• Nenhum resultado encontrado

2. TRAJECTÓRIAS IDENTITÁRIAS EM ENFERMAGEM

2.6. A INSUPORTÁVEL AMBIVALÊNCIA IDENTITÁRIA

Neste princípio de milénio as transformações operadas na última década do século XX aprofundaram-se. A empresarialização das organizações de saúde generalizou-se (Lei nº 27/2002, de 8 de Novembro), os vínculos laborais precarizaram-se, os contextos de actuação dos enfermeiros expandiram-se muito para além dos hospitais e centros de saúde. Numa sociedade concebida como um mercado, a

competência do profissional, encarada como mercadoria que o próprio deve saber negociar e provar como necessária e útil, tornou-se uma mais-valia a ser negociada com as empresas o que, acompanhado com a desvalorização dos diplomas académicos, impõe aos sujeitos individuais a obrigação de, em permanência, se actualizarem revelando-se à altura dos desafios que uma saúde cada vez mais mercadorizada exige.

Canário (2006) salienta de que modo as mudanças paradigmáticas na educação tendem a rodar o eixo da sua finalidade de uma educação global do individuo, numa perspectiva emancipatória de acordo com as propostas do Movimento da Educação Permanente, para se centrarem no conceito de empregabilidade que tende a gerir os percursos de formação tendo em vista formar “empresários de si”.

“A individualização da educação tem como finalidade produzir “empresários de si” disciplinados (Lawn, 2005). Esta ideia foi muito claramente corroborada por François Audiguier, na sua conferência em sessão plenária, quando sublinhou que num mundo dominado por uma racionalidade económica em que reina o conceito de “empregabilidade” o sentimento de pertença se define por relação com um mercado mundial e deixa de se definir pela pertença a uma comunidade política.” (Canário, 2006, p.32)

Estas mudanças no paradigma da formação fazem-se sentir igualmente nos percursos que os profissionais são convidados a trilhar ao longo da sua vida profissional.

A formação contínua, que já vinha desde a década anterior a ser fortemente investida, vê agora ser reforçada na lei a formação em serviço. A proposta do novo Modelo de Desenvolvimento Profissional proposto pela Ordem dos Enfermeiros, que tem sido contestado pelas escolas de enfermagem, procura responder às novas necessidades de um mercado que cada vez é mais exigente e mais centrado nas competências do que no papel prescrito. Este modelo devolve às instituições, sobretudo hospitalares e centros de saúde, a responsabilidade pela formação profissional dos enfermeiros com base no desenvolvimento de competências especializadas em contexto de trabalho.

A implementação do processo de Bolonha no Ensino de Enfermagem conduziu à criação de uma situação de excepção, com um 1º ciclo de 4 anos para conferir competências para o inicio da profissão e um 2º ciclo a que corresponde o título de mestre com uma vocação especializante. A implementação de Bolonha acabou por fazer retroceder a valorização da formação inicial dos enfermeiros ao situar a preparação para o início da profissão ao nível do 1º ciclo, o que tem sido fortemente condenado pela Ordem dos Enfermeiros que defende que apenas no final do 2º ciclo estes devem estar aptos a iniciar funções, dado o elevado grau de complexidade de que, consideram, se reveste hoje o exercício da enfermagem.

Paralelamente, os enfermeiros investem no prolongamento dos estudos e o número que detém o grau de mestre e de doutor cresce, anualmente, de forma significativa. De acordo com a Ordem dos Enfermeiros, cerca de 15% dos enfermeiros têm formação pós-graduada. Milhares de enfermeiros em todo o país frequentaram os cursos de Complemento de Formação em Enfermagem para adquirirem o grau de licenciados, restando actualmente apenas cerca de 27% com o grau de bacharel. As três Universidades que em Portugal conferem o grau de Doutor em Enfermagem continuam a ter candidatos em nº superior às vagas que disponibilizam. A produção científica cresceu vertiginosamente. O aumento da escolaridade dos enfermeiros alcançou o grau mais elevado da carreira académica.

As críticas ao ensino de Enfermagem não pararam de crescer e a literatura especializada internacional reporta-se em coro a este problema. O ensino das teorias de enfermagem é descrito como sendo subsidiário numa disciplina do curso:

“Pese embora a importância que lhes deve ser atribuída, as concepções de enfermagem, são um saber que apenas é discutido na escola, na temática «tendências de enfermagem», que os enfermeiros entendem como a filosofia de enfermagem, como algo incompatível com a prática, com a realidade dos cuidados em saúde” (Fernandes, 2007, p. 6)

Também os desafios apresentados pelas novas realidades sociais e epidemiológicas resultantes, entre outros factores, do aumento da esperança de vida, e o consequente agravamento de doenças crónicas e incapacitantes são os aspectos

referidos como estando na origem das reformas que atravessam a saúde.

A lógica de organização em rede efectiva-se com a criação de estruturas que se articulam entre si, a par com uma oferta de cuidados concebidos agora de acordo com a gravidade e evolução expectável da situação da pessoa. A Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados é um bom exemplo:

“Esta Rede pretende avançar num sistema de prestações, adaptadas às necessidades do cidadão e centradas no utente, onde este possa aceder aos cuidados necessários, no tempo e locais certos, pelo prestador mais adequado”. (Lei nº 101/2006).

A transformação do hospital em centro de intervenção na crise é acompanhada pela transferência da sua missão assistencial para as famílias, comunidades e para o conjunto de novos serviços criados em parceria com os mais variados sectores. Os hospitais assumem a responsabilidade, através das “equipas de gestão de altas”, onde os enfermeiros participam, de projectar a continuidade dos cuidados e a transferência para os serviços capacitados para responder às suas necessidades em cuidados de saúde. Os maiores parceiros, nem sempre voluntários neste processo, acabam por ser as famílias.

Os enfermeiros adoptam nestas novas estruturas funções que supõem um elevado grau de autonomia, na medida em que o seu trabalho comporta, nestes contextos, para além de uma função no âmbito dos “cuidados de reparação”, um importante desenvolvimento no âmbito dos cuidados de acompanhamento e suporte à pessoa e família.

Por outro lado, os cuidados no pré-hospitalar adquirem relevância com os investimentos que têm vindo a ser feitos neste âmbito, com a organização de uma rede nacional (centro de orientação de doentes urgentes) e com a proliferação de cursos que pretendem preparar técnicos para intervir em situações de emergência e urgência, substituindo os enfermeiros.

Nalguns hospitais criaram-se equipas móveis que cobrem as insuficiências em termos de prestação de cuidados. O conjunto de perícias técnicas que dominam e que

devem executar com rigor reforçam a antiga função de auxiliar do médico agora com maior autonomia, na medida em que os saberes que as fundamentam fazem parte do seu corpus de conhecimentos. A cooperação é fundamental para o sucesso da intervenção, e a preparação do enfermeiro permite-lhe antecipar sequências de procedimentos, muito embora, a tomada de decisão caiba teoricamente ao médico. A sua intervenção é valorizada por via da sua capacidade de intervir nas situações de crise, antecipando muitas das prescrições, que frequentemente são feitas posteriormente. Todo o trabalho de acompanhamento da pessoa no processo de saúde, que constitui preocupação de muitos enfermeiros, não tem qualquer visibilidade nos estudos sobre qualidade dos cuidados.

O abandono da missão assistencial do hospital reforça a missão de tratamento e investigação. Os enfermeiros continuam a investir nos conhecimentos associados à função de cura e aos cuidados de reparação, que ganham uma importância crescente num contexto que se encaminha para especializar a sua intervenção na e sobre a pessoa em fase de doença aguda. Os saberes oriundos da medicina alcançam uma dimensão significativa e tendem a constituir-se como objecto de estudo privilegiado. Os cuidados direccionados para uma relação privilegiada com o corpo, que Hesbeen (1997), considera não poder ser negligenciada, são parcialmente delegados nas auxiliares de acção médica. São os cuidados associados à cura que conquistam maior visibilidade social apesar de serem os que permanecem mais dependentes da medicina e do médico.

Todo este conjunto de estruturas que se diversificam preconiza o acompanhamento da pessoa desde o momento de crise aguda até a sua autonomização máxima. Também a reforma nos cuidados de saúde primários com a criação das Unidades de Saúde Familiar (USF) reforça uma abordagem centrada na pessoa e na integralidade dos cuidados que lhe são prestados, a par com a de promoção da saúde e de prevenção da doença.

Ao nível dos cuidados de saúde primários os cuidados de reparação expandem-se com a transferência de pessoas em situações de convalescença, de doenças de

evolução prolongada ou terminal, que necessitam de cuidados diferenciados e ou continuados durante períodos mais ou menos longos. Nestes contextos, as funções dos enfermeiros perdem em grande parte o carácter prescrito. As competências comunicacionais desenvolvem-se a par com o domínio de um conjunto de competências instrumentais, tradicionalmente associadas aos cuidados de reparação praticados nos hospitais, ao mesmo tempo que a função de gestão de casos adquire particular relevância. A função de gestão de situações ganha relevância num quadro em que o trabalho em rede e a participação multiprofissional se estruturam numa aposta de congregação de esforços em torno da pessoa. Os projectos de intervenção comunitária exigem a criação de redes multi-profissionais, obrigando a uma negociação efectiva dos campos de intervenção com outros profissionais. A relação com o doente torna-se objecto de reflexão pela exigência de um público mais bem informado.

Como já foi referido, com a reestruturação dos serviços de saúde, as famílias e as comunidades assumem responsabilidades acrescidas no cuidado e suporte aos seus familiares. O trabalho de apoio e ensino adquire aqui uma importância particular e os enfermeiros assumem-no como um campo de intervenção primordial. O seu espaço de autonomia ganha dimensão por via do investimento na interacção com o outro no quadro de uma relação que mobiliza, não só o profissional, como a pessoa que o habita.

Neste contexto, a relação com o enfermeiro e os cuidados que este presta decorrem do juízo crítico e do diagnóstico que este faz em termos da capacidade autonómica da pessoa e das necessidades de suporte nesse âmbito. Sendo um espaço de intervenção autónoma por excelência que se encontra em franca expansão, não colhe a valorização esperada. Menos visíveis e mais difíceis de objectivar em indicadores, as competências do domínio comunicacional, que mobilizam a pessoa do profissional, são suspeitas de falta de cientificidade. Os resultados que produzem não são também facilmente traduzidos em ganhos evidentes em saúde.

centros de saúde e nas comunidades, onde estes vão pouco a pouco assumindo o poder de definir com o cliente (ou o doente) as suas necessidades em termos de cuidados de saúde e de o encaminhar para os diferentes sectores. Este poder de “gatekeeper”, de gerar clientes directos, a que Freidson (1984) faz referência, começa a desenhar-se no âmbito dos cuidados continuados e na intervenção comunitária, onde a relação enfermeiro doente/cliente se autonomiza da resposta institucional estrita e se desenvolve em torno do acompanhamento de um percurso de recuperação da doença e de promoção da saúde. O aumento da informação sobre saúde com o crescente acesso à internet contribui para um incremento na capacitação das pessoas, que se tornam também parceiros mais exigentes ao nível das respostas que esperam da saúde. A sua capacidade de fazer escolhas sobre as formas de tratamento afirma-as como parceiros no processo de tomada de decisão e os profissionais são forçados a aprender a negociar e a explicitar melhor a sua intervenção. O papel passivo e paciente, que durante muitos anos foi estimulado, é agora contrariado com a exigência de que cada um deve assumir a responsabilidade de promover e manter a sua saúde, através da assumpção de um conjunto de comportamentos saudáveis. Os grupos de auto-ajuda e as associações de apoio aos doentes e famílias crescem. Muitos profissionais de saúde integram e participam activamente nestes movimentos.

Estas mudanças nos modos de trabalhar dos enfermeiros, que expandem a sua participação a vários sectores, são acompanhadas de um conjunto muito significativo de alterações ao nível da situação da enfermagem na sociedade com implicações no seu reconhecimento e valorização social que merecem uma atenção particular. Do ponto de vista da profissão a nova carreira de enfermagem aponta no seu documento preliminar, produzido pelo Ministério da Saúde e que se encontra actualmente em discussão, que “a carreira especial de enfermagem organiza-se por

áreas de exercício profissional e de cuidados de saúde, nomeadamente as áreas hospitalar e de saúde pública, bem como de cuidados primários, continuados e na comunidade”, retomando a definição das áreas de actuação a partir dos contextos de

intervenção dos enfermeiros e ao mesmo tempo confirma que “a natureza da

prestação de cuidados de enfermagem, pela sua especificidade, conteúdo funcional e independência técnica, não permite a sua absorção em carreira geral e impõe a criação de uma carreira especial”. A preocupação em conservar o estatuto de corpo

especial, confirma-se com a luta pela sua manutenção.

Nesta última década assistiu-se ainda a um aumento significativo do número de enfermeiros e, pela primeira vez, à emergência de desemprego entre estes profissionais. Entre 2000 e 2008 os enfermeiros passam de 37487 para 54822. Este crescimento deveria cobrir as enormes lacunas cronicamente existentes nos serviços, o que acompanhado do aumento de instituições de saúde, quer ao nível do privado, quer nas novas estruturas nas comunidades, deveria absorver o aumento de recém- formados. No entanto, assiste-se ao crescimento do desemprego.

Simultaneamente, surgem na imprensa protestos de enfermeiros que acusam as direcções de estarem a reduzir o número de profissionais pondo em causa a qualidade dos cuidados prestados, brotam ofertas formativas para auxiliares de enfermagem (categoria inexistente), e delegam-se nas auxiliares de acção médica muitas das funções ligadas aos cuidados ao corpo. Também nas comunidades surgem os cuidadores informais e as auxiliares familiares que assumem a função de cuidar directamente do corpo doente, deixando para as enfermeiras os cuidados ligados aos tratamentos da doença e à gestão dos casos. Coyler, em 2003, chama a atenção para o problema que se verifica em Inglaterra com a tendência crescente de reduzir os enfermeiros, substituindo-os por um conjunto de profissionais menos diferenciados e por isso, menos dispendiosos, como forma de conter as despesas no sector da saúde.

As relações de trabalho perdem força de vinculação às instituições onde se generalizam os contratos precários, provocando instabilidade na composição das equipas que se confrontam nalguns casos com a grande mobilidade de profissionais. Ao nível dos Hospitais as equipas de enfermagem sofrem grandes variações, e muitos enfermeiros chefes queixam-se dos jovens que procuram os hospitais centrais para

ganhar experiência e mal conseguem colocação próximo da sua cidade de origem abandonam os serviços gerando uma instabilidade até há pouco tempo inabitual. O projecto pessoal de construção de si como profissional com um percurso individual parece ganhar uma dimensão que não existia. O enfermeiro trabalhava num hospital no serviço em que a direcção de enfermagem decidia e durante o período de tempo que esta considerava benéfico para a instituição.

As novas preocupações da Ordem direccionam-se para a necessidade de assegurar dotações seguras, de modo a garantir a qualidade dos cuidados prestados que consideram ameaçados com as novas políticas de gestão, que têm vindo a reduzir o número de enfermeiros nos serviços.

A realização de estudos que confirmem a relevância dos cuidados prestados pelos enfermeiros cresce na Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália, onde parece verificar-se uma tendência generalizada para substituir as enfermeiras por pessoas com menos qualificações. Os cuidados directos ao corpo, e ao ambiente circundante tendem a ser transferidos para outros, cabendo aos enfermeiros uma função de supervisão dessas práticas no âmbito da gestão de casos.

A questão das transferências de competências surge como uma fonte de conflitos e de negociações com outros grupos profissionais. Um bom exemplo foi a posição da Ordem dos Enfermeiros contra a administração de vacinas nas farmácias, sob o pretexto de que só os enfermeiros sabem como actuar no caso de ocorrer algum incidente com a sua administração. A defesa das fronteiras da profissão sobe de tom no que se reporta às áreas associadas às técnicas de enfermagem, ao mesmo tempo que se reclama o reconhecimento do alargamento da esfera de competências da enfermagem sobretudo nas zonas de confluência com a medicina. A possibilidade de prescrever medicação e de assumir maiores responsabilidades no tratamento da doença, já em curso nalguns países, é reclamada por muitos enfermeiros portugueses.

As relações entre os profissionais modificam-se não só no hospital como ao nível dos cuidados de saúde primários de que são exemplo as equipas das Unidades de Saúde

Familiar (USF). Estas últimas constituíram-se com base na vontade individual de as integrar e a partir do reconhecimento dos pares que se escolheram entre si para formar uma equipa. A obrigação de apresentar resultados contratualizados pela equipa no seu conjunto torna cada um responsável pela sua observância e retira à relação hierárquica vertical possibilidade de intervir directamente sobre a actividade quotidiana dos seus subordinados. A possibilidade de desenvolver uma identidade de projecto de acordo com a designação de Castells (1997) ou segundo a tipologia de Dubar (2006), numa forma narrativa decorre da necessidade de redefinir a sua posição na família das profissões de saúde com recurso a projectos cujo significado subjectivo é construído com os pares que se constituem como um “Nós” próximo e significativo. Não se pretende associar linearmente o modelo organizativo das USF ou de outras estruturas no âmbito da saúde, ao modo como se desenvolvem os processos identitários. Contudo, não podemos esquecer que a “realidade concreta do indivíduo constitui a matéria-prima incontornável da identificação” como defende Kaufmann (2004, p.38) e que a sua transformação, na qual os sujeitos participam, favorece a construção de subjectividades sob o olhar dos outros, que têm como referência, actualmente, a obrigação de resultados, sem que os significados estejam previamente definidos pelas instâncias superiores. Os significados da acção são construídos localmente em situação, entre quem presta e quem recebe cuidados, abrindo-se caminho à heterogeneidade de sentidos.

Por um lado, as “fontes de significado” no campo da saúde têm vindo a transformar- se a todos os níveis desde o nível epistemológico, ao cultural, social, institucional etc., o que desafia as famílias de profissões que tendem a ajustar-se entre si na recriação de ofertas de cuidados, na clarificação de territórios e no estabelecimento de novas fronteiras. De modo extremo podemos considerar que uns procuram delimitar espaços e reforçar as defesas e outros estabelecer pontes e criar convergências convivendo com a fluidez da zona cinzenta sem angústia.

Por outro lado, as profissões, nomeadamente a enfermagem, perdem coesão ao nível dos modos de conceptualizar a própria profissão apesar do reforço dos

mecanismos de regulação produzidos pela Ordem dos Enfermeiros como o Regulamento de Exercício Profissional em Enfermagem, o perfil de competências dos Enfermeiros de Cuidados Gerais e, mais recentemente, o esforço de clarificação do perfil de competências do Enfermeiro Especialista.

A tradição de desvalorização da experiência, associada a um contexto profissional burocrático, prescritivo, rotinizado e encerrado num ritmo de trabalho violento, onde o que se esperava do enfermeiro esteve durante muitos anos associado mais à vocação que se traduzia no desenvolvimento de uma personalidade tipificada de acordo com a moral cristã, do que ao desenvolvimento de uma conhecimento sistematizável e partilhável, socialmente reconhecido como útil, contribuiu para manter a subalternidade do conhecimento em enfermagem. A hipersocialização dos enfermeiros nos contextos de trabalho impedia a criação da distância necessária à construção de olhares críticos exteriores às lógicas vigentes, à problematização das situações. Com a fragmentação dos serviços, a diversificação das lógicas, a fragilização dos vínculos laborais e a responsabilização crescente dos indivíduos, contribuiu-se para o instalar de uma distância face aos contextos que se traduz pela

Documentos relacionados