• Nenhum resultado encontrado

A interface entre a mudança do clima e a saúde humana

3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SAÚDE HUMANA: EFEITOS E

3.2 A interface entre a mudança do clima e a saúde humana

É difícil falar de saúde, pois ela não representa a mesma coisa para todos, da mesma forma que a doença tem diferentes contornos para cada indivíduo. “[...] Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas. [...]” (SCLIAR, 2007, p. 30).

O conceito mais conhecido de saúde é aquele que a Organização Mundial da Saúde (OMS) traz na sua Carta de Princípios, na qual cita-se que “[...] saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”

O conceito da OMS, divulgado na carta de princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde [...]. Este conceito refletia, de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos sociais do pós-guerra: o fim do colonialismo, a ascensão do socialismo. Saúde deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações. (SCLIAR, 2007, p. 36 e 37)

No entanto, Scliar (2007, p.37), entende que a saúde abrange ainda a biologia humana que envolve a herança genética, os fatores de envelhecimento e os processos biológicos inerentes à vida; o meio ambiente que inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho, o estilo de vida do qual resultam decisões que afetam a saúde: fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios, a organização da assistência à saúde que envolvem o assistência médica, os

serviços ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos são as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em saúde. Porém, por muitas vezes é mais benéfico para a saúde ter água potável e alimentos saudáveis do que dispor de medicamentos.

Parafraseando Scliar (2007, p.37), a amplitude do conceito da Organização Mundial de Saúde acarretou críticas de natureza técnica e outras de cunho político ou literário, fazendo surgir questionamentos no sentido de a saúde ser algo ideal e inatingível ou ainda ao levar a aplicabilidade desse conceito permitiria abusos por parte do Estado, que interviria na vida dos cidadãos, sob o pretexto de promover a saúde. A classificação dos seres humanos como saudáveis ou doentes seria uma questão objetiva, relacionada ao grau de eficiência das funções biológicas, sem necessidade de juízos de valor.

A saúde não pode ser tida dessa forma, diversos componentes e critérios subjetivos tem relevância para se chegar a um estado de doença ou de saúde.

A Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 196, não discute e nem traz um conceito de saúde, no entanto diz que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. Esse princípio norteia o Sistema Único de Saúde e também colabora com o desenvolvimento da dignidade dos brasileiros de forma ampla tanto como cidadãos como seres humanos.

[...] O sistema nacional de saúde, por sua vez, deve estar inteiramente integrado no processo de desenvolvimento social e econômico do país, processo este do qual saúde é causa e conseqüência. [...] Os cuidados primários de saúde, adaptados às condições econômicas, socioculturais e políticas de uma região deveriam incluir pelo menos: educação em saúde, nutrição adequada, saneamento básico, cuidados materno- infantis, planejamento familiar, imunizações, prevenção e controle de doenças endêmicas e de outros freqüentes agravos à saúde, provisão de medicamentos essenciais. Deveria haver uma integração entre o setor de saúde e os demais, como agricultura e indústria. (SCLIAR, 2007, p.39)

detém um sentido que engloba além daqueles elencados até aqui; o direito ao meio ambiente saudável que tem íntima ligação com o direito à saúde.

Apesar de existirem vários e sérios problemas ambientais, tais como a contaminação, o desmatamento, as emissões de gás carbônico, a desertificação, a perda de biodiversidade, os decorrentes do crescimento populacional, dentre outros, a escassez e a contaminação da água constituem um dos problemas mais graves dos países em desenvolvimento, afetando de modo mais direto a saúde populacional. [...] (CURY, 2005, p.108)

Os seres humanos vêm sofrendo, junto com o planeta, as pressões das alterações do clima e das conseqüências da devastação da natureza expondo-os às ameaças físicas e ao bem-estar humano e a capacidade das pessoas a lidar com tais ameaças.

As ameaças podem surgir de uma combinação de processos sociais e físicos. A vulnerabilidade humana, então, integra várias questões ambientais. Como todos, de algum modo, são vulneráveis às ameaças ambientais, a questão atinge ricos e pobres, urbanos e rurais, do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul e pode comprometer todo o desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento.[...] Muitos fenômenos naturais representam ameaças, incluindo eventos extremos como inundações, secas, incêndios, tempestades, maremotos, avalanches, erupções vulcânicas, terremotos e ataques por enxame de insetos. As atividades humanas têm contribuído para essa lista com ameaças [...]. (PNUMA, 2002, p.326)

Parafraseando Confalonieri (2007), é de particular importância os efeitos da mudança climática global sobre a saúde humana, os mecanismos de ação vão desde efeitos diretos dos fatores do clima, como as altas temperaturas durante episódios de ondas de calor, até efeitos indiretos, como as modificações ambientais causadas pelo clima e outros fenômenos de ordem social e demográfica, provocados por fatores climáticos que modificam o estado de saúde das populações humanas.

Essas influências diretas e indiretas, decorrentes dos processos climáticos sobre a saúde humana são variados, mas pode-se dar ênfase à vulnerabilidade e às situações de risco que afetam a população e poderão, ainda, afetar de forma mais

intensa o ambiente natural e também trarão importantes agravos à saúde humana representado especialmente pelas doenças infecciosas e parasitários, entre tantas outras.

As mudanças do clima podem produzir impactos sobre a saúde humana por diferentes vias. Por um lado impacta de forma direta, como no caso das ondas de calor, ou mortes causadas por outros eventos extremos, [...]. Outras vezes, esse impacto pode ser indireto, sendo mediado por alterações no ambiente como a alteração de ecossistemas e de ciclos de biológicos, geográficos, e químicos, que podem aumentar a incidência de doenças infecciosas, mas também doenças não-transmissíveis, que incluem a desnutrição e doenças mentais. (OPAS, 2009, p.17)

O clima envolve todo o contexto para a vida na Terra, as mudanças climáticas globais e as oscilações que vem sendo apresentadas afetam todos os aspectos da vida. Clima está mudando muito rapidamente e a comunidade científica alerta para uma mudança mais abrupta e maior no futuro muito breve.

Todas essas modificações trazem consigo a preocupação com eventos climáticos de grande monta e ao mesmo tempo imprevisíveis, mas altamente destrutivos exigindo do setor da saúde pública um posicionamento preventivo e ao mesmo tempo eficaz, no momento em que tal venha a ocorrer.

Os impactos que os fatores ambientais trazem para a saúde humana são bastante significativos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, pelo menos oitenta e cinco categorias de doenças tiveram sua carga de incidência modificada pelo ambiente alterado pelas mudanças no clima. Estima-se que o número apresentado pela OMS seja ainda maior, porém devido a complexidade de se estabelecer uma ligação entre a alteração ambiental e o surgimento de uma doença é bastante complexo.

[...] Por ejemplo, se cuantificó la malnutrición asociada a las enfermedades transmitidas por el agua y la carga de morbilidad relacionada con aspectos de La inactividad física atribuibles a factores ambientales (por ejemplo, la planificación urbana). Sin embargo, en otros casos la carga de morbilidad no era cuantificable, a pesar de que los efectos en la salud fueran claramente visibles. Por ejemplo, la carga de morbilidad asociada a la alteración, la degradación o el agotamiento de los ecosistemas no se cuantificó. Entre las enfermedades con la mayor carga absoluta atribuible a factores ambientales modificables figuraban: la diarrea, las infecciones de las vías

respiratorias inferiores, «otras» lesiones accidentales, y el paludismo.(PRÜSS-ÜSTÜN, 2006, p.5)

Seguindo o entendimento do Mynaio e Miranda (2002), a emergência e reemergência de doenças no mundo atual estão fortemente potencializadas pela interação dos fenômenos da degradação socioecológica, dos interesses econômicos, da deterioração dos programas de saúde, da globalização e da transformação rápida de padrões de comportamento social. Como resultado disso tudo, o aparecimento de doenças e a exposição da população a riscos antes não existentes, são aspectos a serem tidos em conta para análise do contexto da interação entre meio ambiente e saúde.

Os efeitos danosos das intervenções sobe o meio ambiente – incluindo os riscos da exploração de novos nichos ecológicos, os movimentos migratórios, o desenvolvimento industrial e as novas tecnologias, como as recentes terapias e técnicas de processamento de alimentos, a falta de resolução dos problemas da fome e da desnutrição, a despreocupação em muitas sociedades com as crescentes desigualdades sociais, as condições de vida das populações pobres em meio urbano e rural, a resistência a antibióticos -, agravados ainda pela deficiência de informação, pelo excesso de informação mal interpretada para a divulgação de massa, ou ainda, pelos valores de quem as recebem, filtrando-a e interpretando-a de maneira particular, muitas vezes, geram o efeito negativo da informação.[...] (MYNAIO e MIRANDA, 2002, P. 44)

A intervenção do homem no meio ambiente aliados às mudanças de características epidemiológicas das doenças estão interligadas as novas situações de vida de segmentos populacionais e às alterações do clima propiciam alterações no processo saúde e doença.

As alterações no clima, assim como no meio ambiente pelo homem faz com que os mais diversos segmentos sejam atingidos, especialmente, a saúde humana. Logo necessário a abordagem da temática de forma específica, é o que segue.