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3. OS ALUNOS E A PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA ECA

3.2. Os Contatos iniciais

3.2.2. A Iniciação Informal

A primeira semana letiva é tradicionalmente a “semana dos bixos”, totalmente tomada por eventos de integração entre calouros, veteranos e a escola e seus departamentos. Entre as atividades2, totalmente sob a responsabilidade dos alunos, há recreação, a aula magna, palestras de ex-ecanos ilustres, festas, churrascos, apresentações discentes e, desde dois anos atrás, uma apresentação dos

departamentos de destino (aquele responsável pelo curso em que o calouro

ingressou), que, no caso do CRP – Relações Públicas, Propaganda e Turismo, vêm sendo feita pelo conjunto dos professores, sob o comando da chefia. Antes de 2005, nem esta presença dos departamentos havia. Esta apresentação, de duas horas, é a única ocasião em que há a presença oficial do departamento, o único momento em que a recepção não é comandada exclusivamente pelos alunos, em toda a semana. E, apesar da boa vontade de todos, não é tudo que funciona com perfeição nesta ocasião. Em 2005, por exemplo, a apresentação que estava prevista para se iniciar às 8 horas, teve o início adiado para as 9 horas. Neste horário os calouros

aglomeravam-se pelos corredores, até os primeiros adentrarem à sala, 10 minutos depois. O aparelho de projeção foi ligado pelo técnico às 9h20’ para a apresentação finalmente se iniciar às 9h35’: um desgaste desnecessário para o departamento.

É claro que a proximidade e a cumplicidade que se estabelecem entre os alunos nestes primeiros momentos, tanto entre calouros e veteranos, como entre os próprios calouros é bastante salutar e representa o ínicio de um importante

networking que, em alguns casos, estende-se por toda a vida. Mas é exatamente

neste momento, onde falta o acolhimento oficial, na forma de um trabalho de comunicação específico para os calouros, que os veteranos transmitem a eles, informalmente, as informações básicas sobre a escola, o curso, as disciplinas, os professores. Com todas opiniões e juízos de valor, corretos ou incorretos que,

obviamente, venham a ter sobre eles3. Deve-se lembrar que os ingressantes têm, no momento do ingresso, uma ótima imagem da instituição e altas expectativas com o curso e que o discurso que contradiz estas formulações vai provavelmente gerar em

2 Nos anexos, pode ser vista a programação completa originalmente constante do “manual do bixo

2006”, distribuído aos calouros na matrícula

3

um bom exemplo é a definição de CRP – Departamento de Relações Pùblicas, Propaganda e Turismo, que consta do “Manual dos Bixos 2006”, assinado por várias entidades estudantis da ECA e distribuido aos calouros na matrícula: “... o local nada mais é que um aglomerado de pessoas

muitos deles uma dissonância cognitiva4, que ao longo do tempo vai se resolver contra a escola e o curso. Não se pode esquecer do perfil do aluno que se inicia na habilitação em Publicidade e Propaganda, já apresentado: é jovem, fez seu primeiro vestibular e estudou basicamente em escolas particulares, vale dizer, é grande a probabilidade que sua vida escolar tenha sido sempre bem orientada, em ambientes estruturados para uma formação comum, com tarefas claras e bem definidas. A entrada na universidade, muda bastante os parâmetros do aprendizado, os objetos de estudo tornam-se mais amplos, as referências bibliográficas mais diversificadas e, não raro, com pensamentos antagônicos ou divergentes e esta mudança, muitas vezes não é bem compreendida e absorvida pelos despreparados iniciantes,

aumentando sua sensação de insegurança. O que era “mastigado” no ensino médio, agora parece ser “jogado”, na expressão de um aluno do 4o semestre, entrevistado em 2002. Isso é constatado também numa pesquisa realizada em 2003, no TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, orientado por mim, onde os estagiários em

agências de propaganda entrevistados, dizem que “O aluno não se sente amparado pela faculdade em seu processo de aprendizado” (HILSENBECK, p.20). Para nossos alunos, que entram no curso de Publicidade e Propaganda para aprender a

direcionar a criação - ou como dito, “o pulo do gato” - a forma com que as matérias são oferecidas lhes parece imprópria, beirando a desorganização. Daí, como é dito ainda por Hilsenbeck, “são os próprios colegas de curso que servem como guias” (p.20). Melhor seria dizer que eles se apóiam uns nos outros para compensar a falta de respaldo da instituição. E aos poucos, vai sendo alimentada uma endogenia, um processo que fortalece o espírito de corpo até de forma demasiada, algumas vezes colocando o grupo discente em antagonismo com funcionários ou professores. Isso será melhor visto no item 3.3, mas o importante é frisar que nos primeiros momentos da escola a instituição se faz muito pouco presente e a iniciação dos ingressantes é feita praticamente sem a interferência da escola e seus representantes. É só

4conceito formulado pelo psicólogo social Leon Festinger:“Dissonância e consonância são relações

entre cognições, ou seja, entre opiniões, crenças, conhecimentos sobre o ambiente e conhecimentos sobre as próprias ações e sentimentos. Duas opiniões, ou crenças, ou itens de conhecimento são dissonantes entre si quando não se encaixam um com o outro, isto é, são incompatíveis” in, http://skepdic.com/brazil/dissonancia.html

passada a semana que as aulas se iniciam normalmente, ou seja, exagerando-se um pouco, após a alegria, vem a instituição.

E o curso chega, em contradição com as expectativas dos ingressantes. Se eles já imaginavam na universidade pública o ambiente espartano e com poucos recursos e equipamentos, certamente não esperavam um clima oficial

predominantemente burocrático, nem uma grade inicial de disciplinas enigmática, que necessita explicações para se entenda como é que os talentosos diamantes brutos que venceram o grande desafio do vestibular vão ser lapidados em sua criatividade e se transformar em brilhantes publicitários, cursando essas disciplinas. É certo que é necessário um choque de realidade para que as fantasias e imagens distorcidas da carreira não perdurem indefinidamente, mas também é evidente que há a necessidade de se explicar quais as metas e os objetivos que se pretende alcançar com o conjunto de disciplinas oferecidas no primeiro semestre e que tanto foge do permanente exercício de criatividade idealizado. Conferindo a grade do 1o semestre letivo, pode-se entender melhor o que estou querendo dizer:

Quadro 2 – Disciplinas do Primeiro Semestre - Publicidade e Propaganda

CRP-292 - Estudo da Defesa do Consumidor

CRP-349 - Teoria e Técnica da Publicidade I

CRP-350 - Princípios da Economia Aplicados à Comunicação

CCA-218 - Língua Portuguesa - Redação e Expressão Oral I

CCA-258 - Fundamentos da Sociologia Geral e da Comunicação

CRP– 421 – Estética em Publicidade

Uma comunicação sobre a grade não significa no caso simplesmente uma explicação das ementas, bibliografias, critérios de avaliação e conteúdos das disciplinas. Isso atualmente é responsabilidade atual dos professores que as irão ministrar e, imagino, seja feito logo na primeira aula. O que acredito interessante para todos seria uma apresentação conjunta do semestre, dando aos alunos um panorama geral das disciplinas, além do detalhamento de cada uma delas e a contextualização deste aprendizado no âmbito da carreira, do exercício da

diminuir a visão fragmentada e irreal da atividade, como funcionaria

persuasivamente para motivar os ingressantes a se empenhar mais a fundo na sua formação acadêmica, desde seu início.