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5.2 O controle expresso nas práticas de gestão de pessoas do Banco BNII

5.2.6 Tecnologia

A tecnologia tem desempenhado um importante papel no auxílio a outras políticas de gestão do Banco a exercerem controle sobre seus funcionários. A disponibilização de todos os dados dos funcionários em um sistema eletrônico, por exemplo, permite a obtenção de qualquer informação sobre o funcionário (dados pessoais, tempo de serviço, escolaridade, quantidade de horas treinadas, nota nas avaliações de desempenho, cumprimento de metas) em qualquer momento.

Nesse sentido, o sistema que fornece informações para o ranqueamento do TAO, permite que os funcionários, principalmente aqueles situados em níveis hierárquicos superiores, tenham acesso a informações precisas e atuais sobre seus subordinados. Isso possibilita que a organização exerça um maior controle sobre seus membros, pois, munida de informações precisas e disponíveis a qualquer momento, há uma facilitação do monitoramento.

De forma mais direta, a tecnologia possibilita a vigilância do ritmo de trabalho, dos gestos, postura dos funcionários do BNII através de câmeras, do acesso aos sistemas e do ponto eletrônico. Isso corrobora com as idéias de Townley (1993) e Souto & Silva (2005) de que a tecnologia exerce controle sobre as pessoas, pois, permite assisti-las sem que estas tenham a possibilidade de saber se estão sendo vigiadas.

Nesse sentido, a vigilância exercida pela tecnologia, principalmente através de câmeras e acesso aos sistemas, de acordo com as idéias de Pagès et al.(1987), se configura como exercício de controle político do BNII sobre seus funcionários. Afinal, o não conhecimento de como, onde e quando estão sendo vigiados induz os funcionários a um estado constante de visibilidade e, assim, tendem a comportar-se da forma desejada pela empresa.

Dentre os sistemas eletrônicos existentes no Banco, o mais comentado pelos entrevistados foi o ponto eletrônico. Nesse sistema, o funcionário registra

o início do seu horário de trabalho ao inserir sua matrícula quando inicia as suas atividades na empresa. Após, a jornada diária, no caso dos escriturários seis e dos comissionados oito horas, o sistema “sai do ar”. Ou seja, não é possível que o funcionário realize qualquer operação no sistema, a não ser que o superior hierárquico do funcionário libere para que ele continue trabalhando.

Dentro das agências, esse sistema abrange funcionários que exercem a função de escriturários e de cargos comissionados. O ponto eletrônico era uma demanda dos funcionários em um período em que estes trabalhavam muito além do horário de trabalho e não recebiam por isso. Dessa forma, muitos funcionários consideram o ponto eletrônico uma conquista:

Não, o ponto eletrônico é uma conquista... Eu acho que é uma conquista, por que já... era comum você trabalhar fora... eh... do... do... da sua jornada e não receber por ela. (Escriturária, 6 anos de banco).

Compartilhando dessa opinião, alguns administradores de agência falam que gostariam que suas funções também possuíssem ponto eletrônico. Como pode ser percebido nesse trecho de entrevista de uma Administradora de agência que trabalha no Banco há 19 anos: “É uma coisa [ponto eletrônico] maravilhosa

que inventaram, tomara que chegue logo pra gerente [de agência]”.

No entanto, alguns entrevistados não concordam que o sistema seja uma conquista, mas afirmam que foi uma política estrategicamente implantada pelo Banco, pois, o ponto eletrônico controla os horários de entrada e saída dos funcionários, mas não impede que os funcionários façam horas-extras sem receber por elas. Afinal, ainda de acordo com os entrevistados, alguns trabalhos podem ser realizados sem, necessariamente, a utilização do sistema informatizado, ou seja, mesmo depois de encerrado o ponto.

“Caiu seu ponto, tem coisa pra assinar, você vai lá falar com a gerência... você ta trabalhando ou não? não é? Você está trabalhando. Você vai dar um telefonema pro seu cliente: “-Olha o seu cartão chegou, o seu limite foi isso, e tal tal tal, amanhã vou implantar.” Você tá trabalhando. Mas não tá no ponto”. (Escriturário, 4 anos de Banco).

A partir do depoimento é possível depreender que o ponto eletrônico controla política e psicologicamente os funcionários do BNII. De acordo com Pagès et al.(1987), ao utilizar uma política para garantir que os indivíduos respeitem e reproduzam suas diretrizes, a empresa os está controlando politicamente. E é justamente isso que ocorre com o sistema de ponto, pois por meio deste o Banco faz com que seus funcionários inconscientemente acelerem seu ritmo de trabalho para que possam realizar suas atividades durante sua jornada, mesmo sendo elas excessivas.

Quando declara que “Você tá trabalhando. Mas não tá no ponto”, o escriturário deixa subentendido que o ponto eletrônico não cumpre seu papel de garantir que as horas-extras trabalhadas sejam pagas pelo Banco. No entanto, ele não questiona o sistema. Isso está muito relacionado ao fato de que a empresa sempre se refere à implantação do ponto eletrônico como uma reivindicação do funcionalismo que ela atendeu. Investindo massivamente nessa idéia, a empresa favorece a criação de uma imagem positiva ao seu respeito pelos seus membros e, ainda, leva-os a comprometerem-se com o sistema de ponto eletrônico e não questioná-lo. Dessa forma, segundo as idéias de Pagès et al.(1987), o ponto eletrônico está sendo utilizado pelo BNII para exercer também controle psicológico sobre seus membros.

A relação feita entre a evolução da tecnologia e conseqüente demissão de bancários, de certa forma, leva o funcionário a alinhar seu comportamento ao desejado pelo Banco, pelo medo de perder seu emprego. Afinal, a cada inovação tecnológica que chega às agências e aos órgãos internos do Banco, diminui a necessidade de mão-de-obra e, mesmo que inconscientemente, os funcionários

sabem que os eleitos a permanecerem na empresa são os mais alinhados às suas diretrizes:

“Então, o banco hoje, quem está entrando no banco hoje, está entrando numa empresa que teoricamente está pra ser enxugada até o máximo possível; e que a perspectiva de crescimento é muito pequena”.

(Escriturário, 4 anos de banco).

“... com a automação da tecnologia, hoje, as agências do banco têm cinco, seis funcionários hoje, quando eu entrei, aqui, eram trinta ...e cria aquelas enormes filas e ele [o banco] reduz, pode ver ele reduz mesmo o número de caixa.”(Sindicalista, 3).

Dessa forma, a política de investimento em modernização tecnológica do BNII reforça o exercício do controle político através do psicológico, conforme discutido por Pagès et al. (1987), sobre seus funcionários, pois o medo e a angústia de ser demitido, numa possível redução de mão-de-obra viabilizada pelo avanço da tecnologia, leva os funcionários do Banco a reproduzirem as diretrizes organizacionais.

Partindo do pressuposto de que a tecnologia não é neutra, pode-se perceber que ela possibilita que o BNII exerça os controles político e psicológico. Afinal, ele garante o respeito às suas diretrizes, através da possibilidade de vigilância constante de sistemas eletrônicos, câmeras, ponto eletrônico; divulgação que o sistema de ponto eletrônico é uma conquista dos funcionários, pois assim estes se comprometem com o sistema e não o questionam; e, investimento em modernização tecnológica, que transmite para o indivíduo um sentimento de ameaça ao seu emprego.