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A inserção e as implicações do Tribunal Penal Internacional no ordenamento

No documento Tribunal Penal Internacional (páginas 41-48)

2. O CONTEXTO HISTÓRICO: OS ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO DO

2.2 A inserção e as implicações do Tribunal Penal Internacional no ordenamento

Segundo Luiza Diamantino Moura (2009) no Brasil, o Estatuto de Roma foi assinado em sete de fevereiro de 2000, sendo levado à apreciação do Congresso Nacional no dia dez de outubro de 2001. Em seis de junho de 2002 o Estatuto de Roma foi aprovado por decreto legislativo 112, e em vinte e cinco de setembro de 2002, foi formalizada a promulgação pelo Presidente da República. O Estatuto de Roma encontra-se no mesmo plano de eficácia das leis ordinárias.

Dispõe Cardoso (2012) que na condição de parte do Estatuto de Roma, o Brasil aceitou automaticamente a jurisdição do TPI, bem como comprometeu-se a cooperar com o Tribunal. O Brasil passou a fazer parte do conjunto de países responsáveis pelo sustento financeiro do Tribunal Penal Internacional. Para fazer parte da jurisdição do Tribunal Penal Internacional e poder cooperar com este mecanismo, mas antes o Brasil teve que tomar algumas mudanças legislativas para poder cumprir o tratado, estas mudanças já estavam sendo

feitas antes da assinatura do tratado. Foi elaborado um projeto de emenda de nossa Constituição Federal, o projeto foi proposto pelo deputado Nilmário Miranda, esta emenda é conhecida como a emenda nº 45, a qual inseriu o parágrafo 4º ao artigo 5º da nossa Constituição Federal, a qual estabelece que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.

Sobre o tema destacam-se as palavras de Lima e Brian (2006, p. 157):

Nesses termos, a EC 45/2004 evidencia o valioso esforço em expressamente conceder a esses tratados o real alcance de suas disposições. Em outros dizeres, a condição de emenda constitucional implica integrá-los ao ordenamentos interno como norma formalmente constitucional. Com isso, a qualidade de norma materialmente constitucional atribuída aos direitos consubstanciados nesses instrumentos internacionais poderá ser concretamente efetivada, integrando-as, de forma definitiva, ao rol de direitos fundamentais acobertados pela garantia da cláusula pétrea.

Ainda nas palavras de Cardoso (2012) as mudanças legislativas que se fizeram necessárias para que o Brasil fizesse parte do Estatuto era que, este não era compatível com a nossa Constituição Federal, uma vez que, no texto do Estatuto era prevista a pena de prisão perpétua em seu artigo 77 e a entrega de pessoas ao Tribunal Penal Internacional disposto no artigo 58.

Damasceno e Silva (2016)esclarecem que quanto a prisão perpétua, aplicada pelo TPI nos casos gravíssimos, o próprio Estatuto de Roma determina que, o regime penal previsto neste apenas vai se aplicar ao Tribunal Penal Internacional não afetando assim às legislações nacionais. Salienta-se que a pena de prisão perpétua é proibida no território brasileiro, podendo assim ser instituída fora dele, e também faz-se importante destacar que o Estatuto prioriza a pena privativa de liberdade não superior a 30 anos, sendo usada a prisão perpétua em últimos casos. Quanto à entrega de pessoa ao Tribunal se chegou a duas definições, a de entrega e extradição, sendo que no Brasil é vedada a extradição de nossos nacionais, e essa vedação não faz parte do mecanismo do Tribunal Penal Internacional.

Outro tipo de conflito ressaltado é quanto às normas brasileira relativas às imunidades e prerrogativas de foro por exercício de função e as jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Lima e Brina (2006) tratam deste tema como garantias estabelecidas em

privilégio de alguns cargos e funções públicas. Sendo que estas regras podem ser aplicadas, por exemplo, aos Ministros de Estado, Presidente da República, Senadores e Deputados.

Lima e Brina (2006) ainda tratam de um último tema que é o eventual desrespeito à coisa julgada material, sendo que segundo estas, o Estatuto dispõe que o individuo condenado ou absolvido por atos de competência do Tribunal Penal Internacional em um Estado não poderá ser julgado de novo por este, contanto que o julgamento não tenha o objetivo da impunidade ou parcialidade.

Lima e Brina (2006) finalizam ressaltando que a criação do Tribunal Penal Internacional marcou uma nova possibilidade de proteção dos direitos dos seres humanos do século XXI e, tendo em vista isto, com uma análise superficial, perfeitamente se verificaria inconstitucionalidades com a nossa lei maior, mas se essa analise for realizada com mais critério poderá se verificar que o Estatuto de Roma encontra-se em compatibilidade com a nossa Constituição Federal.

CONCLUSÃO

O Tribunal Penal Internacional está apenas no começo da sua atividade de proteção dos direitos fundamentais do ser humano, mas a humanidade sempre demostrou a necessidade de um órgão com a finalidade que o tribunal penal internacional, que nada mais é, do que a de punir agressores que violam esses direitos, ainda há uma discussão acerca da capacidade jurídica internacional do deste Tribunal, mas não se pode esquecer que este tribunal passa a ser importante para a proteção internacional.

Espera-se que o direito internacional penal se fortaleça e interaja com a participação dos Estados junto ao Tribunal Penal Internacional na resolução dos crimes. A soberania do estado que não faz parte do Tribunal penal Internacional se mante intacta, não tendo assim problemas na soberania dos Estados, e este não tem a obrigação de entregar o acusado para julgamento. Os réus sempre terão o direito à defesa, pois estão amparados pelos princípios do contraditório e da ampla defesa, o que possibilita um julgamento integro.

Quanto ao ordenamento jurídico interno, se notava que aparentemente havia alguns choques com a nossa Constituição Federal, mas logo isso foi sanado na medida em que os princípios da nossa Carta Magna defendem a necessidade de proteção aos direitos humanos como extremamente necessário para as relações da República Federativa do Brasil, sendo sua importância reconhecida, não havendo assim conflitos com a nossa Constituição Federal de 1988.

Diante do exposto, restou comprovado o quanto foi importante e necessária à criação do Tribunal Penal Internacional Permanente, sendo que tal necessidade foi comprovada através da história dos grandes conflitos armados descritos neste trabalho, sem que a proteção aos direitos humanos somente seria eficaz com a criação do presente órgão. Após os países

aceitarem a criação do Estatuto de Roma, o qual deu origem ao Tribunal Penal Internacional que passou a julgar os acusados de crimes de grande gravidade nos dias atuais, que são o genocídio, os crimes contra a humanidade, e os crimes de guerra, bem como crimes de agressão. Com o julgamento e condenação dos acusados de praticar estes crimes contra a humanidade podemos, de certa forma, chegar mais perto do que podemos considerar paz no mundo.

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