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CIBELE TERESINHA COSTA DOS SANTOS

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Ijuí (RS) 2016

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CIBELE TERESINHA COSTA DOS SANTOS

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Marcelo Loeblein dos Santos

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho a minha família que sempre me incentivou nesta caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A minha família pelo incentivo e confiança depositados em mim.

A meu orientador, MSc. Marcelo Loeblein dos Santos, pela sua dedicação e disponibilidade.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória da construção deste trabalho, obrigada!

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“Os que acham que a MORTE é o maior de todos os males é porque não refletiram sobre os males que a INJUSTIÇA pode causar.”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica é do tipo exploratório, sendo que utilizada em seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando seleção de bibliografia e documentos afins à temática e em meios físicos e na Internet, interdisciplinares e tem como objeto de estudo o Tribunal Penal Internacional, e a sua competência para processar e julgar os crimes de guerra, genocídio e crimes de agressão, que são os considerados mais graves contra a humanidade. Há um contexto histórico, que antecedeu a criação do Tribunal como conhecemos nos dias de hoje, descrevendo os tribunais penais militares ad hoc que são o Nuremberg e Tóquio, bem como os tribunais criados pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas após a Segunda Guerra Mundial que foram os tribunais para e Ex-Iugoslávia, Ruanda e Serra Leoa, todos criados para julgamento de um crime especifico. Dá-se também destaque aos principais princípios do Tribunal Penal Internacional e do direito penal. Nessa perspectiva, tece algumas considerações sobre a inserção e as implicações do Tribunal Penal Internacional no ordenamento jurídico Brasileiro.

Palavras-Chave: Tribunal Penal Internacional. Organização das Nações Unidas. Estatuto de Roma.

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ABSTRACT

This monographic research work is an exploratory gender, and it is used in its delimitation the data collect in bibliographies sources available in physics ways and on the net of computers, in its development it will be used the method of hypothetic-deductive approach, observing the choose of bibliographies and documents similar to the theme and in physics ways and on the Internet, interdisciplinary and it has as study object the International Criminal Court and its competence to process and to judge the war’s crimes, genocide and aggression crimes, which are considered the most serious against the humanity. There is an historical context that predated the creation of the Court as we know it today, describing the military criminal courts ad hoc that are the Nuremberg and Tokyo, as the courts created by the Security Counsel and the United Nations Organization after the Second world war, which were courts to Ex-Yugoslavia, Ruanda and Sierra Leone, all of them created for the judgment of a specific crime. This work also gives emphasis to the main principals of the International Criminal Court and the Criminal Law. So, it brings some considerations about the insertion and the implications of the International Criminal Court in the Brazilian juridical ordered.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1 TRIBUNAIS PENAIS AO LONGO DA HISTÓRIA ... 10

1.1 Tribunal Militar Internacional de Nuremberg ... 11

1.2 Tribunal Militar de Tóquio ... 12

1.3 Tribunal Penal Internacional para Ex-Iugoslávia ... 14

1.4 Tribunal Penal Internacional para Ruanda ... 18

1.5 Corte Especial para Serra Leoa ... 21

2. O CONTEXTO HISTÓRICO: OS ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DO TPI PARA A SOCIEDADE INTERNACIONAL. ... 25

2.1 Estrutura, Procedimento e Princípios ... 29

2.1.1 Estrutura ... 29

2.1.2 Procedimento ... 31

2.1.3 Princípios ... 33

2.1.3.1 Princípio da responsabilidade penal internacional individual ... 33

2.1.3.2 Principio da complementariedade e jurisdição universal ... 35

2.1.3.3 Principio da legalidade ... 36

2.1.3.4 Principio do ne bis in idem ... 38

2.1.3.5 Principio da irretroatividade e imprescritibilidade ... 39

2.1.3.6 Principio da irrelevância da função oficial, responsabilidade de comandantes e superiores hierárquicos ... 40

2.2 A inserção e as implicações do Tribunal Penal Internacional no ordenamento jurídico Brasileiro ... 40

CONCLUSÃO ... 43

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo estudar como se deu o surgimento do Tribunal Penal Internacional através da história, bem como descrevendo que este tribunal é capaz de promover a investigação penal dos crimes de grande gravidade contra os direitos humanos que não sofreram a devida sanção jurisdicional nos tribunais nacionais e principalmente salientando os crimes de competência deste tribunal.

A pesquisa é do tipo exploratória. Utiliza no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando seleção de bibliografia e documentos afins à temática e em meios físicos e na Internet, interdisciplinares, capazes e suficientes para que o pesquisador construa um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo e atinja os objetivos propostos na pesquisa, leitura e fichamento do material selecionado, exposição dos resultados obtidos através de um texto escrito monográfico.

A principal justificativa para a escolha do tema é que este tribunal é capaz de promover, a repercussão penal dos crimes de grande gravidade, atentatórios aos direitos humanos, e que não sofreram a devida sanção jurisdicional nas Cortes nacionais. O Tribunal Penal Internacional visa implementar a segurança pública, ao buscar acabar com a impunidade dos grandes violadores dos direitos humanos e a segurança jurídica.

O primeiro Capítulo apresenta uma narrativa histórica dos primeiros tribunais criados ao longo dos tempos, que foram o Tribunal de Nuremberg, o Tribunal de Tóquio e os Tribunais ad hoc para a ex-Iugoslávia e para a Ruanda, os quais causaram grande choque quando realizaram a responsabilização criminal dos indivíduos, buscando coibir e a prevenir práticas criminosas, essa analise serve para que se possa ter uma noção de tudo o que

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aconteceu no decorrer da história para poder nos dias de hoje ter-se um tribunal penal internacional permanente para proteção e manutenção dos direitos humanos e da segurança jurídica.

O segundo Capítulo traz uma rápida analise da criação do Tribunal, relatando com se da o seu surgimento e as dificuldades que foram chegar até o tribunal que temos hoje, faze uma analise detalhada de cada princípio deste tribunal os quais são os princípios da responsabilidade penal internacional individual, complementariedade e jurisdição universal, legalidade, ne bis in idem, irretroatividade e imprescritibilidade e da irrelevância da função oficial, reponsabilidade de comandantes e superiores hierárquicos, além dos princípios há uma analise acerca do funcionamento processual do tribunal e uma descrição da inserção do Tribunal Penal Internacional no ordenamento jurídico Brasileiro.

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1 TRIBUNAIS PENAIS AO LONGO DA HISTÓRIA

Neste primeiro capitulo será abordado como surgiram os primeiro tribunais penais e qual foi sua finalidade e relevância para a história. Em um segundo momento será trabalhado a criação do Tribunal Penal Internacional que conhecemos nos dias de hoje, buscando analisar a sua compatibilidade com a nossa Constituição Federal, bem como sua relação com os direitos humanos.

No século XX houve enorme avanço no campo das ciências e tecnologias, revolucionando os meios de comunicação. O progresso nas ciências foi acompanhado de diversos conflitos que aconteceram em praticamente todos os continentes, tendo em vista as novas tecnologias voltadas para a área de material bélico, com o avanço desta tecnologia eram cada vez mais comuns os massacres de inocentes, sendo que populações inteiras foram exterminadas a serviço de ideologias perversas colocadas em pratica pela burocracia estatal, e assim aconteceram inúmeras violações aos direitos humanos.

Carlos Henrique Gonçalves Portela (2010) relata que com as grandes guerras mundiais, inúmeras outras guerras de independência, de conflitos étnicos ou de conflitos religiosos, muitas vezes patrocinadas por grandes potências mundiais nas quais havia sempre interesses econômicos ou políticos envolvidos. A preocupação com a preservação da paz e dos direitos humanos internacionalmente se deu com a criação da Organização das Nações Unidas - ONU em 1945, e assim vários contratos internacionais foram celebrados, dando destaque a Convenção para Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio em 1948 e Convenções de Genebra de 1949 e a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, infelizmente todos estes tratados não impediram que grandes violações aos direitos humanos ocorressem.

O surgimento dos Tribunais Militares de Nuremberg e Tóquio, apesar das críticas, de que foram cortes criadas pelos “aliados” para julgarem os derrotados na guerra, sendo que ambos os lados haviam cometidos várias violações aos direitos humanos, foram fundamentais tendo para a evolução do Direito Internacional Penal, tendo colocado os indivíduos como sujeitos de direitos e obrigações. Mais tarde, a ONU estabeleceu os tribunais ad hoc para Ruanda e Ex-Iugoslávia, criados como uma resposta à pressão da população ante a inércia da

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comunidade internacional em prevenir a violência e atos genocidas cometidos durante os conflitos étnicos ocorrido na década de 90 o qual demostrou que era extremamente necessário à criação de um tribunal permanente, a qual deveria ser isenta de pressões políticas e ser imparcial.

1.1 Tribunal Militar Internacional de Nuremberg

Em maio de 1945, no final da Segunda Guerra na Europa, com a abertura dos campos de concentração, era possível ter uma noção do tamanho da violência causada pelos nazistas, com extermínio de milhões pessoas que eram judeus, poloneses, ciganos, homossexuais, comunistas e outros considerados os indesejáveis a raça ariana.

Segundo Hee Moon Jo (2004) na data de oito de agosto de 1945, britânicos, franceses, americanos e soviéticos se reuniram em Londres, os quais assinaram um acordo, o qual se denominava, a Carta de Londres do Tribunal Militar Internacional, o qual criou o Tribunal Penal Militar de Nuremberg (cidade onde Hitler promulgava as leis raciais, e ainda o Partido Nacional Socialista realizava suas reuniões anuais), o Estatuto estabelecia a sua jurisdição e tornava claro que era um instrumento a serviço dos vitoriosos para castigar os vencidos, pois ambos os lados haviam cometido grandes atrocidades.

Desse mesmo modo dispões Renata Mantovani de Lima e Marina Martins da Costa Brina (2006, p. 28):

O Tribunal Militar Internacional de Nuremberg consistiu em um tribunal fundado pela quatro potências vitoriosas, aos quais a Alemanha havia rendido-se incondicionalmente. Possuía quatro juízes titulares e quatro juízes suplentes, apontados por cada uma das potências, Os acusadores também eram nacionais de tais países. Declarou-se competente para julgar os crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade [...]

Nesse sentido foram feitas várias críticas ao Tribunal Militar de Nuremberg, as quais eram que: foi um julgamento no qual os acusadores e juízes eram os vencedores; não havia possibilidade de recurso das decisões; o princípio da legalidade, do nullum crimen nulla poena sine lege, o princípio do juiz natural e da irretroatividade da lei penal mais grave foram violados. Dos 22 acusados em Nuremberg, apenas 3 foram absolvidos, sendo que 12 morreram na forca, 3 receberam pena perpétua de prisão e 4 foram sentenciados.

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Conforme dispõe Fabio Konder Comparato (2001, p. 15):

Quando a opinião pública começou a tomar conhecimento das atrocidades praticadas pelos regimes totalitários, europeus ou asiáticos, firmou-se a convicção de que a destruição deliberada de um grupo étnico, racial ou religioso, promovida por autoridades governamentais como política estatal, constituía um crime cuja gravidade superava em muito o elenco tipológico dos delitos definidos nas diferentes leis nacionais, ou das violações tradicionais dos princípios do direito internacional. Foi com base nessa convicção generalizada, e não no fato de que os Estados responsáveis por essas atrocidades haviam perdido a guerra, que a decisão das potências vencedoras de criar o Tribunal de Nuremberg, e julgar como criminosos algumas das autoridades civis e militares do 3º Reich foi aceita como perfeitamente legítima ainda que contrária ao tradicional princípio nullum crime nulla poena sine lege.”

Sendo assim, não houve imparcialidade na hora dos julgamentos, pois os acusados foram julgados por seus vencedores.

Segundo Nelson R. Gasparin Jr. (2009) é importante destacar que a grande colaboração do Tribunal de Nuremberg para o Direito Penal Internacional é a de gerar uma forma de responsabilizar penalmente os indivíduos acusados internacionalmente de crimes contra a humanidade, pois neste tribunal os indivíduos foram punidos individualmente por seu atos sem a proteção do Estado. O tribunal de Nuremberg é o responsável pela criação de uma nova forma de imputação penal e de justiça, a qual o Estado imputa crimes a seus próprios agentes.

Lima e Brina (2006) complementam que embora o Tribunal de Nuremberg tenha sido uma “justiça dos vencedores” veio devido à exigência de resposta ao grande sofrimento dos indivíduos naquela época. Salienta-se que embora as várias críticas recebidas, o Tribunal Militar de Nuremberg, foi uma grande evolução no direito penal internacional.

1.2 Tribunal Militar de Tóquio

Após a derrota japonesa na frente de batalha asiática, os aliados entenderam que se fazia necessária a formação de um tribunal penal internacional para julgar os crimes e atrocidades praticadas durante a guerra. O tribunal militar de Tóquio teve seu Estatuto aprovado em 19/01/1946, vigorando de 29/04/1946 a 12/11/1948, julgando nesse período 29 acusados, sendo 9 civis e 19 militares, não havendo nenhuma absolvição.

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Segundo Gasparin Jr. (2009) o presente tribunal tinha 11 juízes, e possuía competência para julgar crimes contra a paz, contra as convenções de guerra e contra a humanidade. Quanto aos crimes contra a paz, o tribunal de Nuremberg se baseava apenas em guerra declarada, quanto que o Estatuto do Tribunal de Tóquio previa como crime “o planejamento, a preparação, o início e a implementação de uma guerra declarada ou não”, um aspecto importante do tribunal de Tóquio é que em sua Carta estava previsto a chance de se fazer recurso de suas decisões sendo que no Tribunal de Nuremberg isto não era possível.

Em termos processuais o Tribunal de Tóquio era igual ao de Nuremberg. Quanto à competência esta era ratione personae, ou seja, julgou apenas pessoas físicas, ao contrário de Nuremberg, que também julgou pessoas jurídicas.

Segundo Portela (2010) foram feitas críticas parecidas com às de Nuremberg ao Tribunal de Tóquio, tendo como uma critica relevante a violação do princípio da legalidade e que não havia tipificação do crime de agressão, em nenhum de seus documentos internacionais. Houve outras criticas além destas, que era em relação a grande influência americana, por esse motivo muitos acusados não foram condenados, sendo que muitos prisioneiros foram libertado sem nenhum tipo de julgamentos, até mesmo o imperador não foi julgado, o qual é o maior culpados dos atos.

Segundo Hee Moon Jo (2004) o Tribunal de Tóquio é quase igual ao Tribunal de Nuremberg, e o seu julgamento também se baseou no mesmo raciocínio. Uma diferença importante em comparação ao Tribunal Militar de Nuremberg é que em Tóquio a acusação predominante foi a de crimes contra a paz, apoiando-se no Pacto de Paris de 1928 que definiu as guerras de agressão como ilegais dentro do Direito Internacional. Sendo assim este tribunal tornou-se a segunda experiência mundial de uma justiça penal internacional.

Ainda segundo Portela (2010) mais julgamentos foram feito para punir os crimes praticados no decorrer da Segunda Guerra Mundial, os aliados criaram tribunais internacionais em suas áreas de ocupação na Alemanha para responsabilizar os criminosos de guerra, onde foram julgadas mais de 20.000 pessoas, tendo sido vários indivíduos condenados a pena de morte.

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1.3 Tribunal Penal Internacional para Ex-Iugoslávia

De acordo com José Cretella Neto (2008) o Reino da Iugoslávia, também conhecido como a Primeira Iugoslávia, praticamente passou a existir após a 1ª Guerra Mundial, assim, seu regime era a monarquia tendo como governante o Rei Alexandre I, o Unificador, assassinado na França, o trono da então Primeira Iugoslávia foi assumido por seu primo o Príncipe Paulo. Em 06 de abril de 1941 a Iugoslávia foi invadida pelas potencias do Eixo, que eram aqueles de ideologias autoritárias na 2ª Guerra Mundial, que englobava o nazismo e o fascismo. A Segunda Iugoslávia passou a existir em 1943 com Estado socialista, com o final da 2ª Guerra Mundial Ivan Ribar assumiu a presidência da Iugoslávia tendo como primeiro ministro Tito (Josi Broz). Em 1953 foi eleito como presidente Tito, o qual ganhou titulo de presidente vitalício, com a morte de Tito a tensão entre os povos aumentaram. Após as Guerras da Iugoslávia nos anos de 1990 o Estado desintegrou-se. Em 04 de fevereiro de 2003 a Iugoslávia deixou de existir passando a ser conhecida como Servia e Montenegro, as quais acabaram declarando independência em 05 de junho de 2006.

Os conflitos que ocorreram nesta região eram tipos de limpeza étnica, os quais começaram quando Milosevic se tronou presidente em 1989. Os conflitos iniciaram maio de 1991 com a declaração de independência da Eslovênia e da Croácia, neste mesmo ano Exército Federal, conhecido como Exército Vermelho, interveio nos conflitos da Eslovênia, aconteceram também nesta época combates na Croácia entre militares e policiais croatas contra as milícias da Sérvia, as quais eram apoiadas pelo governo de Milosevic.

Furtado (2015) salienta que em março de 1991 foi o estopim do conflito armado na então República Federativa Socialista da Iugoslávia, tendo em vista a grande violência armada neste Estado, o Conselho de Segurança da ONU adotou a resolução 713, com apoio no artigo 39 da Carta das Nações Unidas, a qual determinava a condenação daqueles que violaram o Direito Internacional Humanitário na Iugoslávia, impondo também sanções econômicas para estes indivíduos violadores da paz. Em 1992 a Croácia e a Sérvia assinaram um acorde de Cessar-Fogo. No entanto Milosevic se negou a criar uma federação livre e realizar reformas politicas necessária para o país se tornar um Estado democrático como no ocidente, ele então escolheu os conflitos militares.

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Segundo Gasparin Jr. (2009) Com a Resolução nº 724 do Conselho de Segurança da ONU houve a possibilidade de criar uma manobra para a preservação da paz, para que todos os envolvidos nos conflitos pudessem resolver seus problemas de forma pacífica. Esse cenário pacífico infelizmente não durou por muito tempo. Segundo Furtado (2015) a fragmentação da República Federativa Socialista da Iugoslávia era inconversível, por esse motivo criou-se a resolução nº. 743, do Conselho de Segurança o qual estabeleceu uma Força de Proteção das Nações Unidas.

Segundo Cretella Neto (2008) em dezoito de novembro os representantes dos 51 Estados membros da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, reconheceram que era necessário a criação de um tribunal internacional para julgar e punir os acusados pelos crimes cometidos durante o período de guerra. Em 18 de dezembro, o Conselho de Segurança manifestou o seu pesar quanto aos relatos de estupros maciços e organizados contra mulheres da Bósnia-Herzegovina, determinando o fechamento de todos os campos de detenção e acampamentos de mulheres.

Segundo Hee Moon Jo (2004) a Organização das Nações Unidas em julho de 1992 aprovou a resolução 764, a qual dizia que: “os atos de violência perpetrados na ex-Iugoslávia constituem crimes internacionais, cujo cometimento gera responsabilidade penal individual”, desse modo defina que cada um que cometeu atos contra os direitos humanos iria responder individualmente, não responsabilizando assim o Estado pelos atos, e sim o individual.

Com os aumentos das atrocidades o Conselho de Segurança da ONU em fevereiro de 1993 criou mais uma resolução, a resolução 808, a qual ordenava que em 60 dias o Secretário Geral da ONU deveria apresentar um relatório sobre a criação de um Tribunal Penal Internacional, para processar e julgar os crimes praticados na ex-Iugoslávia.

Nesse sentido dispõesCretella Neto (2008, p. 184):

Em maio de 1993 o Secretário Geral apresentou o relatório solicitado, compreendendo a proposta para o Estatuto do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, cuja minuta foi aprovada por unanimidade pelo Conselho de Segurança, em 25.05.1993, criando-se, então, formalmente, por meio da resolução 827, o International Tribunal for the Prosecution of Persons Responsible for serious violations o International Humanitarian Law Committed in the Territory of the Former Yugoslavia since 1991 (Tribunal Penal para a persecução de Pessoas Responsáveis por Sérias Violações ao Direito Internacional Humanitário Cometidas no Território da Antiga Iugoslávia desde 1991), [...]

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Por meio da Resolução 827, de 08 de maio de 1993, o Conselho de Segurança da ONU, criou o Tribunal Penal Internacional para Ex-Iugoslávia o qual tinha finalidade de julgar as violações aos direitos humanos cometidas no território da Ex-Iugoslávia durante o conflito que se iniciou em 1991.

Hee Moon Jo (2004, p. 381) assevera que:

O conflito na antiga Iugoslávia, em 1993, onde ocorreram crimes contra a humanidade e genocídio sob a forma de “limpeza étnica”, definitivamente chamou a atenção da sociedade internacional para a necessidade da criação de um tribunal penal internacional. O Conselho de Segurança da ONU criou, então, um Tribunal Criminal Internacional ad hoc para a antiga Iugoslávia.

O Estatuto do Tribunal Penal Internacional para Ex-Iugoslávia explicava a competência do Tribunal para o julgamento de quatro categorias básicas de crimes cometido durante o conflito nos Balcãs: graves violações às Convenções de Genebra de 1949; violações às leis e costumes de guerra; crimes contra a humanidade e genocídio. Segundo Gasparini Jr. (2009) à competência do presente tribunal é ratione materiae tendo jurisdição para processar e julgar as violações graves cometidas contra a humanidade em decorrência da prática que ficou conhecida como limpeza étnica.

Conforme dispõe a resolução 827 todos os Estados são obrigados a colaborar com o tribunal, que tem jurisdição sobre indivíduos responsáveis por crimes contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio desde 1º de janeiro de 1991 em todo território da ex-Iugoslávia (o que corresponde hoje aos Estados da Eslovênia, Croácia, Bósnia, Macedônia, Sérvia e Montenegro). O Tribunal pode assumir investigação de tribunais nacionais em qualquer faze, se isso for de interesse da justiça internacional, sendo que quem inicia as investigações é o promotor ou por denuncias de governos, indivíduos, organizações não-governamentais, etc. Um juiz deve confirmar as denuncias, uma vez que o julgamento somente ocorrerá com a presença do acusado dos crimes.

Segundo Cretella Neto (2008) os julgamentos mesclam um pouco de Direito positivo e do Common law, sendo que procedimentos inquisitórios e contraditórios então presentes. Os procedimentos do Tribunal Penal Internacional da ex-Iugoslávia são com base em princípios conhecidos internacionalmente para se ter um julgamento justo, existe também um programa

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que disponibiliza advogados para quem não tem condições financeiras de contratar um, os quais são pagos pelo próprio Tribunal. Um importante elemento é a presunção de inocência e o direito de ser julgado de forma rápida.

A humanidade se chocou com a violência do conflito e o massacre contra a população civil, que relembrou o ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, sob denúncias de extermínios, genocídios praticados sob a bandeira da limpeza étnica, estupros, desaparecimentos, transferências forçadas em massa e tratamento desumano aos soldados presos em campos de concentração.

João Gustavo de França Scovino (2015) relata em seu texto que os Estados Unidos e a União Europeia, fizeram pouco durante grande parte da guerra, quando pressionados pela opinião pública e pela comunidade internacional ante as atrocidades diariamente noticiadas, resolveram intervir militarmente com os bombardeios da OTAN, pondo fim ao conflito. Posteriormente, os EUA pressionaram as autoridades iugoslavas, oferecendo, juntamente com a União Europeia, uma ajuda financeira para possibilitar Tribunal Penal Internacional para Ex-Iugoslávia, para ser julgado por sua responsabilidade pelas graves violações cometidas.

O Tribunal Penal Internacional da ex-Iugoslávia indiciou Milosevic, e mais outros quatro oficiais e comandantes de elevadas patentes, por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos sob seu comando em Kosovo em meados de 1999, nos quais se incluiu o massacre de centenas de albaneses e, deportação forçada de milhares de pessoas. Milosevic foi indicado outras duas vezes por crimes cometidos na Croácia e a na Bósnia, as acusações feitas era assassinato, tortura, deportação, tortura, crime de genocídio, cumplicidade com genocídio e 27 outras acusações por crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos por conta do conflito na Bósnia-Herzegovina

Diante disso dispõem Cretella Neto (2008, p.191):

Seu mais famoso acusado foi Slobodan Milosevic, Presidente da Republica Federal da Iugoslávia, preso em Belgrado em 1º.4.2001, e cujo julgamento se iniciara em 12.2.2002. A ele foram imputadas as condutas de responsabilidade individual [...] do Artigo 7.1 e responsabilidade penal superior [...] do Artigo 7.3 do Estatuto do Tribunal, crimes praticados na Bósnia-Herzegovina, na Croácia e no Kosovo. Durante o julgamento, no entanto, foi encontrado morto em sua cela, na prisão das Nações Unidas [...] em 11.3.2006. Três dias depois, a Câmara de Julgamento III anunciou o encerramento de seu processo.

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Scovino (2015) relata ainda que as acusações da Bósnia englobam a morte de milhares de muçulmanos, incluindo crianças em Srebrenica, episódio que ficou famoso pelo triste massacre e pela ousadia de Milosevic, ao invadir áreas controladas pela ONU, classificadas como áreas de segurança, bem como o campo de detenção em Omarska. Os julgamentos das acusações feitas contra Milosevic começaram no inicio de 2002 e terminou após a morte de Milosevic em 2006, que foi encontrado morto em sua cela na prisão das Nações Unidas. 1.4 Tribunal Penal Internacional para Ruanda

Gasparin Jr (2009) relata em sua obra que no período da Segunda Guerra Mundial as potencias colonialistas estavam afundadas em grande contradição, pois após a guerra os Estados Unidos e união Soviética ficaram em posição contraria ao colonialismo e em defesa da autodeterminação dos povos, que ocasionou ainda mais a “sede” de independência dos africanos, movimento que ficou conhecido com “Descolonização da África”.

Ainda segundo Gasparin Jr (2009) os povos africanos colonizados pelos ingleses foram libertados de forma pacífica e controlada, a qual permitiu uma emancipação gradual das colônias, na parte onde a colonização era de imigrantes europeus houve grande repressão que deu inicio a uma luta armada. O colonialismo destruiu os costumes dos africanos e os dividiu em territórios sem observar as diferenças de cultura e etnia, isso dificultou o desenvolvimento destes povos e abril espaço para que o imperialismo voltasse a controlar as antigas metrópoles.

Segundo Portela (2010) em 1960 foi o topo do processo de reconhecimento da independência africana, sendo que no ano de 1963 criava-se a Organização da Unidade Africana (OUA), que possuía a função de “defender a soberania dos Estados membros e ajudar a promover a completa erradicação do colonialismo na África”. Salienta-se que nesse período foi marcado por graves acontecimentos, como a Guerra da Argélia, a guerra civil no Congo, o apartheid na África do Sul e conflitos étnicos na África Oriental.

Segundo Hee Moo Jo (2004) em novembro 1994, o Conselho de Segurança da ONU, atendendo a uma solicitação do Governo de Ruanda, estabeleceu uma comissão para apurar as violações humanas ocorridas durante a guerra civil, período de 1ª de janeiro de 1994 a 31 de

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dezembro de 1994, entre as etnias tutsis e hutus em Ruanda, que resultou na criação do Tribunal Penal Internacional para Ruanda, por meio da Resolução nº 955.

Nesse sentido dispõe Cretella Neto (2008, p. 191):

Pouco tempo depois de criar o Tribunal penal Internacional pra a ex-Iugoslávia, o Conselho de Segurança empregou, pela segunda vez, o mesmo mecanismo: em 8.11.1994 aprovou a resolução 955, pela qual criou Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), decidindo, ainda, que a sede do Tribunal ficaria localizada em Arusha, Tanzânia. A finalidade dessa resolução é contribuir para o processo de reconciliação nacional em Ruanda e para a manutenção da paz na região.

A Ruanda, está localizada no continente africano, sua população é formada pelos hutu e tutsis, as quais são rivais. Por determinação belga, entre 1933 e 1934, houve um censo populacional, que tornava obrigatória a identificação nas carteiras de identidade a origem étnica de cada pessoa. Iniciou seu processo de independência tardiamente, libertando-se do domínio belga em 1962, provocando conflitos com a disputa pelo poder.

De acordo com Cretella Neto (2008) em 1990 iniciou-se um processo de redemocratização o qual foi marcado pelas disputas de poder, em 1993, os dois lados conflitantes assinaram um acordo de paz, pelo qual se pretendia o fim das hostilidades. O auge do massacre foi à morte, do então presidente ruandês Juvenal Habyarimana, o qual teve seu avião atingido por um míssil, em 06 de abril de 1994 em Kigali. Em poucas horas, membros do governo de hutu, policiais e militares executaram vários políticos da oposição, em seguida ocorreu um massacre inimaginável contra a população, o exército, a guarda presidencial e milícias armadas começam a executar qualquer pessoa que pertencessem à etnia tutsi, resultando na morte estimada de oitocentas mil pessoas e a busca de refúgio de outros dois milhões nos países vizinhos, em apenas cem dias de conflito.

Nesse sentido Cretella Neto (2008, p. 192) dispõe que:

Recordem-se os fatos ocorridos naquele país, onde se deu o chamado Genocídio de Ruanda, expressão que designa o massacre de 800.000 a 1.070.000 membros da tribo Tutsi e de Hutus moderados, em uma série de atos perpetrados principalmente por duas milícias extremistas Hutus, a Interahamwe e o Impuzamugambi, durante um período pouco superior a 3 meses, a partir de 6.4.1994.

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Ao massacre se encerraram apenas quando o movimento rebelde, liderado por Paul Kagame, dominados, por Tutsis, derrubaram o governo Hutu e tomaram o poder, centenas de Hutus com medo das represálias fugiram para o ocidente.

Segundo Comparato (2001) o Tribunal Penal Internacional para o Ruanda tem seu próprio estatuto, que foi publicado junto com a Resolução do Conselho de Segurança. Ele é formado por três de Julgamento e uma de Apelação, Gabinete do Procurador e a Secretaria, sendo que este tem competência, ratione materiae, ratione personae et ratione loci e ratione temporis.

Neste mesmo sentido explica Cretella Neto (2008, p. 194) o que são as competências do Tribunal Penal Internacional de Ruanda acima descritas:

•ratione materiae: genocídio, crimes contra a humanidade, violações ao Artigo 3 comum às Convenções de Genebra de 1948 e ao protocolo II de 1977;

•ratione temporis: crimes cometidos entre 1ª.1.1994 e 31.12.1994;

•ratione personae: crimes cometidos por ruandeses no território de Ruanda e nos territórios dos Estados vizinhos; crimes cometidos por não-ruandeses em Ruanda; •ratione loci: crimes cometidos no território de Ruanda (por ruandeses e não-ruandeses) e nos territórios dos Estados vizinhos (por não-ruandeses).

Segundo Portela (2010) nos dias de hoje o Tribunal de Ruanda esta com 1032 funcionários de 86 nacionalidades, e teve o se primeiro o julgamento em janeiro de 1997, ate abril de 2007, este tribunal emitiu 27 decisões judiciais envolvendo 33 acusados.

Gasparin Jr (2009) relata que o Tribunal Penal Internacional para Ruanda continua em atuação, sendo que há 9 casos aguardando julgamento, 29 em andamento, 29 casos transitados em julgado, 5 absolvidos, 2 casos transferidos para a jurisdição nacional, 2 acusados já cumpriram toda a suas sentenças, 3 acusados falecidos, 1 preso por falso testemunho, 1 preso por desrespeitar a corte e ainda 13 acusados em liberdade. O Tribunal Penal da Ruanda já indiciou e condenou vários líderes culpados pelas graves violações ocorridas.

Salienta Cretella Neto (2008) que o presente tribunal recebeu muitas críticas, e a criação de tribunais ad hoc foi alvo de questionamentos, pois estes tribunais não eram neutros. Durante a conferência de Roma essa discussão foi retomada, sendo que era clara a necessidade da criação de um tribunal penal permanente e independente e neutro. Há uma outra critica além da neutralidade que é a compra da paz, pois muitas vezes a paz era

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estabelecidas pelo próprios criminosos pois muitos destes criminosos ainda são detentores de poder político, favorecendo assim a impunidade destes.

Segundo Comparato (2001) é importante salientar as contribuição positiva destes Tribunais, que é o entrosamento entre os sistemas do common law e do civil law, bem como constituem importante contribuição para a prática forense do Tribunal Penal Internacional permanente dos dias atuais.

1.5 Corte Especial para Serra Leoa

Scovino (2015) relata que em junho de 2000, o Presidente de Serra Leoa, Ahmad Tejan Kabbah, enviou uma carta para o Secretário Geral das Nações Unidas, pedindo ajuda para responsar os culpados pelos crimes cometidos durante o conflito ocorrido no país nos anos 1996. Neste mesmo ano no mês de agosto, o Conselho de Segurança da ONU editou a Resolução 1315, a qual solicitava que o Secretário Geral da ONU iniciasse as negociações com o governo serra-leonês para a criação de um Tribunal Penal Especial.

Nesse sentido dispõe Cretella Neto (2008, p. 223):

A resolução 1315, de 14.8.2000, do Conselho de Segurança, tendo em vista os crimes cometidos no território de Serra Leoa contra a população e também contra diversos cidadãos estrangeiros, a serviço da ONU ou não, desde 30.11.1996, determinou que o Secretário-Geral negociasse um acordo com o Governo da Serra Leoa para criar um tribunal especial independente, competente para julgar acusado de crimes contra a Humanidade, crimes de guerra sérias violações do Direito Internacional Humanitário, bem como condutas consideradas crimes pela legislação nacional do país.

Segundo Scovino (2015) em janeiro de 2002 foi criado o Tribunal Especial para Serra Leoa por um acordo entre a ONU e o governo de Serra Leoa. O Tribunal é sediado Freetown, em Serra Leoa. Seu objetivo, segundo Scovino (2015) é processar "pessoas que tenham a maior responsabilidade em graves violações do direito humanitário internacional", em relação aos crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos no país desde novembro de 1996. O conflito foi o mais brutal da região.

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O Tribunal, que funciona em Freetown, recebe assistência técnica e de pessoal do TPI-es-I, do TPIR e do TPI. A segurança é fornecida pela Polícia local, pela Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL) e pelo contingente da Mongólia da UNMIL (MON BAT).

O Tribunal é composto por 11 juízes, os quais são nomeados para um período de três anos. O Estatuto da Corte Especial para Serra Leoa incorporou mais dois crimes contra a humanidade: o recrutamento obrigatório de crianças com menos de 13 anos no conflito e o casamento forçado de mulheres. Atualmente, onze pessoas associadas com as três facções que lutavam na guerra estão sendo indiciadas pela Corte Especial. As acusações são de crimes de guerra, crimes contra a humanidade, e outras sérias violações. As acusações incluem assassinato, estupro, extermínio, atos terroristas, saques, incêndios, escravidão e etc.

Além deste tribunal especial foram criados ainda mais cinco, os quais são: O Tribunal Especial para os julgamentos do Khmer Rouge no Camboja, o Tribunal ad hoc sobre Direitos do Homem para os Crimes Praticados em Timor-Leste, Tribunais para Crimes cometidos no Kosovo na Bosnia-Herzegóvina e Tribunal Especial para o Líbano.

Dispõe Cretella Neto (2008) que o Khmer vermelho, era um partido politico dominante no Camboja, o qual teria torturado milhões de pessoas e causado a morte demais de 1,5 milhões, por meio de execuções, fome e trabalho escravo, o líder deste partido era Pol Pot, ele tinha como objetivo a implantação de um sistema social radical de comunismo agrário, sendo que toda a população deveria trabalhar de forma coletiva e forçada. Este regime foi um dos mais sanguinários do século XX, o lema de Pol Pot era “mantê-lo vivo não é nenhum benefício, destruí-lo não é nenhuma perda”.

Salienta Comparato (2001) que após 04 anos de mandato ele foi tirado do poder por uma tropa da República Socialista do Vietnã em 1979, diante disso houve uma guerra civil que durou até 1998. Após um acordo de paz Pol Pot dissolveu a organização e veio a falecer em 1998 sem nunca ter sido julgado por seus crimes. Em 1997 o governo do Camboja pediu auxilio a ONU para a perseguição dos antigos lideres do Khmer Vermelho, primeiramente a ONU pensou em instituir um tribunal internacional ad hoc, mas o governo do Camboja não concordou.

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Segundo Cretella Neto (2008) após longo período de negociações os governadores entraram em acordo com a ONU, só que devido a essa demora muitos líderes antigos do Khmer Vermelho faleceram sem ser julgados.

De acordo com Comparato (2001) em 1975 Timor-Leste foi invadida pela indonésia, a ONU jamais reconheceu a soberania deste país, em 1999 os habitantes de Timor-Leste tentaram recuperar sua independência, mas o exército da Indonésia iniciaram uma grande campanha de violência matando cerca de 2 mil pessoas, devido a esse fato Indonésia criou o Tribunal ad hoc sobre direitos do homem, para incriminar os responsáveis pelo massacre, mas segundo alguns defensores dos direitos humanos este tribunal não passou de uma fachada, esse tribunal até os dias de hoje não saiu do papel há apenas uma câmara de julgamento.

Explica Thais Leo N. de Paula e Tarim Cristino Frota Mont’alverne (2013) que em 1991 Kosovo declarou sua independência, a qual não foi reconhecida pelos países estrangeiros, em 1999 ocorreu uma guerra na qual a OTAN e os EUA bombardearam uma cidade do Kosovo matando centenas de pessoas, neste mesmo ano foi realizado um acordo para o fim da guerra, mas esse acordou não durou por muito tempo, em 2004 o Kosovo foi palco da maior violência inter-étnica deste país, 134 casos foram condenados.

De acordo com Portela (2010) o genocídio corrido na Bósnia no ano de 1992 liderado por Radovan Karadzic, o qual ficou conhecido com “carniceiro da Bósnia” sendo acusado por cerca de oito mil mortes de mulçumanos, as forças sérvias invadiam os vilarejos e matavam seus lideres, sendo que mataram milhares de pessoas nos centros de concentração e ainda violentavam as mulheres. Foi nesse período que surgiu a chamada “limpeza étnica”. Todos estes acontecimentos foram levados à corte internacional. Quanto às milhares de mortes, a corte internacional de justiça reconheceu as conclusões do tribunal penal da Ex-Iugoslávia, de que havia ocorrido o crime de genocídio naquele lugar. Os primeiros julgamentos só foram feitos 10 anos após o termino da guerra.

Por fim segundo Cretella Neto (2008) no ano de 2006 era criado pelo conselho de segurança o Tribunal Especial para o Líbano, o qual tem o fim específico de processar e julgar os suspeitos de matar Rafik Hariri ( ex primeiro ministro do Líbano) este é o 1ª tribunal que julgará atos terroristas contra um determinado individuo. Este tribunal é parecido com da

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Serra Leoa, mas a única diferença é que este tribunal não aplicara as normas do direito penal internacional e sim as leis do Líbano.

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2. O CONTEXTO HISTÓRICO: OS ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL E IMPORTÂNCIA DA CRIAÇÃO DO TPI PARA A SOCIEDADE INTERNACIONAL.

O Tribunal Penal Internacional faz parte da Organização das Nações Unidas-ONU, mas é um instituto independente, que tem caráter permanente, de origem convencional, e possui personalidade jurídica internacional.

No presente capítulo será analisado o seu funcionamento, organização, procedimento, seus principais princípios, bem com uma brevê explicação sobre a inserção e as implicações do Tribunal Penal Internacional no ordenamento jurídico Brasileiro.

De acordo com Scovino (2007) são constantes ao longo da história os crimes contra a humanidade cometidos por ditadores, e a impunidade destes frente aos crimes mais monstruosos cometidos causa um grande desconforto social fazendo parecer que aos que estão no poder não sofrem as punições.

Segundo Elio Cardoso (2012) em 1872, Gustave Moynier, um dos responsáveis pela criação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, sugeriu a criação, por meio de tratado internacional, um tribunal de natureza permanente o qual lidaria com os casos de violações dos direitos humanos, que ainda nesta época eram muito recentes, que seria automaticamente ativado no caso de conflito entre as partes. Mas por detrás da intenção de criar este mecanismo morava a certeza de que os Estados não seriam totalmente imparciais com os casos, sendo que um tribunal de caráter internacional poderia desfrutar de maior imparcialidade.

Ainda segundo Cardoso (2012) para que os Estados viesse a atuar de forma imparcial, sugeriu-se que o órgão fosse integrado por juízes de Estados neutros, que seriam sorteados para examinar os casos concretos. A deia principal era de não depender de apoio político para a criação deste. A preocupação com a neutralidade decorria do fato que ao decorrer da história praticamente todos os julgamentos relacionados a crimes de guerra haviam sido feito pelos vencedores dos conflitos.

Lima e Brina (2006) complementam que a propostas de criação de um tribunal permanente feita por Moynier e outras que vieram depois não lograram êxito, pois os Estados

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não estavam dispostos a ceder parte da soberania para a criação de um tribunal penal internacional permanente, o fato de não haver a existência de mecanismo institucional dessa natureza ficou bem evidenciada no período pós-guerra do século XX, que foram criados os tribunais penais internacionais ad hoc. Disposto no Tratado de Versalhes, criado em 1919, a corte especial para processar o Kaiser Guilherme II – denunciado nominalmente pelos aliados por “ofensa suprema contra a moral internacional e a autoridade sagrada dos tratados” – não chegou a ser firmado. Os Países Baixos, onde o ex-imperador alemão foi banido não quiseram extraditá-lo, pois alegavam que o ato ilícito do qual o acusavam era de caráter político e não criminal.

Neste mesmo sentido Lima e Brina (2006, p.24) nos explicam em sua obra:

Verificou-se nesse momento a tentativa de determinar a responsabilidade penal de Kaiser alemão Guilherme II, ao final da primeira Guerra Mundial. Firmado esse objetivo, na conferência de paz preliminar realizada em Paris, em janeiro de 1919, designou-se uma comissão de 15 membros, formada por representantes das potências aliadas. Apesar das divergentes opiniões acerca da possibilidade de determinar ditas responsabilidades por crimes de guerra, finalmente, o Tratado de Versalhes, seguindo parcialmente as recomendações formuladas pela Comissão na parte sétima, relativa às “Sanções”, estatuiu que “as potências aliadas e associadas acusam publicamente Guilherme II por ofensas supremas contra a moral internacional e a santidade sagrada dos tratados”, além de estipular seu julgamento por um tribunal internacional. Por sua vez, os arts. 228 a 230 obrigavam o governo alemão a reconhecer a competência penal das potências aliadas, assim como a entregar os elementos materiais (documentos e dados importantes) e as pessoas acusadas de haver cometido atos contrários às leis e aos costumes da guerra. Tais artigos permitiam, aos Aliados, julgar soldados alemães perante tribunais mistos ou nacionais.

O tratado de Versalhes determinou ainda que os oficiais alemães acusados de violação das leis e dos costumes da guerra deveriam ser julgados em tribunais aliados, mas estes órgãos nunca foram estabelecidos.

Segundo Fernanda Lau Mota Garcia (2016) durante a Segunda Guerra Mundial demonstrou-se que os excessos de ditadores podem colocar em risco as suas populações, a sua própria democracia, bem com outros países a eles ligados. Diante desse fato surgiu a necessidade de criação de um tribunal internacional penal que punisse os crimes cometidos contra a humanidade, podendo assim ser evitada as impunidades.

Cardoso (2012) salienta que em de 1943, os Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética denunciaram os massacres realizados pelos nazistas, sendo que estes iam ser

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punidos por decisão conjunta dos aliados, com a vitória, estes países juntamente com a França, em agosto de 1945, firmaram a Carta do Tribunal de Nurembergue, com a finalidade de julgar e punir os indivíduos responsáveis pelas barbaridades cometidas na Segunda Guerra Mundial. Em janeiro de 1946, foi aprovada pelo Comandante Supremo das Forças Aliadas no Extremo Oriente a Carta do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, o qual é conhecido como o Tribunal de Tóquio, o qual não é fruto de tratados internacionais.

Nas palavras de Cretela Neto (2008) além de tipificar e categorizar os crimes em crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, a Carta de Nurembergue fala acerca da responsabilidade individual, o que ajudou a reforçar o entendimento de que o Direito Internacional deveria atribuir a titularidade de direitos e deveres inclusive as pessoas, e não somente aos Estados. Por este tribunal ter começado a afirmar a responsabilidade penal internacional dos indivíduos foi considerado por vários como um divisor de águas na evolução do ordenamento jurídico internacional.

Também antecederam o Tribunal Penal Internacional os tribunais ad hoc para a ex-Iugoslávia, e para a Ruanda, criados na década de 90 pelo Conselho Nacional de Segurança da ONU, os quais serviam para processar e julgar os crimes ocorridos nestes locais no século XX.

Aduz Lima e Brina (2006)que em 1995, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou um Comitê Preparatório com a finalidade de criar um anteprojeto para um tribunal penal internacional de caráter permanente. No último dia das negociações, em julho de 1998, foi aprovado o Estatuto, com o voto favorável de 120 delegações, 21 abstenções e entrou em vigência na metade do ano de 2002.

Damasceno e Silva (2016) relatam que o Tribunal Penal Internacional tem sua sede na cidade Haia, na Holanda, sendo que este é um tribunal permanente e sua jurisdição é de caráter mundial, sendo que tem competência para processar e julgar os indivíduos por graves violações dos direitos humanos em patamar internacional, sendo que possui personalidade jurídica para exercer suas funções internacionalmente, bem como capacidade para isso.

O Tribunal Penal Internacional foi criado primeiramente para julgar os crimes de guerra praticados nos territórios da ex-Iugoslávia e Ruanda:

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Neste sentido Hee Moon Jo (2004, p. 381) ensina que:

O conflito na antiga Iugoslávia, em 1993, onde ocorreram crimes contra a humanidade e genocídio sob a forma de “limpeza étnica”, definitivamente chamou a atenção da sociedade internacional para a necessidade da criação de um tribunal penal internacional. O Conselho de Segurança da ONU criou, então, um Tribunal Criminal Internacional ad hoc para a antiga Iugoslávia. Enquanto isto, a CDI acelerou a preparação do projeto do estatuto para um tribunal penal internacional, e o entregou, em 1994, à Assembléia Geral da ONU. Em dezembro de 1995, a Assembléia Geral constituiu o Comitê Preparatório sobre o Estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional, visando à preparação de um texto consolidado para posterior discussão em uma Conferência Diplomática. Finalmente, a Assembléia Geral convocou a Conferência Diplomática dos Plenipotenciários das Nações Unidas sobre o Estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional. Esta Conferência realizou-se durante os 15 dias e 17 de julho de 1998, em Roma, Itália, resultando na adoção do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI). A criação do Tribunal Penal Internacional representa um enorme avanço na proteção dos direitos humanos, definitivamente como sujeitos de deveres internacionais, o que dispõe o artigo 25 do Estatuto:

1. O Tribunal terá jurisdição sobre pessoas naturais, de acordo com o presente Estatuto.

2. Uma pessoa que cometer um crime sob jurisdição do Tribunal será individualmente responsável e passível de pena em conformidade com o presente Estatuto.

O TPI é instituição permanente, ou seja, não tem sua atuação restrita a crimes ou conflitos determinados, como os tribunais internacionais ad hoc, mas atuação permanente contra as impunidades em âmbito internacional pela pratica de graves violações dos direitos humanos e que muitas vezes permanecem impunes por causa da proteção de jurisdição nacional.

Nas palavras de Cretela Neto (2008, p. 212):

A primeira razão para se criar um tribunal internacional permanente em matéria penal, bem como mecanismos que permitam processar indivíduos acusados da prática de crimes internacionais, é a exigência inafastável de que não se deve esquecer as mais graves atrocidades cometidas contra integrantes do gênero humano, as quais representam violações que chegam a negar a própria essência da dignidade humana. A comunidade internacional tem o dever de civilidade perante as vítimas das atrocidades e perante as gerações futuras: preferir a justiça ao esquecimento, uma justiça equitativa e imparcial.

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Conforme disposto na citação acima, as violações aos direitos dos seres humanos jamais deverá ficar na impunidade, devendo estes crimes, serem julgados de uma forma justa, não tendo parcialidade no julgamento, para que as grandes atrocidades não fiquem esquecidas no tempo.

2.1 Estrutura, Procedimento e Princípios 2.1.1 Estrutura

Segundo Portela (2010) o artigo 36 do Estatuto de Roma descreve os órgãos de composição do TPI, que são: Presidência; Câmaras; Assembleia dos Estados-parte; Secretaria ou Registro e Promotoria. A Presidência é composta por dezoito juízes do Tribunal, sendo um presidente e dois vice-presidentes, eleitos pela maioria absoluta de votos, pela administração de todos os demais órgãos, exceto a Promotoria. Já as Câmaras são os órgãos judiciais responsáveis pela aplicação da lei ao caso concreto, e são divididas em: Câmara de Questões Preliminares ou Pré-Julgamento; Câmara de Julgamento e Câmara de Recurso.

Nas palavras de Portela (2010, p. 424):

O TPI é composto por dezoito juízes, que devem reunir os requisitos necessários para o exercício das mais altas funções nos Judiciários dos respectivos Estados, dominar uma das línguas de trabalho da corte (francês ou inglês) e ter reconhecido competência e experiência em matérias de alçada do Tribunal, como o Direito Penal e o Direito Processual Penal ou o Direito Internacional, o Direito Humanitário e os Direitos Humanos. Na seleção dos magistrados, deve estar garantida uma equitativa representação geográfica e dos principais sistemas jurídicos do mundo, bem como de mulheres. Por fim, deve ser assegurada a presença de juízes especializados em determinadas matérias incluindo, entre outras, a violência contra mulheres ou crianças.

Segundo Cretella Neto (2008) a Promotoria é um órgão independente do Tribunal, sua principal tarefa é exercitar, privativamente, a ação penal perante o TPI, além de comandar as investigações nos limites do Estatuto e receber informações sobre crimes de competência do Tribunal. Nos termos do artigo 42 do Estatuto, a administração da Procuradoria cabe ao Procurador-Geral, que conta com a ajuda dos Procuradores-adjuntos, para um período de nove anos, em regime de dedicação exclusiva. Ainda, no quadro funcional os assessores jurídicos e investigadores nomeados pelo Procurador-Geral.

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No mesmo sentido dispões Portela (2010, p. 424):

O procurador também é eleito pelos Estados-parte do Estatuto. É competente para receber e recolher informações sobre atos de competência do Tribunal, abrir inquéritos, com autorização do Juízo de Instrução, e para conduzi-los, bem como para promover a ação penal. Deve atuar de forma independente, não devendo receber nem instruções nem ordens de pessoas estranhas ao TPI ou de seu Estatuto de origem.

Lima e Brina (2006) referem que a Secretária ou Registro é responsável pelas questões não judiciais do funcionamento e administração do Tribunal, o secretário principal é eleito com a maioria dos votos dos juízes, sendo necessário preencher alguns requisitos com ter idoneidade moral, grande competência e ter conhecimento de uma língua de trabalho do tribunal. Ao Secretário compete à criação de uma “Unidade de Apoio às Vítimas e Testemunhas”, a qual protegerá as vítimas e testemunhas do Tribunal Penal Internacional. A secretária não é um órgão autônomo, pois tem sua função exercida na presidência do Tribunal, o secretario juntamente com o promotor escolherão os funcionários das repartições e ainda os investigadores.

Neste mesmo sentido explica Eneida Orbage de Britto Taquary (2011, p. 184):

A secretaria da Corte está encarregada de executar os atos referentes à administração do Tribunal sob as ordens do presidente e sob sua fiscalização. O secretário, juntamente com o promotor fará a seleção e nomeará os funcionários a serem lotados nas respectivas repartições, inclusive os investigadores.

Ainda segundo Lima e Brina (2006) dispõem que a Assembleia dos Estados-parte esta prevista no artigo 112 do Estatuto, sendo que esta não faz parte estritamente da estrutura do Tribunal Penal Internacional, sendo que a assembleia é formada por todos os países ratificadores do Estatuto de Roma, e assemelha-se muito com a Organização das Nações Unidas (ONU) tem função de fixar diretrizes a serem seguidas no contexto internacional e do sistema penal internacional, bem como analisar os orçamentos; examinar o porque da não-cooperação dos Estados partes; e promover à escolha do Promotor e dos Juízes e estabelecer regras administrativas de cunho gerais.

Segundo Gasparin Jr. (2009) há três tipos de câmaras no Tribunal Penal Internacional, as quais são: a Câmara de Questões Preliminares, composta pela Primeiro Presidente e mais seis juízes; a Câmara de Julgamento, formada pelo Segundo

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Vice-Presidente e mais cinco juízes e Câmara de Apelação, pelo Vice-Presidente e por outros quatro juízes.

No próximo tópico será abordado o procedimento, descrevendo como se inicia e se desenvolvem os casos no Tribunal Penal Internacional.

2.1.2 Procedimento

Serão considerados iniciados os julgamentos no Tribunal Penal Internacional quando houver a solicitação de um Estado que faça parte do Estatuto de Roma, por iniciativa do procurador ou pelo Conselho de segurança da ONU, nos próximos parágrafos explica-se detalhadamente como se da cada passo do procedimento.

Portela (2010) fala sobre o artigo 13 do Estatuto de Roma que dispõe como se da o início de um caso perante o Tribunal Penal Internacional o qual poderá se dar de 03 formas, por denúncia de um Estado-Parte, por denúncia do Conselho de Segurança, ou pela iniciativa de ofício do Procurador. Em todos esses casos, é o Procurador que avalia se é necessário levar adiante o caso, o que releva a independência deste órgão no exercício da sua função perante a Corte, afastado mesmo das políticas do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas - ONU.

Ainda, nos casos que o Procurador abre investigação ou a denúncia é feita por um Estado-membro, há necessidade de se comprovar que o país em que o fato ocorreu, seja signatário do Tratado ou aceite sua jurisdição ad hoc. Já quando a denúncia partir do Conselho de Segurança, a investigação não está condicionada a este requisito, conforme dispõe o artigo 12 do Tratado:

1. É constituída, pelo presente instrumento, uma Assembléia dos Estados Partes. Cada um dos Estados Partes nela disporá de um representante, que poderá ser coadjuvado por substitutos e assessores. Outros Estados signatários do Estatuto ou da Ata Final poderão participar nos trabalhos da Assembléia na qualidade de observadores.[...]

7. Cada um dos Estados Partes disporá de um voto. Todos os esforços deverão ser envidados para que as decisões da Assembléia e da Mesa sejam adotadas por consenso. Se tal não for possível, e a menos que o Estatuto estabeleça em contrário:

a) As decisões sobre as questões de fundo serão tomadas por maioria de dois terços dos membros presentes e votantes, sob a condição que a maioria absoluta dos Estados Partes constitua quorum para o escrutínio;

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b) As decisões sobre as questões de procedimento serão tomadas por maioria simples dos Estados Partes presentes e votantes.

8. O Estado Parte em atraso no pagamento da sua contribuição financeira para as despesas do Tribunal não poderá votar nem na Assembléia nem na Mesa se o total das suas contribuições em atraso igualar ou exceder a soma das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores completos por ele devidos. A Assembléia Geral poderá, no entanto, autorizar o Estado em causa a votar na Assembléia ou na Mesa se ficar provado que a falta de pagamento é devida a circunstâncias alheias ao controle do Estado Parte. [...]

Importante considerar segundo Cretella Neto (2008), no que se refere à admissibilidade de um caso perante a Corte diz respeito à adoção pelo Estatuto do princípio da complementaridade, sendo que sua competência só poderá ser exercida nas situações em que se verifique a incapacidade ou falta de disposição dos Estados-parte de processar os responsáveis pelos crimes previstos pelo Estatuto de Roma.

A abertura de inquérito é dever do órgão acusador se existir base de informações razoável para que isso ocorra, nos casos em que forem denunciantes, ou pela apreciação de ofício pelo Juízo, quando a promoção de arquivamento basear-se em falta de interesse de justiça, consoante art. 53, § 3°. Poderá reunir e examinar provas, celebrar acordos com Estados ou ONG´s, convocar e interrogar pessoas, dentre outras permissões arroladas no art. 54, § 3°. Não há dúvidas que assim deve ser quanto à independência de atuação do órgão de acusação, característica essa imprescindível no processo que vise à proteção dos jurisdicionados.

Neste mesmo contexto sobre como se da o julgamento no Tribunal penal Internacional cabe salientar o primeiro caso julgado por este tribunal, o qual teve seu inicio segundo Aline Pinheiro (2012) no ano de 2001, tendo como réu o congolês Thomas Lubanga Dyilo, o qual foi acusado de recrutar crianças para lutar em conflitos étnicos no Congo. As investigações duraram cerca de seis anos.

Este julgamento estava sendo aguardado desde o ano de 2010, mas houve alguns conflitos entre juízes e a promotoria do Tribunal Penal Internacional, sendo esse o motivo da demora na conclusão do processo. O conflito existente era que a câmara de julgamentos disse que o réu deveria ter acesso a provas importantes. Sendo que neste tribunal a promotoria, conforme descrito neste trabalho, é o órgão responsável pelas investigações, devendo este determinar as provas na apresentação da denúncia. Os juízes acreditavam que a promotoria estava omitindo provas importantes para a defesa de Lubanga, quando Luis Moreno-Ocampo,

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promotor-chefe, não quis mostrar as provas houve a paralização do processo pelos juízes, e disseram que Lubanda deveria ser solto. Apenas quando a Câmara de Apelações do tribunal interferiu este conflito foi solucionado, voltando assim, o processo a “andar”.

A Sentença deste caso saiu em 14 de março de 2012, tendo este julgamento entrado para a história como sendo o primeiro do Tribunal Penal Internacional, 10 anos depois da sua criação.

2.1.3 Princípios

Lima e Brina (2006) dispõem que os princípios são importantes para todos os sistemas, pois estes na falta de lei expressa tem a finalidade de orientar o julgador na construção de uma base legal a determinados casos.

Cabe ressaltar os principais princípios do direito internacional penal, estabelecidos nos artigos 22 a 33 do Estatuto de Roma, os quais são: princípio da responsabilidade penal internacional individual, princípio da complementaridade, princípio da legalidade, princípio do ne bis in idem, princípio da irretroatividade e da imprescritibilidade e princípio da irrelevância da função oficial.

2.1.3.1 Princípio da responsabilidade penal internacional individual

Segundo Enrique Ricardo Lewandowski (2002)o “princípio da responsabilidade penal individual, é o qual o indivíduo responde pessoalmente por seus atos, sem prejuízo da responsabilidade do Estado”. Este princípio é fundamental para a jurisdição penal, uma vez que sem ele os responsáveis pelos crimes ficariam sem punição.

Lima e Brina (2006) descrevem em sua obra que os indivíduos são submetidos à jurisdição do Estado o qual vivem. Portanto, se intende que as violações de normas internacionais eram julgadas e punidas pelas autoridades competentes do Estado aonde os atos ilícitos haviam sido praticados, mais isso somente era feito se as autoridades do Estado estivem autorizadas a fazer conforme a norma nacional e se estivessem avido a fazer. Se por acaso o Estado não fizesse, o país o qual a vítima faz parte poderia apenas protestar

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internacionalmente a punição do criminoso pelo Estado competente para isso ou pelo pagamento de uma compensação, não poderia outro Estado imputar uma pena ao criminoso.

Luiza Starling de Carvalho e Priscilla Clementino Araújo (2016, p. 1) referem que: O Estatuto de Roma, em seu artigo 25, atribuiu consequências internacionais aos atos delitivos da pessoa individualmente considerada, na medida em que torna o Tribunal apto a responsabilizar individualmente aquele que comete um dos crimes de sua competência. É importante ressaltar, com base no artigo 30 do mesmo Estatuto, que em todas as hipóteses desse artigo 25, só haverá processo e punição pelo crime se a pessoa atuar com vontade de cometê-lo e se houver conhecimento dos seus elementos materiais40. Está presente no artigo 28, por sua vez, a responsabilidade dos chefes militares e outros superiores hierárquicos, estabelecendo que esses serão criminalmente responsabilizados no caso de crimes da competência do Tribunal terem sido praticados por forças sob o seu comando e controle efetivos ou sob sua autoridade e controle efetivos, conforme o caso.

Garcia (2012)dispõe que este princípio foi adotado pelo Estatuto de Roma, mas este vem da doutrina desenvolvida no século XIX pelo liberalismo individualista, pelo fato da tipicidade dos atos criminosos, onde se dizia que cada crime constitui uma individualidade única, por isso, se o crime ao qual o individuo esta sendo acusado não se encaixar claramente na definição legal, não pode o intérprete recorrer de analogia. Dessa forma o artigo 22, do Estatuto não somente reconhece a proibição da analogia na interpretação de normas definidoras de crimes, como ainda acrescenta a regra do in dubio pro reo, ou seja, se houver dúvida na hora da aplicação da penalidade ao individuo, devera em qualquer caso, ser aplicada a mais beneficia ao acusado.

Lima e Brina (2006) retrata que a consagração do presente princípio atribuiu consequências internacionais aos atos ilícitos individuais das pessoas, o que representa uma das maiores virtudes do Estatuto de Roma. Outrossim, o artigo 25 do mesmo diploma legal manifesta a colocação do principio da responsabilidade penal internacional individual em seu texto, declarando o Tribunal Internacional Penal como sendo o competente para julgar as pessoas singulares, significando que aquele que cometer crime de competência do presente tribunal será considerado individualmente responsável. Ainda, o artigo 28, retrata a responsabilidade dos chefes militares e outros superiores hierárquicos, estabelecendo que pessoas que atuem como chefes militares, serão responsáveis criminalmente pelos crimes de competência do Tribunal que tenham sido cometidos por conta de seu comando e controlo efetivo.

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2.1.3.2 Principio da complementariedade e jurisdição universal

Gasparin Jr (2009), o princípio da complementariedade é um dos mais importantes do Estatuto de Roma. E tem como finalidade assegurar que o Tribunal Penal Internacional exerça o papel que lhe é atribuído sem intervir nos demais sistemas jurídicos nacionais. Ao contrário dos tribunais ad hoc, que são concorrentes e tem vantagem sobre as cortes nacionais, o Tribunal Penal Internacional tem caráter notável e complementar e somente será aplicado aos crimes de grande gravidade nele definidos (jurisdição ratione materiae-que é fixada em virtude da natureza da infração) os quais são: o crime de genocídio; crimes de guerra e o crime de agressão; crimes contra a humanidade.

Lima e Brina (2006)estabelecem que de acordo com o Estatuto de Roma, o Tribunal Penal Internacional somente poderá exercer sua função jurisdição se o Estado em que o crime está sendo processado se mostrar incapaz ou desejoso ou ainda, quando o caso for de muita gravidade a qual justifique a atuação do Tribunal. O presente princípio baseia-se no sentido de que o Tribunal não substitui os tribunais nacionais, sendo que só atuará subsidiariamente aos tribunais nacionais, sendo que estes tem prioridade no exercício da jurisdição.

O presente princípio esta disposto no artigo 1º do Estatuto de Roma:

É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto. Conforme disposto no artigo citado acima o tribunal penal internacional não irá substituir os tribunais nacionais e sim complementa-los, sendo que julgará os crimes de imensa gravidade internacional quando, conforme já descrito acima, os tribunais nacionais não forem capazes de julgar os indivíduos de uma forma justa e competente.

Ainda segundo Lima e Brina (2006), se destaca que é no Estado onde ocorreu o crime que se encontra as provas necessárias para as investigações e o julgamento, diminuindo, assim, custos de deslocamento para países mais distantes a procura de provas torna o processo muito oneroso. Outro fundamento é se manter as soberanias estatais, sendo que foi por esse motivo que houve uma maior aceitação dos Estados do Estatuto, quando os Estados-partes

Referências

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