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Capítulo III – Efetivação do apoio dos EUA e URSS na Guerra Civil Angolana

3.3 A Proxy War Angolana

Após o fracasso do Acordo de Alvor, como vimos anteriormente, fruto da incapacidade dos três líderes políticos do MPLA, FNLA e UNITA em chegar a um entendimento, devido sobretudo a divisões e rivalidades entre os três líderes, surgiram problemas de autoridade e segurança, alavancados pelos apoios dos blocos em disputa na Guerra Fria, levando os movimentos a abandonar as canetas e a passar às armas, como indica Douglas Wheeler (1975:21).

A dinâmica e ação dos blocos da Guerra Fria, estavam diretamente alinhadas com os três movimentos de libertação angolanos. A Proxy War que se seguiu, ocorreu por conveniência das partes em conflito, que se conciliavam com os interesses da superpotências. Assim, O MPLA de Agostinho Neto, seria apoiado pela URSS e Cuba, a FNLA de Holden Roberto, recebeu apoio dos Estados Unidos, China e África do Sul e a UNITA de Jonas Savimbi, receberia apoio dos Estados Unidos e África do Sul, como aponta James Augusto P. Tiburcio (2009:88).

Neste mesma sequência, Silva, Agostinho (2014:272) relata que ocorreu uma intervenção direta de forças de países estrangeiros, no cenário do conflito angolano e que tal ocorreu, por iniciativa própria ou a pedido dos movimentos de libertação. A principal justificação, passava pelo engajamento entre as rivalidades ideológicas e os interesses económicos e geoestratégicos que Angola representava. O sucesso das operações militares, passaria então a não depender apenas da estratégia militar das forças em confronto, mas essencialmente da qualidade e da quantidade de armamento militar de que cada movimento dispunha.

Assim, a Proxy War Angolana, acabaria por se iniciar antes mesmo da declaração de independência por parte do MPLA. Agostinho Silva (2014:264) indica que no mês de Fevereiro de 1975, as forças militares do MPLA, desencadearam uma ofensiva interna contra a fação de Daniel Chipenda, que era um dos vice-presidentes do MPLA, obrigando este a refugiar-se em Kinshasa, o que originou uma aproximação deste com o FNLA. No final desse mesmo mês, Daniel Chipenda regressa a Luanda e a outras seis cidades angolanas, com duzentos guerrilheiros, o que provocou uma revolta no MPLA, que cercaram os guerrilheiros de Chipenda e envolveram- se num confronto armado. Destes acontecimentos, surgiu o interesse por parte da FNLA em

receber os guerrilheiros de Chipenda, acabando os mesmos por se integrarem na FNLA, abrindo um novo capítulo na história do conflito entre MPLA e FNLA.

Agostinho Silva (2014:265) indica que a situação de conflito interna angolana, conheceu novos contornos em Março de 1975, com a chegada de tropas do exército do Zaire, para combaterem do lado da FNLA e o crescente apoio da URSS ao MPLA, sobretudo através do fornecimento de armamento bélico, fez agravar ainda mais o confronto angolano. No dia 23 deste mês, a FNLA já com o apoio do exército do Zaire, então governado por Mobutu, levaram a cabo uma ofensiva no Caxito, cidade situada a cerca de 60 quilómetros de Luanda. Estas incursões, levaram o Governo de Transição a desagregar-se e comprometendo a organização das eleições, que haviam sido fixadas na Cimeira de Alvor, como visto no capítulo anterior.

A. Marques (2013:302) demonstra que nos meses de Abril e Maio de 1975, o movimento armado da FNLA, despoletou mais uma vez um conflito bastante violento, contra as tropas do MPLA, em Luanda, de que resultaram um número bastante significativo de vítimas. Ao tomar conhecimento destes conflitos, o Alto-Comissário do Governo de Libertação, convocou os líderes dos três movimentos MPLA, FNLA e UNITA, onde foi realizado um apelo a estes movimentos para colocarem um termo a estes confrontos internos. Porém, alguns dias mais tarde, o MPLA e a FNLA voltaram a envolver-se se confrontos em São Salvador.

Após a Cimeira de Nakuru, realizada no Quénia, entre 16 e 21 de Junho de 1975, que foi uma tentativa de recomposição do que havia sido o acordo de Alvor, como vimos anteriormente, John Stockwell (1979:53) elucida que cerca de um mês depois da assinatura desse acordo de paz, despoletaram-se violentos combates, opondo o MPLA e a FNLA. Segundo este autor, esses confrontos, eram consequências do programa que a CIA tinha implantado, que se baseava num conjunto de operações secretas naquele país africano. Esta agência americana, estruturou uma estratégia de combate às forças do MPLA, onde havia sido aprovado pelo Presidente dos EUA Gerald Ford, em Junho, cerca de 8 milhões de dólares como ajuda financeira para o movimento do FNLA. Todavia, a FNLA de Holden Roberto, acabou pela sua má gestão de recursos, apesar da sua superioridade militar, por ser expulsa definitivamente de Luanda pelo MPLA.

T. Sá (2011:202) descreve que após a expulsão definitiva do FNLA de Luanda, o MPLA aproveitou esta vitória e desencadeou logo de seguida uma ofensiva nas áreas próximas de Luanda, nomeadamente na zona de Malanje e de Lundas, conseguindo aí também, a eliminação da presença da FNLA e da UNITA.

Correia, P. (1991) indica-nos que a FNLA, perante estas derrotas, acabou por concentrar os seus intentos sobretudo no Norte de Angola, onde tinha apoio das forças do Zaire, com o objetivo de iniciar uma expansão para o sul, com o objetivo de chegar a Luanda e a tentar conquistar, que ficaria conhecido como o Projeto Luanda. Neste projeto, Holden Roberto, liderou cerca de 20 mil guerrilheiros, começando os combates com o MPLA na zona de Cuanza Norte, onde mais uma vez acabou por sair derrotado, refugiando-se para Quifangondo e Cacauaco. Os territórios de influência do FNLA no início de Agosto de 1975, limitavam-se à região do Caxito e algumas zonas do Norte do país, nomeadamente Uíge.

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Perante este Projeto Luanda, o MPLA apercebeu-se da importância que os combates seguintes iriam representar e acabou por redefinir a sua estratégia. Agostinho Silva (2014:270) indica que essa mudança de estratégia passou por controlar as regiões estratégicas que garantissem o aprovisionamento da sua logística, direcionando então os seus esforços para a fachada atlântica, objetivando os portos de Benguela e Lobito, encontrando assim, uma alternativa segura para receber a ajuda militar da União Soviética e dos países da Europa de Leste. Para além destes portos, o MPLA controlava ainda uma considerável parte do território que ia desde as fronteiras com a Zâmbia e com a Namíbia.