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A Influência da ONU (no processo de descolonização portuguesa)

Capítulo II – Enquadramento Histórico

2.2 O Surgimento do Sentido Nacionalista em Angola

2.2.3 A Influência da ONU (no processo de descolonização portuguesa)

Portugal acaba por aderir ao Conselho da ONU em 14 de Dezembro de 1955, o que desperta por parte da Assembleia daquela organização, um interrogatório sobre os territórios colonizados por Portugal. A resposta dos representantes portugueses foi a de que Portugal não detinha territórios dependentes, pois eram automaticamente independentes com a própria independência portuguesa. Dois anos mais tarde, a ONU procurou provar a existência de

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territórios dependentes a Portugal, mas desta vez Portugal defende-se, citando que a Constituição portuguesa, não reconhecia a existência de territórios não autónomos e por consequência não havia partes da Nação, que tivessem um estatuto internacional e outros não, tendo ainda replicado que as Nações Unidas não teriam competência para analisar as Constituição nacionais, apenas e só Portugal poderia saber e avaliar quais as limitações que a sua Constituição impunha, como nos mostra F. Nogueira (1961:423).

Perante esta argumentação portuguesa, Agostinho Silva (2014:73/74) indica que a ONU reage com a aprovação por parte da Assembleia Geral da ONU da Resolução 1467, aprovada em 12 de Dezembro de 1959, onde constitui uma comissão especial de seis membros, com o intuito de analisar os princípios de que todos os membros ficariam obrigados à prestação de informações sobre os seus territórios não autónomos, sendo que tais territórios seriam aqueles que estivessem separados geograficamente da metrópole e que possuíssem uma distinção étnica e cultural do país que o administrasse, o que ficaria conhecido como o Relatório dos Seis.

Este mesmo autor, expõe em seguida que com base nos princípios deste Relatório dos Seis e com a criação da Resolução 1541, a ONU considerou Cabo-verde, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Goa, Macau, Timor e S. João Baptista de Ajuda, como territórios não autónomos, o que permitiu concluir que Portugal ainda praticava o colonialismo nestes territórios africanos.

M. Martins (1986:91) afirma que é evidente que a ONU, sempre tentou através de várias Resoluções controlar, limitar e inclusive tentar extinguir a natureza colonizadora, pois considerava urgente o alargamento do direito de autodeterminação, impondo até algumas imposições às potências colonizadoras que não o fizessem por vontade própria.

Após mais uma Resolução, neste caso a Resolução 1807, aprovada em 1962, a ONU lança mais um repto a Portugal, pelo facto de ainda não ter concedido a autodeterminação aos territórios por si administrados, mas Oliveira Salazar proferiu que não era viável proporcionar a divisão de territórios sem uma unidade sólida. Com esta resposta, aliado à recusa para Portugal participar nos trabalhos do Comité e ainda a recusa de receção de uma delegação da ONU, Portugal começou a sofrer um progressivo isolamento, devido à erupção de nacionalismos, o que fez perder o apoio dos países ocidentais, pois era notório um contraste entre as políticas descolonizadoras desenvolvidas nas colónias inglesas e francesas e as poucas encetadas pela nação portuguesa. Com esta atitude, Portugal apenas atrasava o processo por alguns anos, acabando por incentivar ainda mais o surgimento e o desenvolvimento dos movimentos nacionalistas, como indica A. Telo (1994:250).

Como resume Agostinho Silva (2014:75/76):

Numa perspectiva geral, as Resoluções 1514 (XV), 1541 (XV) e 1542 (XV) possibilitaram o início de uma nova fase no envolvimento das Nações Unidas no processo de descolonização dos países da África Lusófona. Nos anos subsequentes, houve uma intensa campanha contra o colonialismo português, provendo a Organização de uma nova «política» para que se procedesse à rápida descolonização e, daí, possibilitando a participação ativa dos Movimentos de Libertação das colónias portuguesas nas atividades da ONU. As pressões internacionais exercidas sobre o Estado Português foram fundamentais para a legitimação da luta empreendida pelos

Movimentos de Libertação, culminando com a autodeterminação e coma independência dos territórios africanos.

2.2.4 A Influência da Organização de Unidade Africana

(OUA)

Esta organização nasce em 22 de Maio de 1963 em Adis-Abeba, inicialmente constituída por 30 países africanos e os seus objetivos constavam no artigo 2º da sua Carta fundamental e passavam por:

"Reforçar a unidade e a solidariedade dos Estados africanos; defender a sua

integridade territorial e a sua independência; coordenar e intensificar a sua cooperação e os seus esforços para oferecer melhores condições de assistência aos povos africanos; favorecer a cooperação internacional de acordo com a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos; eliminar, sob todas as formas, o colonialismo em África” como nos mostra José Eduardo dos Santos

(1968:373).

A estratégia e o fundamento desta OUA era então orientado pela necessidade de desenvolvimento de um organismo que acolhesse e orientasse, os novos Estados africanos, conferindo-lhes uma orientação e enquadramento continental, num contexto internacional caracterizado pela Guerra Fria e onde África procurava emergir enquanto entidade coesa num cenário fortemente bipolarizado, como refere Agostinho Silva (2014:76).

Este mesmo autor no entanto salienta que, apesar da existência de algumas sessões ordinárias do Conselho de Ministros da OUA nos anos que se seguiram, esta organização acabou por ser considerada ineficiente pois, apesar de ser constituída com o intuito de estabelecer uma Unidade Africana, esta nunca conseguiu efetivamente atingir tal propósito Todavia, foi uma importante "voz" na resolução de grandes problemas africanos, sobretudo relacionados com conflitos entre grupos armados e acabou por ser um grande apoio, que as colónias portuguesas puderam contar contra a presença portuguesa em África, sendo uma aliado dos movimentos de libertação no caso de Angola, pois conseguia projetar o problema da independência angolana no panorama internacional.

2.3 História dos Movimentos independentistas em