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3.4 Mecanismos de controle como expressão de violência nas organizações

3.4.2 A institucionalização da violência nas organizações hipermodernas

violência remete a uma crescente vulnerabilização dos trabalhadores, que está diretamente ligada a problemas estruturais e, até mesmo, à falta de consciência dos trabalhadores de sua exploração.

Os altos níveis de desemprego estrutural, a fragmentação, individualização da classe trabalhadora, causada em grande medida pela competição, instabilidade e superficialidade que rege as relações sociais estabelecidas pela era da flexibilidade, dificulta e inviabiliza a luta dos trabalhadores e de seus sindicatos contra a exploração de sua força de trabalho. Como afirma Bourdieu (1998, p.148-149),

“A instituição prática de um modo darwiniano que encontra as molas de adesão na insegurança em relação à tarefa e à empresa, no sofrimento e no estresse, não poderia certamente ter sucesso completo, caso não contasse com a cumplicidade de trabalhadores a braços com condições precárias de vida produzidas pela insegurança bem como pela existência – em todos os níveis da hierarquia, e até nos mais elevados, sobretudo entre os executivos – de um exército de reserva de mão de obra docilizada pela precarização e pela ameaça permanente de desemprego. O fundamento último de toda essa ordem econômica sob a chancela invocada da liberdade dos indivíduos é efetivamente a violência estrutural do desemprego, da precariedade e do medo inspirado pela ameaça de demissão: a condição do funcionamento “harmonioso” do modelo microeconômico individualista e o princípio da “motivação” individual para o trabalho residem, em última análise, num fenômeno de massa, qual seja, a existência do exercito de reserva dos desempregados. Nem se trata a rigor de um exército, pois o desemprego isola, atomiza, individualiza, desmobiliza e rompe com a solidariedade.”

Dessa forma, fica claro como alguns problemas estruturais causados pelo próprio regime de acumulação flexível auxilia as organizações a submeterem os indivíduos à sua exploração. No entanto, não são apenas a

individualização causada pela flexibilização do compromisso mútuo citado por Sennet (1999) e a violência estrutural, descrita acima por Bourdieu, que garantem a falta de articulação da classe-que-vive-do-trabalho10, mas o

alinhamento destas condições a uma dominação extremamente sutil e à banalização da exploração.

De acordo com Antunes (1999), a sujeição do ser que trabalha sob o modo de gestão toyotista é de maior intensidade, pois é mais consensual envolvente e participativa; em verdade mais manipulatória. Isto porque a forma de produção flexibilizada busca que os trabalhadores assumam o objetivo organizacional, através do:

envolvimento manipulatório levado ao limite, em que o capital busca

o consentimento e a adesão dos trabalhadores, no interior das empresas, para viabilizar um projeto que é aquele desenhado e concebido segundo seus fundamentos exclusivos. Trata-se de uma forma de alienação ou estranhamento que, diferenciando-se do despotismo fordista, leva a uma interiorização ainda mais profunda do ideário do capital, avançado no processo de expropriação do savoir faire do trabalho.” (Antunes, 2000, p. 190)

Envolvidos no ideário organizacional, os indivíduos passam a aceitar e reproduzir os valores dos objetivos de lucro e expansão das organizações (competição, consumismo, individualismo) e tolerar situações de exploração e violência como se fosse algo normal, sobre as quais eles não têm domínio, contra as quais eles têm, cada vez menos, possibilidades de lutar.

10 Inclui todos aqueles e aquelas que vendem sua força de trabalho em troca de salário,

incorporando, além do proletariado industrial, os assalariados do setor de serviços, também o proletariado rural que, vende sua força de trabalho para o capital. Essa noção incorpora o proletariado precarizado, o subproletariado moderno, (...) os trabalhadores assalariados da “economia informal”, (...) os trabalhadores desempregados, expulsos do processo produtivo e do mercado de trabalho pela reestruturação do capital e que hipertrofiam o exército industrial de reserva na fase da expansão de desemprego estrutural. (Antunes, 2000, p. 103-104).

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O processo de pesquisa é entendido como a forma de gerar conhecimento científico (Alencar, 1999). Mas para que o conhecimento possa ser considerado científico, torna-se necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação. Ou seja, determinar o método e as ferramentas que possibilitaram chegar a esse conhecimento (Gil, 1994).

Assim, a descrição dos procedimentos do pesquisador para encontrar o que ele acredita que pode ser conhecido (Alencar, 1999) é uma etapa importante no relatório da pesquisa. Afinal, em trabalhos acadêmicos, o rigor de um estudo está associado, sobretudo, ao registro detalhado e à comunicação dos métodos utilizados para se chegar a determinado resultado. Nos próximos tópicos serão expostos a abordagem metodológica e os métodos que foram utilizados a fim de alcançar os objetivos propostos na pesquisa.

Como o objetivo da pesquisa foi estudar as políticas e práticas de gestão de pessoas em uma organização bancária, entendendo-as como mecanismos de controle e como possíveis formas de violência contra o trabalhador optou-se por utilizar a pesquisa qualitativa. Esse tipo de pesquisa é uma abordagem metodológica que tem raízes na antropologia, na sociologia, mas que nos últimos quarenta anos começou a ganhar espaço em outras áreas, como na administração (Godoy, 1995). É empregada, ainda de acordo com a autora, quando o pesquisador utiliza o ambiente natural como fonte direta de dados, considerando que todos os dados da realidade são importantes e devem ser analisados, assim como as perspectivas dos atores sociais.

Nesse sentido, um método de pesquisa adequado e relevante para o desenvolvimento de uma investigação qualitativa é o estudo de caso (Gil, 1994), principalmente, porque esse método está voltado para estudos de cenários sociais específicos, nos quais interações e ações são desenvolvidas (Alencar,

1999). De acordo com Bogdan (1994), o estudo de caso consiste numa observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou de um acontecimento específico. Ainda, conforme Godoy (1995), tem como propósito analisar profundamente uma dada unidade social.

Para Yin (2001), o estudo de caso é uma forma de se fazer pesquisa empírica investigando fenômenos contemporâneos complexos dentro de seu contexto de vida real, em situações em que as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidas, no qual pode-se utilizar múltiplas formas de evidência para chegar a se conhecer o caso com profundidade.

Nesta pesquisa, a unidade estudada, foi uma organização bancária. A motivação da escolha do setor financeiro para a pesquisa deveu-se ao fato de que, por ter como objeto principal de seu serviço a movimentação financeira, esse setor tem passado por muitas modernizações, sobretudo em suas relações de trabalho. A instituição, aqui denominada de BNII, a fim de manter seu anonimato, têm unidades em todas as regiões do Brasil. Porém, a escolha de realizar as entrevistas em Salvador, no estado da Bahia, deveu-se por esta ser a região de origem da pesquisadora e por haver um maior número de unidades do banco na capital do Estado. Dos 3.857 funcionários que o BNII possui no Estado da Bahia, aproximadamente 1.000 trabalham na capital.

Para operacionalizar este tipo estudo, de acordo com Godoy (1995), pode-se utilizar uma variedade de dados coletados em diferentes momentos por meio de variadas fontes de informações. Assim, as técnicas que foram utilizadas nesta pesquisa estão descritas nos próximos itens.