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CAPÍTULO 3. A ÁREA DE BORDA MARÍTIMA DA BAÍA DE TODOS OS

3.2 Caracterização da Área de Estudo

3.2.2 Trecho 1 – Canal de Cotegipe até a Enseada do Cabrito: Caracterização

3.2.2.4 A Interação entre os Três Subsistemas: a Dinâmica da Problemática

O estudo do ambiente urbano em questão, abordado anteriormente através dos subsistemas que o compõem, permite tecer algumas considerações acerca da dinâmica da problemática ambiental na área do Subúrbio. Da análise das condições de vida no local, aqui caracterizadas de modo sintético, constata-se que o sistema ambiental urbano estudado apresenta problemas de complexidades variadas, sobretudo diante das carências existentes.

As alterações resultantes da interação entre os subsistemas transformaram a área de modo que o que se vê hoje é um ambiente urbano bastante problemático, no que se refere aos aspectos: precariedade, deterioração e contaminação. Fatores diversos contribuíram para isso, como a ocupação desordenada, tanto de residências, quanto de indústrias, planejamento sem uma preocupação mais expressiva com a questão ambiental, o desmatamento da vegetação, inclusive das áreas de encostas, dentre outros.

Ressalta-se que a pesquisa em questão privilegia a análise da interação entre dois dos três subsistemas: o natural e o construído. Neste caso, a problemática resultante se reflete na deterioração (aqui considerada o mesmo que degradação) do ambiente urbano. Porém, embora não seja este o foco, a abordagem envolveu, mesmo que brevemente, as situações de precariedade e contaminação, conforme citados anteriormente neste mesmo capítulo.

Assim, sob esta ótica, o que se observa é que o subsistema natural apresenta problemas que impactam diretamente na qualidade de vida da população local, e, principalmente ao próprio ambiente. Apesar da existência de praias e de ser esta orla, em alguns trechos, local de mariscagem, o uso da mesma fica comprometido devido à poluição das águas. Tal problema se reflete não somente sob o ponto de vista natural, mas também econômico, o que não deixa esquecer a forte interação entre o homem e a natureza. A quase ausência de vegetação nas áreas livres e de parques arborizados preservados, voltados para o desfrute da população, faz com que o Subúrbio seja caracterizado como um deserto florístico urbano.

Nas áreas de alta declividade, a ocupação sobre as encostas é também um fator que amplia a degradação. Sem a vegetação que a sustenta, tais áreas tornam-se susceptíveis a deslizamentos de terra, com riscos de vida para os moradores locais. Tem-se ainda a ocupação de áreas alagadiças, que resulta em problemas não apenas para os ambientes úmidos, mas para a própria população que sofre com as inundações em períodos chuvosos.

O vale do Paraguari é um exemplo bastante emblemático. Nova Constituinte, aglomeração que data do final dos anos 80 do século passado, se estabeleceu em suas proximidades, a princípio nas áreas mais altas, relativamente distantes da área úmida. Com o passar do tempo, no entanto, a ocupação se estendeu e seguiu em direção às margens do Rio Paraguari, o qual foi transformado num canal de esgoto que deságua na Baía de Todos os Santos, na praia de Periperi.

Quanto ao subsistema construído, neste Trecho prevalece a imagem da desorganização e do aproveitamento máximo do espaço “barato”, para alguns, em termos fundiários, mas “caro” para a grande massa de excluídos das condições,

formais e regulares, existentes para a aquisição da casa própria. Como resultado, a ocupação se expandiu por sobre as encostas e até mesmo sobre o mar, áreas que deveriam ser protegidas das tentativas de ocupação. Partindo deste último, voltando o olhar para a área suburbana, a vista que se tem é a do abandono, do urbanismo do improviso, o qual é, por vezes, o único que a população teve ao seu alcance.

O subsistema social caracteriza a população que habita este lugar. Milhares de pessoas vivem neste ambiente e compartilham as dificuldades cotidianas que a vida urbana impõe. Com baixos rendimentos e qualificação educacional insuficiente, poucos chefes de família conseguirão transformar o estado das coisas, inclusive porque, no meio urbano, é o Governo um dos principais agentes de mudanças, principalmente em função da extensão das áreas que demandam qualificação e estruturação. Assim, a precariedade e a estética urbana do improviso e do abandono permanecerão, caso o Poder Público pressionado pela sociedade organizada não atue de modo a criar possibilidades de transformação voltadas tanto para a recuperação do meio degradado, quanto para a qualidade de vida da população.

Do que foi exposto, denota-se que o ambiente urbano do Subúrbio é atualmente um lugar onde as condições básicas à habitabilidade adequada na cidade são extremamente restritas. A população que o habita é a mais prejudicada, uma vez que convive diariamente com todo um conjunto de problemas que se agravam e se destacam, principalmente em períodos chuvosos.

Dentre tais problemas destaca-se a ocupação irregular de encostas e do sopé dos morros, a qual configura-se em assentamentos precários, sem infra-estrutura urbana básica. A população que compõe esses assentamentos está sujeita a riscos e desastres, como os deslizamentos de terra e os soterramentos, uma vez que, devido à irregularidade da ocupação, esta normalmente é composta por edificações implantadas sem os adequados critérios e técnicas construtivas em locais, por vezes, inapropriados. Assim, com as chuvas de outono e inverno, ano após ano a cidade “assiste e contabiliza” os prejuízos de tais processos de ocupação do solo. As conseqüências são diversas, com destaque para as perdas materiais, como as habitações de famílias de baixa renda, e principalmente a perda de vidas humanas.

Costuma-se atribuir à população pobre a culpa e responsabilidade pelos problemas urbanos com os quais convive. No entanto, não é possível deixar de ressaltar que o processo é muito mais complexo que isso, uma vez que, estando os pobres excluídos das benesses das políticas públicas de planejamento e benfeitorias urbanas, a necessidade de viver, de ter um local para morar, por vezes os leva a gerar situações que trarão problemas ao ambiente natural e, até mesmo, riscos de vida para si.