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4 A CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA DE INTERNACIONALIZAÇÃO

4.3 A internacionalização como política no PNPG 2011-2020

Após a retomada da elaboração dos Planos pela Capes, a internacionalização se tornou efetivamente uma política para a pós-graduação, sendo incorporada também pelo PNE que foi desenvolvido após a definição do Plano atual.

Buscando observar os principais documentos governamentais do Brasil com o intuito de verificar a existência da apresentação de políticas para a internacionalização das Instituições de Ensino Superior brasileiras, Miranda e Stallivieri (2017) constatam que é a partir do PNPG 2011-2020 e do documento do Programa Ciências sem Fronteias58 que a internacionalização da educação

58 De acordo com Abílio Baeta Neves, enquanto presidente da Capes, em entrevista durante a Conferência na Reunião Regional da SBPC, em 2017, a principal crítica ao CSF foi de ter “transformado o Brasil em um grande consumidor de ensino superior em outros países”. Comparando o valor investido em cinco anos com o valor que a Alemanha gastou durante os últimos dez anos com a implantação de programas de excelência nas universidades alemãs.

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superior aparece como um desejo por parte do governo brasileiro de forma mais pontual.

A Introdução deste último Plano destaca das diferentes publicações de cada um dos planos anteriores as importantes etapas da história da pós- graduação da qual os cinco Planos foram protagonistas, aparecendo da seguinte forma:

Quadro 18 – Os Planos anteriores e as etapas da pós-graduação

Planos Etapas da Pós-

Graduação

I PNPG (1975-1979) A capacitação dos docentes das universidades, formando o primeiro contingente de pesquisadores e especialistas em âmbito federal;

II PNPG (1982-1985) A preocupação com o desempenho e a qualidade;

III PNPG (1986-1989) A integração da pesquisa desenvolvida na universidade com o setor produtivo, visando ao desenvolvimento nacional;

IV PNPG – 1996-2004 (não publicado)

A flexibilização do modelo de pós-graduação, o

aperfeiçoamento do sistema de avaliação e a ênfase na internacionalização;

PNPG – 2005-2010

A introdução do princípio de indução estratégica, o combate às assimetrias e o impacto das atividades de pós-graduação no setor produtivo e na sociedade, resultando na incorporação da inovação no SNPG e na inclusão de parâmetros sociais no processo de avaliação, com os itens de Solidariedade e Nucleação.

Fonte: BRASIL (2010, p.16).

Podemos observar nas metas propostas para as diferentes etapas, que no IV Plano (aquele que não foi publicado), a internacionalização já aparece como uma ênfase. Porém, entre os planos que foram efetivamente publicados, é no PNPG (2011-2020) que o termo “internacionalização” ganha maior destaque, aparecendo pela primeira vez em um capítulo dedicado ao tema, juntamente com a cooperação internacional. No volume 1 do PNPG (2011- 2020), lê-se a declaração de que, “a exemplo dos Planos anteriores, também neste, a busca da internacionalização continuará sendo uma das metas maiores do sistema”. A afirmação deixa subentendido que, embora nos outros Planos a palavra “internacionalização” não esteja explícita, a ideia de internacionalização já vinha sendo entendida no estímulo a ações que se tornaram integrantes deste processo. Pode-se avaliar que desde 1998 a

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em consideração nas avaliações, mas não de uma forma sistemática, que viria, a partir do Plano 2011-2020, a se caracterizar como política pública.

Parte das ações dessa nova política está associada com a capacidade de atrair um número maior de estudantes estrangeiros por conta da estrutura atual do SNPG. Será também estimulada a participação de docentes brasileiros em congressos e outras atividades no exterior, que se encontrava aquém do desejado. Destaca-se, nesse momento, a presença expressiva de estudantes brasileiros no exterior, cursando doutorado sanduíche, porém houve uma redução significante no número de doutorados plenos no exterior, o que se relaciona com o aprimoramento do SNPG brasileiro.

Tendo em vista as metas descritas anteriormente, no âmbito deste Plano, as principais ações a serem estimuladas em relação à internacionalização e à cooperação internacional, são: o envio de mais estudantes ao exterior para fazer doutorado, em vista da dinamização do sistema e da captação do conhecimento novo; o estímulo à atração de mais

alunos e pesquisadores visitantes estrangeiros e o aumento do número de

publicações com instituições estrangeiras. O intercâmbio, que já era recorrente na pós-graduação, tem importância reforçada nesse Plano em benefício da internacionalização.

Na Apresentação do Plano (2011-2020), é destacada a incorporação das diretrizes da pós-graduação pelo PNE em elaboração:

O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2011-2020 tem como objetivo definir novas diretrizes, estratégias e metas para dar continuidade e avançar nas propostas para política de pós- graduação e pesquisa no Brasil. Paralelamente a este Plano, está sendo elaborado o novo Plano Nacional de Educação (PNE). De fato, pela primeira vez, um plano nacional de educação contemplará as metas da pós-graduação, isso porque o PNPG será parte integrante do PNE.

Segundo Silva Júnior e Kato (2016), a condução política dessas recomendações se encontra em pleno processo de desenvolvimento. A exemplo disto, pela primeira vez o PNE 2014-2024 contempla diretrizes referentes à pós-graduação, com metas e estratégias direcionadas

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internacionalização. Demonstrando a relevância que adquiriu nos últimos anos, como pode ser visto nas Metas 12 e 14, e nas suas respectivas estratégias:

Meta 12.12 “consolidar e ampliar programas e ações de incentivo à mobilidade estudantil e docente em cursos de graduação e pós-graduação, em âmbito nacional e internacional, tendo em vista o enriquecimento da formação de nível superior”; Meta 14 - “Elevar gradualmente o número de matrículas na pós- graduação de modo a atingir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores”, essa meta é composta de 15 estratégias, entre elas, uma que trata da internacionalização, a 14.9 “consolidar programas, projetos e ações que objetivem a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação brasileira, incentivando a atuação em rede e o fortalecimento de grupos de pesquisa”;

14.10 “promover o intercâmbio científico e tecnológico, nacional e internacional, entre as instituições de ensino, pesquisa e extensão”; 14.11 “ampliar o investimento em pesquisas com foco em desenvolvimento e estímulo à inovação, bem como incrementar a formação de recursos humanos para a inovação, de modo a buscar o aumento da competitividade das empresas de base tecnológica”; 14.12 “ ampliar o investimento na formação de doutores de modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por 1.000 (mil) habitantes”; 14.13 “aumentar qualitativa e quantitativamente o desempenho científico e tecnológico do País e a competitividade internacional da pesquisa brasileira, ampliando a cooperação científica com empresas, Instituições de Educação Superior - IES e demais Instituições Científicas e Tecnológicas – ICTs”. (BRASIL, 2014, p.74,77-78)

Para a construção deste último Plano, ainda vigente, foram elaboradas três comissões, cada uma com suas funções, porém articuladas e complementares. Assim como ocorreu no Plano anterior, foram convidadas a enviar sugestões: as sociedades científicas, associações de pós-graduação, universidades e pró-reitorias, entre outros, além de especialistas de diferentes áreas do conhecimento e do ensino. O resultado foi a publicação de um documento em dois volumes, mais detalhado do que os anteriores e destinado a um período de abrangência maior do que seus antecessores, de dez anos.

No momento da elaboração deste Plano, o Brasil estava sendo visto como um país emergente e promissor, com protagonismo no cenário internacional, período este que tinha iniciado com o governo Lula, em 2003 . O país estava passando por várias mudanças e a perspectiva era de que viesse a viver ainda outras transformações profundas, em vários setores da sociedade,

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incluindo-se, aí, o sistema educacional e, dentro dele, o ensino superior. Esta expectativa e o panorama que vinha se desenvolvendo, inclusive de um maior acesso à educação em todos os níveis, transpareciam também o objetivo de elevar a pós-graduação brasileira a um novo patamar no cenário internacional (PNPG 2011-2020). Para que isso ocorresse, todavia, fazia-se necessário resolver a questão do financiamento da pós-graduação, subsídio percebido como necessário para o aprimoramento da integração entre universidades, setor privado e Estado.

Reforma do arcabouço legal, para que as agências de fomento federais e estaduais tenham maior flexibilidade no uso dos recursos destinados a C,T&I e que tenham a concordância com os mecanismos adotados pelos órgãos de controle externo (TCU, CGU, AGU e MPU e correspondentes órgãos na esfera estadual); Eliminação dos entraves burocráticos que impedem as atividades de consultoria e assessoria de pesquisadores do Regime Jurídico Único a empresas públicas e privadas, bem como cerceiam a contratação pelo sistema público de consultores privadas e experts nacionais e internacionais; redução das atividades burocráticas exigidas dos pesquisadores na gestão dos recursos cedidos pelas agências (BRASIL, 2010, p.303-304).

No item 2.3.5, “Políticas de cooperação internacional e de formação de recursos humanos no exterior” do PNPG que está em vigor até 2020, lê-se que “deve-se estimular a cooperação internacional por intermédio das universidades, de tal forma que o intercâmbio entre alunos e professores seja institucionalizado”. Entende-se que esta afirmação sugere que muitas vezes os intercâmbios ocorrem de maneira informal, a partir de relações pessoais, independente das instituições. Esse processo, como já visto, acontecia no início das relações do universo acadêmico brasileiro com o exterior, porém, através do incentivo objetivado à cooperação internacional, os intercâmbios passaram a ser mais sistematizados e regulamentados.

No capítulo “Internacionalização da Pós-Graduação e a Cooperação Internacional”, do PNPG 2011-2020, a internacionalização está relacionada ao desenvolvimento da pesquisa e produção científica e à sua relação com as ações e mecanismos de cooperação internacional. Tendo em vista que o Brasil estava sendo cotado para chegar a 5ª economia mundial, a sua inserção internacional através da pesquisa e produção científica era vital para alcançar este patamar (SILVA JÚNIOR; KATO, 2016).

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Em 2011, na vigência deste Plano, foi lançado o Programa Institucional de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), fazendo parte da proposta de fortalecimento da internacionalização, que visa substituir o Programa de Doutorado Sanduíche Balcão e o Programa de Doutorado Sanduíche no País com Estágio no Exterior (PDEE). A mudança tinha como objetivo ampliar o número de cotas concedidas às Instituições de Ensino Superior (IES) e dar maior agilidade ao processo de implantação das bolsas de estágio de doutorado no exterior.

A internacionalização como política faz parte de um processo que foi construído ao longo da trajetória da pós-graduação, com o aporte da Capes, que através dos PNPGs e do processo avaliativo foi estabelecendo diretrizes para os Programas. Assim como a preocupação em verificar se os programas de pós-graduação melhor avaliados realmente eram comparáveis com programas em nível internacional, como foram vistas as experiências com a presença de consultores estrangeiros, a colaboração internacional esteve presente como uma das principais formas de levar a ciência brasileira para o exterior e, principalmente, promover a internacionalização.

Nos Planos anteriores, o que era mais estimulado e valorizado eram os intercâmbios e a cooperação internacional. Foi somente a partir do IV PNPG que se passou a falar em inserção internacional e o tema se intensificou, ganhando destaque no último PNPG (2011-2020), no qual a palavra “internacionalização” aparece 77 vezes. Evidenciando a importância que a temática assumiu no quadro da pós-graduação brasileira, esse último Plano conta com um capítulo inteiro a respeito da “internacionalização”.

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