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CAPÍTULO II – PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO

2. A investigação-ação

Para explorar a utilização do DA como estratégia de desenvolvimento da escrita autónoma do aluno em ELE, utiliza-se a metodologia de IA - investigação-ação, que se carateriza pela definição de um plano de investigação e de ação, apoiado numa conceção de intervenção prática em sala de aula, sustentada pela reflexão, por sua vez retroalimentada pela investigação.

Começaremos por definir o que é a IA e as razões por que a escolhemos como forma de investigar um aspeto da nossa prática durante o período de prática de ensino supervisionada que realizámos na escola ESAL – Escola Secundária Amato Lusitano, no período que decorreu entre 24 de setembro de 2013 e 04 de fevereiro de 2014.

Neste subcapítulo identificaremos também as estratégias e tipos de recolha de informação que utilizámos, justificando por que o fizemos.

São diversos os tipos de IA que podem ser realizados no contexto de sala de aula, como refere Máximo-Esteves (2008) em a Visão Panorâmica da Investigação-Ação. Há aquela que é realizada “por amadores sob a direção de um especialista universitário” e a que se chama “técnica”. Zubber-Skerrit (1996) considera que as finalidades desta modalidade se concentram em torno da eficácia da prática educativa. Há igualmente uma investigação-ação “prática”, proposta por Shön (1983), Stenhouse (1993) e Elliot (1991) que acrescenta à modalidade anterior a “compreensão no processo de transformação”. Nesta modalidade, o investigador é externo e funciona como um “amigo crítico”. Por último, existe ainda um tipo de investigação-ação “emancipatória” ou “crítica”, segundo Carr e Kemmins (1988, p. s/p) ligada à ação social.

O desenvolvimento técnico da IA é mais eficaz e prático. O seu principal objetivo é “desenvolver a autoconfiança nas capacidades individuais” para fomentar uma melhor gestão dos profissionais.” (id. s/p) e é este tipo que o presente projeto adota.

A IA apoia-se num conjunto de métodos e regras. Assim, para se concretizar este processo e, segundo Pérez Serrano (1994, p. 181) foi necessário seguir quatro fases:

1. Diagnosticar ou descobrir uma preocupação temática, isto é o “problema”. 2. Construir um plano de ação.

4. Refletir, interpretar e integrar os resultados. Voltar a planificar.

Um elemento crítico da IA técnica é a reflexão sobre a prática. Tomar consciência da necessidade de promover outros modos de ensinar obrigou-nos a assumir uma postura critica e reflexiva. Consideramos que o professor deve ser reflexivo antes, durante e depois da sua prática. É, sem dúvida, um processo exigente de questionamento em várias etapas do ciclo com um papel muito relevante na formação e atuação docente.

A ideia dominante da IA encontra-se, em nossa opinião, na capacidade de ativar a consciência crítica dos profissionais, em geral, e dos professores, em particular. Segundo Paulo Freire (1975:55) referido por Coutinho (2008) “quanto mais as pessoas se aplicam na ação transformadora das realidades, mais se “inserem” nela (na ação) criticamente.”

É através da praxis e da reflexão sobre essa praxis que o professor pode verdadeiramente iluminar a sua consciência, introduzindo-lhe o elemento crítico, tão necessário ao conhecimento objetivo daquilo que faz e de si próprio.

A IA é uma das metodologias que mais pode contribuir para a melhoria das práticas educativas, exatamente porque, segundo Coutinho (2008), coloca em diálogo os sujeitos envolvidos, tem em conta as suas subjetividades e, ao mesmo tempo, promove um distanciamento crítico delas:

aproxima as partes envolvidas na investigação, colocando-as no mesmo eixo horizontal; favorece e implica o diálogo, enriquecendo o processo, ao fazer emergir a verdade; desenvolve-se em ambientes de colaboração e partilha, retirando o fardo da solidão ao investigador; valoriza a subjetividade, ao ter sempre mais em conta as idiossincrasias dos sujeitos envolvidos; mas, por outro lado, propicia o alcance da objetividade e a capacidade de distanciamento ao estimular a reflexão crítica”. (Coutinho, 2008)

Por outro lado, a IA reconhece também a necessidade de partir do terreno educativo e da experiência direta dos intervenientes e articulá-los com explicações teóricas, enriquecendo, deste modo, as práticas:

Utiliza(r) as categorias interpretativas dos profissionais da educação; ajuda a identificar as interpretações ideológicas distorcidas, abrindo caminho para a sua clarificação e, consequentemente para uma pedagogia independente e livre; aborda as problemáticas sociais no sentido de identificar possíveis situações de injustiça, oferecendo aos professores explicações teóricas que os tornem mais criticamente conscientes e capazes de remediar essas situações”. (Coutinho, 2008) Tudo isto nos leva a concluir que a IA não é uma metodologia de investigação sobre a educação, mas sim uma forma de investigar para a educação.

As razões pelas quais escolhemos esta metodologia prendem-se com o facto de acreditarmos que o professor deve responder às novas exigências de cada situação e a IA parece ser o processo mais adequado para conseguir esse objetivo. (Coutinho, 2008)

Cohen e Manion (1987), referidos em Sousa (2005, p. 96) apontam algumas situações exemplares de como a IA se adequa ao mundo da educação: no campo dos métodos de aprendizagem, ela permite a descoberta de novos métodos que possam substituir os tradicionais. No domínio das estratégias de aprendizagem, a IA permite experimentar aproximações integradas de aprendizagem em vez do estilo unilinear de transmissão de conhecimentos. No que respeita aos procedimentos de avaliação a IA pode permitir ensaiar novos métodos de avaliação contínua; relativamente as atitudes e valores a IA, abre a possibilidade de encorajar atitudes mais positivas de trabalho ou modificação dos sistemas de valores dos alunos com vista a alguns aspetos da vida; na formação contínua de professores a IA procura desenvolver capacidades, experimentar novos métodos de aprendizagem, desenvolver o poder de análise, a autoavaliação, etc. No campo do treino e controlo, a IA permite a gradual introdução a novas técnicas de modificação comportamental; e na área da administração e gestão a IA pode ser usada com vista ao incremento da eficiência de alguns aspetos da administração escolar. (Sousa, 2005, p. 96).