A inauguração do Centro Cultural do Bom Jardim aconteceu em dezembro de
2008, como equipamento do Governo do Estado do Ceará, vinculado à Secretaria de Cultura.
O local é gerido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), também responsável pelo
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu
Sobrinho. Como citado anteriormente, o espaço surgiu dentro de um contexto em políticas
culturais voltadas para descentralização da cultura. As influências políticas na administração
pública foram sendo conduzidas, desde a década de 1970, para a democratização da arte,
propagação de cidadania, desenvolvimento humano e econômico. Rita Davies esclarece o
reconhecimento da cultura como investimento para o futuro das cidades:
O reconhecimento do poderoso impacto econômico da cultura é um marco significativo no caminho que percorremos em nossa cidade e até onde chegamos. Da cultura como um capricho ao qual podíamos nos entregar nos bons momentos e cortar nos maus, da cultura considerada mera preocupação da elite ou preocupação individual a hoje onde a cultura está onde deve estar, no verdadeiro centro da construção urbana – porque ela é o coração pulsante da nova cidade (DAVIES, 2008, p. 71).
A partir das reuniões organizadas pela secretária de cultura Claúdia Leitão, a ideia
de construir cinco Centros culturais, um em cada regional da cidade, foi sendo amadurecida
na gestão do governador Lúcio Alcântara. Por dificuldades administrativas e fatores diversos,
apenas um Centro foi construído, o primeiro. A regional V foi escolhida para abrigar este
primeiro e único Centro por possuir, entre seus limites territoriais, o bairro com o menor
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade na época: o Bom Jardim. Aqui
retomamos a questão acerca da cultura para gerar o desenvolvimento, a visão industrial que
foi sendo construída na evolução das políticas públicas voltadas à cultura. Uma questão
primordial na discussão entre objetivo do Governo e a demanda da população, dos produtores
de cultura locais, dos artistas. Os interesses, produções e mobilizações da comunidade foram
analisados?
Através da Pesquisa Cartográfica da Criminalidade e da Violência na cidade de
Fortaleza realizada pelo Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética (Labvida) e
também pelo Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência (Covio), ambos da
Universidade Estadual do Ceará, e o Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da
Universidade Federal do Ceará, entre 2007 e 2009, podemos traçar um perfil da Regional V ,
assim como mostrar alguns índices que justifiquem sua imagem de região violenta.
A Secretaria Executiva Regional V (SER V) é composta por 18 bairros
10e possui
21,1% da população de Fortaleza. É a Regional mais populosa, mas também a mais pobre da
capital, com rendimentos médios de 3,07 salários mínimos. O Bom Jardim, por exemplo, teve
sua população duplicada na década de 1990, passando de 15.857 (1991) para 34.507 (2000)
habitantes.
A SER V também é uma das regionais mais jovens: 44% da população têm até 20
anos. É ainda a parte da cidade com o segundo maior índice de analfabetismo (17, 83%),
inferior apenas ao registrado pela Regional VI. Sua principal atividade econômica é o
comércio, mas concentra apenas 2,89% dos empregos formais de Fortaleza. A taxa de acesso
à rede de esgoto é a pior entre as VI regionais, com 24,56%.
De acordo com a pesquisa, o índice de desenvolvimento humano municipal
(IDHM-B) contempla três indicadores: média de anos de estudo do chefe da família, taxa de
alfabetização e renda média do chefe de família (em salários mínimos). Quanto mais próximo
do número 1, melhor. Na Regional, os piores IDHM-B são: Parque Presidente Vargas (0,377),
Siqueira (0,377) e Genibaú (0,378). O Bom Jardim obteve uma média de 0,403. Na Regional,
a Maraponga aparece com a melhor média (0,572).
Devemos pensar à cultura como binário interligado à educação, como citado no
primeiro capítulo através das ideias de Calabre (2010), portanto também é necessário
analisarmos suas estatísticas. Na educação, em dados de 2006, a Regional V possuía 158.267
alunos matriculados e distribuídos em 42 escolas estaduais, 87 escolas municipais e 175
escolas privadas. Já na saúde, a região é atendida por dois hospitais e 18 Unidades Básicas de
Saúde. A Regional possui um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, na
Maraponga, um Centro de Atenção Psicossocial Geral, no Bom Jardim, oito Centros de
Referência de Assistência Social, três unidades de Proteção Social Básica e um conselho
tutelar, com sede no Conjunto Ceará.
Na parte de Cultura e Lazer, a pesquisa apenas refere-se a três Vilas Olímpicas, o
Centro Cultural do Bom Jardim e o Mini-Museu Firmeza, no Mondubim. A Regional V
também conta, no que diz respeito à sociedade civil, com quatro organizações não-
governamentais (ONGs), 14 projetos sociais e duas Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público (Oscips).
Levando em consideração que a violência é definida como todo ato de coação,
envolvendo um ou vários atores que produz efeito sobre a integridade física ou moral das
pessoas, a pesquisa traça comparativos relativos aos bairros da regional. Em relação à
quantidade de homicídios, em 2009, o Bom Jardim era o bairro com o maior número de
incidências. Na cartilha oferecida pela Regional com os resultados da pesquisa, a Secretaria
defende:
[...] o crescimento da criminalidade e da violência aumenta a insegurança e a instabilidade, contribuindo para a cultura do medo. Se a violência gera o medo, o medo gera também mais violência, criando um círculo perigoso que reforça os esteriótipos, as barreiras sociais, os preconceitos e a não-aceitação das diferenças socioculturais.