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CAPÍTULO 4 – A inserção de netbooks e o PID

4.1 A inserção dos netbooks e da lousa digital na escola

referem ao nosso primeiro objetivo específico: Analisar a inserção dos netbooks e da lousa digital na escola e as condições do contexto, as adaptações e as mudanças encontradas.

Nesse eixo, buscaremos interpretar não apenas as falas dos professores, mas também suas atitudes em relação às mudanças e adaptações necessárias para a inserção dos netbooks e da lousa digital na escola onde

atuam. O que desejamos é compreender como eles reagem diante dessas inovações, quais os sentimentos que afloram e as ações que geram.

Quando perguntamos aos professores regulares, tanto nas entrevistas, quanto nos questionários e mesmo nas conversas ao longo das observações, sobre as mudanças propostas para o PID para o ano letivo de 2011, o que foi mais lembrado por esses profissionais foram as mudanças relacionadas à questão física e adaptativa.

Como, por exemplo, a inauguração da sala de informática dentro da própria unidade escolar, o que segundo Medeiros (2008) era uma das reivindicações dos professores em anos anteriores.

Outro item muito indicado foi a utilização dos netbooks e da lousa digital nas aulas do Programa, o que os professores indicam como fator positivo, por serem meios mais atuais e adequados à demanda dos alunos. No entanto, cabe aqui refletir se o fato de serem recursos mais modernos ou inovadores é suficiente para caracterizar uma mudança positiva.

Concordamos que meios mais sofisticados podem possibilitar condições ensino-aprendizagem diferentes, se houver, paralelamente a sua implantação cursos de formação para os profissionais terem condições de usufruírem de todo seu potencial. Caso contrário, cai-se no que Valente (1993) coloca como argumentos otimistas e superficiais para defender a inserção das TDICs no processo educativo.

Outro aspecto que os docentes destacam como mudança proposta para o ano letivo de 2011 reside no fato de todos os alunos participarem de uma única vez da aula do PID. Nas entrevistas, todos apontam essa condição como uma mudança positiva, P1, por exemplo, diz:

Hoje está muito melhor, nós temos um computador para cada aluno, esse ano o PID está acontecendo em uma sala apropriada, com lousa digital, um computador por aluno, está excelente.

Contudo, nas conversas durante as observações e também nas entrevistas, os informantes P1 e P2 disseram que “perdiam menos tempo de aula quando a turma era dividida”. Os participantes justificam sua avaliação afirmando que com a divisão da turma podia continuar o trabalho com os que ficavam na sala de aula regular.

Nota-se aqui algumas contradições no próprio discurso: ora os professores afirmam que veem o PID de forma positiva e como um Programa legítimo, ora demonstram posturas que contradizem o seu discurso.

Outra afirmação comum a todos os participantes que corrobora nossa análise é o fato de todos os informantes entrevistados P1, P2, P3 e P5 indicarem, em suas entrevistas e também nos questionários, que as aulas do PID não atrapalham sua rotina semanal, visto que, como sabem que fazem parte das atividades semanais se programam incluindo o horário da inclusão digital.

Todavia, ao mesmo tempo em que fazem tal afirmação indicam que se a turma fosse dividida, como era antes, o trabalho na sala de aula andaria mais depressa. A informante P4, que autorizou somente a utilização dos dados coletados nos dias de observação, também concorda que a divisão dos alunos para a aula do PID era melhor, dado que, segundo a informante, “com isso perdiam menos tempo de conteúdo a ser trabalhado, já que as avaliações externas obrigam os professores a trabalhar muitos conteúdos.”.

Ora, se as aulas do PID não atrapalham a rotina semanal, e é um aspecto positivo que todos os alunos frequentem simultaneamente a aula do Programa, como podem os mesmos professores afirmarem que nos moldes anteriores eles perdiam menos tempo de aula?

A nosso ver, tal situação traduz que os professores vendem um discurso que não compraram (MARCELO & VAILLANT, 2009), para os autores em muitas situações os professores dizem acreditar em determinada corrente pedagógica, ou defendem determinadas políticas educacionais sem terem de fato tomado conhecimento sobre o que estão falando, em outras palavras podemos dizer que os professores reproduzem os modismos pedagógicos sem de fato terem sistematizado suas opiniões e, assim, vendem um discurso que não compraram.

Cabe aqui lembrar que o PID é um programa que foi inserido nas escolas pela SME sem que os professores realmente tivessem compreendido e aceitado sua importância. Em consequência, afirmam para nós, que estamos realizando uma investigação sobre tal programa, que ele é sim legítimo e

válido, pois nós somos um elemento estranho na escola e os professores tem receio de que sua fala possa vir a prejudicá-los futuramente.

Ao longo do processo investigativo, esses profissionais dão fortes indícios, deixando transparecer até mesmo em suas falas, que a realidade da aceitação do PID não é tão verdadeira como demonstram inicialmente, mas como é um Programa apoiado pela SME, a crítica ou a não aceitação acontece de forma velada, em ações que não condizem com o discurso, por exemplo.

Como dissemos, com base no trabalho de Medeiros (2008) os professores desejavam que as aulas do PID acontecessem em salas da própria escola, ao invés de acontecer no laboratório de informática das Escolas do Futuro. Esse desejo se tornou realidade na escola em que desenvolvemos nossa pesquisa. Para além do laboratório de informática a escola foi equipada com a lousa digital, netbooks e acesso a internet sem fio.

As inovações permitem que o trabalho aconteça com todos os alunos simultaneamente, aumentando o tempo de contato das crianças com a tecnologia. Agora, ao invés de uma hora semanal as crianças passam a ter duas horas semanais de aulas de Inclusão Digital.

Contudo, para 80% dos nossos informantes (P1, P2, P3 e P4) essa não é uma mudanças vista como positiva, já que esses docentes veem o fato de toda a sala ir simultaneamente para a sala de informática como fator que, de alguma maneira, prejudica o andamento do trabalho em sala de aula, ou nas palavras de um dos participantes, como “perda de tempo para trabalhar com o conteúdo” P2.

Com base nisso, podemos sinalizar, de acordo com Valente (2002a), que esses professores não legitimam os momentos de utilização das TDICs, no caso as aulas do PID, como momentos de aprendizagens para seus alunos. Por isso, apesar de salientarem as mudanças estruturais como o uso dos netbooks, ao invés dos computadores de mesa, e instalação da lousa digital, como progresso em relação ao que se tinha na estrutura anterior esses docentes afirmam que seria mais proveitoso o PID acontecer com a classe fracionada ou no horário inverso da aula.

Em pesquisa anterior (LEMES, 2009), também constatamos essa postura entre os professores participantes. Com base em nossas leituras,

acreditamos que essa atitude por parte dos participantes se deve à falta de compreensão da verdadeira importância da formação para o uso da TDICs (BELLONI, 2005).

Com base nessa realidade, corroboramos o pensamento de autores como Valente (2002a), Tedesco (2004), Lima (2007), entre outros pesquisadores, que defendem que a realidade de uso das Tecnologias na educação só mudará quando os professores tiverem uma concepção positiva dessa utilização, ao invés de as verem como concorrentes, como em nossa pesquisa.

Para tanto, defendemos em consonância com Belloni (2002; 2005) e Lima (2007) que é basilar investir em formação docente, tanto inicial quanto continuada, porque defendemos que são os professores os verdadeiros agentes da educação. Assim sendo, são esses os profissionais que podem colocar em prática as mudanças. Caso contrário, teremos como diz Valente (1993), a utilização de novos recursos para a mesma prática pedagógica.

Na realidade do município de São Carlos – SP, temos escolas equipadas com aparelhos de última geração, em uma sala de informática adequada. Todavia, os professores não legitimam as aulas do PID como momento de real aprendizagem. Diante do que foi dito, acreditamos que se os docentes regulares tivessem um conhecimento verdadeiro acerca da importância da educação para o uso crítico e consciente das Tecnologias esse posicionamento seria diferente.

4.2 O PID E AS NOVAS POSSIBILIDADES NO PROCESSO DE ENSINO-