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CAPÍTULO VII- Apresentação e análise interpretativa dos dados

2. Representações acerca da indisciplina

2.4. A indisciplina na escola actual

Centrando, agora, o fenómeno da indisciplina na escola em que os entrevistados leccionam, vejamos o que sobre o mesmo lhes foi dado afirmar (Quadro nº15)

Foi nossa intenção obter informação sobre o modo como os professores entrevistados perspectivam o problema da indisciplina na escola onde leccionam. Então, 80% (em 32,85% das unidades de sentido), asseguraram que, nesta escola, há muita indisciplina, que ela é generalizada e está banalizada. Eis como, a propósito, alguns deles se exprimem:

(...) é visível... (...) vê-se, vê-se nos corredores a agressividade de determinados alunos, (...) a falta de respeito para com os colegas e funcionários e com os professores e tudo isto de idades muito novas, portanto são alunos do quinto e sexto anos. (...)” E3

“Eu julgo que a indisciplina é um dos grandes problemas desta escola. (...) Eu acho que há bons alunos nesta escola (...) e muitas vezes, julgo que vezes de mais, as situações de indisciplina (...) fazem com que os bons alunos ou sejam esquecidos ou sejam algo postos de parte (...) ou ainda pior, o mau comportamento dos outros se contagie para eles. (...) Eu acho que isso é o pior de tudo que podemos

_________________________________________Universidade do Algarve – FCHS/ESE 166

fazer, (...) porque já basta termos os problemas, quanto mais os problemas irem criar outros problemas. (...)” E4

“[A indisciplina é] Visível nos corredores, (...) com a perturbação, portanto a agressividade com o tipo de relação que os alunos mantém entre eles. (...) É visível nas aulas (...) na maneira como se entra dentro de uma sala de aula (...) ou como se bate com a porta ao pontapé (...) a maneira como se anda ao pontapé com as cadeiras, as mesas. (...) Isso é visível é muito agressivo. (...)” E6

Todavia, três professores (30%, em 5,71% das unidades de sentido) referem que já houve melhoras relativamente há anos atrás, tal como nos é dito nos dois excertos seguintes:

“(...) já vi algumas melhorias de há dois anos para cá! (...)” E1

“(...) E eu pessoalmente acho que ultimamente isso está a acontecer e tou a notar diferença... (...) [Há melhorias] (...) Uma pequena diferença (...)” E9

Especificando, há entrevistados para quem as formas de indisciplina mais frequentes nesta escola: são as ofensas verbais e as atitudes de afrontamento, dizendo, a propósito:

“[Manifestações de indisciplina] (...) é visível! (...) Muitas vezes por indisciplina verbal, palavras que não são adequadas para a situação (...) ou mesmo atitudes que não poderão ser aceites na, na aula, no decorrer de uma aula normal... (...)” E1

“(...) com a perturbação, portanto a agressividade com o tipo de relação que os alunos mantém entre eles. (...)” E6

Uma docente (10%) afirma, por seu lado, em 1,42% das unidades de sentido, que, nesta escola, há muita permissividade, enquanto 20% dos protagonistas do estudo (2,86% das unidades de sentido) são de opinião que a indisciplina acontece com todos os professores, de igual forma. Eis as palavras de um deles:

“[Comportamento dos alunos com a outros professores] (...) Acho que sim, (...) acho que não há assim grandes diferenças. (...)” E1

_________________________________________Universidade do Algarve – FCHS/ESE 167 QUADRO Nº15

Problema da indisciplina na escola onde o docente lecciona

TRAÇOS CARACTERIZADORES Nº UN. SENTID

% Nº ENT*

%

“Nesta escola há muita indisciplina”/ “é generalizada” 23 32,85 8 80

Nesta escola já houve algumas melhorias de há dois anos a esta parte

4 5,71 3 30

A indisciplina é perceptível por palavras ou em atitudes 4 5,71 3 30

Acontece indisciplina com todos os professores 2 2,85 2 20

Nesta escola há muita permissividade 1 1,42 1 10

Os alunos indisciplinados deveriam ser punidos procedendo ao arranjo do material estragado

2 2,85 1 10

A suspensão das aulas não resolve os problemas porque os alunos até gostam

1 1,42 1 10

Crê que nesta escola o comportamento dos alunos depende do professor

3 4,28 1 10

Com os professores mais novos os alunos tentam medir forças

1 1,42 1 10

Um factor que pode provocar indisciplina é os alunos não gostarem da disciplina/dificuldade

5 7,14 2 20

Os actos de indisciplina nesta escola consistem na falta de respeito para com os colegas e funcionários 2

2,85 2

10

São as turmas de currículos alternativos que provocam os maiores distúrbios

3 4,28 1 10

Com a inclusão dos alunos com problemas de comportamento em turmas de currículos alternativos, melhora-se o comportamento das outras turmas

1

1,42

1

10

Nesta escola existem todavia turmas de currículos alternativos em que as aulas decorrem sem problemas 1

1,42

1

10

Nesta escola, as situações de indisciplina faz com que os bons alunos sejam esquecidos ou postos de parte

1 1,42 1 10

A indisciplina nesta escola deve-se à população específica que vive na área de influência da escola

2 2,85 2 20

A indisciplina nesta escola é devida à falta de autoridade da própria escola

1 1,42 1 10

A indisciplina nesta escola como um caso de “miséria social”

9 12,85 2 20

Nesta escola é uma anarquia 1 1,42 1 10

A indisciplina inclui vários factores, como a falta de recursos

1 1,42 1 10

A indisciplina existe em todas as escolas 2 2,85 1 10

Total 70 100,00 --- --

_________________________________________Universidade do Algarve – FCHS/ESE 168 *N=10

Para outra docente, o comportamento dos alunos desta escola depende do professor e que é com os professores mais novos que eles tentam medir forças. Diz ela:

“ (...) Em relação a todos não sei, (...) mas em relação a uma colega em especial, que é uma colega mais velha, já cá está há mais anos, (...) Não sei se por isso, (...) se por ela ter uma presença mais forte, (...) por ela já ter mais idade, (...) eles respeitam-na... (...) eu passo pelas aulas dela e vejo que eles respeitam-na, (...) que eles estão todos sentados, sossegados, desde o início do ano.(...) Como eu tenho um ar mais novinho, tentarem medir mais forças (...)” E2

A docente, em 2,85% das unidades de sentido, assegura que os alunos indisciplinados deveriam ser punidos, procedendo ao arranjo do material estragado:

“(...) Deviam ser punidos, (...) por exemplo, eu tenho alunos que deram um pontapé na porta e estragaram a fechadura, (...) uma punição era arranjarem a porta... (...)” E2

Acrescenta que a suspensão das aulas não resolve o problema, porque é esse o objectivo dos alunos, isto é, estarem uns dias sem irem à escola.

Para 20% dos docentes (7,14% das unidades de sentido), o facto de os alunos não gostarem das matérias ou nelas sentirem dificuldades é motivo de indisciplina, questão a que se liga o método expositivo, que muitos professores usam nas suas aulas, que poderá, segundo Jesus (2004:168), inibir “a manifestação de necessidades básicas do adolescente, em que o desejo de autonomia e de confronto de ideias assumem particular importância”.

Continuando a análise interpretativa dos dados, verificamos que, para 20% dos protagonistas do estudo (2,85% das unidades de sentido), a indisciplina se traduz também, na falta de respeito pelos colegas e pelos funcionários:

“(...) a falta de respeito para com os colegas e funcionários e com os professores e tudo isto de idades muito novas, portanto são alunos do quinto e sexto anos. (...)” E3

De acordo com as afirmações de um outro professor, são as turmas de Currículos Alternativos que provocam os maiores distúrbios. Fazendo uma reflexão sobre as mesmas, refere os seus pontos positivos e negativos, na sua perspectiva:

_________________________________________Universidade do Algarve – FCHS/ESE 169

“(...) vê-se, vê-se nos corredores a agressividade de determinados alunos, (...) [dos currículos alternativos] (...) Por um lado eu concordo com os currículos alternativos, por outro lado não (...) porque estamos a formar (...) guetos, (...) estamos a incluí-los todos na mesma turma e eles sentem isso também, não é?”E3

Todavia, o mesmo docente reconhece (em 1,42% das unidades de sentido) que existem turmas de currículos alternativos onde as aulas decorrem com a normalidade esperada, afirmando:

“(...) isto também depende do relacionamento dos professores com os miúdos, (...) porque há turmas de currículos alternativos que têm bom relacionamento com os professores e as aulas decorrem normalmente. (...)” E3

Analisando o problema, centrando-a na escola, uma professora salienta (1,42% das unidades de sentido) que, as múltiplas situações de indisciplina fazem com que os bons alunos sejam esquecidos ou postos de parte, referindo que há uma canalização das atenções para aquelas situações. Eis como a mesma se expressa:

“(...) Eu acho que há bons alunos nesta escola (...) e muitas vezes, julgo que vezes de mais, as situações de indisciplina (...) fazem com que os bons alunos ou sejam esquecidos ou sejam algo postos de parte (...) ou ainda pior, o mau comportamento dos outros se contagie para eles. (...) Eu acho que isso é o pior de tudo que podemos fazer, (...) porque já basta termos os problemas, quanto mais os problemas irem criar outros problemas. (...)” E4

Prosseguindo, haverá que referir que 20% dos entrevistados, em 2,85% de unidades de sentido, consideram que o problema da indisciplina, nesta escola, se deve à população específica que vive na sua área de influência. Tal facto, vai ao encontro do que Jesus (2004:164) refere, quando afirma que muitos professores consideram que a indisciplina deriva apenas de factores exteriores à escola, nomeadamente “ a influência do meio familiar e do meio sócio-cultural de origem dos alunos, ou então do próprio aluno”. Quanto a nós, cremos que é reduzir demasiado o problema e excluir variáveis que concorrem para a eclosão do problema em questão. Uma das opiniões quanto a este aspecto é patente no seguinte excerto:

_________________________________________Universidade do Algarve – FCHS/ESE 170

“[A opinião a propósito da indisciplina nesta escola] (...) Olhe, eu, eu não separo a indisciplina nesta escola, da indisciplina ou dos problemas comportamentais que existem no meio onde a escola está inserida, não é? (...)”E8

Na mesma linha se situam dois outros protagonistas do estudo (20%), em 12,85% das unidades de sentido, para quem a indisciplina, nesta escola, é um caso de “miséria social”, o que está claramente expresso nas palavras que se transcrevem:

“(...) por outro lado encaro também como um caso de miséria social (...)” E7

Alargando a atribuição causal que estabelece, o mesmo entrevistado considera que a indisciplina, nesta escola, se deve à falta de autoridade da própria escola, “a uma certa anarquia”. Dilatando ainda mais o leque de “causas” da indisciplina, para uma outra docente, já em fim de carreira ficar-se-á a mesma a dever à falta de recursos, o que estará relacionado com o leccionar de uma disciplina técnica.

Por fim, resta-nos referir que, para uma outra professora, também em final de carreira, a indisciplina existe em todas as escolas. Ironicamente, no momento em que decorria a entrevista com a docente, um grupo de alunos bate violentamente à porta e desaparece a correr pelos corredores, o que motiva o seguinte comentário da professora em questão:

“ (...) Eu tenho a percepção que existe em todas as escolas. (...)Portanto [um magote de alunos bate violentamente à porta da sala]: isto, por exemplo, é uma grosseria que me choca (...) choca a nossa sensibilidade, (...) mas que depois acabamos por comer como pão, (...) porque não matam... (...)”E10

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