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CAPÍTULO 3. A ÁREA DE BORDA MARÍTIMA DA BAÍA DE TODOS OS

3.2 Caracterização da Área de Estudo

3.2.2 Trecho 1 – Canal de Cotegipe até a Enseada do Cabrito: Caracterização

3.2.2.2 O Subsistema Construído

Fonte: Fabiana O. Pereira, 2009.

Figura 14: Novos Alagados, vista do trem.

“A imagem urbana é a do improviso, a do aproveitamento máximo do lote com construções que se erguem em dois ou mais pavimentos, com os blocos sem reboco, esqueletos expostos, numa sucessão tal que é visto, sob certos ângulos, como se cada casa se superpusesse à outra, haja vista a declividade dos sítios ocupados; (...)” (ESPINHEIRA, 2003, p. 192).

A citação acima, de Espinheira, resume o subsistema construído predominante da área em questão, o qual se configura como dos mais precários de Salvador, se comparado ao município como um todo, sobretudo devido ao modo como foi ocupado, e em razão da infra-estrutura urbana insuficiente, e até inexistente em algumas localidades (Figura 14). A “disputa” pela terra no local é marcada pelo avanço sobre áreas inclusive impróprias à construção de moradias, como encostas, margens de rios, mangues e até mesmo sobre o mar, neste caso, tanto através das palafitas, como através da “produção de solo” com os aterros (ESPINHEIRA, 2003).

A área apresenta-se consolidada em suas diversas formas de ocupação, sejam elas constituídas por loteamentos formais, públicos ou privados, ou por ocupações coletivas informais, as denominadas invasões. As lajes são freqüentes na maioria das edificações, principalmente naquelas situadas sobre lotes pequenos. Para muitos, além da possibilidade de ampliar o espaço para a moradia, trata-se também de um meio de ampliar a renda através do aluguel desse novo espaço produzido.

A horizontalidade, no entanto, é um traço marcante na paisagem do Subúrbio, o qual é composto em sua maioria por edificações de baixo gabarito, assim como as

edificações auto-construídas, aspectos que evidenciam as ocupações coletivas de iniciativas populares (Figura 15). Conjuntos habitacionais planejados por órgãos públicos também fazem parte do ambiente construído local, sendo que, após a implantação destes, as áreas que os margeiam foram ocupadas irregularmente através de invasões, ampliando assim a área habitada e, consequentemente, a densidade demográfica. Estes conjuntos são formados normalmente por blocos de apartamentos em edifícios de baixa verticalidade (entre 3 e 5 andares).

Fonte: Jornal A Tarde, 2008.

Figura 15: Novos Alagados, Salvador-BA

O traçado urbano irregular predomina no ambiente, sendo que, quando associado à topografia de alta declividade representa risco à vida da população, a qual vive insegura em edificações nas áreas sem conforto urbanístico, e com potencial de desabamento, principalmente em períodos chuvosos. As vias planejadas se destacam, na comparação com aquelas construídas à revelia do planejamento urbano, principalmente por não serem tão freqüentes no cenário, permitindo assim a sua identificação visual, principalmente pela largura, pavimentação e existência de passeios.

A Avenida Afrânio Peixoto (Suburbana), a qual possui duas pistas é a de maior destaque em todo o Trecho 1. Esta se apresenta, segundo Espinheira (2003, p. 188)

como “um divisor de espaços”, e “separa dois mundos, o tradicional e de beira mar, e o mais recente, a escalar os morros e constituir os bairros altos, os mirantes”. Nela se aglomeram estabelecimentos comerciais e diversas atividades econômicas.

Nas áreas tradicionais, como Plataforma, Paripe e Periperi, bem como em trechos compostos por loteamentos regulares, notam-se edificações de melhor padrão, com casas amplas, bem estruturadas, e com quintais, diferentes das edificações auto- construídas. Nestas áreas, a legalidade da ocupação do solo é outro fator que se destaca, embora não de modo predominante.

Em analogia à classificação proposta pelo Projeto Orla, a orla suburbana de Salvador também pode ser classificada como Orla Classe C, uma vez que a mesma apresenta ecossistemas impactados, sem vegetação nativa (estes, quando existem são como nichos isolados), com ocupações com médio ou alto adensamento populacional, onde se sobressai o padrão urbano em ambiente já deteriorado ou em processo de degradação (Figuras 16). Quanto à infra-estrutura da orla para o turismo e lazer, esta é insuficiente e precária, apesar da grande beleza cênica local (Figura 17).

Destaca-se a existência de uma linha férrea de trens suburbanos nas margens da orla da baía. Esta é há mais de um século um elemento construído que se destaca na paisagem, e no cotidiano da população que vive à beira das estações de parada do trem. Tal modo de transporte atende basicamente aos moradores locais, levando- os por cerca de 13 Km, entre as estações de Paripe e da Calçada.

Fonte: Fabiana O. Pereira, 2009. Fonte: Fabiana O. Pereira, 2009. Figura 16: Ambiente Construído – Habitações em

Paripe.

3.2.2.3 O Subsistema Social

Com população estimada em 255.353 habitantes, e densidade demográfica média de aproximadamente 190 hab/ha, de acordo com o Censo 2000, o Subúrbio (nas localidades que compõem o trecho estudado), em sua configuração social, apresenta de modo predominante indicadores de baixo padrão, sendo por isso considerado como a “cidade pobre” dentro da cidade de Salvador (CARVALHO, SOUZA e PEREIRA, 2004).

Em relação à Tipologia socioespacial, a predominância é de trabalhadores da classe Popular e Popular-inferior. A primeira se refere ao predomínio de trabalhadores manuais da indústria e do comércio, bem como prestadores de serviços com alguma qualificação. A segunda refere-se à áreas onde há uma conjugação desses trabalhadores com prestadores de serviços não qualificados, trabalhadores domésticos, ambulantes e biscateiros (CARVALHO e PEREIRA, 2008).

Quanto à questão educacional, em algumas localidades do Subúrbio, tais como Nova Constituinte e Fazenda Coutos, o analfabetismo funcional alcança cerca de 30%, denotando uma freqüência expressiva. Segundo Almeida e Damasceno (2005,

apud CARVALHO e PEREIRA, 2008), em relação ao nível de instrução, cerca de

78% dos trabalhadores ocupados do Subúrbio possuíam apenas o primeiro grau incompleto. Quanto à renda do responsável pelo domicílio, grande maioria dos trabalhadores possui renda máxima de até 2 salários mínimos (op. cit., 2008).

A área suburbana, segundo Espinheira (2003, p. 193), é “uma parte estigmatizada de Salvador” isto em decorrência da violência constante e do precário padrão de ocupação que configura o lugar. Nota-se que o crescimento populacional ampliou os problemas relacionados à segurança pública, e os jovens são as maiores vítimas da violência no local.

Salvador é a cidade das desigualdades; o Subúrbio, uma de suas expressões mais marcantes, em que a maioria dos seus habitantes é considerada uma “gente barata”, de menos valor e consideração, condenada à consumição em seu destino de pobres e desafortunados (ESPINHEIRA, 2003, p. 199).

Apesar de sua dimensão territorial e de sua ampla população, no setor saúde a precariedade não é muito diferente dos demais setores citados. Quanto aos grandes equipamentos, a saúde pública dispõe apenas de um hospital de porte, o João Batista Caribé, hospital público no qual são reproduzidos os problemas inerentes aos serviços gratuitos de atendimento à saúde comuns a várias localidades do Brasil. Em Periperi e Paripe encontram-se clínicas médicas, geralmente voltadas para atendimento particular e para associados de planos de saúde.

As opções de lazer gratuito são raras, principalmente devido à inexistência de equipamentos e infra-estruturas voltados para este fim. As praças públicas são escassas, bem como as quadras esportivas. A orla da Baía, conforme já enunciado não dispõe de estrutura propícia ao seu desfrute pela população.

3.2.2.4 A Interação entre os Três Subsistemas: a Dinâmica da Problemática