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3. A Luta

3.1. A Evolução da Luta Coreografada

3.1.2. A Influência das Artes Marciais Asiáticas

“O trabalho Law Kar iluminou o interfluxo de artistas e filmes entre Hollywood, Hong Kong e Xangai dos anos 1920 até a Segunda Guerra Mundial, e David Desser afirma que o público americano se interessou nas escolas de Kung Fu de Hong Kong e no cinema nos anos 1960 e 1970 através do impacto da Bruce Lee e outros artistas de Hong Kong, que fazia viagens frequentes por todo o Pacífico”. (Marchetti e Kam, 2007: 53)

A Segunda Guerra Mundial foi uma época impulsionadora da introdução das artes marciais asiáticas no Ocidente. Conforme a pesquisa de Kreng (Kreng, 2007: 35), os soldados americanos enquanto estiveram na Ásia aprenderam vários estilos de luta como o Judo, Jiu-Jitsu e Karaté do Japão e também Tang Soo Do, Hapkido e Tae Kwon durante a Guerra da Coreia. Por outro lado, a China foi mais reservada quanto à transmissão das suas artes marciais. Só no final dos anos 50 e inícios dos 60 é que mestres como Bruce Lee e Ark Wong decidiram que essa barreira cultural podia ser quebrada, permitindo a inscrição de alunos ocidentais nos dojos de Kung Fu Chinês.

Apesar do subgénero “Filme de Artes Marciais” ter sido grande sucesso por volta dos anos 70, filmes nesta categoria já eram feitos no Oriente desde os anos 40. O género foi oficialmente lançado através dos filmes realizados em Hong Kong que usavam autênticas formas de artes marciais. Wong Fei Hong23 foi um herói chinês bastante retratado nos filmes desta época.

Com a emigração de talentos chineses para Hong Kong nos anos 60, houve grande influência da parte continental chinesa, fazendo com que os filmes de artes marciais se tornassem mais artísticos e focados no drama. Começaram a ser usados também efeitos especiais e a infusão destes elementos levaram à popularidade do género.

23 Wong Fei Hong (1847-1924) foi mestre de Kung Fu, especialista na arte marcial chinesa do sudoeste

Hung Gar (posições baixas, notáveis pela Posição Cavalo “Sei Ping Ma” e fortes técnicas de mão como a versátil Garra de Tigre). Também era especialista em medicina tradicional chinesa e na acupunctura. É considerado um herói chinês e é conhecido pela sua resistência aos estrangeiros, sendo médico e instrutor de artes marciais do exército chinês.

3.1.2.1. Bruce Lee

“There are no limits. There are plateaus, but you must not stay there, you must go beyond them.” Bruce Lee (Little, 1998: 23)

A carreira inicial de Bruce Lee nos Estados Unidos foi bastante frustrante. Devido à Guerra do Vietname, os americanos não estavam preparados para uma cara asiática como estrela de cinema – podia facilmente ser visto como inimigo. Só quando os produtores de Hong Kong e Taiwan dobraram os seus filmes em inglês e os distribuíram pelo solo americano é que se abriram portas para Lee transmitir o seu conhecimento sobre as artes marciais e a filosofia chinesa ao público americano. Assim com o filme “The Big Boss” (1971) de Wei Lo, Lee finalmente foi reconhecido pela indústria cinematográfica americana, acabando por se tornar numa das suas estrelas.

“No entanto, ele continua a ser a estrela de acção e artes marciais a que todos os outros são comparados, e os quatro filmes que completou continuam a ser os mais vistos das produções de Hong Kong em todo o mundo”. (Logan, 1995: 23)

John Kreng indica na sua obra (Kreng, 2007: 77), vários aspectos importantes em cenas de luta que o Bruce Lee nos ensina:

Bruce Lee não tem falhas notáveis ou takes24 maus nas cenas de luta em nenhum dos seus filmes de Hong Kong;

 Tem uma técnica simples mas raramente se repete;

 Tem uma presença no ecrã individual;

 Tem curva de aprendizagem;

 Percebe o contexto emocional e o impacto atrás de cada técnica;

 Era adepto de utilizar tanto mãos como pés, e não tinha medo de os misturar;

 Não tinha receio de mostrar vulnerabilidade;

 Sabia a importância de ter um óptimo duplo perto dele;

Tinha um timing e ritmo diferente e único;

 Tinha grandes habilidades nas artes marciais;

 Era eficaz e convincente antes e depois das poses;

 Não tinha uma marca ou movimento assinatura;

 Tinha o físico que toda a gente invejava;

 Entendia a diferença entre cinema e vida real;

 Injectava filosofia e luta estratégica nos seus filmes;

 Lutava apenas quando era necessário.

24 É a quantidade de vezes que é filmado o mesmo plano. No cinema quando é dito na rodagem “Cena 2.

São estas características que tornam as cenas de luta dos filmes de Bruce Lee tão inesquecíveis, de modo que se tornaram numa importante fonte de influência em grande parte dos filmes que incluem lutas de artes marciais.

“Like most people, you want to learn the way to win, but never to learn how to lose. To learn to lose, to learn to die, is to be liberated from it, and so, when tomorrow comes, let go your ambitious mind and learn the art of dying...”

Bruce Lee na série “Longstreet” (1971-1972) de Don McDougall

Bruce Lee também é bastante homenageado no anime. É comum personagens de séries japonesas terem características físicas parecidas ao mestre de artes marciais. Em “Naruto” (2002) a personagem Rock Lee, para além do nome „Lee‟, é idêntica a Bruce Lee fisicamente.

FIGURA 11- ROCK LEE DA SÉRIE ANIME "NARUTO" IDÊNTICO A BRUCE LEE

Rock Lee é uma personagem cujo estilo de luta é apenas Taijutsu, isto é, luta corpo-a-corpo. O seus estilo de luta tem influências do kung fu do mestre Bruce Lee.

Na série anime “Hokuto no Ken” (1984-1987) de Buronson, a personagem Kenshiro é também parcialmente inspirado no Bruce Lee, como podemos verificar na Figura 12.

FIGURA 12- KENSHIRO DA SÉRIE ANIME "HOKUTO NO KEN" INSPIRADO NA IMAGEM DE

Bruce Lee ainda hoje é uma referência forte para muitos realizadores e animadores de filmes ou séries de acção.