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A inviabilidade do procedimento monitório em face do falido e do

No documento MESTRADO EM DIREITO PUCSP São Paulo, 2006 (páginas 87-89)

IV. PERFIL ATUAL DO PROCEDIMENTO MONITÓRIO EM FACE DA LEI N.

4.6. O procedimento monitório e as condições da ação

4.6.4. A inviabilidade do procedimento monitório em face do falido e do

Da mesma forma que o procedimento monitório se revela de pouca utilidade para tutelar créditos reclamados em face de incapazes, também se mostra inadequado quando for manejado em face do insolvente civil e do falido. Como é cediço, em caso de falência ou insolvência civil, não pode haver execução contra os devedores fora do concurso universal249, o que faz com

que a via injuncional se mostre inadequada para tutelar os créditos existentes em face desses devedores.

A decretação da falência instaura o chamado concurso universal subjetiva e objetivamente. Isso significa que todos os credores e todos os bens do falido, salvo as exceções legais250, ficam sujeitos à competência do juízo

falimentar.251

247 MARCATO, Antonio Carlos. O processo monitório brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 70.

248 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. 5º ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 59.

249 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – procedimentos especiais. v. III. 35. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 370.

250 O direito contempla cinco exceções ao princípio da universalidade do juízo falimentar: a) ações não reguladas pela lei falimentar em que a massa falida for autora ou litisconsorte (LF, art. 7º, § 3º); b) reclamações trabalhistas, para as quais é competente a Justiça do Trabalho (CF, art. 114); c) execuções tributárias que, segundo o disposto no art. 187 do Código Tributário Nacional, não se sujeitam ao juízo falimentar; a mesma regra se aplica aos créditos não-tributários inscritos na dívida ativa, segundo a Lei 6.830/80, inclusive aos créditos previdenciários; d) ações de conhecimento em que é parte ou interessada a União Federal,

Após a decretação da falência, todos os credores devem acorrer ao juízo universal, com o propósito de habilitar os seus respectivos créditos, para que, assim, possam receber o que lhes cabe de acordo com a escala de preferências252 estabelecida em lei.253

A falência, sendo um procedimento de execução concursal do devedor comerciante, afasta a possibilidade de utilização da via monitória por qualquer um dos credores254, ainda que hipoteticamente o seu crédito figure entre aqueles protegidos por esta modalidade de tutela jurisdicional diferenciada.

Caso eventual credor, ao invés de habilitar o seu crédito no juízo universal, proponha ação utilizando o procedimento monitório, será considerado carecedor da ação, pela evidente falta de interesse de agir,

hipótese em que a competência é da Justiça Federal (CF, art. 109, I); trata-se das ações de conhecimento referentes à obrigações ilíquidas, de que seja ré a massa falida, em que a União, entidade autárquica, ou empresa pública federal tenham interesse, que não se encontrem sujeitas à universalidade do juízo falimentar; e) a execução individual por credor particular, com praça já designada, também não se encontra sujeita ao juízo falimentar, por medida de economia processual determinada no art. 24, § 1º, da LF; nesse caso, realiza-se a praça e o produto apurado é entregue à massa falida. COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de direito comercial. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 300-301.

251 O juízo da falência é universal. Isto significa que todas as ações referentes aos bens, interesses e negócios da massa falida serão processadas e julgadas pelo juízo em que tramita o processo de execução coletiva por falência. É a chamada aptidão atrativa do juízo falimentar, ao qual conferiu a lei a competência para conhecer e julgar todas as medidas judiciais de conteúdo patrimonial referentes ao falido ou à massa falida. COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de direito comercial. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 300.

252 A garantia que decorre do privilégio tem a sua origem única e exclusiva na lei, que a concede a certos e determinados créditos por princípios de humanidade, eqüidade ou conveniência pública. A observância do privilégio só ocorre em relação ao devedor insolvente, enquanto que a instituição da garantia real pode dar-se tanto em relação ao devedor solvente, como ao insolvente. O privilégio sempre decorre da lei, enquanto que a garantia real nasce da convenção entre as partes, salvo em casos excepcionais, como na hipoteca legal, que resulta de lei. ABRÃO, Nélson. Curso de direito falimentar. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 170-171.

253 Classificam-se os créditos, segundo a ordem de pagamento na falência, nas seguintes categorias: a) créditos por acidentes de trabalho, nos termos do art. 102, § 1º, da LF; b) créditos trabalhistas, compreendendo toda a sorte de pagamentos devidos pelo comerciante aos seus empregados; c) dívida ativa, de natureza tributária ou não-tributária (arts. 186 do CTN e 4º, § 4º, da Lei 6.830/80); d) encargos da massa, compreendendo as verbas mencionadas no art. 124, § 1º, da LF e os créditos da Fazenda Nacional decorrentes de multas e penas pecuniárias devidas pelo falido (Dec.-lei 1.893/81, art. 9º); e) dívidas de massa, compreendendo as verbas mencionadas no art. 124, § 2º, da LF; f) créditos com garantia real (art. 102, I); g) créditos com privilégio especial (art. 102, II); h) créditos com privilégio geral (art. 102, III); i) créditos quirografários (art. 102, IV); j) créditos subquirografários (LSA, art. 58, § 4º). COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de direito comercial. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 355-356.

254 Os credores do falido não são tratados igualmente. A natureza do crédito importa para a definição de uma ordem de pagamento, que deve ser rigorosamente observada na liquidação. Esta ordem é resultado da convergência de um conjunto variado de dispositivos legais, fonte constante de conflitos e incertezas. Ibid., p. 355.

caracterizada pela inadequação do procedimento utilizado, o qual, na hipótese, sequer é passível de ser adaptado ao procedimento legal, nos termos do art. 295, V, do Código de Processo Civil. Essa situação forçosamente acarretará a extinção do processo sem julgamento de mérito, nos termos do art. 267, I, do Código de Processo Civil.

No documento MESTRADO EM DIREITO PUCSP São Paulo, 2006 (páginas 87-89)