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Esta pesquisa intenta relacionar educação e política dentro da construção de um projeto alternativo para a transformação social, que une o pensamento de Paulo Freire ao Projeto de Educação do MST, na recente experiência de Alternância. Nessas relações se salientam pensadores com afinidade, como Marx, Engels e Gramsci, que influenciaram tanto as teorias de Freire como a Pedagogia da

Alternância no MST.

Torna-se evidente, após a leitura desses pensadores, a preocupação com a formação do lumpen da sociedade (Gramsci), ou seja, os marginalizados e oprimidos (Freire) e os alienados (Marx.).

“Não se pode separar a filosofia da História da Filosofia, nem a cultura da História da Cultura”. “No sentido mais imediato e determinado, não se pode ser filósofo – isto é, ter uma concepção de mundo criticamente coerente – sem a consciência da historicidade”. Em determinada fase de desenvolvimento, a mesma historicidade revela as contradições entre as concepções. Nesse sentido, se percebe sempre que há pressões por mudanças contra as práticas vigentes.

Gramsci, portanto, é o único pensador de uma revolução no Ocidente, na medida em que seu ensinamento teórico-político é estrategicamente o mais avançado, no que concerne à determinação do processo da revolução socialista, não apenas na Itália, como também no ocidente europeu.

A estratégia de Gramsci para uma revolução italiana consistia na aliança dos operários e dos camponeses como bloco que deveria preparar um processo revolucionário de alcance não apenas nacional, mas por toda a Europa.

Essa concepção de revolução, hoje, está sendo um dos pontos que compõem o alicerce do MST, este percebe nitidamente, através das tentativas frustradas de revolução, a causa do enfraquecimento das categorias; este, aliás, o alvo freqüente de que o sistema capitalista se utiliza como forma de suplantar os anseios de revolução das classes marginalizadas.

Hoje, na América Latina, a alternativa é introduzir na batalha da classe operária a “terceira linha teórica” de Engels. Supõe lutar no movimento sindical e, no momento político, conforme Gramsci, angariar forças enquanto a classe operária se prepara para assumir o poder. Para Freire, devem desconstruir os pensamentos e práticas reducionistas que favorecem o opressor.

A pesquisa encontrou em PISTRAK, M (2002), fontes que contribuem para reforçar esse modo de produção dinâmico diferente dos mecanismos representativos clássicos, mostrando que o Sistema Capitalista cria uma categoria social de estudante que, enquanto categoria, não tem relação direta com o mundo do trabalho,

isentando o educando de se sentir como um trabalhador, desmerecendo que o trabalho e a educação são atividades especificamente humanas, podendo o ser humano trabalhar e educar ao mesmo tempo.

PISTRAK, em sua obra os fundamentos da escola do trabalho, mostra a organização política do trabalho cooperativo, dentro das disciplinas ministradas no momento escola e no momento comunidade do educando. Ele contribui para uma análise das perspectivas que o Movimento pode desenvolver para capitalizar valores perdidos: de paz, de democracia, de respeito mútuo para promoção da não violência na luta por reaver os direitos negados.

A existência do homem na natureza só é garantida pelo seu trabalho, traduzido como ação de adaptabilidade em transformar o seu meio em prol de sua sobrevivência, ao aprender a produzir sua própria existência, o homem se faz e refaz concebendo assim seu processo educativo. PISTRAK nos leva entender que a Educação de Alternância considerando o Tempo Escola e o Tempo Comunidade dentro do MST, busca ensinar a geração presente e futura que o trabalho e a educação apresentam fundamentos históricos, porque remetem o processo cultural produzido e criado pela ação coletiva dos homens entre si.

A resultante da ação do opressor é o oprimido, dessa forma a apropriação privada da terra rompe com as comunidades primitivas, transformando-a em meio de produção, originando a divisão dos homens em classes: uma dos proprietários e outra dos não proprietários, os sem terra. O trabalho de educar essa nova geração para que despertem a consciência histórica de si e romper com o opressor se pauta na obra de FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido, ele busca evidenciar um trabalho de educador, também ao denunciar a chamada educação bancária: uma prática da pedagogia dos dominantes, onde a educação aparece como prática da dominação. A conscientização do homem de sua dominação histórica, através da cultura, se realizada, permite que educação surja como prática da liberdade.

Dessa forma, o movimento para a liberdade deve começar dos próprios oprimidos, com uma educação que nasce com a lida deles, para servir para eles e não imposta de cima para baixo, desconexa da história de luta desses. Para Freire,

não basta que o oprimido saiba de sua opressão, mas é preciso que ele tenha consciência de que pode mudar a realidade através de sua ação política.

Paulo Freire contribui, na pesquisa, no sentido de que suas investigações abriram caminho para que se formulasse o Projeto Pedagógico de Alternância do MST. Freire é referência para estudo e debate entre os alunos. Ele também é referenciado, nesta pesquisa, porque são relevantes as suas experiências e a sua ação educativa, todas carregadas de vida e de uma história pessoal, pronto que estava a denunciar as muitas opressões e a se solidarizar com os que mais facilmente são explorados porque privados de escola crítica.

O próprio Paulo Freire reconheceu que um dia também se encontrou ideologizado, sem perceber a trama dos mecanismos de dominação. Esta pesquisa o reaproxima do perfil dos integrantes do MST, que hoje lutam em busca de constante superação. Paulo e o MST se levam pela percepção de que, através do debate dialógico, é mais fácil abrir caminhos novos e abandonar a condição da subserviência.

Paulo Freire, em Pedagogia da autonomia, coloca a possibilidade de mudança através da transformação da experiência educativa e treinamento para a vivência como sujeito cidadão. Nesse enfoque, Freire adverte que, se nos sentimos sempre do mesmo jeito, é porque estamos sendo sempre assim; buscar sair da condição cômoda em que se está implica audácia e comprometimento; coisa que hoje não é vista nos jovens estudantes. Uma educação em movimento, vivenciada pela Pedagogia da Alternância, comprova que somente com o debate e diálogo se pode chegar à crítica e à superação.

Embora nunca tenha admitido ser marxista, Freire se baseou nas obras marxistas, quando esteve exilado, para assumir uma visão mais crítica da sociedade. Contudo, são a formação religiosa cristã e a filosofia existencialista de cunho otimista que deixam clara a presença de uma ação humanista e construtivista em suas considerações de apoio principalmente aos excluídos. A possibilidade de promover o multiculturalismo, respeitando os diferentes e permitir-se reconhecer aprendente do processo, que as obras de FREIRE se tornam indispensáveis nos estudos dos educandos em todo processo de ensino dentro de uma Escola de Alternância no

MST, e dessa forma é pertinente referenciá-lo nesta pesquisa, devido o teor pesquisado estar carregado da história de vida desse autor com vida dos integrantes do MST.

CAPÍTULO 3: MST NO PARANÁ E EDUCAÇÃO.

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