da cartilagem articular (May, 1994; Abercromby et al., 2006).

A esclerose subcondral é uma alteração geralmente associada à cronicidade da osteoartrite. Num estudo levado a cabo por radiologistas, o grau de confiança com que se determina se a esclerose subcondral está ou não presente em articulações osteoartríticas caninas é muito baixo (Abercromby et al., 2006).

3.5.2. Análise do líquido sinovial

As caraterísticas do líquido sinovial no decorrer da osteoartrite podem alterar-se. Em fases iniciais da doença, o volume de líquido sinovial pode estar aumentado, enquanto que em estados mais avançados da OA, este pode encontrar-se diminuído (Abercromby et al., 2006). A sua viscosidade está geralmente normal bem como a sua aparência translúcida e a sua coloração esbranquiçada-amarelada, sendo que a contagem celular se apresenta

geralmente baixa (1,0 – 5,0 x 109/l) com apenas 2 a 5% de neutrófilos (Abercromby et al., 2006; Bennett, 2010).

Foram feitos diversos estudos no sentido de encontrar biomarcadores no líquido sinovial que auxiliassem no diagnóstico ou prognóstico de OA (Rorvik and Grondhal, 1995; Innes et al., 1998; Johnson et al., 2002; Misumi et al., 2002 citados por Abercromby et al., 2006) mas até ao momento nenhuma macromolécula foi identificada. Tais macromoléculas (ou parte delas) derivam da cartilagem articular e incluem sulfato de condroitina, colagéneo degradado e proteína oligomérica da matriz cartilagínea (Piermattei et al., 2006).

3.5.3. Outras técnicas imagiológicas

A artroscopia pode ser utilizada no diagnóstico e estadiamento da OA, nomeadamente na caraterização da perda de cartilagem articular em termos de extensão e profundidade, não sendo estritamente necessário do ponto de vista clínico (Abercromby et al., 2006).

A cintigrafia tem vindo a ser utilizada como ferramenta imagiológica em articulações osteoartríticas em cães (Innes et al., 1996; Canapp et al., 1999; Geels et al., 2000 citados por Abercromby et al., 2006), verificando-se que estas apresentam maior absorção de difosfonato comparativamente com as articulações saudáveis. No entanto, a relevância clínica permanece incerta.

A tomografia axial computorizada (TAC) pode fornecer informação detalhada acerca das alterações ósseas associadas à OA, incluindo densidade óssea, embora a relevância clínica de tais dados seja desconhecida (Abercromby et al., 2006; Bennett et al., 2012).

A ressonância magnética (RM) é o exame imagiológico de eleição na avaliação da perda de cartilagem articular em humanos e no contexto das técnicas imagiológicas utlizadas na avaliação da cartilagem articular canina e felina, apesar dos protocolos existentes não serem ainda consensuais, é provável que esta técnica se torne numa ferramenta clínica a curto ou médio prazo (Bennett et al., 2012).