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4.1 Supremo Tribunal Federal

4.1.1 Antecedentes Históricos

No período colonial147, a instância máxima do Poder Judiciário era a Casa de Suplicação do Brasil, instituída por força do Alvará Régio de 10 de maio de 1808, da lavra do Príncipe D. João VI.

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BARBI, Celso Agrícola. Evolução do controle da constitucionalidade das leis no Brasil. São Paulo:

Revista de Direito Público, São Paulo, v. 4, abr./jun. 1968, p. 37.

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“O período colonial apresenta três fases distintas. A primeira corresponde à época dos donatários. Iniciando a colonização, D. João III dividiu o Brasil em doze capitanias que entregou a doze donatários, a título perpétuo e hereditário. Por força das cartas forais de doação, exerciam os donatários ampla jurisdição criminal, abrangendo, inclusive, a aplicação das penas de morte e de

Durante aproximadamente 60 anos de regência da Justiça no Brasil colônia, os recursos – agravos e apelações – das decisões de primeiro grau eram julgados na corte portuguesa148. Com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, fugida do exército de Napoleão que invadira aquelas terras, D. João decidiu transformar a Relação149 do Rio de Janeiro em Casa da Suplicação do Brasil150.

No auge do Império, inspirada no constitucionalismo inglês, surgiu a nossa primeira Carta Política, outorgada em 25 de março de 1824 por D. Pedro I, contemplando esta no artigo 163 que, na Capital, além da Relação, haveria também um tribunal com a denominação de Supremo Tribunal de Justiça151.

No entanto, somente em 18 de setembro de 1828 D. Pedro I sancionou a lei criando o precitado tribunal152, tendo sido instalado em 29 de janeiro de 1829153, sob a presidência do Ministro José Albano Fragoso, nomeado pelo Imperador154.

degredo. Nas causas cíveis, quando de valor além de cem mil reis, admitia-se o direito de apelação aos tribunais da Corte. A administração dessa Justiça, de feitio tipicamente feudal, fazia-se por intermédio de juízes ordinários, almotacés, vereadores e outros funcionários, todos nomeados pelo donatário, competindo à autoridade pessoal deste o reexame das decisões em grau de recurso. A segunda fase do período colonial é a das governadorias gerais, quando a organização judiciária do Brasil regulava-se pelas Ordenações Filipinas. Havia os ouvidores-gerais, corregedores, ouvidores de comarca, provedores, juízes de fora, juízes ordinários, juízes de órfãos, juízes de vintena, almotacés, alcaides, vereadores e outros funcionários, uns nomeados em nome do rei e outros eleitos pelos homens bons do povo. Esse corpo de funcionários dos serviços da Justiça constituía a primeira instância de processo e julgamento. Para o julgamento dos recursos foram instalados Tribunais de Relações, um na Bahia e outro no Rio de Janeiro. Nas de valor acima de um conto e duzentos mil réis, admitia-se recurso para o Desembargo do Poço de Lisboa. Essa apelação, porém, como nos relata o historiador Armitage, raras vezes aproveitava ao apelante que não tivesse bons patronos na Corte ou que não pudesse oferecer mais valioso suborno que o seu antagonista. Com maior desenvolvimento da Colônia foram criadas ainda as Juntas das Capitanias, como tribunais irrecorríveis no julgamento dos crimes contra a paz pública.

A terceira fase do período colonial corresponde à época da transmigração da corte de D. João VI, em 1808, quando o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves. [...]”. MALUF, Direito..., p. 301-302.

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Os processos seguiam para Portugal em caravanas, único meio de transporte e de comunicação à época. A prestação jurisdicional por conta disso se tornava demasiadamente difícil e lenta.

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Relação significa a antiga denominação comum aos tribunais de segunda instância.

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A Casa de Suplicação de Lisboa era o mais elevado órgão do Poder Judiciário de então, razão essa da transformação aludida. Os demais tribunais eram os seguintes: Desembargo do Paço e a Mesa da Consciência e Ordens.

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NOGUEIRA, Octaciano. Constituições brasileiras: 1824. 2. ed. Brasília: Senado Federal, Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001, v. 1, p. 100.

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O Supremo Tribunal de Justiça compunha-se de dezessete magistrados (intitulados de Conselheiros) e realizou sua última sessão em 21 de fevereiro de 1891.

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A competência do Supremo Tribunal de Justiça consistia em conceder ou negar revista às causas julgadas pelas Relações, nos casos de manifesta nulidade ou injustiça notória; conhecer dos delitos e erros de ofício cometidos por seus Ministros, membros das Relações, empregados do Corpo Diplomático e Presidentes das Províncias. NOGUEIRA, op. cit., art. 164, p. 100.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Galeria dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/institucional/ministros/Breve.asp>. Acesso em: 12 jul. 2005.

A Constituição imperial não contemplou o instituto do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis. Tal incumbência ficou por conta do próprio Poder Legislativo155, influenciado notadamente no constitucionalismo francês que sempre conferiu o exercício do controle de constitucionalidade a ente político e de forma preventiva156.

A Carta Política Republicana, inspirada no ideário liberalista vindo da América do Norte, instituiu um novo paradigma de Poder Judiciário157. Com a criação do sistema federativo que tem no Judiciário seu principal instrumento de sustentação, adquiriu este Poder o verdadeiro lugar que lhe cabe na ordem constitucional. Tornou-se, com isso, estruturado de fato para assegurar o exercício dos direitos individuais, mesmo quando igualados em face dos primordiais interesses do Executivo158.

Proclamada a República, no mandato do Presidente Marechal Deodoro da Fonseca, cogitou-se a criação e composição do Supremo Tribunal Federal (Decreto nº 510, de 22 de junho de 1890)159, no entanto, somente pouco menos de um mês depois é que o Decreto nº 848, de 11 de outubro, transformou o Supremo Tribunal de Justiça no Supremo Tribunal Federal160.

Enfim, com a promulgação da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, o Supremo Tribunal Federal é definitivamente instalado, em 28 de fevereiro161, com a composição de 15 ministros, a maioria oriunda do Supremo Tribunal de Justiça162, com poderes expressos de declarar a inconstitucionalidade das leis163.

155

Art. 15, incisos VIII e IX. NOGUEIRA, Constituições..., v.1, p. 82.

156

ROCHA, Fernando Luiz Ximenes. O Supremo Tribunal Federal como corte constitucional. Revista

de Informação Legislativa, Brasília, v. 34, n. 135 jul./set. 1997, p. 185.

157

A Constituição de 1891, “instituiu o regime federativo, bipartindo a Justiça federal e estadual, num sistema de dualidade que permanece até hoje”. SIFUENTES, Mônica Jacqueline. O poder

judiciário no Brasil e em Portugal: reflexões e perspectivas. Disponível em:

<http://www.cjf.gov.br/revista/numero9/artigo11.htm>. Acesso em: 12 jul. 2005.

158

MALUF, Direito..., p. 303.

159

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Galeria...

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FERREIRA, Megbel Abdala Tanus. 500 anos da justiça brasileira. Disponível em: <http://www.tj.ma.gov.br/Artigos/artigos04.pdf> .Acesso em: 25 jul. 2005.

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[...] sob a presidência interina do Visconde de Sabará, João Evangelista de Negreiros Sayão Lobato, quando foi eleito Presidente o Ministro João Antonio de Araújo Freitas Henriques. (UMA VISITA ao Supremo Tribunal Federal. Disponível em:<http://www.stf.gov.br/institucional/visitaSTF/>. Acesso em: 12 jun. 2005).

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FERREIRA, M. A. T., op. cit.

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“Além do Supremo Tribunal Federal, cúpula do Poder Judiciário brasileiro, colocado no ápice da pirâmide judiciária, hoje, composto por 11 Ministros, temos 04 Tribunais Superiores: o Superior Tribunal de Justiça – STJ, compondo-se de, no mínimo, 33 Ministros (um terço dentre juízes dos TRFs, um terço dentre desembargadores dos TJs e um terço, em partes iguais, dentre advogados

Conforme se verifica, os tribunais de última instância da justiça brasileira se resumem em três, sintetizados na brilhante pesquisa elaborada pelo Ministro Celso de Mello, da seguinte maneira:

Os órgãos de cúpula da Justiça no Brasil, em ordem sucessiva, considerada a sua precedência histórica, foram (1) a Casa da Suplicação do Brasil (instituída pelo Príncipe Regente D. João, mediante Alvará Régio de 10/05/1808), 2) o Supremo Tribunal de Justiça (Império) e 3) o Supremo Tribunal Federal (República). Esses órgãos de cúpula, ao longo de nosso processo histórico, desde a fase colonial (Casa da Suplicação do Brasil), passando pelo regime monárquico (Supremo Tribunal de Justiça) e chegando à República (Supremo Tribunal Federal), abrangem um período de 195 anos (10/05/1808 até o presente ano de 2003)164.

Ao longo da história republicana, o Supremo Tribunal Federal sofreu algumas alterações em sua nomenclatura. Com efeito, a Constituição de 1891 consagrou o órgão de cúpula com a denominação de Supremo Tribunal Federal165. A Constituição de 1934, no entanto, mudou seu nome para Corte Suprema166. A Carta de 1937 restabeleceu o nome tradicional, ou seja, Supremo Tribunal Federal167. A

e membros do Ministério Público Federal, Estadual e do Distrito Federal); o Tribunal Superior Eleitoral – TSE, com 07 Ministros (03 do STF, 02 do STJ e 02 advogados); o Tribunal Superior do Trabalho – TST, com 17 Ministros (11 juízes dos TRTs, 03 dentre advogados e 03 dentre membros do Ministério Público do Trabalho); e o Superior Tribunal Militar – STM, com 15 Ministros (03 oficiais-generais da Marinha, 04 oficiais-generais do Exército, 03 oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, mais 05 civis, sendo 03 advogados e 02, por escolha paritária, dentre juízes auditores e Membros do Ministério Público da Justiça Militar).

Quanto aos Tribunais de 2º grau, temos: 1º) A justiça da União: composta por 05 Tribunais Regionais Federais; 27 Tribunais Regionais do Trabalho (certo que haverá um em cada Estado e um no Distrito Federal); 27 Tribunais Regionais Eleitorais (devendo ter um em cada Estado e um no Distrito Federal. 2º) A Justiça Estadual: compõe-se de 26 Tribunais de Justiça (temos mais um no Distrito Federal); 03 Tribunais de Justiça Militar estadual (Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul). Alguns Estados, até pouco tempo, ainda mantinham Tribunais de Alçada que eram em número de 08, a saber: 03 em São Paulo: 02 cíveis e 01 criminal; 02 no Rio de Janeiro: 01 cível e 01 criminal, 01 em Minas Gerais, 01 no Paraná e 01 no Rio Grande do Sul). A Carta Política de 1988 estabeleceu que a União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: Juizados Especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas civis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumário, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transcrição e o julgamento de recursos por turmas de juízes de 1º grau, bem assim, criarão Justiça de Paz composta de cidadãos eleitos, com competência para celebrar casamento e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas em lei”. (FERREIRA, M. A. T., 500 anos).

164

VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Discurso proferido por ocasião dos 175 anos da lei que

criou o Supremo Tribunal Federal. Disponível em:

<http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/palavra_dos_ministros/ler.asp>. Acesso em: 12 jul. 2005.

165

BALEEIRO, Constituições..., v. 2, art. 55 “caput”, p. 92.

166

POLETTI, Ronaldo. Constituições brasileiras: 1934. 2. ed. Brasília: Senado Federal, Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001, v. 3, art. 73 “caput”, p. 141.

167

PORTO, Walter Costa. Constituições brasileiras: 1937. 2. ed. Brasília: Senado Federal, Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro de Estudos Estratégicos, 2001, v. 4, art. 97 “caput”, p. 93.

Constituição de 1946, conservou, neste particular, o nome do órgão máximo do Poder Judiciário conforme se verifica do artigo 98168.

A Constituição de 1967169, a Emenda Constitucional nº 01, de 17 de outubro de 1969170 e a Magna Carta de 1988171, mantiveram intocáveis a denominação de Supremo Tribunal Federal como órgão maior do Poder Judiciário brasileiro.

Após breve incursão acerca dos antecedentes históricos, faz-se necessária a abordagem da composição do Pretório Excelso.