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A intervenção federal na Constituição de 1988

3.4 A Intervenção Federal nas Constituições brasileiras

3.4.7 A intervenção federal na Constituição de 1988

A Carta Magna de 1988 regulou o instituto da intervenção nos artigos 34 usque 36, estabelecendo que “a União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal...”137.

Registra-se mais uma vez cuidar-se de medida excepcional, e isto se revela em face do pacto federativo adotado pelo Brasil. Portanto, ante esse caráter que lhe é imprimido, deve sempre a intervenção ser utilizada com rigorosa parcimônia, notadamente, para que ela mesma ao ser decretada não venha a agravar os males que se pretende remediar138.

É assim cabível a intervenção federal para:

I – manter a integridade nacional;

II – repelir invasão estrangeira ou a de uma unidade da Federação em outra;

III – pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;

IV – garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;

V – reorganizar as finanças da unidade da Federação que:

a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;

b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;

VI – prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana;

c) autonomia municipal;

d) prestação de contas da administração pública direta e indireta;

e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Através da Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996 incluiu- se na Carta Cidadã de 1988, como princípio constitucional, o dispositivo da alínea “e”, à exceção da parte “e nas ações e serviços públicos de saúde” que foi incorporada ao texto por força da Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000.

137

Art. 34, caput.

138

SIMÕES, Sandro Alex de Souza et al. (Org.). Ensaios sobre direito constitucional: estudos em homenagem ao Professor Orlando Bitar. Belém: Cesupa, 2003, p. 181-182.

A intervenção nada mais é do que uma intromissão da União, que age em nome da Federação, na administração de um Estado-membro, afastando temporariamente sua autonomia, buscando salvaguardar o todo contra qualquer desagregação, conforme já asseverado anteriormente.

Desse modo, sempre que um fato de gravidade indisfarçável colocar em perigo a unidade nacional (art. 34, I e II), a ordem constitucional (art. 34, VII), a ordem pública (art. 34, III e IV), a ordem jurídica (art. 34, VI) e as finanças estaduais (art. 34, V), caberá a intervenção federal como remédio heróico pacificador da unidade federativa.

Ultimada a intervenção, compete ao Presidente da República decretá-la através de ato de sua lavra, nos termos do artigo 84, inciso X da Constituição Federal, embora seja de natureza diversa, dependendo da hipótese que a fundamente.

Cuidando-se de intervenção para o fim de prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judiciária ou ainda garantir o livre exercício do Judiciário estadual, tem-se que a competência nesses casos é vinculada, já que incumbe ao Presidente da República apenas a formalização de um decisório tomado por órgão judiciário139.

Nos casos de ameaça à integridade nacional, invasão estrangeira, ou de Estado em outro, perturbação grave da ordem e reorganização financeira do Estado- membro, a decisão é discricionária. Ressalta-se, outrossim, que nestes casos (de intervenção espontânea), o Presidente da República, antes da decretação de intervenção no Estado-membro, ouvirá os Conselhos da República (CF, art. 90, I) e o de Defesa Nacional (CF, 91, § 1º, II), que opinarão a respeito140. Porém, como é dever do Presidente da República salvaguardar a ordem constitucional, tem ele a incumbência de fazê-lo, sempre que, de forma inequívoca, verificar a violação de algum dos casos elencados na Constituição Federal, ressaltando-se que nessas hipóteses o decreto de intervenção é obrigatório141, mesmo porque poderá em caso de omissão incidir em crime de responsabilidade142. Tratando-se de garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação, a intervenção poderá ser solicitada por algum dos poderes que eventualmente estiverem sofrendo

139

FERREIRA FILHO, Curso..., p. 64.

140

MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. São Paulo: Atlas, 2002, p. 766.

141

FERREIRA FILHO, op. cit., p. 65.

142

a coação, medida esta que deverá ser formalizada ao Presidente da República, ou ao Supremo Tribunal Federal caso a coação seja exercida contra o Poder Judiciário local143.

Cuidando-se, entretanto, de intervenção por violação dos princípios constitucionais (art. 34, VII), embora seja esta também decretada pelo Presidente da República, somente é cabível depois que o Supremo Tribunal Federal declarar a inconstitucionalidade do ato impugnado, através de representação do Procurador- Geral da República (art. 36, III), ressaltando, ainda, que se a suspensão do ato declarado inconstitucional bastar para o restabelecimento da ordem no Estado a intervenção não será decretada (art. 36, § 3º, última parte).

De outra banda, não podemos perder de vista que a intervenção federal – à exceção dos casos de requisição judiciária – deve ser aprovada pelo Congresso Nacional (art. 49, IV). Caso não esteja reunido, deverá ser convocado extraordinariamente para tal mister, a teor do que dispõe o inciso primeiro do parágrafo sexto do artigo 57. Adverte o professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho que a recusa de aprovação equivale à suspensão da medida, sendo seus efeitos ex nunc144. Cabe ainda ao Presidente da República nomear o interventor para executar o decreto interventivo145.

Por derradeiro, registramos que cessada a intervenção serão as autoridades estaduais porventura afastadas reintegradas ao exercício de seus cargos, exceto se impedidas por outro motivo (art. 36, § 4º).

Trataremos a seguir do controle de constitucionalidade das leis no Brasil, assunto que desperta discussões no seio da comunidade jurídica, tamanho é sua relevância no Direito Constitucional.

143

MORAES, op. cit., p. 764-765.

144

FERREIRA FILHO, Curso..., p. 65.

145

4 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS

A história do controle da constitucionalidade no Brasil se confunde com a própria história do Supremo Tribunal Federal. Suas raízes encontram eco na primeira constituição republicana a qual adotou como modelo de controle o difuso, por via de “exceção”.

A escolha por este modelo de controle deve-se às idéias impulsionadas dos Estados Unidos da América, com destaque para o trabalho de Rui Barbosa que muito contribuiu para a implantação do instituto146.

Assim, faremos uma abordagem desde a sua implantação na Constituição de 1891 até os dias atuais, não se olvidando de enfocar o tratamento dispensado ao assunto por todas as constituições ao longo da história brasileira.

Estruturaremos o assunto em três capítulos, sendo o primeiro dedicado à história do STF: seus antecedentes, composição, estrutura, forma de escolha e atributos pessoais exigíveis para compor a referida corte, duração do mandato, garantias, incompatibilidades e competências. No segundo trataremos do controle de constitucionalidade e sua evolução no direito brasileiro, sendo o terceiro dedicado à conclusão.