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Sexualidade II: o uso dos prazeres Rio de Janeiro: Graal, 1984a, p 14.

II. A BIOPOLÍTICA COMO PARADIGMA DE GOVERNO

II.II. A INTELIGIBILIDADE DA BIOPOLÍTICA NO NASCIMENTO DO LIBERALISMO

compreendido segundo a racionalidade econômica por meio da condução das subjetividades.

II.II. A INTELIGIBILIDADE DA BIOPOLÍTICA NO NASCIMENTO DO LIBERALISMO

A leitura do curso Nascimento da Biopolítica pode frustrar um leitor mais engajado do pensamento foucaultiano, pois em pouco mais de quatrocentas páginas a menção ao conceito de biopolítica é raramente evocada.144 Citaremos duas razões para

essa atitude. A primeira delas encontra-se declaradamente amparada na recusa, por parte de Foucault, em reduzir todo o conjunto de problematizações e métodos por ele estruturado a uma teoria do poder.145

144FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

145Muitos são os intelectuais que ainda insistem em classificar o pensamento foucaultiano dentro daquilo que ele recusou ao longo de toda sua trajetória intelectual e militante: os jogos de identidade. Esses intelectuais argumentam que o pensamento foucaultiano, influenciado pelas ideias de Nietzsche e Heidegger procura desconstruir um sistema epistemológico moderno inaugurando uma outra possibilidade de se problematizar as relações entre a subjetividade e o poder por meio de uma articulação da genealogia dos efeitos discursivos e das próprias relações de poder. Como se o pensamento foucaultiano fosse reduzido a uma dura crítica aos modos de sujeição presentes em discursos e práticas. Ver mais detalhes dessas leituras em: HABERMAS, 2000. BUTLER, 2003.

Desta forma podemos recolher os indicativos dessa perspectiva ao retomarmos um trecho do ensaio O Sujeito e o Poder no qual Foucault adverte-nos que

É verdade que me envolvi bastante com a questão do poder. Pareceu-me que, enquanto o sujeito humano é colocado em relações de produção e de significação, é igualmente colocado em relações de poder muito complexas. Ora, pareceu-me que a história e a teoria econômica forneciam um bom instrumento para a relações de produção e que a linguística e a semiótica ofereciam instrumentos para estudar as relações de significação; porém, para as relações de poder, não temos instrumentos de trabalho. O único recurso que temos são os modos de pensar o poder com base nos modelos legais, isto é: o que legitima o poder? Ou então, modos de pensar o poder de acordo com um modelo institucional, isto é: o que é o Estado? Era, portanto, necessário estender as dimensões de uma definição de poder se quiséssemos usá-la ao estudar a objetivação do sujeito.146

É justamente a recusa em limitar sua compreensão analítica em torno de uma

teoria do poder que afastará Foucault de qualquer compreensão mais imediatista sobre as dimensões dos jogos de objetivação e de subjetivação. Ou seja, trata-se de pensar os traços fundamentais que ligam tanto as estratégias de saber, quanto as práticas de poder e os processos de subjetivação a partir de uma dinâmica voltada não somente para as problematizações dos dispositivos presentes na nossa sociedade, mas também as condições de possibilidades para a criação de práticas de liberdades, ou seja, modos de vida intensificados por linhas de fuga que colocam sob suspenção o estatuto das identidades e as formas de totalização presentes na nossa sociedade.

Já a segunda razão tem a ver com o projeto de inscrição da biopolítica no horizonte de uma história política da governamentalidade. Ou seja, trata-se de procurar compreender a consolidação de um longo percurso que liga a emergência do poder pastoral a razão de Estado como uma arte específica produzida na sociedade ocidental de gestão das condutas por meio da arte de se governar. Por arte de governo Foucault entende

146No original: Il est vrai que j’ai été amené à m’interesser de près à la question du pouvoir. Il m’est vite

apparu que, si le sujet humain est pris dans des rapports de production et des relation de sens, il est égalament pris dans des relations de pouvoir d’une grande complexité. Or il se trouve que nous disposons, grâce à l’histoire et à la théorie économiques, d’instruments adéquats pour étudier les rapports de production; de même, la linguistique et la sémiotique fournissent des instruments à l’étude des relations de sens. Mais, pour ce qui est des relations de pouvoir, il n’y avait aucun outil défini; nous avions recours à des manières de penser le pouvoir qui s’appuyaient soit sur des modèles juridiques (qu’est-ce légitime le pouvoir?), soit sur des modèles institutionnels (qu’est-ce que l’État?) .FOUCAULT, Michel. The Subject

and Power. In: FOUCAULT, Michel. Dits et Ecrits IV: 1980-1988. (pp. 222-243). Paris: Quarto Gallimard, 1994e, p. 223. Na traduação brasileira: FOUCAULT, Michel. O Sujeito e o Poder. In: DREYFUS, Hubert. RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória filosófica para além do

o conjunto de procedimentos presentes nas diferentes estratégias da biopolítica, compreendida, como prática refletida da busca incessante pela melhor forma de se prescrever o governo dos homens. Nesse sentido, é correto afirmarmos que os diferentes estudos sobre as práticas refletidas de governo, devem ser compreendidas, num primeiro momento, a partir de um horizonte metodológico, cuja finalidade não passa somente pela rejeição, em associar os problemas relacionados ao Estado e suas formas jurídicas e econômicas, mas pela perspectiva de tomar a biopolítica como acontecimento presente na razão de Estado. Por conta desse aspecto, é que o método pensado por Foucault consiste em nos fazer perceber, a leitura analítica da razão de Estado, para além dos

apriori aos quais esse objeto está comumente atrelado. Dessa maneira, podemos estudar a biopolítica, como um modelo de gerenciamento da vida que é correlativo às estruturas habituais de organização e legitimação do Estado, pois a biopolítica nos ensina que, os conceitos de soberania, democracia, justiça e garantias fundamentais podem estar associados as instrumentalizações as quais são provenientes as práticas de governança. Pois, um Estado não depende apenas da sua organização institucional para sua sobrevivência, mas também da construção de modelos gerenciais propostos pelas diferentes práticas que tencionam a administração permanente da vida, já que, como nos lembra Ritter

Na biopolítica há uma relação da vida com o poder, em que se encontram o cuidado com a vida humana e com uma positividade produtiva. Entre os fins desses cuidados está o controle da circulação, que deve propiciar a circulação dentro dos espaços previstos. A eficácia política da soberania encontra-se ligada à qualidade e à intensidade das circulações: das ideias, das vontades e das ordens.147

A biopolítica, nesse sentido, apresenta-se como o ponto de convergência entre um Estado de soberania e uma razão de Estado, entre um Estado dado e um Estado devir. A máquina de guerra é correlativa aos constantes traços voltados para a operacionalização das condutas dos sujeitos. Portanto, a biopolítica configura-se como uma multiplicidade de práticas que nos oportunizam pensar, de acordo com as provocações de Foucault, no nascimento da Modernidade, como a emergência de uma espécie de ontologia da governamentalização do Estado uma vez que, esse aparato, cada vez mais substituirá o

dever fazer pelo dever ser. Dentro de tal contexto, poder-se-ia perguntar: qual a grande

inovação dessa nova tecnologia de governo proposta pela razão de Estado? Segundo Foucault, é a partir do século XVI que, começa a ganhar força, a tese defendida por alguns intelectuais italianos estudiosos da ratio governamental, de que o Estado deveria constituir-se como uma realidade específica e autônoma. De acordo com essa leitura, um governante não deveria mais orientar suas ações em conjunto as regras exteriores ao Estado. Isto é, diferentemente do que ocorrera no poder pastoral – responsável por orientar a conduta das almas com a finalidade de salvar o maior número possível de membros do rebanho – a razão de Estado exercerá seus procedimentos de governo com a finalidade de justificar a existência do Estado em si mesmo não havendo mais, portanto, a obrigação de salvar nada, que não seja o próprio Estado.

A salvação do Estado como elemento fundamental da nossa Modernidade é portanto, um projeto pensado a partir da grade de inteligibilidade da biopolítica e da governamentalidade colocando em evidência certas práticas que formarão o quadro de uma experiência de governo própria a sociedade ocidental e é, justamente tal perspectiva que leva Foucault em o Nascimento da Biopolítica a rastrear os pontos de tensionamentos presentes no interior da constituição do capitalismo. Entretanto, tal procedimento não consiste em proceder uma analítica histórica da ordem econômica moderna, mas sim sublinhar os traços de correlação das experiências de governamentalidades presentes desde o mercantilismo, passando pelo liberalismo e chegando ao neoliberalismo como modos de vida. Em outras palavras, o procedimento elaborado por Foucault, consiste em nos permitir pensar essas escolas não somente como doutrinas econômicas, mas sim entendê-las como fundamento de um governo sobre a vida.

Em relação ao mercantilismo, Foucault aponta que ele é uma das primeiras manifestações de uma experiência ética responsável por pensar os elementos intrínsecos da nova modalidade de governo ilustrada pela razão de Estado, no sentido de deslocar os efeitos da prática política presente, na passagem do século XVI para o século XVII, para uma arte de governo preocupada em ilustrar o Estado não somente como efeito de submissão às leis e às doutrinas jurídicas, mas também pela configuração de uma balança econômica favorável às regras de mercado. A questão consiste em oportunizar uma leitura sobre o mercantilismo como operador metodológico desse Estado governamentalizado e, é justamente em torno de tal característica que, circula o problema central da

governamentalidade: compreender não somente as leis, nem as instituições que oportunizam a sustentação do Estado, mas a maneira como essa maquinaria deve ser gerenciada. De acordo com Carvalho,148 o mercantilismo inaugura a época de um Estado

que, com o passar dos anos, será cada vez menos representado pela figura do Leviatã hobbesiano em nome, de uma nova estrutura cada vez mais próxima de uma grande instituição que deve ser administrada como uma empresa. Isto é, deve ser pensada a partir dos seus fluxos de caixas, auditorias contábeis e sinergia organizacional. Esse é o ponto a ser pensado no contexto de uma correlação entre uma história política da governamentalidade e das biopolíticas, uma vez que, ele problematiza a noção de soberania como estrutura hegemônica para compreender o Estado e suas particularidades pela sua conversão em uma estrutura muito mais porosa que traz à tona uma multiplicidade de procedimentos que fazem parte de uma conjetura tão relevante para o perfeito funcionamento do Estado como os seus dispositivos tradicionais como a polícia, o exército e a escola, por exemplo. Na realidade, o modelo de um Estado governamentalizado proveniente do mercantilismo acaba por ilustrar a presença de um enunciado marcante para a nossa Modernidade, qual seja, a tese de que um governo pode perfeitamente continuar existindo economicamente mesmo sob a tutela da exceção, mas não pode existir sem a manutenção dos procedimentos de governamentalização da vida. Portanto, devemos perceber o modo pelo qual esse gerenciamento estratégico da vida acaba por escapar dos limites estabelecidos pelas tradições sociológicas, políticas e econômicas da nossa sociedade ocidental.149A razão governamental, de acordo com

Foucault, não se ocupará em respeitar os limites impostos pelas narrativas jurídicas e

148CARVALHO, Juliana Maria de Almeida. Poder no Mercantilismo e no Neoliberalismo: uma introdução comparativa sob a luz da intervenção estatal. Revista de Geopolítica. 2(1),137-145,2011.

149É interessante observarmos que o projeto pensado, por Foucault de sublinhar os traços de uma genealogia da biopolítica nos horizontes de uma história política da governamentalidade nos cursos promovidos no

Collège de France como Em Defesa da Sociedade, Segurança, Território, População e o Nascimento da

Biopolítica raramente aprofunda suas reflexões em torno dos textos consagrados à compreensão da formação jurídica e econômica do Estado moderno. Mesmo quando Foucault comenta os chamados

clássicos o faz para problematizar um outro sentido dos regimes das práticas de poder, das estratégias de saber e dos processos de subjetivação. A recusa por Maquiavel, Hobbes, Kant, Smith, Marx e Max Webber se dá por conta de uma opção metodológica da sua genealogia que consiste em operar a desconstrução das únicas maneiras em percebermos as questões fundamentais do nosso tempo presente, o que nos leva a pensar que, o fundamento de uma crítica em relação ao papel do Estado nas nossas vidas necessita ser deslocado dessas esferas tradicionais para percorrer novos horizontes de uma nova forma de pensarmos a política e a nossa própria sociedade.

institucionais. O seu sentido será sempre o de delimitar, por meio de uma espécie de senso

utilitarista aquilo que se deve ou não fazer.

Entretanto, esse senso utilitarista coloca em evidência um outro fundamento presente nas relações entre esse Estado governamentalizado que será constituído pela perspectiva fundamental do governo dos homens, pois como lembra Foucault

(...) na medida em que o governo dos homens é uma prática que não é imposta pelos que governam aos que são governados, mas uma prática que fixa a definição e a posição respectiva dos governados e dos governantes uns diante dos outros e em relação aos outros, “regulação interna” quererá dizer que essa limitação não é imposta exatamente nem por um lado nem pelo outro, em todo caso não é imposta global, definitiva e totalmente por, diria eu, transação, no sentido bem amplo da palavra “transação”, isto é, “ação entre”, isto é, por toda uma série de conflitos, de acordos, de discussões, de concessões recíprocas – tudo isso peripécias que têm por efeito estabelecer finalmente na prática de governar uma demarcação de fato, uma demarcação geral e uma demarcação racional entre o que é para fazer e o que não é para não fazer.150

Conforme essas palavras sugerem, não podemos enxergar o tensionamento entre a biopolítica e à governamentalidade como uma relação bilateral entre o Estado governamentalizado e os sujeitos. Mais adequado seria compreendermos esse governo

dos homens como fala Foucault, pela perfeita articulação entre a vontade política e a experiência ética a partir dos seus efeitos e circularidades. Nesse sentido, governar deve ser visto como sinônimo de trabalho sobre si mesmo por meio das transações necessárias a sobrevivência, tanto por parte do sujeito, quanto por parte do Estado. Por conta desse aspecto, é que o limiar do século XVII para o século XVIII é o momento no qual a governamentalidade emerge como força correlata aos pressupostos da soberania política. Todavia, cada vez mais, o estilo de governamentalização do Estado promoverá uma nova leitura segundo a qual o problema será não somente combater os excessos do príncipe, mas pensar as condições pelas quais jamais deve-se evitar que o Estado governe em

150No original: Et dans la mesure où le gouvernement des hommes est une pratique qui n'est pas imposée

par ceux qui gouvernent à ceux qui sont gouvernés, mais une pratique qui fixe la défInition et la position respective des gouvernés et des gouvernants les uns en face des autres et par rapport aux autres, «régulation interne» voudra dire que cette limitation n'est imposée exactement ni par un côté ni par l'autre, ou en tout cas n'est pas imposée globalement, défInitivement et totalement par, je dirai, transaction, au sens très large du mot« transaction », c'est-à-dire« action entre », c'est-à-dire par toute une série de conflits, d'accords, de discussions, de concessions réciproques: toutes péripéties qui ont pour effet d'établir fmalement dans la pratique de gouverner un partage de fait, un partage général, un partage rationnel entre ce qui est à faire et ce qui est à ne pas faire. FOUCAULT, Michel. Naissance de la Biopolitique. Paris: Galimmard, 2005, p. 14. Na traduação brasileira: FOUCAULT, Michel, 2012, p.17.

excesso a vida dos sujeitos. A razão governamental vai portanto, inscrever uma crítica aos fundamentos do Estado não no campo do direito, mas sim na economia política e tomá-la como objeto de estudo significa analisar, portanto as possibilidades para uma nova roupagem da biopolítica que passará pelo crivo dos constantes embates entre os sujeitos e os seus regimes de governo que foram abertas pela perspectiva da economia política. Mas, o que Foucault compreende por economia política? Por economia política Foucault entende a formação, a partir do século XVII, de uma dupla posição no contexto dos regimes de governamentalização: de um lado, a sistematização e a distribuição das riquezas e, do outro, a garantia da prosperidade de uma nação. Mas, o que parece sintetizar a economia política seria o desenvolvimento de estratégias calculadas em torno da organização, da distribuição e da limitação dos poderes. A economia política portanto, é um princípio intrínseco a razão governamental e, por sê-lo, seus objetivos são bem claros. Em primeiro lugar, ela busca favorecer o enriquecimento do Estado e, em segundo lugar, ela opera a sistematização do crescimento da população buscando lhe oferecer os meios necessários para a sua subsistência. Com a economia política se inaugura uma crítica que será fundamental para os desdobramentos da governamentalidade no sentido de se problematizar o duro controle empreendido pelo Estado de polícia. A economia política trata-se de um aperfeiçoamento da governamentalidade a partir da sua praticidade não no sentido de reivindicar a legitimidade do poder, mas sim por fixar os efeitos que são produzidos a partir de determinadas formas de governo que serão orientadas pelas regras econômicas.

Eis, portanto o traço fundamental da economia política: pensar as leis criadas por uma autorregulação do mercado. Essa é a tese que nasce no contexto do mercantilismo e que será levada a cabo pelo liberalismo: a ideia de que um bom governo será aquele que

inscrevesuas práticas refletidas respeitando as regras da natureza do mercado econômico. Tal perspectiva é absolutamente importante para compreendermos como o fundamento da prática governamental passa a se fixar nas leis de autorregulação do mercado financeiro. Por conta desses aspectos, é que Foucault percebe o liberalismo, como um estilo de vida que irá fundamentar a grade de inteligibilidade pelas quais todo sistema de governo, a partir do século XVII, deverá respeitar os traços da natureza do mercado desenvolvido pela economia política a partir da formação do senso utilitarista em que está em jogo não a legitimidade das ações governamentais, mas sim os

desdobramentos das regras econômicas que garantirão o sucesso ou o fracasso das medidas adotadas na condução da vida da população levando-nos a perceber como a biopolítica desenvolvida pelo liberalismo produzirá um agenciamento em que um governo não age mal porque infringe alguma garantia fundamental, a natureza da governamentalidade.

Emerge, portanto a configuração de um estatuto analítico da economia política que, passa a operar, pela autolimitação como regra fundamental de um governo a partir da natureza de suas ações. Segundo Borges de Souza,151 a economia política como grade

de inteligibilidade do liberalismo, configura-se como uma prática imprescindível para o contexto da nossa modernidade, a partir de um efeito paradoxal: nunca saber exatamente quando governa-se demais e, ao mesmo tempo, nunca se saber exatamente como e, sob quais condições, governa-se apenas o suficiente, pois conforme lembra Foucault

Com a economia política entramos portanto numa era cujo princípio poderia ser o seguinte: um governo nunca sabe o bastante que corre o risco de sempre governar demais, ou também: um governo nunca sabe direito como governar apenas o bastante.152

Esse sentido aberto pela economia nos leva a perguntar: como se relacionam essa

autolimitação da governamentalidade e o regime de verdade? Essa questão é de fundamental importância para ilustrarmos os motivos pelos quais, no nascimento da modernidade, as limitações que todo governo deve obedecer precisam estar ancoradas em práticas de veridicção a partir de um quadro eminentemente utilitarista. Os economistas, nesse sentido, não estarão mais preocupados em conter os excessos jurídicos de um governo, mas sim procurar manipular as consequências daquilo que pode ser