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Sexualidade II: o uso dos prazeres Rio de Janeiro: Graal, 1984a, p 14.

PRÁTICAS DE INSURREIÇÃO

III.II. AS PRÁTICAS DOS DIREITOS DOS GOVERNADOS: GOVERNO DE SI E DOS OUTROS

O curso proferido por Foucault no Collège de France e intitulado Do Governo dos

Vivos inicia-se com uma curiosa descrição de um estilo de governar presente na biografia de Septímio Severo.Um governante que gerenciava seu império com base na astrologia, definida por uma pintura ilustrativa de um céu construído no teto do seu palácio. Tratava- se, segundo Foucault, de um céu estrelado em que desdobrava-se toda sua conduta de governo. Foucault aponta ainda que, a conjetura de tal céu, compreendia o efeito, segundo o qual, desde os gregos, todo destino carregava consigo uma fatalidade e, portanto

Fazendo isso, ou mandando fazer isso, Sétimo Severo tinha, é claro, um certo número de intenções claras e explicitas que é bastante fácil reconstituir. Tratava-se, claro, para ele, de inscrever as sentenças particulares e conjeturais que ditava no interior do próprio sistema do mundo e mostrar como o lógos que presidia essa ordem do mundo e que havia presidido o seu nascimento, esse mesmo lógos era o que organizava, fundamentava e justificava as sentenças que ele pronunciava. O que ele dizia numa circunstância particular do mundo, o que ele dizia num kairós particular, como diriam os estoicos, era precisamente a própria ordem das coisas tais como foram estabelecidas lá em cima, de uma vez por todas. Tratava-se igualmente, para ele, de mostrar que seu reino havia sido fundado com base nos astros, que ele, o guerreiro de Leptis Magna, que tinha tomado o poder pela força e pela violência, não era por erro, não por acaso, não era por uma conspiração qualquer dos homens que havia tomado o poder, mas porque a necessidade do mundo o havia convocado para o cargo que ocupava.221

O ponto da análise foucaultiana em torno do céu de Septímio Severo consiste em compreender tal acontecimento como uma prática de formação de certo regime de governo da verdade. Nesse sentido, o fundamento de um estilo tão peculiar de exercício de governo é abarcado pelo duplo político e ético cujo traço fundamental caracteriza-se

221 No original: Faissant cela, ou faissant faire cela, Septime Sévère avait bien entendu un certain nombre

d’intentions três claires et explicites qu’il est assez facile de restituer. Il s’agissait bien sûr pour lui d’inscrire les sentences particulières et conjoncturelles qu’il rendait à l’intérieur du système même du monde, et de montrer comment le logos qui présidait à cet ordre du monde et qui avait présidé à sa naissance, ce même logos était celui qui organisait, fondait et justifiait les sentences qu’il rendait. Cer qu’il disait dans une circonstance particulière du monde, ce qu’il disait dans um kairos particulier, comme diraient les stoiciens, c’était précisamént l’ordre même des choses telles qu’elles avaient été fixées là-haut, une fois pour toutes. Il s’agissait également, pour lui, de montrer comment son règne avait été fondé sur les astres, que lui, le soudard de Leptis Magna, qui s’était emparé par le force et la violence dou pouvoir, ce n’past par erreur, ce n’était pas par hasard, ce n’était pas par un complot quelconque des hommes qu’il était emparé du pouvoir, mais la nécessité même du monde l’avait appelé à la place où il était.

FOUCAULT, Michel. Du Gouvernement des Vivants. Paris, Gallimard, 2012b. Na tradução brasileira: FOUCAULT, Michel, 2013a, p. 03-04.

pela maneira em que a verdade liga-se ao projeto de estruturação das artes de governar. Desse modo, uma das questões preliminares levantadas por Foucault em, Do Governo

dos Vivos, refere-se a possibilidade de compreensão das maneiras pelas quais as culturas antigas desenvolveram uma arte de governo voltada para a manifestação da verdade cuja inscrição era o ordenamento do mundo. Isto é, governar pela verdade seria o ethos de uma prática política, cujo fundamento, não era o mero gerenciamento estratégico das condutas, mas a elaboração de um trabalho do sujeito sobre si mesmo, ou em outras palavras uma

askesis. Na opinião de Portocarrero,222 tal noção, acaba por ultrapassar as concepções

jurídicas e sociológicas inscritas nas leituras habituais em torno da Antiguidade223 em

nome de uma analítica da capilaridade que, concebe o exercício do governo, como uma arte responsável por ligar o exercício do poder aos múltiplos regimes de manifestação da verdade e, diante de tal perspectiva, resta-nos determo-nos em torno das condições de possibilidades da instauração desses regimes a partir da multiplicidade de experiências das artes de governo. Contudo, à pergunta a ser feita é: quais verdades se manifestam por

meio do exercício de poder presentes nas artes de governo da Antiguidade?

A formulação de tal questionamento sugere, segundo Foucault que, a arte de governar é mais um problema de estética da existência do que, propriamente, um problema de gestão econômica da vida como ocorre na sociedade contemporânea. Governar, portanto vai além de qualquer processo de normalização. Na realidade, governar é uma forma de verdade que se exerce como um ritual, uma prática refletida que percorre os tensionamentos de ethos como problema fundamental. A esse respeito, nos mostra Foucault já na introdução de O Uso dos Prazeres que

(...) ao colocar essa questão muito geral, e ao colocá-la à cultura grega e greco- latina, pareceu-me que essa problematização estava relacionada a um conjunto

222PORTOCARRERO, Vera. Notas marginais sobre sujeito e verdade, Parresía, discurso e técnicas de si no pensamento tardio de Michel Foucault. Doispontos. 14 (1), 99-114, 2017.

223A Antiguidade não deve ser vista meramente como um período histórico anterior ao mundo moderno. Mas como um paradigma que envolve os diferentes tensionamentos, hábitos e modos de vida, cujas ressonâncias se inscrevem em uma possível leitura em torno das estratégias de saber, das práticas de poder e dos processos de subjetivação. De certo modo, ela pode ser analisada não somente a partir de uma linearidade cronológica, mas a partir dos diferentes tensionamentos que compõem um mosaico das experiências provenientes de diferentes culturas. Por certo, o emprego de tal conceito por parte de Foucault remete ao interesse da escola francesa de historiadores das mentalidades, isto é, um conjunto de intelectuais que, desde a formação dos Annales d’historie économique et sociale vem produzindo uma série de leituras sobre os modos de vida e seus desdobramentos no mundo contemporâneo como é o caso da coleção dirigida por Philippe Ariès e Georges Duby e intitulada Historie de la Vie Privée. Ver mais detalhes em: ARIÈS, DUBY e VEYNE, 1990.

de práticas, que certamente, tiveram uma importância considerável em nossas sociedades: é o que se poderia chamar “artes de existência”. Deve-se entender, com isso, práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens não somente se fixam regras de conduta, como também procuram se transformar, modificar-se em seu ser singular e fazer da sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e responda a certos critérios de estilo.224 O problema consiste em apreendermos a relação entre esses ritos de manifestação da verdade e as práticas refletidas de governo. Tal relação é compreendida por Foucault, como um conjunto de procedimentos necessários para o exercício da prática ética e política já que, o exercício de governo, é um acontecimento correlativo à aleturgia da verdade. Desse modo, esse processo deve ser pensado por meio da criação dos modos de vidas provenientes das práticas de governo no mundo antigo. Nesse sentido, tanto à aleturgia, quanto as artes de governo, são elementos imprescindíveis para situarmos uma analítica, dos modos pelos quais, as estéticas das existências em Foucault configuram-se como modos de vida e, nesse sentido o problema seria justamente o de estudarmos o governo dos sujeitos pela verdade. O próprio Foucault reconhece – conforme apontam as palavras proferidas por ele acima – o necessário deslocamento das habituais análises sobre as práticas de saber e os efeitos de poder, para a estruturação de um estudo em torno da questão do governo pela verdade. Neste caso, encontramos na passagem da década de 70 para a de 80 do século passado, um desdobramento do pensamento foucaultiano da problematização do poder disciplinar para a análise dos modos de vida presentes em diferentes manifestações do que ele chama de governamentalidade. Ocorre que, dentro dessa genealogia das práticas de governo, o interesse, por parte de Foucault, consistir-se- á em privilegiar, a partir Do Governo dos Vivos, as razões pelas quais, podemos encontrar no mosaico da cultura antiga, os elementos de uma multiplicidade de práticas originárias de governo radicalmente opostas aos contornos da biopolítica e, mais especificamente, da governamentalidade neoliberal. Talvez, o grande ensinamento dessa genealogia seria justamente o fato de Foucault, procurar nos ensinar como os elementos das práticas de

224 No original: ... en posant cette question très générale, et en la posant à la culture grecque et gréco-

latine, il m'est apparu que cette problématisation était liée à un ensemble de pratiques qui ont eu certainement une importance considérable dans nos sociétés c'est ce qu'on pourrait appeler les « arts de l'existence ». Par là il faut entendre des pratiques réfléchies et volontaires par lesquelles les hommes, non seulement se fixent des règles de conduite, mais cherchent à se transformer eux-mêmes, à se modifier dans leur être singulier, et à faire de leur vie une oeuvre qui porte certaines valeurs esthétiques et réponde à certains critères de style. FOUCAULT, Michel, 1984b, p. 16-17. Na traduação brasileira: FOUCAULT, Michel, 1984a, p. 16.

governo presentes na Antiguidade colocam em suspenso os efeitos dos dispositivos e, ao mesmo tempo, os processos de assujeitamento do sujeito. Mais do que nunca, se o sentido da arte de governo na Modernidade passa a ser, o de desenvolver o gerenciamento estratégico da população, a partir do regramento das suas condutas, na Antiguidade, os elementos estratégicos dessa arte de governo eram voltados as formas de vida efetivadas pela direção de consciência e não meramente pelo regramento econômico.

Em A Hermenêutica do Sujeito Foucault225 procura pensar os traços de correlação

entre o problema de um governo pela verdade e os processos de subjetivação a partir de diferentes formas de vida. Para esboçar o quadro histórico dessa relação Foucault elabora, o que ele mesmo chama, de superfície de regressão, um procedimento que lhe permite estudar os modos pelos quais ocorrera no mundo antigo um conjunto de prescrições diretamente relacionadas aos problemas de governo. Trata-se, desse modo, de deslocar os efeitos éticos e políticos em torno do problema da gestão da vida das populações comuns à biopolítica, demonstrando como às artes de governo não se fundamentavam em uma espécie de controle em torno das condutas, mas sim pelas questões que envolviam o tensionamento entre modos de subjetivação, governo de si e práticas de verdade. Se trata ainda de pensar os elementos potenciais da estilística da existência enquanto embate aos dispositivos da governamentalidade neoliberal. De acordo com Noguera-Ramirez226

Esse novo deslocamento levará o professor Foucault para um trabalho de longa duração em direção à Antiguidade grega, romana e cristã em que a própria noção de governamentalidade será reformulada no sentido de constituir já não só um problema político, mas também ético. Nessa trajetória que seguiram as suas pesquisas indo para bem antes da nossa Modernidade, a noção de governamentalidade – elaborada inicialmente para a análise dos problemas de governo na passagem do dispositivo de soberania para os dispositivos de disciplina e segurança - sofre uma reorganização em função da análise da dimensão ética do sujeito, definido pela sua relação consigo mesmo.

Essa perspectiva apontada por Noguera-Ramirez, é de fundamental importância para contextualizarmos as possíveis ressonâncias da leitura promovida por Foucault em relação à cultura antiga e das formas de governo tangenciadas pela manifestação da verdade.

225FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2016. 226NOGUERA-RAMIREZ, Carlos Ernesto, 2013.

Podemos perceber na investigação foucaultiana, em torno de um governo pelas formas de verdade, os elementos necessários para as resistências aos dispositivos da biopolítica. Certamente tal problema coloca em relevo a questão dos direitos dos governados compreendida como uma prática singular responsável, por estabelecer um

ethos em torno dos grupos minoritários que, no nosso tempo presente, sublevam-se a partir de modos de vida que, segundo Rago e Veiga-Neto227dizem sim a sua existência

afirmando a sua diferença. Nesse sentido, os direitos dos governados seria, conforme a perspectiva foucaultiana, uma prática que deflagra um confronto contra o emaranhado dos dispositivos de controle e regulação da própria vida. Portanto, os direitos dos governados configura-se como uma ilustração das pequenas formas de resistências que se organizam a partir de uma polifonia dionisíaca que desestabiliza as normalizações.

Em todo o conjunto de práticas provenientes da cultura antiga, o governo de si mesmo ocupava um papel central. Governar a si mesmo era um problema relacionado as experiências éticas e políticas. Nesse contexto, o problema de um governo manifestado pela verdade refletia a radicalidade dos processos de subjetivação e, nesse sentido é interessante observarmos, a maneira pela qual, Foucault compreende a constituição dessas experiências a partir dos elementos do governo como um modo de vida. A emergência dessa noção está relacionada ao problema político do governo de si mesmo e dos outros. Encontramos, de acordo com Foucault, traços dessa problemática desde os diálogos platônicos, até os textos produzidos por outras escolas filosóficas como o estoicismo, o epicurismo e o cinismo. Mesmo entre os primeiros cristãos, o problema fundamental girava em torno dessa questão: como governar a si mesmo e aos outros?

Em muitos casos, tal problemática consistia em interpelar o sujeito seja em relação ao seu estatuto aristocrático, suas posses, sua herança política, ou mesmo sua prática espiritual. Essas interpelações eram suficientes para garantir-lhe o governo da cidade. Esse é o emblema de Alcebíades. Por meio da leitura de tal diálogo platônico Foucault, procura demonstrar, como o encontro entre Sócrates e Alcebíades acaba por problematizar o tensionamento entre o governo de si mesmo e dos outros, não como uma herança, mas como uma atitude ética e política permanente. Dito de outro modo, trata-se de perguntar incessantemente aquele que aspirava ambições políticas na sociedade

227RAGO, Margareth. VEIGA-NETO, Alfredo. Apresentação: para uma vida não-fascista. In: RAGO, Margareth. VEIGA-NETO, Alfredo. Para Uma Vida Não Fascista. (pp. 09-12). Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

ateniense, se apenas seu estatuto aristocrático lhe seria suficiente para o exercício da governança desdobrada pela experiência do cuidado de si mesmo. Ou ainda segundo Foucault

Como vemos, “ocupar-se consigo mesmo” está porém implicado na vontade do indivíduo de exercer o poder político sobre os outros e dela decorre. Não se pode governar os outros, não se pode bem governar os outros, não se pode transformar os próprios privilégios em ação política sobre os outros, em ação racional, se não se está ocupado consigo mesmo. Entre privilégio e ação política, este é, portanto o ponto de emergência da noção de cuidado de si.228 Desta maneira, o Alcebíades229 coloca em questão o problema do governo de si mesmo e dos outros por meio da ocupação consigo mesmo. Isto é, ocupar-se consigo mesmo era uma maneira de se exercer a Paideia. Uma forma específica do sujeito constituir-se pela substância ética e política, pois no contexto da cultura antiga, o governo de si mesmo e dos outros refletia a estetização da verdade pela direção de consciência. Governo pela direção de consciência e não pela prostração do sujeito perante os dispositivos de governamentalidade. Nesse sentido, Foucault chama à atenção para o fato de que, se quisermos pensar uma crítica aos efeitos da biopolítica, necessariamente devemos nos debruçar, sobre os aspectos históricos pelos quais se entrecruzam as questões da verdade, dos processos de subjetivação e das formas de governo presentes no mundo antigo. Conforme Candiotto,230 a multiplicidade de experiências produzidas pelas

escolas filosóficas antigas compreende a formação conceitual, mas acima de tudo política, dos procedimentos pelos quais o sujeito deveria passar como forma de acessar determinada verdade. O processo de ocupar-se consigo mesmo, associado à dinâmica do governo de si e dos outros, favorece a elaboração de uma problematização histórica das maneiras pelas quais a sublevação das contracondutas configura-se como uma força política cujas ressonâncias se inscrevem, na nossa atualidade, nas formas pelas quais os

governados existem resistindo e, nesse contexto, as práticas dos governados não se

228 No original: Mais vous le voyez, « s'occuper de soi-même » est impliqué et se déduit de la volonté de

l'individu d'exercer le pouvoir politique sur les autres. On ne peut pas gouverner les autres, on ne peut pas bien gouverner les autres, on ne peut pas transformer ses privilèges en action politique sur les autres, en action rationnelle, si on ne s'est pas soucié de soi-même. Souci de soi entre privilège et action politique, voilà donc le point d'émergence de la notion.FOUCAULT, Michel. Herméneutique du Sujet. Paris: Gallimard, 2011b, p. 37-38. Na tradição brasileira: FOUCAULT, Michel, 2016, p. 35.

229PLATÃO. Diálogos. Belém: UFP, 1973.

230CANDIOTTO, Cesar. Governo e direção de consciência em Foucault. Natureza Humana. 10(2), 89- 113, 2008.

configuram como um mero embate em relação aos jogos de poder, mas também uma questão de atitude radical contra o que Rolnik231 chama de vida não cafetinada.

Mais do que nunca, as ressonâncias do problema do governo pela verdade, na prática dos direitos dos governados, compreende os desdobramentos da prática política pelo envolvimento com as questões do nosso tempo e, as condições de possibilidades para pensarmos as possíveis brechas de gestos mediados pela estética da existência. Os direitos dos governados são, portanto uma arte da vida que recusa-se a ceder aos contornos da governamentalidade. Tal arte trata-se de uma ocupação que emerge sempre por meio da provocação perante os dispositivos de controle, por meio de uma série de problematizações: de que modo se vive? Que trabalho sobre si – ascese – podemos

produzir nos horizontes da biopolítica e da governamentalidade?

Portanto, se quisermos pensar uma articulação entre a experiência de um governo pela verdade no mundo antigo e os direitos dos governados devemos, necessariamente, pensar uma compreensão precisa em torno das formas de agir. Sobretudo as formas de existir dos processos de subjetivação que produzem uma correlação entre ética e política no plano do devir minoritário. Nesse contexto grupos e atores como negros e negras, loucos, homossexuais e feministas são ilustrações de práticas dos governados que não se contentam simplesmente em ser representados por algumas instância política, econômica ou mesmo social, mas reivindicam um espaço de legitimidade que, no âmago de suas lutas políticas, evocam a emergência em cada ato subversivo, em cada multiplicidade de cartografias ínfimas que compõem um espaço outro, um penser et vivre différemment. Um pensar e viver de modo diferente desdobramento a partir da seguinte problematização: existiria uma chance histórica dos governados ultrapassarem os limites

de uma prática refletida de governo orquestrada pela biopolítica? Parece-nos que, no interior dessa pergunta, encontramos a possibilidade de uma ilustração dos direitos dos governados como uma estratégia de resistência das contracondutas presentes em grupos estigmatizados que não fogem do embate contra o olho do poder.232 Encontramos no

231ROLNIK, Suely. Esferas da Insurreição: notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: N -1, 2018. 232L’OEil du Pouvoir – O Olho do Poder – é uma entrevista concedida por Foucault a Jean-Pierre Barou no