• Nenhum resultado encontrado

A escolha dos métodos utilizados veio com a identificação e com a adequação ao

tema em estudo. Para iniciar o pensamento de pesquisar teatro, tomo como fundamentação a

citação de Esther Suárez (1988), referenciada por André Carreira (2006):

Tanto a arte quanto a ciência respondem sempre às condições histórico-concretas da vida da sociedade. Estão determinadas pelo Estado e o caráter das relações de produção (...) Isto determina a existência de uma estreita relação entre o reflexo artístico que se traduz em imagens artísticas, e o pensamento científico, que o faz em conceitos, categoria e leis. Tanto o pensamento artístico como o científico refletem o mundo do objetivo e se desenvolvem com a prática social (CARREIRA, 2006, p. 12).

Carreira vê a produção de conhecimento no teatro como a troca entre artistas,

espectadores e estudiosos, onde a complexidade de possibilidades no teatro, a busca por algo

que escapa e seduz, é o que atrai o olhar do pesquisador. Essa atração pelas problematizações

do teatro, principalmente tratando de recepção e apropriação da arte e seus espaços, esbarra na

dúvida em como conseguir captar a vivência de quem usufrui.

Para Edélcio Mostaço (2006), estudar a recepção na teatralidade envolve três

direções de manifestação: a experiência vivida, a análise e a reconstituição do texto

espetacular. Sobre a primeira das manifestações, ao analisar a recepção de espetáculos, ele

discorre o seguinte:

Na primeira camada surge a importância cada vez maior dos testemunhos, das memórias, das entrevistas ou depoimentos, colhidos no calor da hora e sob o impacto da experiência fenomênica que mobilizou parcelas expressivas das sensações, afetividade e imaginário do espectador, numa pletora de estímulos que o açambarcam (MOSTAÇO, 2006, p. 125).

Percebemos a importância do escutar o outro e compartilhar com ele a experiência

teatral. “Afinal, o teatro não é apenas um local para o olhar, mas também para o contato e para

a escuta” (MOSTAÇO, 2006, p. 125). O autor analisa o estudo em recepção como uma

experiência narratológica, apoiada em subjetividades, em que a partir da experiência e troca

com o outro, há uma análise e a composição do texto científico.

Vendo o teatro como comunicação, podemos encaixar a pesquisa dentro dos

estudos culturais e da análise de recepção. Refletir sobre estudos culturais significa pensar nas

atividades sociais dependentes do processo de construção de sentido.

Não se constituindo em uma disciplina, mas em um campo de cruzamentos de diversas disciplinas, os estudos culturais permitem a combinação da pesquisa textual com a social, na medida em que recuperam a acepção estruturalista sobre a relativa autonomia das formas culturais, situando-as num contexto de forças diversas, bem como do culturalismo, o valor da experiência dos sujeitos para a mudança social (JACKS; ESCOSTEGUY, 2005, p. 38).

Nilda Jacks e Ana Carolina Escosteguy (2005) discutem a relação entre

comunicação e recepção traçando um paralelo entre conteúdo e natureza de pesquisa. O

estudo é influenciado, para as autoras, pelo tema que, no caso, pertence às ciências humanas e

deve levar em consideração a noção de comunidades interpretativas para fundamentar as

teorias na estrutura social e na subjetividade. A comunidade interpretativa entende que as

formas culturais, tomadas como expressões populares, formam a identidade cultural e social

de grupos diferenciados.

Quanto à análise de recepção, proposta por Jensen e Rosengren (1990), combinando análise-com-interpretação (modelo originado nos estudos literários) com a concepção de que cultura e comunicação são discursos socialmente situados (vinda dos estudos culturais), desenvolve uma leitura comparativa do discurso da mídia e da audiência para entender o processo de recepção. Para capturar o discurso da audiência são utilizadas, em geral, entrevistas em profundidade e observação participante, cujas evidências são comparadas com a estrutura do conteúdo dos meios, podendo assim indicar como um gênero ou tema particulares são assimilados por um grupo específico (JACKS; ESCOSTEGUY, 2005, p.45).

Essas características da pesquisa enquadram-se na descrição de pesquisa

qualitativa de Michael Angrosino (2009). Dentro de algumas maneiras que o autor propõe

para realização deste tipo de pesquisa estão: Análise da experiência de indivíduos ou grupos,

com base no conhecimento ou relatos; exame de interações e comunicações que estejam se

desenvolvendo, com base na observação, e investigação de documentos.

Angrosino também destaca alguns dos motivos, que considero relevante para este

estudo, pelo qual o pesquisador escolhe a pesquisa qualitativa: o interesse pelo acesso a

experiências, interações e documentos em seu contexto natural; os conceitos são definidos no

processo de pesquisa; os métodos e as teorias são adequados àquilo que se estuda; a

importância da presença do pesquisador em campo e a sua reflexão sobre o que está

estudando; leva em consideração o contexto; a importância das notas de campo, transcrições

até descrições e interpretações.

Para discutir melhor os métodos a serem utilizados na pesquisa com o CCBJ,

saliento a descoberta, dentro dos estudos para a preparação do projeto de pesquisa, da

etnografia. Muito utilizado em pesquisas na sociologia, este método caracteriza-se pela

pesquisa de campo e na personalização para “descrever um grupo humano – suas instituições,

seus comportamentos interpessoais, suas produções materiais e suas crenças” (ANGROSINO,

2009, p. 30). Dentre os princípios comuns que ligam posições diversas sobre etnografia,

Angrosino destaca:

Uma busca de modelos começa com observações cuidadosas de comportamentos vividos e entrevistas detalhadas com gente da comunidade em estudo. Quando os etnógrafos falam de “cultura”, ou “sociedade”, ou “comunidade”, é importante ter em mente que eles estão falando em termos que são abstrações gerais baseadas em numerosas informações que fazem sentido para o etnógrafo que tem uma visão panorâmica global do todo social ou cultural que as pessoas que nele vivem podem não ter (ANGROSINO, 2009, p. 30)

Partindo da colocação que uma pesquisa etnográfica baseia-se na observação

participante, entrevistas e estudo em arquivo, ressalto a importância que Angrosino dá à

observação como processo gradual que envolve fatores como acesso à comunidade, tomada

de notas, discernimento de padrões, dentre outros. A combinação com as outras técnicas

garante mais confiabilidade e atenuam a visão do observador.

Em relação à combinação de técnicas, ainda destaco, para este trabalho, uma

colocação de Angrosino sobre entrevista: “A entrevista etnográfica é portanto de natureza

aberta – flui interativamente na conversa e acomoda digressões que podem bem abrir rotas de

investigações novas, inicialmente não aventuradas pelo pesquisador” (ANGROSINO, 2009,

p. 62). Assim, percebemos que a entrevista é espontânea e pode guiar os rumos do processo.

A partir do exposto, essa pesquisa qualitativa baseia-se na observação

participante, com caráter etnográfico, fundamentado por visitas ao Centro Cultural do Bom

Jardim, suas descrições, e entrevistas com administração, funcionários e público. Interligando

as idéias de Carreira (2006) e Mostaço (2006) em relação à pesquisa na área teatral, destaca-

se a influência das condições da vida em sociedade durante o processo de análise e a

importância de se captar a experiência fenomênica do teatro a fim de entender as sensações

proporcionadas no momento.

Documentos relacionados